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A função de stock: aumentando o capital humano da população

Capítulo 4 – Apresentação e discussão dos resultados

4.3. A função de stock: aumentando o capital humano da população

Ao analisar os gastos públicos com educação por nível de escolaridade em conformidade com o fluxo de entrada e saída de alunos do sistema de ensino (através dos indicadores de matriculação líquida e do abandono precoce dos estudantes, para os vários níveis escolares), é possível observar que a despesa no ensino pré-primário está

18 As tabelas de correlações referentes aos indicadores utilizados nesta análise encontram-se disponíveis no

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positivamente correlacionada com a taxa de matriculação líquida em qualquer nível de ensino (pré-primário, primário e básico até pós-secundário não-terciário) e negativamente correlacionada com os estudantes que abandonaram mais cedo o ensino pré-primário e primário; contudo, no que se refere aos estudantes do nível básico e secundário, essa correlação é positiva (à exceção dos estudantes do nível secundário do sexo masculino). A despesa pública em educação primária (1º e 2º ciclos) tem uma correlação negativa com as taxas de matriculação líquida no ensino pré-primário e no ensino básico até ao pós-secundário não terciário (maior intensidade na relação da primeira taxa), e uma correlação positiva para a taxa de matriculação líquida do ensino primário. A relação desta despesa com a percentagem de alunos que abandonaram mais cedo o sistema de ensino pré-primário é negativa, sendo que essa correlação positiva para os ensinos primário, básico e secundário é positiva (menor intensidade no secundário). Já a despesa pública em educação desde a básica (3º ciclo) até à pós-secundária não terciária é negativamente correlacionada tanto com a taxa de matriculação líquida no ensino pré- primário e primário, e, apesar de com pouca intensidade, positivamente correlacionada com a taxa de matriculação do ensino básico até ao pós-secundário não terciário, à exceção da correlação com a taxa para o género feminino, que é também negativa. Quanto à correlação desta despesa com a proporção de estudantes que abandonou mais cedo o sistema de ensino, esta é positiva para todos os níveis de escolaridade examinados (pré- primário, primário e básico), à exceção do nível secundário (negativa). No que se refere à despesa pública em educação terciária, ela é positivamente correlacionada com as taxas de matriculação líquida para todos os níveis de ensino examinados, e negativamente correlacionada com a percentagem de estudantes que abandonou mais cedo o sistema de ensino pré-primário e secundário, sendo essa correlação positiva para o nível de escolaridade básico e quase nula em relação ao ensino primário.

A despesa com no ensino pré-primário encontra-se também positivamente correlacionada com a percentagem de população adulta (de qualquer escalão etário) que esteve em formação ou treino nas últimas quatro semanas. Igual relação se encontra entre este indicador de aprendizagem ao longo da vida e a despesa pública no ensino terciário. Já no que respeita à despesa pública na educação primária e na educação básica até à pós- secundária não-terciária, a correlação entre estas e a percentagem de população jovem (18 aos 24 anos) que esteve em educação ou treino nas últimas quatro semanas é negativa,

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sendo positiva para os restantes escalões etários (apesar de existir uma menor intensidade no que se refere às correlações das despesas em educação básica até à pós-secundária não-terciária).

Analisando as relações das várias despesas estatais no sistema de ensino com a taxa de emprego jovem e com o nível de habilitações da população, verifica-se que a despesa em educação (em qualquer nível de ensino) é sempre positivamente correlacionada com a taxa de emprego da população jovem (15 aos 34 anos), quer os indivíduos tenham saído da educação ou formação há mais ou menos do que 3 anos, e para qualquer nível de escolaridade possuído. Existe apenas uma exceção que se prende com a correlação entre a despesa pública em educação pré-primária e a taxa de emprego para a população masculina que saiu há mais de três anos do sistema de ensino ou formação e cujo nível de escolaridade obtido é igual ou inferior ao básico (3º ciclo), que é negativa. No que se refere à relação das despesas em educação com o nível de habilitações obtido pela população, encontram-se correlações negativas entre a população que tem no máximo a escolaridade básica e as despesas em educação pré-primária, na básica até secundária e na terciária, sendo essa correlação positiva para a despesa no ensino primário. Além disso, essa despesa estatal com o ensino primário encontra-se negativamente correlacionada com a população que possui habilitações secundárias ou pós-secundárias não terciárias, enquanto as despesas com os outros níveis de ensino se encontram positivamente correlacionados com este indicador. Em relação à população que possui habilitações terciárias, as despesas com o sistema de ensino encontram-se sempre positivamente correlacionadas com esta, qualquer que seja o nível onde essa despesa é efetuada. Curiosamente no que respeita às despesas em educação pré-primária, primária e terciária e às suas correlações com as habilitações da população, aquelas que possuem maior grau de intensidade são as com a população feminina cujo nível de escolaridade obtido é a terciária. As despesas do ensino básico até ao pós-secundário não terciário estão correlacionadas com maior intensidade com a proporção da população masculina cujo nível de escolaridade obtido é no máximo a secundária ou a secundária não-terciária.

