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A função de amortecimento: assegurando a proteção e a distribuição de

Capítulo 4 – Apresentação e discussão dos resultados

4.4. A função de amortecimento: assegurando a proteção e a distribuição de

Analisando a assistência social do governo à população, mais concretamente os gastos estatais em termos de medidas de proteção social, observa-se que a despesa pública

20 As tabelas de correlações referentes aos indicadores utilizados nesta análise encontram-se disponíveis no

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relacionada com o total dessas medidas tem uma correlação positiva com todos essas despesas discriminadas por setor (saúde, incapacitados, reformas, famílias e crianças, habitação e outras) à exceção daquelas relacionadas com as pensões de sobreviventes e de desemprego, sendo que aqueles com maior intensidade são a saúde e as reformas. Essa correlação é também positiva para todas as fontes de receita da proteção social, à exceção das outras fontes que não as contribuições sociais e as do governo. Quando olhamos para o total de despesas de proteção social means-tested, ou seja, aquelas que exigem uma condição para determinar se um indivíduo ou família é elegível para a assistência governamental (geralmente com base nos meios que possui), a correlação é negativa para as despesas relacionadas com incapacidade (maior intensidade) e reformas, sendo positiva para as restantes (onde a que tem maior intensidade são aquelas relacionadas com a habitação). As correlações deste tipo de despesas com as fontes de proveniência das receitas, vemos que esta é negativa para aquelas que provêm tanto do governo como de outras fontes e positiva para aquelas que provêm de contribuições sociais, sendo que dentro destas últimas é negativa para aquelas que provêm dos empregadores e positiva para as restantes, com maior intensidade para as receitas que provêm das contribuições sociais de pensionistas e outras pessoas protegidas. Quanto ao total de despesas de proteção social non-means-tested, temos uma correlação negativa para as despesas relacionadas com as pensões de sobreviventes e de desemprego, sendo positiva para as restantes e com maior intensidade para as relacionadas com as reformas. Quanto à correlação deste tipo de despesas com as fontes das receitas da proteção social, ela é positiva para aquelas que provêm de contribuições sociais (com forte intensidade para a dos empregadores) e do governo, sendo negativa para aquelas que derivam de outras fontes.

Analisando o impacto das transferências sociais (excluindo as pensões) na redução da taxa de pobreza ou exclusão social, observamos que a correlação com o total das despesas da segurança social é positiva, sendo com grande intensidade para o total das despesas non means-tested e quase insignificante para as means-tested. Observando as despesas por setor, verificamos que a correlação é negativa para as despesas relacionadas com pensões de sobreviventes (grande intensidade) e com o desemprego, sendo positiva para as restantes e com maior intensidade para as relacionadas com as famílias e crianças. A correlação com as fontes das receitas é positiva tanto para aquelas que provem das

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contribuições sociais, como do governo (maior intensidade) ou outras fontes. Dentro das contribuições sociais aquela com maior intensidade é a paga pelos empregadores e pelos trabalhadores por conta própria (sendo esta última negativa) e com menor intensidade é a paga pelas pessoas protegidas. O impacto das transferências na redução da taxa de pobreza ou exclusão social está muito ligado às despesas non-means-tested, apresentando correlações idênticas a esse tipo de despesas, e o seu efeito é tanto maior quanto mais se apostar nas medidas de proteção social relacionadas com as famílias e as crianças, considerada como uma das insígnias da política do investimento social, ligadas ao desenvolvimento das crianças e à reconciliação entre a vida familiar e laboral. Esse impacto é cada vez menor se as políticas se centrarem nas atribuições passivas de pensões a desempregados e a sobreviventes. Torna-se imperativo, portanto, não diminuir nem descurar neste tipo de políticas, mas sim estreitar os critérios de elegibilidade de benefícios e a sua duração, assim como montar um sistema forte de monotorização e de serviços sociais de qualidade que possibilitem às pessoas sair da situação frágil em que se encontram, através da inserção no mercado de trabalho e do consequente recebimento dos seus rendimentos próprios.

