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As categorias universais e as classes dos signos

5 A SEMIÓTICA DA IMAGEM

5.3 As categorias universais e as classes dos signos

Antes de abordar a função sígnica da fotografia para tentar fazer uma leitura semiótica da imagem, é importante conhecer os fundamentos fenomenológicos que sustentam o signo definido por Peirce, que não se limitam apenas ao visual, mas pertencem ao campo universal e podem estar presentes ao mesmo tempo em diferentes graus. Os estudos de Pierce classificaram os signos em três categorias universais presentes em todo e qualquer fenômeno que se apresentam à percepção e à mente, chamados de primeiridade, secundidade e terceiridade.

Entende-se por categoria de primeiridade tudo que estiver relacionado ao acaso, possibilidade, qualidade, sentimento, originalidade, liberdade, mônada. Refere-se à consciência instantânea, é um simples sentido de qualidade (SANTAELLA, 2002, p.7).

Primeiridade, diz Peirce (2000, p.24), “forma de ser daquilo que é como é, positivamente e sem nenhuma referência a qualquer outra coisa”.

Coelho Neto explica que a “primeiridade recobre o nível do sensível e do qualitativo, e abrange o ícone, o qualissigno e o rema” (2003, p.61).

Já a secundidade está ligada às idéias de dependência, determinação, dualidade, ação e reação, aqui e agora, luta, resistência, poder, volição, conflito, surpresa, dúvida (SANTAELLA, 2002, p. 7).

Para Peirce, citado em Santaella e Nöth (1999, p. 143), a secundidade é a categoria do confronto, da experiência no tempo e no espaço, do factual, da realidade, da surpresa: “Somos confrontados com ela em fatos tais como o outro, a relação, a coerção, o efeito, a dependência, a independência, a negação, o acontecimento, a realidade, o resultado”.

Coelho Neto (2003, p.61) acrescenta ainda que “a secundidade diz respeito ao nível da experiência, da coisa ou evento: é o caso do índice, do sinsigno e do dicissigno” . (2003, p.61).

Quanto à terceiridade, esta corresponde à generalidade, continuidade, crescimento, inteligência. Não é somente a consciência de algo, mas também a sua força ou a sua lei, isto é, a razão, que atua no campo do símbolo, do legissigno e do argumento.

Conforme Peirce (2000, p.30),

a forma mais simples da terceiridade manifesta-se no signo, visto que o signo é um primeiro (algo que se apresenta à mente), ligando um segundo (aquilo que o signo indica, se refere ou representa) e a um terceiro (o efeito que o signo irá provocar em um possível intérprete).

Resumindo os critérios que Peirce relacionou nas suas análises triádicas do signo, dispondo as três categorias universais, tem-se a seguinte:

Divisão dos signos Categoria O signo em relação a(representamen)

si mesmo (objeto) O signo em relação ao objeto (interpretante) O signo em relação ao interpretante

Primeiridade qualissigno ícone rema

Secundidade sinsigno índice dicissigno

Terceiridade legissigno símbolo argumento

Santaella (2004, p.9) explica que, “quando a lógica triádica do signo fica clara para nós, estamos no caminho para compreender melhor porque a definição peirceana do signo inclui três teorias: a da significação, a da objetivação e da interpretação”.

Entretanto, as divisões da semiótica peircenas não param por aí. As três tricotomias dos signos, dispostas em conjunto, formam uma divisão em dez classes de signos, sendo as seguintes: A primeira classificação é o Qalissigno, isto é, uma qualidade qualquer, na medida em que for um signo, podendo ser exemplificada como uma sensação de vermelho. Todo qualissigno é necessariamente um ícone, portanto, esta é a classe do qualissigno icônico remático. A segunda classificação é um Sinsigno Icônico, sendo uma coisa ou evento da experiência das qualidades que fazem com que signifique um objeto, interpretado através de um rema: sinsigino icônico remático. Já a terceira refere-se ao Sinsigno Indicial Remático, ou todo objeto da experiência que chama atenção para um objeto, funcionando como signo pelo qual sua presença é determinada. Esta classificação também pode ser interpretada através de um rema, envolvendo assim um sinsigno icônico.

Conforme Peirce (2000, p.55), a quarta classe ou Sinsigno Dicente, é “objeto ou evento da experiência que funciona como signo de algo que o afeta diretamente – o que faz com que seja um índice”. É uma classe em que se combinam dois tipos de signos: um

Sinsigno Icônico, para materializar a informação, e um Sinsigno Indicial Remático, para indicar o objeto.

A quinta é chamada de Legissigno Icônico, ou seja, é todo tipo de lei ou convenção que se apresenta como signo de algo. Neste caso é um ícone a ser interpretado como rema, legissigno remático. A sexta classificação, conhecida como Legissigno Indicial Remático, está “todo tipo ou lei geral, qualquer que seja o modo pelo qual foi estabelecido que requer que cada um de seus casos seja realmente afetado por seu objeto de tal modo que simplesmente atraia a atenção para esse objeto” (PEIRCE, 2000, p. 56). Este legissigno será, pois, um índice, e seu interpretante, um rema.

Na sétima classificação, Peirce definiu Legissigno indicial dicente como uma lei cujos casos são afetados por ser objeto de modo a dar uma informação sobre esse objeto. Coelho Neto (2003, p. 63) exemplificou assim:

uma placa de trânsito com um E inscrito num círculo vermelho significa que ali onde ela está fincada “é permitido estacionar”. Trata-se portanto de uma convenção que indica uma coisa concreta e localizada, e cujo significado não é apenas uma palavra mas um enunciado.

A oitava classificação, segundo Peirce, denomina-se Legissigno simbólico remático (símbolo remático ou rema simbólico), onde o signo atua como representante de seu objeto através de uma convenção. Por ser um símbolo é de tipo geral, é um legissigno; e é remático por fazer parte de um enunciador maior. Já a nona classificação é conhecida como Símbolo Dicente, ou Proposição ordinária: signo que representa seu objeto através de uma convenção e que é interpretado sob a forma de um enunciado. É um legissigno: legissigno simbólico dicente. A décima e última classificada é um Argumento, isto é, um signo que representa seu objeto através, em última análise, das leis de um silogismo ou das leis segundo as quais a passagem de certas premissas para certas conclusões tende a ser verdadeiras (2000, p.56-57).