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2 CADEIAS GLOBAIS DE VALOR: UMA NOVA PERSPECTIVA DE

2.3 A DINÂMICA DAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR

2.3.1 A gênese do conceito de Cadeias Globais de Valor

Os movimentos de globalização e liberalização comercial e produtiva após 1980 geraram mudanças significativas na estrutura do comércio internacional e no fluxo de mercadorias e serviços entre países. Esses movimentos acentuaram a fragmentação da produção modificando de maneira relevante o comércio internacional e as formas de governança do processo produtivo e de territorialidade da produção ao desencadear um processo que integrou a estrutura produtiva em escala mundial através das chamadas Cadeias Globais de Valor (VIEIRA; VIEIRA, 2007; OLIVEIRA, 2014).

Com os movimentos de globalização e fragmentação produtiva, a capacidade de produzir e exportar produtos industrializados passou a ser dispersa em redes cada vez maiores de países centrais e periféricos. Esses movimentos resultaram em uma maior especialização flexível e em novas formas de organização de produção tecnologicamente dinâmicas que abrangem frequentemente muitos países, com cada nação desempenhando tarefas em que tenham uma vantagem de custo (GEREFFI; KORZENIEWICZ, 1994).

Esses novos padrões de produção e comércio através de redes fizeram emergir a necessidade de coordenação através de Cadeias Globais de Valor que despontam como fator relevante ao se configurarem como o meio pelo qual a integração funcional entre as atividades dispersas internacionalmente se materializa.

Estudos que tratem do tema Cadeias Globais de Valor, enquanto subcampo significativo dentro das teorias do comércio internacional e da organização industrial ainda são muito recentes, principalmente no Brasil, estão normalmente vinculadas às discussões dos efeitos da globalização sobre a produção.

Ao realizar uma análise histórica sobre os estudos que originaram o conceito das CGVs, identifica-se pelo menos três marcos conceituais importantes: (i) os estudos publicados nas décadas de 1970 e 1980 como os de Hopkins e Wallerstein (1977, 1986) sobre a teoria dos “sistemas‑mundo” e as “commodity chains” e os estudos de Porter (1980 e 1985) sobre cadeia de valor que forneceram as bases para a construção do conceito de CGV; (ii) os conceitos formulados na década de 1990 e 2000 como os de Gereffi e Korzeniewicz (1994) e Gereffi (1994) sobre Cadeias Globais de Commodities que estabelecem as bases para o conceito atualmente utilizado de Cadeias Globais de Valor; (iii) e por fim, os estudos mais recentes realizados por autores como Coe, Dicken e Hess (2008) e Levy (2008) que tratam das redes globais de produção.

Os primeiros estudos que deram base ao conceito de CGVs foram os estudos realizados por Hopkins e Wallerstein e publicados em 1977 e 1986. No artigo “Patterns of Development of the Modern World-System” de 1977, os autores lançaram as bases para uma perspectiva alternativa para estudar o desenvolvimento ou “a mudança social moderna”, através da ótica do “sistema mundo” em detrimento do prisma do Estado-nação. Neste artigo, os autores buscaram uma abordagem alternativa para a premissa de que todos as sociedades autônomas se desenvolveram da mesma forma, mesmo dados os diferentes tempos de partida, velocidades e posição geográfica, ao propor uma proposição alternativa na qual variáveis como espaço-tempo e a divisão complementar do trabalho continuamente produz o “mundo” como um objeto social. Para os autores a economia mundial tornou-se estruturada em fortes “núcleos” e fracos estados “periféricos” cada vez mais inter-relacionados, nos quais os aspectos especificamente econômicos (divisão do trabalho), políticos (formação de estados) e culturais estão continuamente interconectados e a diminuir as distâncias entre regiões, ampliando a divisão da escala mundial ao integrar a produção através das operações em redes. Resumidamente, “[...] em escala mundial, os processos de divisão do trabalho que definem e integram a economia

mundial são díade, dividindo o ‘mundo’ em um conjunto complexo de opostos pareados, que designamos como ‘núcleo’ e ‘periferia’” (HOPKINS; WALLERSTEIN, 1977, p. 114).

