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1.1 Fragmentação Florestal: aspectos teóricos, causas e consequências

1.1.1 A importância das métricas de paisagem para o estudo da fragmentação florestal

1.1.2.1 A fragmentação florestal no estado do Rio Grande do Norte

A situação da Mata Atlântica na região Nordeste brasileira é bastante complexa, em razão do nível de fragmentação da floresta remanescente, conformada geralmente em pequenas ilha de mata, em geral menores do que 50 hectares (COSTA, 2012).

No Rio Grande do Norte estima-se que existam entre 35.5036 e 57.0007 hectares de remanescentes do bioma, correspondendo a aproximadamente 3,5% da área de aplicação da lei da Mata Atlântica no estado, distribuídos entre os ecossistemas de mata, mangue e restinga. Na Tabela 2 constam dados referentes aos quantitativos de remanescentes de Mata Atlântica para a área, de acordo com os levantamentos da Fundação SOS Mata Atlântica e INPE (2011) e SNE (2002).

Tabela 2: Quantitativos dos remanescentes de Mata Atlântica no Rio Grande do Norte.

UF Mata (1) Mata (2) Mangue (1) Mangue (2) Restinga (1) Restinga (2) Área total (1) Área total (2) RN 16.032 28.000 10.825 13.200 8.646 15.800 35.503 57.000

(1) Fundação SOS Mata Atlântica e INPE (2011); (2) SNE (2002).

Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica e INPE (2011); SNE (2002).

6 Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica e INPE (2015). 7 Segundo SNE (2002).

As diferenças encontradas na quantificação dos remanescentes pelas duas fontes podem estar relacionadas, sobretudo às formas de interpretação/classificação distintas e às áreas abrangidas por cada uma delas em seus respectivos mapeamentos (Ver Figura 6).

Os resultados encontrados pela Fundação SOS Mata Atlântica e INPE (2015) referem- se somente a área de aplicação da Lei da Mata Atlântica, que no Rio Grande do Norte concentra- se em quase sua totalidade na porção litorânea leste. Já a quantificação realizada pela SNE (2002) compreende uma área maior no estado, pois adota como referencial também a faixa litorânea leste, somado a área contígua da mesma em direção ao interior, bem como todo o litoral setentrional potiguar.

Dessa forma, as diferenças nos valores totais podem estar associadas as abrangências dos mapeamentos, que consequentemente também influenciaram nos resultados. Segundo as fisionomias associadas ao bioma, a discrepância nos valores do ecossistema de mangue, que se dá em função da quantificação das áreas de mangue presentes no litoral setentrional, áreas essas não incluídas em sua totalidade no mapeamento da Fundação SOS Mata Atlântica e INPE (2015).

No que tange aos quantitativos das fisionomias de restinga e mata, as diferenças possivelmente se devem às interpretações e metodologias adotadas por cada uma das fontes, bem como a inclusão de fragmentos em municípios externos a área de aplicação da Lei da Mata Atlântica.

Em relação a distribuição dos remanescentes por município (Tabela 3), segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica e INPE (2015), tem-se a seguinte situação: O município de Baía Formosa possui o maior número de remanescentes (5.958 hectares), seguido dos municípios de Nísia Floresta (4.528 hectares) e Ceará-Mirim (4.444 hectares). Além disso, cabe ressaltar que existem também remanescentes do bioma nos municípios de Taipu, Ielmo Marinho (SNE, 2002; MACIEL, 2011), Nova Cruz, Montanhas, Passagem, Pureza, Vera Cruz (SNE, 2002).

Tabela 3: Distribuição dos remanescentes de Mata Atlântica, segundo os municípios do Rio Grande do Norte.

