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2.5 Caracterização da área de estudo

3.2.3 Métricas de paisagem: Análise em escala de mancha

Os resultados referentes a classe dos fragmentos florestais são informações que fornecem uma noção geral sobre a situação da fragmentação na área de estudo. As informações mais detalhadas acerca das métricas dos fragmentos de forma individual possibilitam uma análise mais robusta sobre os mesmos, por isso a seguir serão apresentados os resultados referentes aos 75 fragmentos identificados na área de estudo.

No tocante ao parâmetro área, existe uma variação de tamanho que vai de 0,0344 a 797,12 hectares, sendo que a maioria dos fragmentos da área de estudo (74,7%) possui área até 10 hectares. Do conjunto dos 75 fragmentos mapeados, 56 apresentam área menor ou igual a 10 hectares, enquanto que apenas 8 são de tamanho maior que 100 hectares. O Gráfico 1 e a Figura 37 representam a distribuição dos fragmentos, de acordo com os tamanhos dos mesmos.

Gráfico 1: Tamanho dos fragmentos no município de Tibau do Sul/RN.

Figura 37: Distribuição dos tamanhos dos fragmentos florestais na área de estudo.

Fonte: Elaborado pelo autor.

O resultado encontrado para o tamanho dos fragmentos não difere muito do estudo sobre remanescentes de Mata Atlântica no estado do Rio Grande do Norte, realizado por Maciel (2011), no qual foi constatada a predominância de fragmentos com tamanho menor ou igual a 10 hectares.

A área/tamanho do fragmento é um elemento importante na análise da situação da fragmentação florestal. Esse parâmetro de análise pode se constituir como indicativo do estado da biodiversidade existente no fragmento de floresta. Diversos estudos já constataram efeitos negativos da redução do tamanho de fragmentos florestais sobre a biodiversidade, seja ela da fauna ou da flora.

Como exemplo, Almeida-Gomes et al. (2016) identificaram maior diversidade de espécies de anfíbios em fragmentos de maior área do que em pequenos fragmentos na Mata Atlântica do Rio de Janeiro/RJ. Magnus e Cárceres (2012) e Soares et al. (2015) também encontraram relação semelhante para pequenos roedores e para composição florística, respectivamente.

No tocante à forma do fragmento, cabe ressaltar os resultados para as métricas SHAPE (Índice de forma) e FRAC (Dimensão Fractal). A primeira avalia o quão a forma do fragmento se assemelha a forma de um quadrado, de modo que a medida que os valores estão mais próximos de 1 mais semelhantes a quadrados serão os fragmentos. Por outro lado, quanto mais distante de 1 forem os valores para essa métrica, mais complexas serão as formas dos fragmentos.

A segunda métrica supracitada (FRAC) mensura a complexidade da forma dos fragmentos. Variando de 1 a 2, os fragmentos com valores mais próximos de 1 estão associados a formas menos complexas, típicas da influência antrópica, ao passo que valores mais próximos de 2 estarão relacionados a formas mais complexas, geralmente, conformadas a partir de processos naturais.

Para essas métricas, os resultados indicaram uma predominância de fragmentos com FRAC e SHAPE próximos 1, o que indica que grande parte dos fragmentos da área de estudo possuem formas pouco complexas, o que pode ser explicado pelo uso intenso do solo, principalmente pela cultura temporária da cana-de-açúcar. Para a métrica SHAPE, foram encontrados alguns valores distantes de 1, que por sua vez, podem ser explicados pela existência de fragmentos mais alongados, sobretudo, localizados ao longo de cursos d’água. O Gráfico 2 representa a dispersão dos valores para as métricas FRAC e SHAPE.

Gráfico 2: Distribuição dos valores das manchas para as métricas FRAC e SHAPE.

Fonte: Elaborado pelo autor.

No que diz respeito a área núcleo, as métricas utilizadas foram: CORE (Área Núcleo) e CAI (Índice de Área Núcleo), considerando uma área de borda de 35 m, conforme resultados encontrados por Rodrigues (1998). Enquanto que a primeira métrica corresponde a quantidade absoluta de área em hectares referente ao núcleo de cada fragmento, a segunda métrica mensura o percentual de área ocupado pela área núcleo em relação a área total do fragmento. Os resultados para essas métricas estão representados nos Gráficos 3 e 4.