Na perspectiva do sistema mundial, a relação núcleo-periferia designada pela divisão do trabalho e pela especialização produtiva limita a economia social mundial em sucessivas fases de desenvolvimento, nos quais processos centrais e periféricos são constantemente reorientados no decurso do desenvolvimento do sistema mundial por razões sistemáticas e não casuais, onde a integração núcleo-periferia configura-se como central em toda a economia capitalista mundial. A perspectiva do sistema mundo sustenta que o processo de acumulação é uma peça que opera em todo o sistema, tanto na periferia quanto no núcleo, remodelando cada um, deslocalizando tipos de atividades produtivas e continuamente juntando-as à medida que as divide através da divisão do trabalho (HOPKINS; WALLERSTEIN, 1977).

Para Hopkins e Wallerstein (1977) o processo de acumulação no sistema mundo ampara-se na prerrogativa de que a divisão do trabalho e a especialização produtiva operam tanto no sentido de dividir quando de integrar os centros e as periferias. Para os autores a divisão do trabalho dentro do sistema mundo implica que as diferentes áreas geográficas que o compõem são especializadas em tarefas produtivas específicas, que variam ao longo do tempo, mas que não recebem as mesmas recompensas econômicas, uma vez que o núcleo sempre se especializa em trabalho comparativamente altamente mecanizado, de alto lucro, alto salário e trabalho qualificado, enquanto, contrariamente, a periferia se especializa em atividades agrícolas e de mineração. Assim, para os autores, na economia mundial a complementaridade acompanha a desigualdade e a divisão do trabalho foi a força organizadora que desencadeou a produção de commodities.

Para tecer o entendimento do processo de acumulação e como se realizou a divisão do trabalho, assim como a expansão do comércio para o exterior na economia mundo os autores concebem uma “presunção radicalmente diferente” ao delinear o termo “commodity chains” que refere-se “a uma rede de processos laborais e de produção cujo resultado final é uma mercadoria acabada”, ou seja, é uma rede de processos interligados que inclui desde as matérias primas envolvidas, os transportes e mão de obra utilizados, até as atividades necessárias para a reprodução da força de trabalho para cada processo produtivo (HOPKINS; WALLERSTEIN, 1977, 1986, p. 159).

Para os autores contrariamente às teorias tradicionais que focam o desenvolvimento do comércio nacional como prerrogativa para integração posterior do comércio internacional, foi a produção de mercadorias que se desenvolveu em primeiro lugar dentro dos limites dos estados

e mais tarde começou a atravessar fronteiras estaduais. Nesse contexto, entender a cadeia de mercadorias torna-se necessário como base de medida para entender a concretização, a extensão, o desenvolvimento e transformação do sistema de produção de uma economia-mundo que é medida pela variedade e extensão de suas redes de produção e troca (HOPKINS; WALLERSTEIN, 1977, 1986).

Em “Commodity Chains in the World-Economy Prior to 1800” publicado em 1986 os autores discutem melhor e estendem o entendimento da “commodity chains” ao buscaram compreender como durante os séculos XVII e XVIII as forças econômicas mundiais estavam organizando a produção em uma parcela crescente do “mundo”, ou seja, como se determinava e concretizava uma economia-mundo nesse período. Para tanto, os autores buscaram compreender até que ponto os processos de produção que ocorriam em diferentes jurisdições políticas e áreas geográficas integradas faziam parte de uma divisão mundial do trabalho complexa e marcada por fases de expansão e contração.

Para tal, os autores compreenderam que era necessário identificar como ocorria o processo de fabricação de uma mercadoria e a relação de interdependência transnacional das atividades inerentes ao processo, pois a análise de uma “commodity chains” poderia demonstrar como as relações sociais influenciam os processos de produção, distribuição e consumo. Este conceito de “cadeias de commodities”, se configurou como o primeiro esboço do que veio a se denominar décadas mais tarde de Cadeias Globais de Valor.

Posteriormente, em 1985, Michael Porter em seus estudos sobre Organização Industrial com o livro “Competitive Advantage” introduziu pela primeira vez a denominação “Cadeia de valor” com o objetivo de identificar as fontes das vantagens competitivas das empresas. É importante mencionar que é a partir dessa obra e das contribuições de Porter em outros estudos é que ele ganha relevância no debate sobre teorias do comércio internacional, particularmente ao tentar vincular o arcabouço teórico ao entendimento da configuração das relações comerciais entre as nações.

