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A fotografia, o documentário, os vídeos e o Facebook como

2. UMA PESQUISA-EXPERIÊNCIA E SUAS

2.2 A fotografia, o documentário, os vídeos e o Facebook como

A aproximação com os jovens ocorreu a partir das suas vivências com a urbe. Como moradora recente de Jaraguá do Sul, saí pela cidade buscando conhecer os espaços frequentados pelos jovens, o que tornou necessário deixar de lado o olhar preconceituoso e comparativo. Explico.

Depois de morar em Blumenau por trinta anos – uma cidade onde o setor de serviços concentra grande parte do PIB, com extensão territorial de 518.497km² e população com 309.011 habitantes8 - desloquei-me para uma cidade com menor número de habitantes

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Fonte:

http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=420240&s earch=santa-catarina|blumenau. Acesso em 15 out 2013

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(143.123)9, mas com maior extensão territorial (529.536 km²) e com o PIB comandado pelo setor industrial. Portanto, a busca por comparações com minha cidade de procedência era algo a ser percebido e problematizado para o desenvolvimento da pesquisa.

De bicicleta e com uma câmera fotográfica em mãos, conhecemos e nos aproximamos dos jovens e da cidade, vivenciado-a com eles. Encontramos diversos grupos, fotografamos, conversamos e nos aproximamos de alguns jovens constantemente reunidos em um espaço no centro da cidade, conhecido como “meia lua”.

Na Figura 1 podemos visualizar a meia lua. Como percebido na foto, o espaço é denominado assim porque tem uma arquibancada em formato de meia lua. É um lugar aberto, onde não visualizamos árvores, com um espaço livre à frente da arquibancada. Ao fundo da fotografia podemos visualizar uma espécie de galpão e também um poste com iluminação pública, que ainda assim, não dá conta de iluminar todo o espaço, já que é possível identificar que o mesmo é um pouco escuro.

Figura 1 – Meia lua.

Fonte: Arquivo da Pesquisadora.

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Fonte:

http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=420890&s earch=santa-catarina|jaragua-do-sul. Acesso em 15 out 2013

Inicialmente, optei por uma aproximação informal para depois conversar sobre a pesquisa.

Perguntamos a um grupo de jovens que estava sentado se podíamos bater fotos deles e se eles não se incomodavam de a gente ficar ali fotografando. [...] Eles questionaram o que estávamos fazendo. Não contamos sobre a pesquisa, mas dissemos que morávamos há pouco tempo em Jaraguá e que estávamos passeando para conhecer a cidade, ver os espaços que os jovens frequentavam e fotografar. E que tínhamos ideia de fazer umas filmagens e depois um vídeo. Eles acharam interessante (Diário de campo, 04/05/2013).

Desta forma, utilizando o argumento de desconhecer a cidade, solicitei a eles que nos apresentassem os locais que costumavam ocupar. E assim, passamos a ser convidadas para encontrá-los na praça, no shopping, na meia lua, nas baladas.

Após esta primeira aproximação, conversei com alguns jovens sobre a pesquisa e a proposta de gravação audiovisual para uma posterior edição de um documentário. “A ideia é fazer um documentário sobre jovens. Na verdade a idéia é que a gente construa juntos esse documentário (...). Porque é um documentário sobre os jovens aqui de Jaraguá, quem tem que dizer o que é legal de colocar são vocês.” (Diário de campo, 16/06/2013). Laari demonstrou interesse, afirmando ter muitas idéias e se disponibilizando a contribuir.

a gente até pode marcar, meu certeza porque eu tenho umas idéias bem legal. Porque assim vocês podem acompanhar a gente aonde a gente vai. Tipo ah, a gente vai na casa de um amigo, leva vocês duas junto aí filma, filma mesmo. A gente explica antes. Filma como é que é um encontro de amigo, um churrasco, filma como que é uma balada. Filma por partes, também não precisa filmar tudo. Filma assim tipo só pra saber o encontro da galera em tal lugar. Ia ser bem legal, bem bacana. (Laari)

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E foi através da possibilidade de realização de um documentário que iniciamos um processo de vivência mais intenso com o universo desses jovens. Estávamos sempre em contato via rede social e éramos convidadas para estar com eles na meia lua aos finais de semana. Almeida (2013) afirma que o documentário é uma forma de aproximação com o “cenário” a ser conhecido pelo pesquisador/documentarista, “criando acesso aos envolvidos e oportunidades de diálogos, com a justificativa de realizar tal filme” (p. 27).