Gráfico 3: Resultados para a métrica CORE. Gráfico 4: Resultados para a métrica CAI.

Fonte: Elaborados pelo autor.

A área núcleo é um parâmetro que fornece informações sobre o quão o fragmento sofre influência do efeito de borda. Assim sendo, os resultados encontrados para essas métricas revelam um quadro, no qual 45,3% (29) dos fragmentos da área de estudo não possuem área

1 1,05 1,1 1,15 1,2 1,25 1,3 0 1 2 3 4 5 6 7 8 FR A C SHAPE 0 10 20 30 40

Sem área núcleo Até 1 hectare Até 10 hectares >10 hectares

Quantidade de fragmentos florestais

C O R E re a N ú cl e o )

núcleo, estando portanto, totalmente envolvidos pelo efeito de borda. Os fragmentos nessa situação apresentaram valores 0 para as métricas CORE e CAI.

Por outro lado, 25 fragmentos (39%) possuem área núcleo acima de 25% em relação a área total do fragmento. Tais fragmentos podem se constituir como prioritários para conservação e servir de base para o planejamento dos Corredores Ecológicos. No entanto, apesar do grande número de fragmentos com área-núcleo reduzida ou inexistente, cabe destacar que os mesmos também são importantes, pois podem ser incluídos em iniciativas de recuperação florestal ou ainda servir como "trampolins ecológicos" em rotas de corredores direcionadas aos fragmentos que possuem áreas total e núcleo de tamanho maior.

Em relação a conectividade, a métrica de distância euclidiana para o vizinho mais próximo (ENN), medida em metros, mostrou o seguintes resultados: a menor e a maior distâncias entre fragmentos é de 10m e 1230m, respectivamente. 67% dos fragmentos estão a uma distância de até 100m para o fragmento mais próximo, sendo que 52% estão até a 50m do fragmento mais próximo. No Gráfico 5 é possível visualizar a distribuição dos fragmentos florestais ao longo das distâncias para o fragmento vizinho mais próximo.

Gráfico 5: Distribuição dos fragmentos florestais da área de estudo, segundo a sua distância em metros para o fragmento vizinho mais próximo.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Em avaliação sobre a fragmentação na Mata Atlântica brasileira, Ribeiro et al. (2009) constaram uma distância média de 1440m entre os fragmentos desse Bioma. Já Maciel (2011) obteve como resultado para esse parâmetro e considerando somente os fragmentos de Mata Atlântica do Rio Grande do Norte, a mediana de 128m de distância entre fragmentos do bioma, resultado semelhante ao encontrado, especificamente para o município de Tibau do Sul/RN.

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800 850 900 950 1000 1050 1100 1150 1200 1250 1300 Dis tâ n cia (m ) Fragmentos

A evidente diferença entre os valores pode ser explicada pelas diferenças metodológicas, escala de trabalho e resolução espacial dos dados utilizados para o mapeamento. A escala de mapeamento e resolução dos insumos utilizados pelo presente estudo são semelhantes ao que foi adotado por Maciel (2011), assim como os resultados obtidos no tocante a conectividade de fragmentos. Ou seja, o padrão de conectividade encontrado para a área de estudo possui paridade com o padrão característico de fragmentação florestal da Mata Atlântica no Rio Grande do Norte.

A Figura 38 é uma representação de possíveis conexões entre fragmentos florestais na área de estudo, considerando os 4 vizinhos mais próximos (200 conexões) e a conexão estrutural de todos os fragmentos (227 conexões). Utilizando limiares de distância de 10m, 50m, 100m, 200m e 500m para conexão entre fragmentos, a quantidade de conexões seria, respectivamente: 50,79, 94, 124 e 213.

Figura 38: Conexões entre fragmentos, considerando os 4 vizinhos mais próximos e a conexão estrutural de todos os fragmentos florestais.

Fonte: Elaborado pelo autor.

As distâncias entre os fragmentos da área de estudo não são elevadas. No entanto, é necessário avaliar a cobertura do solo circundante aos mesmos e avaliar se ela se constitui como elemento de restrição ou de potencialização da conectividade. Dessa maneira, evidencia-se a importância da análise da paisagem não apenas através das métricas, mas também por meio de sua análise integrada.

3.3 Situação atual de conservação e risco de perturbação dos fragmentos