Ao cunhar o conceito de Cadeias de Valor o autor buscou construir um quadro geral de análise que focasse estratégias competitivas para as empresas de acordo com a avaliação dos custos e da diferenciação: “A cadeia de valores desagrega uma empresa nas suas atividades de relevância estratégica para que se possa compreender o comportamento dos custos e as fontes existentes e potenciais de diferenciação” (PORTER, 1985, p. 31).

Para o autor a cadeia de valor de uma empresa faz parte de um fluxo maior de atividades que é denominado de sistema de valores. Dessa forma, a fonte da vantagem competitiva da empresa depende não só da análise da cadeia da qual faz parte, mas do modo como a empresa se relaciona no sistema de valores, uma vez que a cadeia de valor de uma empresa se conecta a outras cadeias de atividades como a dos fornecedores, dos compradores e aos canais, que afetarão seu desempenho e assim suas vantagens competitivas. Assim, o autor argumenta que a análise da cadeia de valor em detrimento do valor agregado é o meio mais adequado para se determinar a vantagem competitiva pois a análise da cadeia de valor permite a identificação dos elos entre uma empresa e seus fornecedores que pode, dessa forma, auxiliar na redução dos custos e/ou potencializar a diferenciação.

Para Porter (1989), a criação de valor na empresa está relacionada à disposição a pagar dos compradores por um produto oferecido e as atividades físicas e tecnologicamente distintas através das quais a empresa cria um produto valioso para os compradores (atividades de valor), que podem ser desagregadas em atividades primárias e de suporte. Processos como a logística interna e externa, o marketing e vendas e os serviços são classificados enquanto atividades primárias, já os processos de aquisição de insumos (função), desenvolvimento de tecnologia, gerência de recursos humanos e infraestrutura das empresas são classificados como atividades de suporte (PORTER, 1989).

Segundo Porter (1989, p. 44), as atividades de valor constituem um sistema no qual são categorizadas como interdependentes, ou seja, onde todas as atividades são conectadas através de elos. Para o autor, apesar de sutis e despercebidos em muitas cadeias, os elos são o locus da obtenção de vantagem competitiva por uma empresa dentro de um sistema de valores, pois estes estabelecem “a relação entre o modo como uma atividade de valor é executada e o custo ou desempenho da outra”.

Sendo assim, para Porter (1989) a empresa ampliará sua lucratividade de acordo com sua habilidade em coordenar os elos e gerenciar, através de desagregações, sua cadeia de valor. Em outras palavras, a empresa criará valor ao reorganizar suas atividades através de categorias que representem melhor a sua contribuição para a competitividade, seja separando atividades que apresentam diferenças importantes para a vantagem competitiva seja agregando atividades que não são tão relevantes, uma vez que o nível dessa habilidade irá reduzir seus custos ou apresentar diferenciação. Dessa forma, as empresas obtêm vantagens competitivas ao redefinir os papeis das atividades tradicionais. Neste contexto, a empresa fortalecerá seu posicionamento

ao escolher uma única estratégia genérica que deve ser baseada na articulação internamente eficiente de sua cadeia de valor, de modo que gere vantagens de custo.

Ao inserir o conceito de cadeia de valor ao distinguir os diferentes estágios do processo produtivo, Porter (1989) insere o princípio da especialização em atividades nas quais a empresa “faz melhor” e o da terceirização daquelas nas quais perde tempo e dinheiro por não apresentarem vantagens, estabelecendo, dessa forma, dois elementos relevantes à análise moderna da cadeia de valor, quais sejam: a desagregação das atividades produtivas e a existência de elos produtivos entre estas.

Na década de 1990, os estudos realizados por Hopkins e Wallerstein (1977, 1986) e Porter (1985) e diversos outros autores, foram reformulados sob o conceito de Cadeias de Commodities Globais por Gereffi e Korzeniewicz (1994) e organizados no livro “Commodity Chains and Global Capitalism” a partir de uma abordagem vinculada as análises de redes da sociologia econômica que conectou o conceito de cadeia de valor agregado diretamente ao da organização global das indústrias. Sendo que, especificamente, o capítulo “The Organization of Buyer-Driven Global Commodity Chains: How U. S. Retailers Shape Overseas Production Networks”escrito por Gereffi (1994) estabelece as bases dos conceitos e análises do que ele chamou de Cadeias Globais de Commodities, terminologia que evoluiria anos depois para Cadeias Globais de Valor.

