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A formação do professor do ensino de Arte

Foto 9 Apresentação do espetáculo Boneco Neco e Maria Flor no Teatro Apolo

2 NAS TRILHAS DO LABIRINTO INEFÁVEL DA ARTE

2.2 PERSPECTIVA SOBRE ENSINAR/SER PROFESSORA E PROFESSOR DE ARTE

2.2.1 A formação do professor do ensino de Arte

Hoje, embora os vários olhares da literatura da educação discutam abundantemente sobre a formação de professores no Brasil, e esta apareça como uma questão socialmente problematizada, ainda há, em virtude da relevância dos seus aspectos, muito a se discutir a respeito da profissionalização docente (carreira, formação inicial e continuada, desafios enfrentados etc.).

A formação do professor para o ensino de Arte na escola teve início a partir dos avanços ocorridos no período da Escola Nova e com o Movimento Artístico Modernista, que causou forte influência na maneira de pensar, comunicar e desenvolver as diversas expressões artísticas.

No Brasil, ela ocorreu mais sistematicamente na década de 1950 nas instituições que comungavam das ideias do Movimento Escolinhas de Arte – MEA (conjunto de 140 escolinhas de Arte espalhadas pelo país, que visava educar através da Arte), e estava direcionada a professores do 1º grau, que teriam formação inicial e continuada. Pode-se também citar o Curso Intensivo de Arte na Educação – CIAE, com orientação modernista e que, durante 20 anos, formou cerca de 1.200 professoras(es) de Arte no país. Além deste, o Curso de Formação Continuada em Campos do Jordão (SP), realizado por Ana Mae Barbosa, com abordagem pós-modernista de arte-educação, que formou 6.500 professores em São Paulo.

Atualmente, sobre a formação do professor para o ensino de Arte na escola é possível afirmar que vem se formatando uma diversificada linha de atuação através de estudos sobre a história e os fundamentos da Arte/Educação, como os de Barbosa (1975; 1984; 1998; 2002a; 2002b; 2002c; 2002d; 2005), Azevedo (2000; 2003; 2005), Rizzi (2002), Richter (2002; 2003) e Varela (1986), que vem permitindo uma base teórica e conceitual para a formação desses profissionais no Brasil.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96) determinou a obrigatoriedade do ensino de Artes enquanto disciplina do currículo escolar e o Ministério da Educação elaborou os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte (1997), para orientar as bases curriculares dessa modalidade de ensino, bem como promulgou a Proposta de Diretrizes para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica em Cursos de Nível Superior que, no que se refere à formação do professor de arte, afirma que:

Há ainda a necessidade de se discutir a formação de professores para algumas áreas de conhecimento desenvolvidas no ensino fundamental, como Ciências Naturais ou Artes, que pressupõem uma abordagem equilibrada e articulada de diferentes disciplinas (Biologia, Física, Química, Astronomia, Geologia, etc, no caso de Ciências Naturais) e diferentes linguagens (da Música, da Dança, das Artes Visuais, do Teatro, no caso de Arte), que, atualmente, são ministradas por professores preparados para ensinar apenas uma dessas disciplinas ou linguagens (BRASIL, 2000, p. 34).

De acordo com Ferraz “apesar de todos os esforços para o desenvolvimento de um saber artístico na escola, verifica-se que a arte – historicamente produzida e em produção pela humanidade – ainda não tem sido suficientemente ensinada e apreendida pela maioria das crianças e adolescentes brasileiros” (2009, p. 21). Dessa forma, a atuação pedagógica das(os) professoras(es) de arte no contexto escolar vem recebendo sérias críticas por não atenderem aos pressupostos referenciados nas diretrizes curriculares básicas para essa área de ensino.

O que se pode concluir é que a disciplina de Arte demanda professores especializados e atualizados, uma vez que tem natureza epistemológica complexa (bem como a própria arte), com linguagens específicas e diversificadas.

O curso de pedagogia foi estabelecido no Brasil com a criação da Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, a partir do Decreto Lei nº 1190, de 04 de abril de 1939. Neste início o currículo adotado pelo referido curso, segundo Saviani, era o seguinte:

1º ano: Complementos de matemática; história da filosofia; sociologia; fundamentos biológicos da educação; psicologia educacional.

2º ano: Psicologia educacional; estatística educacional; história da educação; fundamentos sociológicos da educação; administração escolar.

3º ano: Psicologia educacional; história da educação; administração escolar; educação comparada; filosofia da educação (SAVIANI, 2008, p.39).

