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A seleção de áreas para a implantação de Corredores Ecológicos como um processo

1.4 Sistema de Apoio a Decisão (SAD), Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e

1.4.1 A seleção de áreas para a implantação de Corredores Ecológicos como um processo

Para o estabelecimento de Corredores Ecológicos são necessárias diversas análises ao nível da paisagem, que envolvem a avaliação de aspectos de diversas naturezas e a utilização e a produção de informações que forneçam subsídios para o aumento das chances de sucesso das ações voltadas ao aumento da conectividade entre remanescentes.

Essas análises estão relacionadas, principalmente à seleção de áreas potenciais para a implantação dos corredores, que por sua vez possui complexidade, tendo em vista que a grande parte desses corredores deve atravessar paisagens, cuja conformação de usos pode causar conflitos e restrições, que devem ser avaliadas e ponderadas conjuntamente aos usos possivelmente propícios para a introdução dessa estratégia de conservação da biodiversidade (LOMBARD et al., 2010).

Dessa forma, no caso de paisagens fragmentadas, a análise deve estar pautada na percepção da complexidade das formas advindas, principalmente dos diferentes usos da terra, oriundos da dinâmica de ocupação, alteração e exploração humana na matriz da paisagem preexistente. Além disso, é importante conciliar o uso dos recursos naturais e os objetivos de conservação da biodiversidade, uma vez que:

A chave para o desenvolvimento de um modelo apropriado de manejo de paisagem visando à implementação de corredores deve levar em conta o ambiente como elemento prioritário para o desenvolvimento humano e não como simples parte integrante das ações pretendidas de desenvolvimento humano (ROCHA et al., 2006, p.326).

A seleção de áreas e ações para proteção da biodiversidade é uma tarefa complexa, pois se apoia em tomadas de decisão, que devem equilibrar a necessidade de proteção ambiental e a crescente demanda das sociedades humanas pelo uso de recursos naturais (FIGUEIREDO et al.,2006). Avaliar consistentemente elementos componentes da paisagem, visando o aumento da conectividade da mesma é de fundamental importância para a tomada de decisão. Com isso, é possível reduzir a subjetividade da decisão e elevar as possibilidades de eficiência e eficácia. Corroborando, Herrmann et al. (2011, p.119) destacam que:

O exercício de seleção de áreas e ações prioritárias para conservação da biodiversidade está longe de ser uma tarefa trivial, é uma ação complexa, que envolve o tratamento e a utilização das informações disponíveis para a tomada de decisão sobre ‘onde’, ‘quando’ e ‘quanto’ investir. Diminuir o nível de subjetividade na tomada de decisão, além de aumentar as chances de sucesso das ações planejadas para a conservação da biodiversidade, torna o processo mais transparente e auxilia nas negociações com os tomadores de decisão.

A tomada de decisão envolve a definição de regras, indicação e ponderação de critérios (LANG; BLASCHKE, 2009), com intuito de subsidiar escolhas entre as alternativas disponíveis, bem como identificar as possibilidades mais adequadas considerando os objetivos almejados. Para biologia da conservação, a definição de critérios para a seleção de áreas e ações para a conservação da biodiversidade é uma das grandes questões (GANEM; DRUMOND, 2010), sendo indispensável avaliar os recursos presentes na paisagem de acordo com suas potencialidades e restrições.

A seleção de critérios e dados para o manejo das paisagem objetivando o aumento da conectividade entre remanescentes de vegetação está relacionada, sobretudo ao tipo de conectividade que se deseja estabelecer, que por sua vez pode ser estrutural e/ou funcional (RUDNICK et al., 2012).

No tocante, a conectividade estrutural são necessários dados inerentes ao quadro físico natural, como por exemplo: tipos de solo, relevo e cobertura vegetal. No que diz respeito a conectividade funcional, os dados requeridos estão associados ao comportamento referente a movimentação de indivíduos e organismos ao longo da paisagem.

Existem muitas dificuldades intrínsecas aos estudos baseados nesse tipo de conectividade, pois a tendência é que hajam diversos indivíduos e organismos, com diferentes tipos de comportamentos de deslocamento na paisagem, sendo portanto dificil, mesmo com as mais modernas metodologias, identificar de maneira confiável esses movimentos. Em concepção similar Sanderson et al., 2003, classifica esses critérios em estruturais (structural criteria) e funcionais (functional criteria), de acordo com o tipo de conectividade realizada.

No Brasil, os critérios para estabelecer a configuração dos grandes Corredores de Biodiversidade foram projetados levando em consideração a distribuição das UC e aspectos biológicos, tais como:

a) Riqueza de espécies, incluindo número absoluto, bem como percentagem total desta dentro da riqueza da biota regional conservada no corredor. b) Diversidade de comunidades e ecossistemas, incluindo número de comunidades distintas e percentagem das comunidades típicas da região. c) Grau de conectividade, ou integralidade das ligações existentes entre comunidades terrestres e aquáticas ao longo do corredor em potencial. d) Integridade, ou tamanho mínimo dos blocos de paisagem natural, para definir a capacidade de suporte de populações de espécies raras e ameaçadas (AYRES et al., 2005, p.25).