Fazendo a análise da relação de outro indicador de despesa pública, a ajuda financeira fornecida aos alunos que estão inseridos no sistema de ensino, com todos os mesmos indicadores utilizados para a despesa estatal, tem-se que a ajuda prestada aos estudantes desde o primário até ao pós-secundário não terciário está positivamente

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correlacionada com a taxa de matriculação líquida para todos os níveis de escolaridade analisados, e negativamente correlacionados com a percentagem de estudantes que abandonou mais cedo o sistema de ensino para todos os níveis menos aqueles que abandonaram o básico. A correlação deste indicador com o nível de escolaridade obtido pela população é similar àquelas que encontramos nas despesas, com esta a ser positiva para todos os níveis de ensino à exceção daquela franja da população que tem escolaridade igual ou inferior à básica. A ajuda financeira fornecida a estes alunos é ainda positivamente correlacionada com a taxa de emprego dos jovens (dos 15 aos 34 anos) que não se encontram em educação ou formação há menos de três anos, para todos os níveis de escolaridade, e com aqueles que não se encontram nessa situação há mais de três anos, à exceção da população cujo maior nível de escolaridade obtida é igual ou inferior à básica. A correlação com a percentagem da população que esteve em formação ou treino nas últimas quatro semanas é também positiva para todos os escalões etários (maior intensidade na população dos 18 aos 24 anos).

Já a ajuda financeira fornecida a alunos do ensino terciário apresenta correlações negativas com a taxa de matriculação líquida para todos os níveis de escolaridade analisados (até ao pós-secundário não terciário) e com a percentagem de alunos que abandonaram mais cedo o sistema de ensino pré-primário, sendo positivamente correlacionada com o abandono precoce dos restantes níveis (sendo que para o sistema de ensino primário a intensidade dessa correlação é fraca – tirando os estudantes do género feminino, onde é moderada –, e para o ensino básico é mais forte, com especial incidência nos estudantes do sexo feminino). A correlação com o nível de escolaridade obtida pela população é idêntica à encontrada para a ajuda financeira aos alunos dos níveis de escolaridade inferior, sendo negativa para quem tem habilitações iguais ou inferiores à básica e positiva para as restantes. A ajuda financeira fornecida a estes alunos é ainda positivamente correlacionada com a taxa de emprego dos jovens que não se encontram em educação ou formação há menos e há mais de três anos, para todos os níveis de escolaridade à exceção da população feminina que abandonou o sistema há mais de três anos e cujo maior nível de escolaridade obtida é igual ou inferior à básica. Já a correlação deste indicador com a percentagem da população que esteve em formação ou treino nas últimas quatro semanas é também positiva (e com grande intensidade) para todos os escalões etários à exceção da franja de população jovem, onde é negativa.

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Importa ainda destacar dois grupos de correlações relacionadas com a formação ao longo da vida, nomeadamente a sua correlação com o nível de escolaridade da população e com a percentagem de estudantes que abandonou mais cedo o sistema de ensino. Quanto à relação da percentagem de população adulta que esteve em formação ou treino nas últimas quatro semanas com o abandono precoce do sistema de ensino, esta é positiva no grupo etário jovem (18-24 anos) no que se refere à saída do sistema de ensino pré- primário e secundário, e negativa para o sistema de ensino primário (à exceção dos estudantes do sexo masculino) e básico (com pouca intensidade nestes dois níveis); no que respeita aos adultos em formação com a faixa etária entre os 25 e os 54 anos, a correlação com a saída do sistema de ensino é negativa para o pré-primário e positivo para o primário (pouca intensidade), básico (grande intensidade) e secundário (com maior incidência no género feminino); quanto à faixa etária dos mais velhos (55 aos 64 anos) em formação ou treino nas últimas quatro semanas, a relação com o abandono escolar precoce é idêntica à do grupo etário anterior, mudando apenas as intensidades. A correlação do indicador da formação ao longo da vida com nível de escolaridade da população é idêntica para todos os três escalões etários, sendo essa negativa para a população cujo nível de escolaridade máximo obtido é a básica, e positiva para quem possui habilitações secundárias ou terciárias (intensidade maior para a população – principalmente a feminina – com nível de escolaridade terciária para os escalões etários médio e velho; para o escalão etário jovem a maior correlação é com o nível de escolaridade secundária ou pós-secundária não terciária).