Observando os componentes curriculares para os cursos de Pedagogia e pensando no tema do estudo em foco, nota-se que a área de conhecimento Arte, não foi contemplada em nenhum aspecto para a formação das(os) professoras(es), neste início.

Na linha do tempo do curso de pedagogia, após sua implantação em 1939, destacamos três marcos históricos: (1) em 1962, com a aprovação do parecer CFE 251/62, instituindo novo currículo mínimo; (2) em 1969, com a aprovação do parecer CFE 252/69, acompanhado da resolução CFE n. 2/1969, novamente instituindo um novo currículo; (3) em 2006 com a CNE de 10 de abril, que fixou diretrizes curriculares, inaugurando nova fase para o curso, no que diz respeito à formação dos profissionais da educação. O pedagogo passa a assumir o perfil de um profissional capacitado para atuar no ensino, na organização e na gestão do trabalho pedagógico em diferentes contextos educacionais.

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de Pedagogia foram implantadas em maio do 2006 – hoje, está sob a égide da Resolução 02/2015 – , momento em que o ensino de Arte pela(o) pedagoga(o) tem respaldo na legislação. A Arte é fundamental à formação das(os) futuras(os) professoras(es). A (O) pedagoga(o) ao concluir seu curso deve estar apto a ensinar “ Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar e adequada às diferentes fases do desenvolvimento humano” (BRASIL, 2006, p. 2). Houve reformas curriculares anteriores ao ano de 2006, mas não mudou em relação à área de Arte na formação inicial.

O documento oficial que rege o ensino do município do Recife – Política de Ensino da Rede Municipal do Recife – traz a seguinte definição:

A Arte é produção de conhecimento histórico, cultural, filosófico, sociológico e está em permanente transformação. Constitui-se de caráter simbólico e estético, permeia toda a existência humana e revela as potencialidades do sujeito como ser sensível, perceptivo, pensante, criador e crítico. A inclusão da Arte no currículo escolar do Ensino Fundamental, e em toda a Educação Básica, está assegurada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996). A partir daí, o ensino de Ate vem-se legitimando e caracterizando-se como componente curricular de conteúdos próprios e especificidades, de acordo com as diferentes linguagens: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro (RECIFE, 2015, p.80).

Mediante o exposto, percebe-se a relevância de aprofundar a discussão acerca do Ensino de Arte para os anos iniciais, uma vez que esta área do conhecimento possui quatro modalidades específicas e, cada uma delas, com suas particularidades; as(os) professoras(es) precisam atender à demandas muito específicas. O documento citado acima pretende garantir:

Os conteúdos pautados, a serem trabalhados nas práticas pedagógicas dos(as) professores(as) do Ensino Fundamental, sejam dos Anos Iniciais ou dos Anos Finais, promovem a garantia dos direitos de aprendizagem do(a) estudante que objetivam que ele(a) seja:

a) leitor(a) em Arte, ao conhecer e interpretar, formal e simbolicamente, os elementos da linguagem artística estudada nas produções da arte, da cultura em geral e/ou da natureza, entre outras, posicionando-se de forma crítica, reflexiva, questionadora;

b) conhecedor(a) e pesquisador(a) em Arte(Artes Visuais e/ou Teatro e/ou Dança e/ou Música), enquanto produção cultural e simbólica inserida em contexto histórico, social, entre outros, sendo capaz de refletir, analisar e comparar fatos, relacionar e sistematizar informações sobre os bens artísticos, culturais e da natureza;

c) autor(a), produtor(a), propositor(a) de formas expressivas em Arte, ao interagir com diferentes produções visuais e/ou musicais, e/ou teatrais, e/ou coreográficas, ampliando os seus repertórios estético e temático, desenvolvendo suas poéticas e repertório pessoal, atribuindo ao seu fazer artístico o caráter de cognição e de expressão dos sentidos (RECIFE, 2015, p. 82).

O ensino de Arte nas escolas pelas professoras e pelos professores egressos dos cursos de pedagogia, pautado nas considerações feitas acima, assume uma importância ímpar, visto que ele dá as bases para o ser humano desenvolver seu potencial criativo. Portanto, solicitam um conhecer aprofundado do campo em discussão. A Arte desempenha um papel fundamental na construção da vida humana e social. Contribui para uma expansão do pensamento crítico e reflexivo do sujeito perante o mundo. Então, como as(os) docentes estão lidando com estas proposições? É o que esta pesquisa propôs saber.