Município Área Município (ha) % na lei Remanescente (2014) - (ha) Areia Branca 37.297 21 88 Arês 12.082 100 1.003 Baía Formosa 25.853 100 5.958 Brejinho 6.453 26 108 Canguaretama 25.958 100 2.803 Carnaubais 54.253 10 38 Ceará-Mirim 76.150 25 4.444 Espírito Santo 14.306 100 547 Extremoz 14.773 55 521 Galinhos 34.222 26 1.028 Goianinha 20.291 100 2.069 Grossos 13.182 16 0 Guamaré 25.896 23 385 Jundiá 4.681 100 5 Macaíba 51.077 5 111 Macau 78.804 36 1.939 Maxaranguape 113.810 100 1.899 Monte Alegre 22.283 11 494 Mossoró 209.935 9 334 Natal 17.372 100 1.915 Nísia Floresta 32.358 100 4.528 Parnamirim 13.024 100 351 Pedro Velho 20.256 96 1.070 Porto do Mangue 33.350 32 638

Rio do Fogo 15.781 46 1.428

São Bento do Norte 28.873 14 93

São Gonçalo do Amarante 24.913 30 576

São Jose de Mipibu 30.615 81 1524

São Miguel do Gostoso 34.375 11 114

Senador Georgino Avelino 2.775 100 481

Tibau do Sul 10.790 100 1.974

Touros 88.121 21 1.289

Várzea 7.657 30 854

Vila Flor 5.021 98 229

Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica e INPE (2015).

De acordo com Maciel (2011), cujo estudo objetivou mapear sobre imagens de alta resolução espacial do ano de 2006, os remanescentes do bioma Mata Atlântica no estado do Rio Grande do Norte e conduzir uma análise ao nível de paisagem, abrangendo a área de aplicação da Lei da Mata Atlântica em quase sua totalidade, grande parte dos fragmentos é menor do que 10 hectares, poucos fragmentos possuem tamanho maior que 100 hectares e a distância média entre fragmentos é de 128m. Os resultados diferem dos encontrados por Ribeiro et al. (2009), no levantamento dos remanescentes existentes no Brasil, cuja constatação de tamanho médio dos fragmentos remanescentes foi de 50 hectares e distância média entre os mesmos foi de 1.440m.

Tais diferenças podem estar ligadas aos produtos de sensoriamento remoto utilizados, escalas, abrangência e procedimentos metodológicos adotados pelos estudos, uma vez que para o mapeamento proposto por Ribeiro et al. (2009) foram utilizadas imagens dos satélites/sensores Landsat5/TM e CBERS 2B/CCD, que possuem 30m e 20m de resolução espacial , respectivamente. Enquanto que em Maciel (2011), o mapeamento baseou-se em ortofotos de 2,5m de resolução espacial.

O mais importante de se ressaltar em relação aos dados apresentados sobre a fragmentação da Mata Atlântica no Rio Grande do Norte, é que eles revelam a destruição do bioma, com uma fragmentação acentuada, caracterizada pela predominância de pequenos fragmentos e isolamento menor do que a média nacional, considerando os valores obtidos por Ribeiro et al. (2009).

No caso específico do município de Tibau do Sul/RN, a situação da fragmentação florestal é bastante semelhante ao quadro geral do estado do Rio Grande do Norte, considerando parâmetros como tamanho médio de fragmentos e distância entre os mesmos.

O uso da terra no referido município ao longo esteve marcado pela carcinicultura, culturas permanentes (coco-da-baía) e mais notadamente pela cultura canavieira e ocupação urbana, que por sua vez é estimulada pelo potencial turístico, principalmente da praia da Pipa e adjacências. Em momento posterior deste estudo, os aspectos referentes ao uso e a ocupação da área serão discutidos de forma mais detalhada.

Os diagnósticos sobre a fragmentação florestal nas diversas escalas apresentadas neste capítulo indicam uma crítica e desafiadora conjuntura dos remanescentes da Mata Atlântica, que mostram a importância de ações com direcionamento de preservá-los e recuperá-los, a fim de reduzir ou amenizar as consequências daquele processo. Nos estudos de Ribeiro et al. (2009) e Maciel (2011), cujos recortes espaciais são Brasil e Rio Grande do Norte, respectivamente, as recomendações diante do quadro de devastação enfatizam a necessidade de preservação e recuperação dos grandes fragmentos e aumento da conectividade entre fragmentos sem distinção de tamanho.