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3. A CIDADE E OS JOVENS

3.3 Os períodos de industrialização

A Colônia Jaraguá vivia uma economia de subsistência primário- exportadora, garantida através da produção agrícola – o que caracteriza o primeiro período de industrialização, ocorrido entre 1890 e 1930 (SOTO, 2010). Essa economia possibilitou que os “vendeiros” aumentassem o seu patrimônio e começassem a formar uma rede de vendas, monopolizando os preços do mercado. “Havia dois tipos de vendeiros: os comerciantes, que também se dedicavam à agricultura, tendo na venda uma forma de complementar a renda da família, e

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aqueles que só se dedicam às atividades comerciais” (SCHÖRNER, 2000, p. 43).

O segundo período de industrialização da então denominada Colônia Jaraguá (1930 a 1960) é caracterizado pelo aumento populacional devido à vinda de mais imigrantes; por alterações estruturais relacionadas à energia, transporte e crédito; e pela passagem da produção artesanal para a instalação de pequenas indústrias. Além das mudanças estruturais, a facilidade de importação de produtos de outras cidades e a venda diretamente para as indústrias diminuiu o trabalho dos vendeiros e fez com que alguns se utilizassem do capital acumulado no sistema “colônia-venda” para transformar sua “venda” em uma indústria.

Para Schörner (2000, p. 54) “podemos sustentar que foi a evolução qualitativa do comércio „import-export‟22, via sistema „colônia-venda‟, que possibilitou a acumulação de capital pra o desenvolvimento do processo de industrialização [...]”, sem descartar que nesse período surgiram também muitas indústrias, cujos fundadores não eram de Jaraguá do Sul, mas chegaram à localidade com dinheiro suficiente para investir nesse ramo.

Em 1943, a colônia Jaraguá é desmembrada de Joinville e declarada município de Jaraguá do Sul. Nesta mesma década, foi considerada o quarto município mais industrializado do estado de Santa Catarina, possuindo cerca de 98 pequenas fábricas ali instaladas. O fato fundamentou o discurso de que Jaraguá possui “vocação para a indústria”, discurso que ainda permanece entre seus munícipes (SOTO, 2010; SCHÖRNER, 2000).

No entanto, Jaraguá do Sul continuava a ser um município rural, com quase 80% da população morando no campo, haja vista que o Censo Demográfico de 1940 acusava 3.660 casas para uma população de 19.385 (83%) pessoas. Na área urbana, eram registradas 960 casas e uma população de 4.110 pessoas (17%) (SCHÖRNER, 2000, p. 63).

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O sistema “import-export” se desenvolve junto ao sistema “colônia-venda” e, no início do século XX inicia seu processo de expansão, devido as “melhorias nas estradas e nas ferrovias que possibilitam uma comunicação mais rápida e segura com Joinville e Blumenau (distantes cerca de 50 quilômetros de Jaraguá), com o Planalto Norte e de lá com Curitiba” (SCHÖRNER, 2000, p. 42).

Na década de 50, a Prefeitura liberou alguns incentivos para a instalação de indústrias na cidade, através da isenção fiscal. Ao final desta década, Jaraguá “já contava com 53 estabelecimentos industriais” (SOTO, 2010, p. 69). Com o aumento do setor industrial, houve também o aumento da população, que em 1950 era de 27.240 habitantes, 4.812 na cidade (18%) e 22.428 no campo (82%) (SCHÖRNER, 2000).

Percebe-se, desta forma, um aumento significativo da população e a consequente configuração de um pequeno núcleo urbano. Ressalta- se, contudo, que a moradia ainda se concentrava no campo, tendo em vista que muitas pessoas tinham na agricultura sua principal fonte de sustento, mesmo com o crescimento do setor industrial.

Na década de 60, iniciou-se o que os autores (SCHÖRNER, 2000; SOTO, 2010) chamam de terceiro período de industrialização. “O final da década de 1950 e início dos anos 1960 marcaram a transformação de Jaraguá do Sul, mudando seu perfil de município agrícola para industrial” (SOTO, 2010, p. 71). Essa mudança significativa na economia de Jaraguá do Sul deve-se aos grandes incentivos dos bancos e Programas de Governo colocados à disposição das indústrias, assim como a construção das Rodovias Federais BR 116 e BR 101 (SCHÖRNER, 2000).

Jaraguá do Sul e a BR 101 estão distantes cerca de 30 km – distância essa percorrida pela BR 280. Rodovia esta que passa por dentro de Jaraguá do Sul ligando-a a cidade de Corupá. A BR 116 fica localizada a uma distância de 250 km de Jaraguá, mas é de grande importância para o município, pois corta o Estado de Santa Catarina e “o integra de forma concreta ao resto do país” (SCHÖRNER, 2000, p. 70). As rodovias federais têm papel importante no crescimento da cidade, aproximando-a da malha viária que liga o Sul ao Norte do país.

A instalação da ferrovia foi outro fator que contribuiu para a expansão de Jaraguá, pois possibilitou sua ligação aos principais núcleos produtivos dos Estados do Paraná e Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo (SCHÖRNER, 2000). Ela facilitou o trânsito de trabalhadores entre Jaraguá e os grandes centros urbanos, servindo ainda para conectar a cidade ao Porto de São Francisco e aos Estados do Paraná e São Paulo.

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Esta configuração da rede ferroviária também facilitou a exportação da produção e a importação de matéria-prima.23

Desta forma, na década de 60 são contabilizados 126 estabelecimentos industriais com 1.261 trabalhadores, que nos anos 1980 cresceram para 370 indústrias com cerca de 15.500 trabalhadores de um total de 50.000 habitantes. Já no início dos anos 1990, 576 indústrias empregavam 27.757 trabalhadores em Jaraguá do Sul, crescendo para 700 em meados dessa década (SCHÖRNER, 2000).

Com grande parte dos moradores de Jaraguá do Sul focados na produção agrícola – a população rural ainda era maior que a população urbana – faltou força de trabalho para atuar nas indústrias. Nesta época de crescimento industrial, dois processos aconteceram: os trabalhadores rurais começaram a dividir seus horários de trabalho entre a lavoura e a indústria, caracterizando assim o que os autores chamam de colonos- operários; e nas cidades paranaenses – que na época passavam por dificuldades financeiras – ocorreu a especulação publicitária sobre Jaraguá do Sul como a localidade catarinense do trabalho, das oportunidades, da ordem e do progresso (SCHÖRNER, 2000; Schörner, 2008).

Aos poucos, os colonos-operários começam a diminuir a produção agrícola a ser comercializada, restando apenas a produção para subsistência. Passaram, assim, a sobreviver com o salário que recebiam na fábrica, caracterizando o que Schörner (2000) chamou de êxodo agrícola, “aqui entendido como a diminuição do número de pessoas que trabalham na agricultura, sem, no entanto, deixarem de morar no campo” (p. 117).

3.4 A expansão industrial, os migrantes e o crescimento da