Quanto à proporção de pensionistas (população reformada com mais de 18 anos) em risco de pobreza, temos correlações distintas quando observamos as pessoas do sexo masculino ou feminino. Quanto à correlação dos pensionistas homens em risco de pobreza com as despesas means-tested, esta é positiva, sendo negativa para as non-means-

tested (com maior intensidade para esta última); desdobrando as despesas por setor vemos

que a pobreza dos pensionistas masculinos apenas está positivamente correlacionada com as relacionadas com a habitação, e aquela com a qual possui maior intensidade de correlação (negativa) é a despesa pública com reformas. A proporção de pensionistas do sexo masculino em risco de pobreza é também negativamente relacionada com o impacto das transferências sociais na redução da pobreza ou exclusão social. Quando analisamos as pensionistas do sexo feminino em risco de pobreza, vemos que a sua proporção está negativamente relacionada tanto com as despesas means-tested como com as non-means-

tested (ainda que com maior intensidade nestas últimas); analisando as despesas por setor,

temos que a proporção das mulheres pensionistas em risco de pobreza é tão maior quanto maior forem as despesas relacionadas com incapacitados, com famílias e crianças, com a habitação e com outros tipos de medidas de proteção social, reduzindo consoante o

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aumento da despesa para os restantes setores. A correlação entre este indicador e o impacto das transferências sociais na redução da taxa de pobreza ou exclusão social é positiva. Analisando a sua correlação com as várias fontes das receitas da segurança social, observamos que esta é negativa para aquelas que provêm de contribuições sociais (maior intensidade para as receitas provenientes dos trabalhadores por conta própria) e positiva para aquelas que provêm do governo ou de outras fontes. Se analisarmos os pensionistas homens pobres, a correlação da sua proporção com as fontes apenas é positiva para outras fontes (maior intensidade para as receitas provenientes dos empregadores). As implicações mais importantes que se retiram daqui são aquelas referentes ao facto do impacto das transferências na redução das situações de pobreza ou exclusão social ter efeitos contrários na taxa de risco de pobreza dos pensionistas do género masculino e feminino: se nos homens pensionistas pobres, a correlação com o impacto das transferências é negativa, ou seja, têm efeito positivo na redução do número de pessoas do sexo masculino que se encontram em situação de pobreza, nas mulheres pensionistas pobres, acontece o contrário.

O que de mais importante há a destacar em relação à função de amortecimento ao nível da análise global, prende-se com o facto do impacto das transferências (exceto pensões) na redução da taxa de exclusão social tenha efeitos contrários sobre os pensionistas do sexo masculino e do sexo feminino: o impacto das transferências tende a reduzir os pensionistas homens em risco de pobreza, enquanto tende a aumentar essa situação para as pensionistas mulheres. De destacar igualmente que as despesas means-

tested possuam um impacto positivo sobre a proporção de pensionistas do sexo masculino

em risco de pobreza, enquanto para as mulheres esse é negativo, ou seja, as despesas relativas a benefícios de proteção social concedidos a indivíduos conforme uma certa condição de necessidade têm tendência a aumentar a pobreza dos pensionistas do género masculino e a diminuir os do género feminino. As despesas de proteção social que tendem a ter um efeito agravador das situações de pobreza nos pensionistas homens são as com habitação, enquanto nas pensionistas mulheres são, além dessas, as com as famílias e crianças, a com os incapacitados e com outras medidas de proteção social. As despesas que possuem um efeito diminutivo no impacto das transferências em termos de redução da taxa de pobreza ou de exclusão social são as relacionadas com o desemprego e os sobreviventes: se é natural que as pensões relacionadas com os sobreviventes tenham um

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efeito negativo sobre o impacto das transferências, uma vez que estas não englobam as pensões, o facto das despesas com o desemprego também produzirem tal efeito não deixa de ser surpreendente, uma vez que é um importante instrumento para a redução da pobreza monetária dos indivíduos mais necessitados que não conseguem garantir um emprego.

