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O ensino de Arte no Ensino Fundamental

Foto 9 Apresentação do espetáculo Boneco Neco e Maria Flor no Teatro Apolo

2 NAS TRILHAS DO LABIRINTO INEFÁVEL DA ARTE

2.1 PERSPECTIVA TEÓRICA SOBRE A ARTE

2.1.2 O ensino de Arte no Ensino Fundamental

Hoje, após certo caminho trilhado, o ensino de Arte é obrigatório nas escolas brasileiras e está dividido em quatro linguagens artísticas, a saber: Artes Visuais, Dança,

Música e Teatro. A Lei 13.278 de 02 de maio de 2016 especifica as quatro linguagens artísticas que compõem o Ensino de Arte, que não constavam discriminadas na lei original.

Sabe-se, também, o valor do ensino e a importância da prática das artes na formação integral de crianças e jovens, considerando aspectos da formação do ponto de vista da poética, da educação dos sentidos, da experiência estética, do conhecimento, do social, do antropológico, bem como do seu importante papel para o indivíduo e a sociedade.

Ao ser implementada nas escolas brasileiras, a disciplina de Educação Artística em 1971, esta foi tratada como atividade e propunha o ensino integrado das Artes feito por um único professor, regulamentando, assim, a formação do professor de Educação Artística, que articulava conhecimentos ou habilidades afins em grandes áreas curriculares. O professor, portanto, seria responsável por diversos conteúdos, tornando-se nessa proporção um professor polivalente.

Dessa forma, pode-se supor como seria a prática desse profissional, pois, se já é difícil o aprofundamento em uma área de conhecimento, o domínio de várias áreas numa mesma proporção se torna ainda mais complexo. No entanto, a luta pela validação e consolidação do ensino de Arte continua e vão surgir associações reunindo arte-educadores expoentes das diversas expressões artísticas em todas as regiões do país, promovendo encontros e congressos de professores para discutir sobre o ensino de Arte na escola, resultando em um fortalecimento das diferentes linguagens artísticas marcando seu lugar como área do saber reconhecido.

Vai surgir nesse bojo a proposta triangular de Ana Mae Barbosa, uma das propostas mais difundidas (ainda hoje) no país, voltada para o ensino das Artes Visuais, podendo ser utilizada nas outras áreas já citadas anteriormente e propõe um ensino fundamentado em três eixos: apreciar, produzir, contextualizar.

Atualmente, a Arte/educação de nosso país consolida um novo paradigma que concebe a Arte não apenas como expressão, mas também como conhecimento. Propondo uma revisão da nossa História, Ana Mae Barbosa criou a proposta triangular nos anos 80, quando dirigiu o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Tal proposta articula a contextualização, a leitura e o fazer artístico possibilitando ao estudante ler o mundo de maneira mais ampla (AZEVEDO, 2007).

Corrobora com a citação acima a visão de Schramm (2015), ao afirmar que a proposta de Barbosa,

com sua concepção progressista, vem conquistando espaço nas universidades e, consequentemente, na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e Médio, embora ainda encontre muita resistência por parte de alguns professores que não conseguem superar a influência da pedagogia tradicional recebida durante sua formação

acadêmica. O grande perigo é o círculo vicioso que pode ser desencadeado a partir dessa visão. O professor universitário ensina da forma que foi ensinado, sem questionamento e análise sob sua prática pedagógica, e consequentemente seu aluno, sem encontrar nada melhor no que se refere à concepção de ensino e aprendizagem da Arte, fará a mesma coisa. E assim essa tendência se firma na sociedade.

Para orientar a prática pedagógica dos professores de Artes sob a égide da nova Lei, foram elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), vinculados ao ensino fundamental e médio, e o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), trazendo abordagens inerentes a cada uma das áreas de conhecimento do currículo escolar. “De modo a servir de referencial para o trabalho do professor, respeitando a sua concepção de trabalho própria e a pluralidade cultural brasileira. Note que eles são abertos e flexíveis, podendo ser adaptados à realidade de cada região” (BRASIL, 1997, p. 4).

Os PCN foram divididos em dois cadernos: o primeiro caderno comporta os PCN Arte I, 1ª a 4ª séries (corresponde, hoje, ao ensino Fundamental I, do 1º ao 5º ano), e o segundo caderno com os PCN Arte II, de 5ª a 8ª séries (equivalente, hoje, ao Fundamental II, do 6º ao 9º ano), tendo como referencial a Abordagem Triangular para o Ensino de Artes de Ana Mae Barbosa, difundida por meio do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo. No referido documento consta as seguintes informações, entre outras, para o ensino das linguagens artísticas (BRASIL, 2007, p. 21-24):

Para as Artes Visuais – “a escola deve colaborar para que os alunos passem por um conjunto amplo de experiências de aprender e criar, articulando percepção, imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção artística pessoal e grupal”; a Dança como atividade que “pode desenvolver na criança a compreensão de sua capacidade de movimento, mediante um maior entendimento de como seu corpo funciona. Assim poderá usá-lo expressivamente com maior inteligência, autonomia, responsabilidade e sensibilidade”; no ensino da Música “é necessário que todos tenham a oportunidade de participar ativamente como ouvintes, intérpretes, compositores e improvisadores dentro e fora da sala de aula”; “o Teatro, no processo de formação da criança, cumpre não só função integradora, mas dá oportunidade para que ela se aproprie crítica e construtivamente dos conteúdos sociais e culturais de sua comunidade mediante trocas com os seus grupos”.

Contudo, apesar de avanços significativos terem acontecido, desde a implantação da atividade de Educação Artística nas escolas, o ensino de Arte continua precário e sem atender os estudantes como um todo de modo satisfatório. Amiúde nada acontece ou transcorrem traços das estratégias e abordagens do ensino tradicional estão presentes em muitas salas de

aula nas escolas desse país de enormes desigualdades sociais. Seja por falta de políticas públicas adequadas, seja por falta de formação de professoras e professores especializados, seja por falta de condições e insumos para as atividades, ou tudo isso junto, que possam fomentar práticas pedagógicas diferentes.