No primeiro capítulo do livro Gereffi e Korzeniewicz (1994) reformularam o conceito de Hopkins e Wallerstein de commodity chains ao criar um quadro analítico de pesquisa com foco nas "Cadeias de Commodities Globais - CCG", cujo objetivo foi reformular as categorias conceituais básicas necessárias para analisar os novos padrões de organização e mudanças globais não abrangidos pelos paradigmas anteriores, de forma a estabelecer adequadamente os links macro e micro de processos assumidos como discretos em outras análises. Ou ainda, de forma objetiva, compreender como as empresas estavam reconfigurando suas cadeias de suprimentos para fontes locais de menor custo ao redor do mundo como resposta a globalização. Para tanto, Gereffi e Korzeniewicz (1994, p. 2, tradução própria) conceituam a CCG como:

[...] um conjunto de redes inter-organizacionais agrupadas em torno de uma mercadoria ou produto, ligando famílias, empresas e estados uns aos outros dentro da economia mundial. Essas redes são situacionalmente específicas, socialmente construídas e integradas localmente, ressaltando a incorporação social da organização econômica (GEREFFI; KORZENIEWICZ, 1994, P. 2, tradução própria).

Gereffi (1994) aprofunda a análise das CCG ao traçar uma discussão sobre o papel das cadeias dentro de uma economia globalizada que tem como característica principal um elevado grau de

integração funcional entre atividades interativas dispersas. Para o autor, a globalização levou a um processo de fragmentação produtiva no qual as grandes empresas passaram a atuar em sistemas de produção globalizados e em muitos países diferentes simultaneamente como parte de suas estratégias globais de produção e distribuição.

Segundo Gereffi (1994), a análise das CCG, ao focar nas empresas, seja individualmente ou dentro de redes de produção de commodities, fornece a base teórica e metodológica necessária para uma análise macroeconômica (através dos sistemas mundiais) e dos processos micro- organizacionais mais sistemática. Nesse sentido, a análise das CCG permite focar a criação e distribuição de riqueza global como em função da produção em multiestágios sequenciais e não apenas como resultado da industrialização. Tornando possível, dessa forma, especificar de forma mais precisa, tanto no espaço quanto ao longo do tempo, as características organizacionais e as mudanças nas formas de produção (GEREFFI, 1994). Conforme salienta Bair (2005, p. 156-157, tradução própria):

Enquanto os sistemas mundiais e os campos do CCG concordam que o conceito de mercadoria é uma construção útil para pensar sobre a divisão internacional do trabalho característica da produção capitalista, contudo, existem diferenças significativas entre as duas escolas. Os teóricos dos sistemas mundiais entendem as cadeias de commodities como consistindo não só em etapas envolvidas na transformação de matérias-primas em bens finais, mas também como webs conectando esse conjunto de atividades produtivas com a reprodução social do trabalho humano como um insumo crítico nesse processo. Além disso, os teóricos dos sistemas mundiais são mais fundamentalmente interessados em como as cadeias de commodities estruturam e reproduzem e sistema hierárquico mundial. Os pesquisadores do CCG entendem as cadeias de commodities como conjuntos de redes inter-firmas que conectam fabricantes, fornecedores e subcontratados em indústrias globais entre si e, finalmente, para os mercados internacionais, e se preocupam principalmente com a questão de como a participação nas cadeias de commodities pode facilitar a atualização industrial para o desenvolvimento de países exportadores (BAIR, 2005, P. 156-157, tradução própria).

Nesse contexto, Gereffi (1994) salienta a necessidade de se analisar não apenas a disseminação geográfica dos arranjos de produção transnacionais, mas também seu escopo organizacional para entender suas fontes de estabilidade e mudança, uma vez que as grandes corporações desempenham papéis centrais na coordenação do que denominou de redes de produção. Dessa forma, o autor destaca não apenas a importância da coordenação através das fronteiras, mas também da estrutura de governança interna das cadeias de abastecimento, nas quais os novos compradores se configuram como principais impulsionadores das novas formas de produção dispersas globalmente, mas organizadas em redes de distribuição.

