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4 – A IMAGEM FOTOGRÁFICA JORNALÍSTICA

4.3 A fotografia no jornal impresso

Mas por que as fotos jornalísticas são caracterizadas, para a maioria das pessoas comuns, como registro da verdade? Uma olhadela em livros e manuais sobre jornalismo e encontra-se uma diversidade de conceitos que definem as notícias. Para Pereira Jr., citando Fontcuberta (1993, p. 12), a fotografia jornalística é uma “forma de ver, perceber e conceber a realidade”.

Diversos autores trabalham a conceituação de notícia, enfatizando diferentes enfoques. Ciro Marcondes Filho faz a seguinte definição:

Notícia é a informação transformada em mercadoria com todos os seus apelos estéticos, emocionais e sensacionais; para isso, a informação sofre um tratamento que a adapta às normas mercadológicas de generalização, padronização, simplificação e negação do subjetivismo (1988, p. 13).

Lage conceitua notícia considerando-a no sentido mais aberto. É, desde os tempos mais antigos, “um modo corrente de transmissão da experiência – isto é, a articulação

simbólica que transporta a consciência do fato a quem não o presenciou” (2001, p. 49). É também um autêntico sintoma social e uma análise de sua produção lançando muitas pistas sobre o mundo e conforme escreveu Traquina (2004, p. 19), sobre “tudo o que é importante ou interessante”. Todavia, ao questionar os profissionais, ele acrescenta que os mesmos definem a ideologia de sua profissão como “o jornalismo é a realidade”.

Sontag (2003, p. 26), destaca o que Walter Lippmann escreveu em 1922: “As fotos têm hoje o tipo de autoridade sobre a imaginação que a palavra impressa tinha no passado e que, antes dela, a palavra falada tivera. Parecem absolutamente reais”.

Para Barros Filho, o estudo da imagem é dos mais complexos dentro das teorias da comunicação.

Nenhum elemento informativo pode ter maior aparência de objetividade (ilusão ou simulacro do real) que a imagem. Associada ou não ao texto informativo, “a imagem tende a apagar o sujeito (...),ela exige uma apresentação direta, exige que a recebamos como objeto soberano; ela fornece o material e a forma como dados inevitáveis (...) sua duplicação, sua visibilidade, sua transparência são trunfos centrais. Essa aparência de objetividade decorre da sua relação com o espectador (do tipo de percepção que ela enseja) e da sua relação com o real (2003, p. 82).

Um importante aspecto para a fotografia jornalística é, sem dúvida, o grande número de publicações existentes no mundo. As reportagens fotográficas divulgadas pela imprensa, em diários, semanários ou publicações mensais são conhecidas como fotojornalismo ou jornalismo gráfico.

Impressa em jornais e revistas, ou mesmo remetida à virtualidade na linguagem digital processada atualmente, a fotografia jornalística assume a mesma fórmula que define as relações no campo das comunicações. Ela é uma “mensagem” selecionada por um “emissor” (a redação do jornal, os fotógrafos, os editores e os diagramadores), que utiliza um “meio” (jornal, revista, internet etc) para atingir o “receptor” (público leitor), segundo comenta Roland Barthes (1990, p. 11).

Barthes (1990, p. 11) chama a atenção para o segmento intermediário dessa conta, isto é, o “meio”, tendo em vista “que o próprio nome do veículo (jornal, revista, internet, etc) podem modificar fortemente a leitura da mensagem: uma fotografia pode mudar sua mensagem ao passar do L’Aurore para L”Huamanité”. Barthes ainda ressalta que emissão e recepção abrangem uma sociologia através da qual são analisados atitudes e ações, que fazem os grupos seguir comportamentos típicos da sociedade a que pertencem.

Mas, no que se refere à própria mensagem, o método deve ser diferente: quaisquer que sejam sua origem e finalidade, a fotografia não é apenas um produto ou um caminho, é também um objeto dotado de autonomia estrutural; sem pretender absolutamente separar este objeto de sua finalidade, faz-se necessário prever um método particular, anterior à própria análise sociológica, e que só poderá ser a análise imanente dessa estrutura original que é uma fotografia (1990, p. 11).

Ao direcionar a fotografia jornalística como um objeto dotado de uma autonomia estrutural, Barthes demonstra que ela não representa, de forma alguma, uma “estrutura isolada”.

Ela se comunica pelo menos com uma outra estrutura, que é o texto (título, legenda ou artigo) de que vai acompanhada toda foto de imprensa. A totalidade da informação é, pois, suportada por duas estruturas diferentes (das quais uma é lingüística); estas duas estruturas são convergentes, mas como suas unidades são heterogêneas, não podem se misturar (1990 p. 12).

Sendo assim, para se compreender Barthes, pode-se dizer que, sob a forma de texto, a composição da mensagem se estabelece através de palavras; sob a forma de fotografia ela se revela por linhas, traços, superfícies, enquadramentos, profundidades de campo, tonalidades, cores etc. Soma-se a isso a característica de que texto e imagem se relacionam em espaços próprios, contíguos, mas de modo algum “homogêneo”, isto é, cada qual ocupa um lugar que lhe é devido.

Como já se disse, assim como a fotografia pode mudar o sentido daquilo que está escrito, o texto também pode interferir no sentido da imagem, ou seja, o que está sendo visto pode ser uma imagem feita em outro lugar, em outro tempo e ter outra interpretação.

Para Sontag, cada foto é apenas um pedaço, e seu peso moral e emocional dependem do lugar em que ela é fixada.

Uma foto muda de acordo com o contexto em que é vista: assim , as fotos de Minamata tiradas por Smith parecerão diferentes numa cópia de contato, numa galeria, numa manifestação política, num arquivo policial, numa revista de fotos, numa revista de notícias comuns, num livro, na parede de uma sala de estar. Cada uma dessas situações sugere um uso diferente para as fotos mas nenhuma delas pode assegurar seu significado (2004, p. 122).

Sontag cita ainda Wittgenstein, que afirmou ser o significado das palavras o seu uso, e faz referência para a foto, comentando que “ é dessa maneira que a presença e a proliferação de todas as fotos contribuem para a erosão da própria noção do significado, para esse loteamento da verdade em verdades relativas” (2004, p. 122).