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Foto 9 Apresentação do espetáculo Boneco Neco e Maria Flor no Teatro Apolo

3 METODOLOGIA: COSTURANDO UMA COLCHA DE RETALHOS

3.2 ESCOLHA DO CAMPO DE PESQUISA E DOS SUJEITOS PARTICIPANTES

3.2.2 A entrevista narrativa

Realizei entrevistas narrativas temáticas, as quais tratam sobre a participação do entrevistado no tema escolhido e está, do mesmo modo que a entrevista de história de vida, relacionada com o método biográfico, pois, “seja concentrando-se sobre um tema, seja debruçando-se sobre a vida do depoente e os cortes temáticos efetuados em sua trajetória, a entrevista terá como eixo a biografia do entrevistado, sua vivência e sua experiência” (ALBERTI, 2013 p. 48).

As entrevistas narrativas foram gravadas com autorização dos participantes e transcritas integralmente por mim. Os contatos entre eu e elas(es) fluíram em uma relação espontânea com demonstração de prazer e de confiança mútua. Foi assinado, também, o termo de compromisso e participação. As(os) envolvidas(os) receberam cópias dos depoimentos orais, bem como das análises realizadas, e foram informadas(os) da conclusão, defesa da Dissertação, e de possíveis publicações. Todas(os) leram , concordaram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

As entrevistas aconteceram nos meses de março, abril, maio e julho de 2017, com o grupo maior composto pelas(os) 15 apontadas(os) como possíveis participantes da pesquisa. E, nos meses de agosto e setembro de 2017, com as(os) que foram escolhidas(os) para compor o conjunto de colaboradoras(es) desta investigação. Os encontros aconteceram em espaços, dias e horários definidos pelas(pelos) participantes em concordância comigo. Combinação, esta, que garantiu se sentirem mais à vontade.

Tabela 2 - Dados sobre as entrevistas.

NOME DIA ENCONTROS DURAÇÃO DA

ENTREVISTA TENTATIVAS PARA AGENDAR MADONA 21.8.2017 1 1h19m13s 2 vezes HELENA 25.8.2017 1 1h5m44s 3 vezes BERNARDO 2.9.2017 1 1h45m46s 9 vezes RENATO 28.9.2017 1 1h37m8s 6 vezes Fonte: Diário de Campo

Para iniciar as entrevistas narrativas, apresentei a seguinte questão: Então [nome], bom dia ou boa tarde ou boa noite. Vamos começar, agora, a nossa entrevista narrativa e você fique bem à vontade para falar do que você desejar, dessa sua história, sua história de vida, seu percurso de formação. A pesquisa é voltada para o ensino de arte, e aí você pode começar falando...

Colocação, esta, que funcionou como uma questão mobilizadora, como um gatilho para disparar as falas. Foi suficiente; sem exceção, as narrativas correram livres – se fechasse o olho parecia que já tinha sido gravada. Ao longo do tempo eu ia fazendo gestos para demonstrar minha atenção, e dizia palavras soltas, do tipo: “ok”; “certo”; “sei”. Às vezes, é que pedia para esclarecer melhor determinadas passagens: “você poderia repetir?”; “Não ficou claro”, mas muito raro.

Esse processo de interação/formação é de intensa responsabilidade. É preciso estar inserido no âmbito de um rigor científico, posto que “ter acesso ao modo como cada pessoa se forma é ter em conta a singularidade da sua história e sobretudo o modo singular como age,

reage e interage com os contextos. Um percurso de vida é assim um percurso de formação, no sentido em que é um processo de formação” (MOITA, 2013, p. 115).

A entrevista ganha maior dimensão quando resulta da cumplicidade prolongada entre entrevistador e entrevistado, cabendo ao pesquisador construir ao mesmo tempo, com seu entrevistado, uma relação de sensibilidade e de rigor; de adesão no processo de compreender e de crítica atenta no processo de indagar; de reconstituição e questionamento. É esta cumplicidade controlada, típica da sociologia qualitativa e dos métodos de história de vida, que garante a dimensão e a consistência do que é revelado (ALBERTI, 2013, p. 21).

O corpus desse estudo é, assim, constituído pelas narrativas de ensino de Arte, que segundo Souza (2014), Moita (2013), Fontoura (2013), elas “configuram-se” como tal, uma vez que ao serem coletadas de forma oral e escrita transformam-se em corpus e ele pode ser “[...] um material qualitativo constituído por um conjunto de histórias de vida, de sujeitos saídos de um universo populacional nitidamente definido e dos fins que se procura atingir [...]” (POIRIER 1999 apud SOUZA, 2014, p. 108). Souza complementa seu pensamento e afirma que,

Narrativas (auto)biográficas construídas e recolhidas em processo de pesquisa –

caso desta pesquisa – e/ou em práticas de investigação-formação, configuram-se

como corpus de análise, por considerar a subjetividade das fontes, seu valor heurístico e a análise interpretativa-compreensiva, [...] centram-se nas trajetórias, percursos e experiências dos sujeitos, são marcadas por aspectos históricos e subjetivo frente às reflexões e análises construídas por cada um sobre o ato de lembrar, narrar e escrever sobre si (SOUZA, 2014, p. 5 grifo do autor).

A maneira de narrarem as experiências vividas, no âmbito da trajetória de se constituírem pedagogas(os) e, dentre outras atribuições, ensinarem arte pode, portanto, possuir tanto aspectos do intrinsecamente individual como do extrinsecamente coletivo, pois, os contextos que atravessam a caminhada de cada uma(um), nas singularidades de suas histórias de vida, é fator preponderante no processo de acionar a memória, lembrar, significar e (re)significar o narrado para si e para os outros.

Ao término de cada entrevista solicitei às narradoras e aos narradores a construção de um “Biograma”, chamado assim por Moita, o qual se refere à “reconstituição em planning dos acontecimentos e situações mais importantes das suas vidas tentando encontrar as coincidências no plano familiar, social e profissional, [...] que no seu entender tiveram um carácter relevante em termos da sua formação” (MOITA, 2013, p. 118).

No estudo em pauta, estabeleci um correspondente para o Biograma e chamei-o de “Narrativa Escrita”. Onde as(os) docentes puderam também, estando sós, acessar suas memórias e escrevê-las. Acrescento que cada uma(um) das(os) participantes entregou-a em

tempo hábil para compor o quadro de análise. Destaco este detalhe porque de acordo com Holly “[...] a escrita sobre as suas próprias experiências, pensamentos e sentimentos [...] demora muito mais tempo. Há mais tempo para observar e refletir sobre o que se escolhe para ser contado” (2013, p. 101).