Além disso, foram indicadas como áreas potenciais, as Terras Indígenas (TI) em bom estado de conservação e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN). E para o

bioma Mata Atlântica foi adicionado ainda o critério de riqueza de espécies endêmicas, por se tratar de um bioma com grande endemismo.

Ao avaliar os critérios seguidos pelos projetos pioneiros para o estabelecimento de redes de Corredores no país, constata-se que o foco destes está mais volvido a seleção de áreas potenciais para conservação do que para indicar as possibilidades de conexão entre fragmentos na paisagem. Ou seja, em termos práticos, os critérios utilizados os projetos institucionais brasileiros para criação de Corredores de Biodiversidade têm utilidade na recomendação de áreas prioritárias para conservação, mas a sua contribuição é insuficiente no que se refere à conexão dessas áreas, principalmente por não elucidarem de forma satisfatória como a conectividade entre as mesmas deve ser estabelecida.

Os referidos projetos carecem também de análises mais minuciosas da paisagem, pois a escala considerada é de ordem regional, o que dificulta a realização de diagnósticos mais detalhados. Segundo Beier et al. (2007), ao projetar o aumento da conectividade de uma paisagem devem estar incluídas as práticas e alternativas de manejo da paisagem para diminuição de barreiras, gestão de terras, entre outros aspectos, imprescindíveis para promover a ligação entre remanescentes de vegetação, visto que somente a indicação de áreas para conservação não garante tal ligação.

Visando preencher esses vazios metodológicos, alguns estudos estão sendo propostos em escalas cartográficas grandes/médias e baseados em critérios diretamente relacionados com a conectividade de fragmentos. Geralmente, esses estudos resultam na indicação de possíveis áreas para a implantação de Corredores Ecológicos e em propostas de interligação com base nessas áreas.

Esses estudos propõem rotas de ligação entre fragmentos baseadas na conectividade estrutural e/ou funcional, sendo que a grande maioria está pautada apenas no estabelecimento da conectividade estrutural, o que pode ser explicado pelas dificuldades já mencionadas anteriormente relativas à mensuração de movimentos de diversas espécies ao longo da paisagem. Não obstante, perante essas dificuldades de trabalho com critérios funcionais, a utilização apenas de critérios estruturais para o estabelecimento da conectividade pode se constituir como uma importante ferramenta de avaliação (SANDERSON et al., 2003).

No que se refere aos critérios estruturais adotados por grande parte desses estudos, verifica-se a presença de aspectos físico-naturais, socioeconômicos e legislativos. Por isso, esses critérios serão subdivididos em: critérios físico-naturais, critérios socioeconômicos e critérios legislativos, conforme mostra o Quadro 6.

Quadro 6: Critérios utilizados em estudos voltados para seleção de áreas potenciais para a implantação de Corredores Ecológicos.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os critérios físico-naturais descrevem características do quadro físico-natural da paisagem. São empregados dados sobre relevo (altimetria e declividade, principalmente), e solos (aptidão agrícola e susceptibilidade a erosão). A partir desses dados são indicadas áreas potenciais, de acordo com sua aptidão agrícola e/ou susceptibilidade à erosão.

Os critérios socioeconômicos referem-se, sobretudo, ao uso, ocupação e custos das terras. É importante considerar que determinados usos da terra podem representar restrições ou potencializadores para a implantação de Corredores Ecológicos. Além disso, podem ser avaliados os custos de cada alternativa de acordo com o preço da terra ou a extensão da rota de interligação.

Os critérios legislativos consideram a possibilidade de se utilizar áreas protegidas pela legislação ambiental para o aumento da conectividade da paisagem. Nesse sentido, são utilizadas Áreas de Preservação Permanente, Reservas Particular do Patrimônio Natural,

Critérios Ambientais Critérios Socioeconômicos Critérios Legislativos Estudos consultados Aptidão agrícola, susceptibilidade a erosão. Concepção do uso e da ocupação da terra, como fatores potenciais ou limitantes; Custos relacionados a terra. Área de Preservação Permanente (APP), Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), Terra Indígena (TI), Reserva Legal (RL) e outros tipos de áreas protegidas pela legislação. Caldas (2006), Alves (2007), Pimentel (2007), Oliveira Júnior (2007), Bergher (2008), Parker et al. (2008), Anjos (2008), Furlan et al. (2009), Almeida et al. (2010), Cesar e Zeilhofer (2010), Alonso (2010), Gurrutxaga et al. (2010), Silva et al. (2011), Zeller e Rabinowitz (2011), Louzada et al. (2012), Ferrari et al. (2012), Ribeiro et al. (2012) e Leite (2012), Oliveira et al. (2015).

Reservas Legais, presentes em Brasil (2012) e outras áreas legalmente resguardadas nos âmbitos estadual e municipal.

Os critérios supracitados podem ser combinados ou utilizados individualmente. A escolha quanto ao uso e combinação ou não de critérios está atrelada aos objetivos do tomador de decisão, forma de análise e às características da área. O tomador de decisão deve aproveitar as potencialidades e propor adaptações aos entraves presentes na paisagem, de modo a gerir possíveis conflitos e aumentar a confiabilidade da decisão para o aumento da conectividade entre remanescentes de vegetação.