Analisando a relação das despesas estatais e da ajuda financeira fornecida aos alunos, por nível de ensino, com as taxas de matriculação líquida ou a percentagem de alunos que saíram mais cedo dos vários níveis de ensino, verificamos que não há um padrão coerente de correlações entre estes indicadores, não se podendo tirar grandes conclusões quanto a isto. As implicações mais interessantes que se retiram do aumento da despesas nos vários níveis de ensino são as correlações positivas com a percentagem de adultos que esteve em formação ou treino nas última quatro semanas e com a taxa de emprego jovem (15 aos 34 anos) quer tenham saído há mais ou menos de 3 anos do sistema de ensino. Idêntica relação se encontra quando comparamos estes dois indicadores com a ajuda financeira provida aos alunos (quer seja àqueles que se encontram entre o ensino primário e o secundário não-terciário, ou àqueles que se

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encontram no nível de escolaridade terciário). Há contudo que ter em conta o efeito contrário que encontramos no escalão etário mais jovem no que diz respeito ao indicador de formação ou treino nas últimas quatro semanas, e no grupo populacional cuja habilitação possuída é no máximo a básica (3º ciclo) no que diz respeito ao indicador da taxa de emprego jovem (15-34 anos) para quem saiu há mais de três anos do sistema de ensino. Isto demonstra que apesar dos efeitos positivos do aumento da despesa quer no emprego jovem quer na formação ao longo da vida, é necessário criar incentivos para que a população mais jovem e com menos habilitações queiram participar em ações que aumentem a suas capacidades tendo em vista conseguir o acesso ao mercado de trabalho. Para além disto, também é de interesse destacar que a população pertencente aos grupos etários médio (25-54 anos) e mais velho (55-64 anos) que esteve em formação ou treino nas últimas quatro semanas é positivamente correlacionada com a percentagem de estudantes que abandonou mais cedo o sistema de ensino primário, básico e secundário, o que demonstra a preocupação das pessoas com mais de 25 anos com pouca escolaridade em atualizar as suas competências, participando em ações de formação ou treino, ou seja, a procura por formação ao longo da vida está, geralmente, positivamente correlacionada com o facto de os estudantes terem saído mais cedo do sistema de ensino.

Importa igualmente destacar o facto da população que possui habilitações secundárias ou pós-secundárias não terciárias e terciárias estar positivamente correlacionada com a despesa em qualquer grau de ensino (à exceção do primário, para o nível de escolaridade secundário) e com os tipos de ajuda financeira analisados, assim como com a proporção de população adulta que esteve em formação ou treino no último mês. Já a relação com a franja da população que apenas possui habilitações básicas ou inferiores é negativamente correlacionada com todos os tipos de despesas e ajudas aos alunos (à exceção das despesas na educação primária) tal como com o indicador da formação ao longo da vida. Com isto podemos verificar que o aumento da despesa estatal, da ajuda financeira aos alunos, e da formação ou treino ao longo da vida adulta impõe efeitos positivos quanto ao nível de escolaridade da população, no que se refere tanto às habilitações secundárias como terciárias, e um efeito negativo sobre a taxa de escolarização básica.

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4.3.1. O caso português19

Atentando aos dados referentes ao caso português da função de stock, mais concretamente às relações da despesa estatal e da ajuda financeira fornecida aos estudantes com os vários indicadores da participação na educação, retira-se, a partir da análise de correlações bivariadas, que a taxa de matriculação líquida no ensino pré- primário é positivamente correlacionada com a despesa pública em educação primária, com a do ensino básico até ao pós-secundário não terciário, com a ajuda financeira aos alunos do ensino primário até ao pós-secundário não terciário e com aquela fornecida aos do ensino terciário; a correlação com a despesa pública no ensino pré-primário e terciário é negativa. Já a taxa de matriculação líquida do ensino primário é positivamente correlacionada com a despesa pública em qualquer um dos níveis de educação, e negativamente correlacionada com a ajuda financeira provida aos alunos, também para qualquer nível de ensino. No que se refere ao abandono precoce do ensino pré-primário e primário, a despesa pública feita na educação pré-primária e terciária correlaciona-se negativamente com este indicador. A despesa pública em educação primária e desde a básica até à pós-secundária não terciária têm correlações diferentes para o abandono do ensino pré-primário, com os quais se correlacionam positivamente (à exceção dos estudantes do sexo masculino para a despesa pública do ensino básico ao secundário), e para o abandono do ensino primário, correlacionando-se negativamente com este (à exceção dos estudantes do sexo masculino para a despesa em educação primária). A ajuda financeira fornecida aos alunos, qualquer que seja o nível de ensino em que se inserem, correlaciona-se positivamente com o abandono precoce de ambos os níveis de ensino (pré-primário e primário). Importa referir que a falta de análise da taxa de matriculação líquida no ensino básico e das taxas de abandono escolar do ensino básico e secundário se deve ao facto de não existirem observações emparelhadas suficientes entre os indicadores em análise.

