• Nenhum resultado encontrado

O conceito de paisagem para Geografia: breve histórico e considerações sobre

1.3 Análise integrada da paisagem

1.3.1 O conceito de paisagem para Geografia: breve histórico e considerações sobre

O conceito de paisagem adquiriu ao longo da história do pensamento geográfico diferentes abordagens. As premissas históricas desse conceito para a Geografia surgem em meados do século XV, no período do Renascimento, momento no qual o homem ao mesmo tempo em que distancia-se da natureza, adquire técnica suficiente para considerá-la passível de ser apropriada e transformada (MENDONÇA; VENTURI, 1998).

De acordo com Vitte (2007, p. 72): "a temática relativa ao conceito de paisagem e seu tratamento na Geografia, acumula ao longo dos tempos uma série de polêmicas envolvendo uma enorme diversidade de conteúdos e significados".

De maneira geral, as abordagens relativas a esse conceito tiveram como centros produtores e disseminadores as escolas geográficas alemã, soviética, anglo-saxônica e francesa. Na Alemanha, destacaram-se nomes como Humboldt, desenvolvendo estudos voltados para a diferenciação das paisagens, com ênfase na vegetação, visando entender as leis que conduzem a fisionomia da natureza (MAXIMIANO, 2004). Ratzel também contribuiu para os estudos relacionados a esse conceito, sobretudo através da Landshaftskunde, que se constituía como uma ciência da paisagem, sob a ótica territorial (MOURA; SIMÕES, 2010). Além desses, cabe destacar a importância de Troll, através da ecologia da paisagem, volvida principalmente a análise da estrutura da paisagem.

Na União Soviética/Rússia, nomes como Dokoutchaev, Berg e Sotchava contribuíram de maneira significativa em relação aos debates sobre a paisagem na Geografia. O primeiro, edafólogo, foi um dos precursores do estudo da paisagem na referida escola do pensamento geográfico. Seus estudos deram origem a diversos fundamentos da pedologia (MOURA; SIMÕES, 2010). O segundo contribuiu, especialmente, em razão da inserção da relação entre homem e natureza na sua concepção de paisagem, pois para Berg a paisagem era concebida

como "uma região na qual as particularidades do relevo, do clima, das águas, do solo, da vegetação e da atividade antrópica são organizadas num conjunto geográfico harmonioso" (FROLOVA, 2007, p. 163). O terceiro forneceu importante aporte metodológico para a Geografia Física, a partir da concepção de paisagem pautada na abordagem geossistêmica, na qual destacam-se não apenas os elementos da natureza, mas também as conexões entre eles, permitindo revelar a dinâmica, estrutura funcional da paisagem e não somente analisar sua morfologia e subdivisões (LIMBERGER, 2006). Mais adiante serão discutidas de forma mais aprofundada alguns elementos relevantes para este estudo relativos aos geossistemas.

Na vertente anglo-saxônica dos estudos sobre a paisagem, havia um forte direcionamento das concepções de paisagem aos aspectos da evolução do relevo, ou seja, a paisagem era analisada, mais notadamente, através da evolução das formas do relevo. Destacaram-se os estudos de Smuts, baseados principalmente concepção na Teoria do Holismo, o que foi bastante proeminente no que concerne ao desenvolvimento do conceito de paisagem sob uma perspectiva integrada.

Na escola francesa, Bertrand é considerado um dos principais autores, cujos estudos estavam volta dos para a compreensão da paisagem de forma integrada, através dos geossistemas, aliando recursos físicos naturais e antrópicos em suas análises (MARQUES NETO, 2008).

As abordagens mais atuais do conceito de paisagem carregam consigo contribuições advindas do processo histórico de formação do pensamento geográfico. Normalmente essas abordagens, em função da complexidade inerente à paisagem, priorizam determinado aspecto em suas análises, conforme aponta Schier (2003, p. 85): "percebe-se, então, que não existe uma geografia que sirva ao estudo, em todos os níveis, da paisagem. Pois sua complexidade torna impossível qualquer análise geográfica sob a luz de uma única abordagem".

Neste sentido, as abordagens geográficas para o referido conceito priorizam aspectos culturais e simbólicos ou aspectos de cunho físico-natural e sua interação com as ações antrópicas.

A abordagem cultural prega que a paisagem é resultado da ação da cultura sobre a paisagem natural, como destacam Corrêa e Rosendahl (1998, p.9), sobre a concepção de Carl Sauer: "A paisagem cultural ou geográfica resulta da ação, ao longo do tempo, da cultura sobre a paisagem natural". Dessa forma, a ação do homem sob a forma de cultura tem função transformadora sobre a paisagem, sendo a paisagem atual resultado dessa ação ao longo do tempo.

Sob a perspectiva do simbolismo a paisagem é concebida a partir da significação que cada individuo tem em relação a paisagem observada. Sob esse viés, Cosgrove (2004, p. 121) afirma que:

As paisagens tomadas como verdadeiras de nossas vidas cotidianas estão cheias de significados. Grande parte da geografia mais interessante está em decodificá-las. É tarefa que pode ser realizada por qualquer pessoa no nível de sofisticação apropriado para elas. Porque a geografia está em toda a parte, reproduzida diariamente por cada um de nós.

Em concepção também, de certa forma, apoiada no simbolismo, Santos (1988, p.61) concebe a paisagem como: "tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista alcança. Não é apenas formada de volumes, mas também de cores, movimentos, atores, sons, etc."

A abordagem que compreende a paisagem como resultado das interações entre o quadro físico natural e as ações antrópicas, também conhecida como abordagem integrada ou geosistêmica recebe grande influência da Teoria Geral dos Sistemas, de Bertalanffy, que se baseia sobretudo, na relação entre elementos a partir de interações múltiplas e não apenas pela concepção desses como unidades isoladas

Podemos declarar como características da ciência moderna, que este esquema de unidades isoláveis atuando, segundo a causalidade em único sentido mostrou-se insuficiente. Daí o aparecimento de noções tais como totalidade, holístico, organísmico, gestalt, etc., significando todas que, em instância, temos de pensar em termos de sistemas de elementos em interação mútua (BERTALANFFY, 1968, p. 71).

Para Bertalanffy (op.cit), a Teoria Geral dos Sistemas (TGS) seria um útil instrumento capaz de possibilitar a geração de modelos a serem utilizados em vários campos, salvaguardando o perigo das analogias vagas.

Além disso, a partir da perspectiva da TGS, o sistema deve ser estudado por meio não apenas de suas partes e processos isoladamente, tendo em vista que o comportamento das partes tratado isoladamente é diferente de seu comportamento quando tratado no contexto do todo.

1.3.2 O conceito de paisagem sob uma perspectiva sistêmica: contribuições da