A análise da paisagem, fundamental em atividades dessa natureza, encontra na Geografia elementos metodológicos, que combinados às possibilidades proporcionadas pelos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e pelos Sistemas de Apoio a Decisão Espacial (SADE), podem ser de grande importância, no sentido de fornecer rigor científico e metodológico a seleção e combinação de critérios com vistas a tomada de decisão.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E TÉCNICOS

A presente pesquisa tem sua metodologia pautada na Teoria Geral dos Sistemas (BERTALANFFY, 1968), mais especificamente na abordagem voltada para a Geografia, a abordagem Geossistêmica (SOTCHAVA, 1977; BERTRAND, 1971; CHRISTOFOLETTI, 1999; MONTEIRO, 2001).

A metodologia estrutura-se tomando por base adaptações às proposições de Monteiro (2001) no que tange ao roteiro metodológico para a abordagem geossistêmica, através de quatro etapas: Análise, Integração, Síntese e Aplicação.

O tratamento geossistêmico visa a integração das variáveis 'naturais' e 'antrópicas' (Etapa Análise), fundindo 'recursos', 'usos' e 'problemas' configurados (Etapa Integração) em 'unidades homogêneas' assumindo um papel primordial na estrutura espacial (Etapa Síntese) que conduz ao esclarecimento do estado real da qualidade do ambiente (Etapa Aplicação) do 'diagnóstico' (MONTEIRO, 2001, p.81).

O roteiro metodológico proposto pelo autor supracitado baseia-se em um primeiro momento, na coleta de informações sobre a área, através de pesquisa bibliográfica, aquisição de dados secundários, junto a órgãos competentes e trabalho de campo.

Posteriormente, o fluxo de trabalho converge para a etapa "Análise", na qual são agregadas as variáveis naturais (geologia, solos e vegetação entre outros) e as variáveis antrópicas (urbanização, indústria, agricultura), resultando na indicação de recursos, usos e problemas ambientais.

Na etapa "Integração", os resultados obtidos na etapa Análise são integrados. Na etapa "Síntese" os usos, recursos e problemas que foram integrados na etapa "Integração" são agregados e formam unidades homogêneas, de acordo com a combinação de características comuns, sobretudo relacionadas às suas potencialidades e/ou fragilidades.

Por fim, na etapa "Aplicação", obtém-se um diagnóstico ambiental sobre o recorte espacial selecionado, sendo possível a partir dele propor soluções e alternativas relativas, sobretudo, ao ordenamento ambiental, subsidiando a tomada de decisão por parte do poder público.

Fundamentando-se nessa concepção, serão selecionados critérios para uma modelagem baseada nas perspectivas ambiental, socioeconômica e legislativa, visando a indicação de áreas potenciais para a implantação de Corredores Ecológicos de Mata Atlântica, que servirão de base

para o estabelecimento de propostas voltadas à formação de rotas de ligação para o aumento da conectividade estrutural entre fragmentos de Mata Atlântica na escala de município.

Tomando por base o roteiro metodológico para a abordagem geossistêmica, os procedimentos metodológicos foram divididos em etapas denominadas de “Análise”, “Integração”, “Síntese” e “Aplicação”. Sendo assim, a distribuição de tais procedimentos em cada etapa pode ser visualizada na Figura 20.

Figura 20: Roteiro Metodológico da pesquisa.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Na etapa “Análise” estão previstos procedimentos voltados ao diagnóstico sobre a estrutura da paisagem, com intuito de avaliar e mensurar as características dos fragmentos e sua relação com o entorno. Além disso, nessa etapa serão realizados mapeamentos e selecionados os elementos/critérios que irão compor os modelos da etapa seguinte.

Na etapa “Integração”, os critérios elencados na etapa anterior serão hierarquizados de acordo com a sua importância no que tange a tomada de decisão direcionada ao estabelecimento de corredores ecológicos na área de estudo.

Análise

Escolha da área de estudo Mapeamento dos fragmentos florestais

Análise da estrutura da paisagem (métricas de paisagem), conservação e risco de perturbação dos fragmetnos florestais da área de estudo

Integração

Seleção de critérios para definição de áreas pontenciais para o estabelecimento de Corredores Ecológicos

Criação do modelo baseado em características físico-naturais, socioeconômicas e legislativa .

Síntese

• Indicação de áreas potenciais para implantação de Corredores Ecológicos

Aplicação

• Seleção de possíveis traçados e/ou estratégias para o estabelecimento de conexão entre remanescentes.

Posteriormente, na etapa “Síntese”, a partir dos modelos conformados na etapa anterior, são indicados as potencialidades e os principais conflitos para a criação dos corredores ecológicos, a partir da síntese dos critérios/aspectos componentes de cada modelo.

Por fim, na etapa “Aplicação”, com base nos elementos indicados na etapa antecedente, são propostos traçados de corredores ecológicos, interligando os fragmentos florestais mapeados na primeira etapa.