No que diz respeito à formação e treino da população adulta nas últimas quatro semanas (indicador da aprendizagem ao longo da vida), a sua correlação com o abandono precoce do ensino pré-primário e primário é positiva; já no que diz respeito à taxa de abandono escolar referente à escolaridade básica, esta é negativa para qualquer escalão

19 As tabelas de correlações referentes aos indicadores utilizados nesta análise encontram-se disponíveis no

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etário, à exceção da população do sexo feminino entre os 25 e os 64 anos; quanto à correlação deste indicador com a taxa de abandono do ensino secundário, ela é negativa para os escalões todos os escalões etários, à exceção da população feminina dos 18 aos 24 anos.

Analisando as correlações entre as despesas e a ajuda financeira aos alunos dos vários sistemas de ensino e a proporção da população que se encontrava em educação ou treino nas últimas quatro semanas, esta é positiva para a ajuda financeira de qualquer nível de educação e para a despesa em educação primária e da básica até à pós-secundária não-terciária (aqui à exceção do grupo dos trabalhadores mais velhos); a correlação com a despesa no ensino pré-primário e terciário é negativa. Já as correlações com as taxas de emprego jovem (dos 15 aos 34 anos) para aqueles que saíram há mais ou há menos de 3 anos do sistema de ensino são simétricas às da formação ao longo da vida: a despesa em educação pré-primária e terciária correlaciona-se positivamente com qualquer uma das taxas; já a ajuda financeira aos alunos em qualquer um dos sistemas em que se encontram correlacionam-se negativamente; igual correlação se encontra com a despesa pública no ensino primário (à exceção das mulheres cujo nível de escolaridade é o terciário, para a taxa de emprego jovem para quem saiu há menos de 3 anos do sistema de ensino, cuja relação é positiva); quanto à despesa desde a educação básica até à pós-secundária não terciária e a sua relação com a taxa de emprego jovem, ela é positiva para aqueles que saíram há menos de três anos do sistema de ensino (apesar de ser negativa para as mulheres cuja escolaridade obtida é a secundária ou a pós-secundária não-terciária) e negativa para aqueles que saíram há mais (à exceção das mulheres cujo nível de educação obtido é a terciária).

Relacionando as despesas nos vários escalões de ensino com a taxa de escolaridade da população, encontram-se algumas regularidades que valem a pena destacar: a despesa tanto em educação pré-primária como terciária correlacionam-se positivamente com a população cujo nível de escolaridade obtido é no máximo a básica e negativamente com as escolaridades secundárias e terciárias; a despesa em educação primária e em educação básica até à pós-secundária não terciária correlacionam-se de modo negativo com a população com habilitações iguais ou inferiores à básica e positivamente com a proporção de população que tem habilitações secundárias (ou pós-secundárias não terciárias) e terciárias (apesar de, em relação à despesa desde a educação básica até à pós-secundária,

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a correlação com este nível de escolaridade ser apenas verdadeira para os homens, sendo nula para as mulheres); iguais correlações a estas últimas se encontram tanto na ajuda financeira fornecida aos alunos em qualquer um dos escalões de ensino, como na proporção de adultos em formação ou treino.

As implicações mais importantes que se retiram da análise do caso português estão ligadas ao facto de apenas a despesa em educação pré-primária e terciária estarem indubitavelmente correlacionadas com a taxa de emprego dos indivíduos jovens (15 aos 34 anos), quer tenham saído há mais ou há menos de três anos do sistema de ensino, o que demonstra a importância do investimento quer no desenvolvimento inicial das crianças, quer na formação universitária da população, na subida da taxa de emprego jovem. Além disso, estas duas despesas também produzem efeitos positivos em termos de diminuição da taxa de abandono do ensino pré-primário e primário; já em relação ao aumento da taxa de matriculação líquida destes níveis de ensino e da formação ao longo da vida, são as despesas em educação primária e em educação desde a básica até à pós- secundária não terciária que estão positivamente correlacionadas. Também importa destacar o facto destas despesas nestes dois níveis de ensino, da ajuda financeira providenciada aos alunos (qualquer que seja o grau de ensino) e da formação ou treino de população adulta (de qualquer escalão etário) terem um impacto positivo sobre a proporção das pessoas que possui habilitações secundárias e terciárias, e um impacto negativo sobre a proporção de pessoas que possui, no máximo, habilitações básicas. Fica claro que os vários investimentos em educação (exceção feita para as despesas no ensino pré-primário e terciário), incluindo a ajuda financeira, assim como a aprendizagem ao longo da vida, trazem consigo efeitos positivos em termos do aumento das habilitações da população para um nível superior ao básico. Também importa destacar que a formação da população adulta em Portugal está intimamente conectada à proporção das pessoas que abandonaram mais cedo o ensino pré-primário ou primário, demonstrando a importância