Essa discussão forneceu as bases para a mudança posterior na terminologia de CCG para CGVs, realizada por Gereffi na década de 2000 cujo foco principal é a governança traduzida na

formação de empresas líderes, com o objetivo de capturar os determinantes da organização das indústrias e também as bases para a metodologia de análise denominada como GVC approach que será aprofundada e discutida na seção 2.3.2 Perspectivas teórico-analíticas das Cadeias Globais de Valor.

Com base em uma análise crítica da visão da indústria dependente e da governança estática fornecida pela abordagem das CCG, Gereffi refinou o quadro ao analisar a governança dentro de um conceito de “cadeias globais de valor” objetivando superar a associação da palavra “commodity” com produtos indiferenciados e focar o processo de fragmentação da criação do valor (KAWAKAMI, 2011). A partir desse momento a análise CGVs se afasta completamente da noção histórica e holística de commodity chains definida pelos autores do “sistema mundo”21 (BAIR, 2005).

Nesse sentido, Bair (2005, p. 164) observa que a abordagem das CGVs possui muito mais influência da literatura do comercio internacional e mais interesse nas implicações políticas da pesquisa em cadeia em suas análises de redes globais de produção, do que orientação sociológica do quadro anterior das commodity chains que a originou: “Os conceitos de CCG e CGVs são orientados analiticamente para o micro (empresa individual) ou nível meso (setor/indústria) em oposição à perspectiva macro e holística característica da conceitualização do sistema mundial das commodity chains”.

Assim, as análises de CGVs deixaram de focar a lógica sistêmica que conduz às cadeias de commmodities e passou a centrar suas análises nas empresas e na conceituação de governança que concebe empresas líderes como os principais atores de um sistema segmentado de governança econômica global sob a denominação de Cadeias Globais de Valor. A justificativa para essas mudanças centra-se no fato de que, dentro de uma lógica de fragmentação produtiva onde as tarefas e os serviços despontam como elementos primordiais ao comércio, as análises embasadas nas CCG tornaram-se insuficientes para explicar os elos que formam as cadeias, uma vez que estavam destinadas a análise apenas das mercadorias, não abrangendo uma diversificação maior de produtos e serviços (STURGEON, 2006).

Existe ainda um terceiro marco conceitual importante dentro dessa temática que são os estudos mais recentes realizados por autores como Coe, Dicken e Hess (2008), Levy (2008) entre outros, que tratam das redes globais de produção. Essa corrente teórica defende a ideia de que: “uma das chaves mais úteis para compreender a complexidade da economia global -

especialmente a sua localização geográfica- é o conceito da rede” (COE; DICKEN; HESS, 2008, p. 271).

Segundo Coe, Dicken e Hess (2008) o conceito de rede retrata uma natureza estrutural e relacional fundamental de como são organizados os processos de produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Sendo assim, as redes constituem-se como uma forma alternativa de organização econômica que se constitui como uma estrutura heurística que analisa as relações econômicas, estruturas de governança, instituições, regras e normas, entre outros aspectos. Segundo os autores, a abordagem de redes objetiva ultrapassar conceitos derivados das cadeias de commodities e das formulações de cadeia de valor global.

Levi (2008, p. 943) ainda denomina redes como “sistemas econômicos, políticos e discursivos integrados em que mercado, a política e o poder estão entrelaçados”. Dessa forma, as redes não se constituem enquanto campo para a concorrência nos mercados ou cadeias de atividades de valor agregado, contrariamente, as redes englobam complexos sistemas econômicos e políticos nos quais os mercados são construídos internamente dado o contexto sociopolítico.

Hess e Yeung (2006) argumentam que a análise CCG/CGVs, apresenta algumas deficiências significativas que podem ser corrigidas através da estrutura de redes como: (i) embora apresente múltiplas escalas geográficas a geografia de CCG permanece fracamente desenvolvida; (ii) as dimensões institucionais da análise CCG/CGVs se estruturam sobre a governança, ou seja, a análise CCG/CGVs coloca maior ênfase em estruturas de governança alternativas associadas a peculiar configuração de CCG/CGVs em diferentes indústrias e setores

Esses autores abordam o conceito de redes em detrimento dos outros apresentados, amparando- se no fato de que o termo envolve múltiplas formas e direções relacionais, assim como os