4.4.1. O caso português21

No que se refere ao sistema de proteção português e à análise dos seus dados no âmbito da função de amortecimento da política do investimento social, o total das despesas com as medidas de proteção social, quando discriminadas por setor, correlacionam-se apenas negativamente com as despesas com os incapacitados e outros tipos de medidas de proteção social, correlacionando-se positivamente com todas as outras (saúde, família e crianças, desemprego, pensão de sobreviventes e reformas, com maior intensidade nestes três últimos); a relação do total destas despesas com as suas fontes de proveniência é positiva para qualquer uma delas (contribuições sociais, governo – maior intensidade – e outras fontes). As despesas relacionadas com a proteção social que são non-means-tested têm sentido de correlação idêntica à do total das despesas, apenas modificando o sentido das despesas com saúde, cuja correlação é aqui negativa. Já as despesas means-tested apresentam correlação negativa com as despesas relacionadas e as reformas, e positiva com os restantes setores de despesa (família e crianças, saúde, desemprego, sobreviventes, outros tipos de medidas de proteção social, sendo a intensidade maior nos dois primeiros setores referidos). A relação destes dois géneros de despesas com as fontes das receitas é exatamente igual aos anteriores, ou seja, positiva tanto para as que provêm das contribuições sociais (à exceção daquela parcela paga pelos pensionistas e outras pessoas protegidas), como do governo e de outras fontes.

Olhando para o indicador do impacto das transferências na redução da taxa de pobreza ou exclusão social, pode-se observar que a sua correlação tanto com as despesas

means-tested como non-means-tested é positiva, sendo apenas negativa para o setor das

despesas relacionadas com a incapacidade e tendo maior intensidade de correlação com as pensões providas aos sobreviventes; este indicador é também positivamente

21 As tabelas de correlações referentes aos indicadores utilizados nesta análise encontram-se disponíveis no

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correlacionado com as fontes das receitas. Analisando a proporção de pensionistas que se encontram abaixo da linha de pobreza, ou seja, situação de risco de pobreza, encontramos relações muito idênticas quando as olhamos separadamente por género: a correlação dos pensionistas pobres é negativa tanto para as despesas means-tested (quase nula nas mulheres) como para as non-means-tested, sendo que quando se efetua a análise por setor, ela é positiva para as despesas relacionadas com saúde, incapacidades (grande intensidade) e outros tipos de despesas de proteção, e negativa para as restantes, com grande intensidade nas que dizem respeito às reformas, ao desemprego e aos sobreviventes. Encontra-se, contudo, uma diferença a nível de género que convém realçar: a correlação com o indicador do impacto das transferências na redução da taxa de pobreza é negativa para os pensionistas homens, mas quase nula para as pensionistas mulheres.

Na função de amortecimento para Portugal destaca-se, tal como na análise a nível global, o facto do impacto das transferências contribuir para uma tendência de diminuição dos pensionistas homens em risco de pobreza, enquanto não produz qualquer efeito relevante nas pensionistas mulheres pobres (na análise referente aos dados dos sete países, a tendência é para aumentar a sua proporção). Aqui contudo, tanto as despesas means-

tested como as non-means-tested têm iguais impactos (de diminuição) na proporção dos

pensionistas em risco de pobreza, quer sejam do género masculino ou feminino. As despesas com medidas de proteção social que contribuem com um impacto positivo para a proporção de pensionistas pobres também são iguais para ambos os géneros, sendo elas as relacionadas com a saúde, com os incapacitados e com outras medidas de proteção social. Esta despesa com incapacitados é igualmente a única que contribui com um efeito negativo para o impacto das transferências sobre a redução da pobreza ou exclusão social.

4.5. Interações entre as três funções e os resultados em termos de diminuição