Conforme os laços foram se estreitando, Laari nos convidou para estar com ela e seu grupo “em uma balada”. Na ocasião, um DJ de Hip-

Hop tocaria em uma das casas noturnas da cidade. Encontramos com

eles na “meia lua” e fomos a pé até a casa noturna. Chegamos cedo, pois todos tinham os nomes na lista para não pagar ingresso. Ao entrar, nossos anfitriões já começaram a fazer a roda; os b-boys que estavam no grupo colocaram-se a dançar e assim correu a noite.

Foi nesta oportunidade que conhecemos BGirl e K12, que participam do grupo de b.boys que se encontra na Praça Ângelo Piazera todos os domingos – no que eles denominam de Roda na Praça. E esse passou a ser um local que começamos a freqüentar também, sempre com os equipamentos eletrônicos para a gravação audiovisual. Procedimento este que auxiliou para nosso convívio com esses dois grupos de jovens.

A gravação audiovisual também nos aproximou do grupo de jovens que estava organizando uma Manifestação em Jaraguá do Sul – na mesma data que estavam acontecendo as manifestações em todo o país, em junho de 2013. Acompanhamos estes jovens por alguns dias, filmando o processo de organização e confecção dos cartazes e entrevistando alguns dos organizadores do evento – Bozo, Communello e Tay –, bem como realizamos filmagens também no dia da Manifestação.

Nos dias posteriores à manifestação, convidamos os jovens para assistir aos registros audiovisuais das manifestações, a fim de pensar em um roteiro para um vídeo. Este encontro aconteceu em minha residência, onde havia os equipamentos necessários para a realização desta etapa. Somente dois jovens puderam comparecer. Assistimos às gravações e discutimos um breve roteiro que serviu como base para a edição. Ao

término desta, encaminhamos o vídeo para os jovens e, após aprovado e realizado os ajustes necessários, o vídeo foi postado no YouTube10.

Três semanas depois, ocorreu nova manifestação, agora intitulada como “1° Ato Jaraguaense pelo transporte público” e cuja composição integrava alguns jovens que organizaram a manifestação do dia 20 de junho. Também realizamos gravação audiovisual e entrevista com dois jovens da organização. Desta vez não conseguimos reuní-los para elaborar juntos um novo roteiro; mesmo assim, editamos um pequeno vídeo e encaminhamos para eles.11

A rede social Facebook também acelerou nossa aproximação com os pesquisados. Já nos primeiros encontros, troquei contatos e gradativamente adicionei-os à minha lista de referência nas redes sociais. A maioria dos contatos entre pesquisadora e jovens ocorria por meio desta rede social. Percebe-se aqui o quanto “a cibercultura se conecta ao contexto da produção, ao modo como é interpretada, vivida e incorporada” (SALES, 2012, p. 112), não estando fora da realidade vivida pelos jovens.

A interação no espaço das redes sociais possibilitou também a compreensão dos diversos sentidos produzidos sob um mesmo fato ou acontecimento, podendo assim obter o registro desses discursos através das postagens que acompanhei. Este procedimento foi utilizado para acompanhar o que os jovens pensavam, de que forma se articulavam e o que faziam (SALES, 2012).

Essa observação dos espaços virtuais é procedimento de pesquisa conhecida como “netnografia”, “etnografia digital”, “etnografia on-line” e “etnografia na internet”, entre outros termos utilizados para definir o processo de pesquisa em espaços virtuais, tais como as redes sociais. Segundo Sales (2012, p. 120), a observação virtual requer “um processo de intensa imersão no ciberespaço” e, durante o tempo em que estivemos em contato com os jovens nos seus trajetos na urbe – o que podemos denominar de encontros off-line – acompanhamos também seus trajetos virtuais através de encontros on-line. A netnografia não chegou a ser um elemento central da metodologia, mas consistiu em um procedimento metodológico importante.

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O vídeo “Verás que um filho teu não foge à luta” pode ser acessado pelo link:

http://www.youtube.com/watch?v=qW0xAbEaQuU.

11

O vídeo “1° Ato Jaraguaense pelo transporte público pode ser acessado pelo link: http://www.youtube.com/watch?v=BKQzWHCeW_w.

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Desta forma, a dinâmica de aproximação e contato da pesquisadora com os jovens se dava através de fotografias, da troca de contatos, mensagens e postagens nas redes sociais, dos encontros e desencontros dos finais de semana, das gravações audiovisuais, vídeos editados e das entrevistas individuais, o que garantiram amizades que se consolidaram no caminho percorrido.