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2 CADEIAS GLOBAIS DE VALOR: UMA NOVA PERSPECTIVA DE

2.2 COMÉRCIO INTERNACIONAL, GLOBALIZAÇÃO E

2.2.1 Teorias tradicionais do comércio internacional

A princípio, os modelos e teorias que analisavam a relação entre crescimento econômico, comércio e especialização produtiva e comercial pertinentes ao arcabouço teórico do comércio internacional dividiam-se entre as chamadas teorias clássica e neoclássica de comércio internacional. Adam Smith (1776) ao desenvolver o trabalho seminal sobre a teoria da vantagem absoluta e David Ricardo (1817) com a teoria da vantagem comparativa, foram os principais

precursores da teoria do comércio internacional clássica. Ao passo que, a teoria neoclássica, a qual se configura como uma remodelação da teoria da vantagem comparativa baseada na dotação relativa de fatores, é atribuída a Heckscher (1919), Ohlin (1933) e Samuelson (1948)6. Mesmo considerando as contribuições dadas por essas teorias para o debate sobre o comércio internacional, com a evolução do tempo e os novos contextos históricos e econômicos, estas mostraram-se insuficientes para explicar as mudanças ocorridas no comércio internacional decorrentes. Sobretudo, da crescente especialização, da multiplicidade das cadeias produtivas que requer uma profusão de produtos e insumos cada vez maior e mais complexos, alterando a estrutura produtiva dos países, a alocação dos fatores produtivos e os termos de troca e, assim, a inserção internacional dos países, principalmente dos periféricos.

Apesar da eminente relevância, as teorias clássicas e neoclássicas não explicam o surgimento de assimetrias decorrentes das relações entre os fatores de produção, estrutura produtiva, diversidades e aspectos culturais dos diferentes países. Ou seja, não incorporam nas discussões como as especificidades de cada nação e/ou como diferentes tipos de especialização produtiva e comercial podem interferir no seu desenvolvimento econômico, principalmente nos países periféricos e/ou subdesenvolvidos, ou como os movimentos de globalização, fragmentação produtiva e internacionalização do capital alteram as formas do comércio internacional. O que se pode observar é que os ganhos nestas teorias ocorrem dada a premissa do livre comércio e são invariavelmente de natureza estática. Outro ponto é que essas teorias não consideram o comércio intra-industrial, que tem como base a produção de bens com composição similar de fatores, ou seja, a produção de bens finais dada a importação de bens intermediários, que passou a ser a principal fonte de expansão do comércio internacional via Cadeias Globais de Valor (CGVs).

Todavia, cabe salientar que embora apresentem fragilidades quando aplicadas a um mundo mais complexo, dinâmico e globalizado, essas teorias se configuram como um avanço em relação às

6 Embora existam diferenças entre esses arcabouços teóricos, esses modelos enquadram-se em uma concepção de tradição liberal que expressa o desenvolvimento econômico como algo progressista amparado em pressupostos como equilíbrio e livre comércio. Nestes modelos, o aumento da produção e da produtividade resultam em ganhos que podem ser distribuídos equitativamente entre as nações, desde que o mercado seja o mais livre possível tanto para produzir como para comercializar bens.

Desse modo, a concorrência por preços mais baixos leva todos a se beneficiarem com a divisão do trabalho, uma vez que o livre comércio induz os agentes econômicos a alocar recursos de acordo com a especialização de cada país e a sua eficiência produtiva. Abandonando, portanto, o pensamento econômico mercantilista de vantagens unilaterais ao assumir a hipótese de benefícios mútuos das diferentes vantagens absolutas e relativas das nações.

ideais mercantilistas e se caracterizam como o ponto de partida para o debate acadêmico e para o desenvolvimento da teoria do comércio internacional moderna.

Muitos dos modelos utilizados para estudar a fragmentação da produção e a conformação do comércio através das cadeias globais de valor utilizam o modelo H-O (Heckscher - Ohlin) como método de análise. Devido, principalmente, aos fundamentos da mobilidade dos fatores dentro de um mesmo território, das diferenças nas dotações dos fatores dada a disponibilidade dos mesmos e da ótica das análises regionais inseridas por Ohlin. De modo que, mesmo considerando as limitações dessas teorias, é irrefutável a sua relevância, principalmente no que concerne a entender como o comércio realiza-se dentro da lógica e dinâmica das CGVs. A análise crítica das teorias do comércio internacional clássica e neoclássica também deram base para o surgimento de outras concepções teóricas como as novas teorias do comércio internacional, dentre as quais destacam-se as que atribuem as vantagens competitivas de uma nação as inovações tecnológicas como defendida por Posner (1961) com sua teoria dos hiatos tecnológicos7, as que abordam a similaridade da demanda como a teoria de Linder (1961), as teorias que focam o ciclo de vida do produto como a propagada por Vernon (1966)8 e da sobreposição da demanda de Linder, que aplica a teoria da similaridade da demanda para explicar as causas do comércio internacional.

As teorias neotecnológicas, como também são conhecidas essas teorias, incorporam o fator inovativo, a concorrência monopolística representada pelas economias de escala e concorrência imperfeita, como também a teoria da similaridade da demanda para explicar as causas do

7A abordagem de Posner (1961) ainda que não completamente, reserva diversos pressupostos analíticos que são aplicados pela teoria moderna do comércio internacional a análise das CGVs. A existência do “empresário inovador”, que busca investir em progresso tecnológico com o objetivo de obter uma reserva de mercado através do monopólio, também se aplica a análise das CGVs, na qual grandes empresas multinacionais, reconhecidas como líderes, investem em P&D, marketing, patentes e marca entre outros atributos, como forma de manter sua liderança dentro da cadeia, e assim, obter maiores ganhos decorrentes do comércio internacional e angariar algum poder de mercado. O conceito de “Technology gap” do autor também contribui para o debate em torno das assimetrias entre os países no comércio mundial, em particular nas CGV.

8 A teoria do ciclo de vida do produto tenta estabelecer a importância das imperfeições de mercado como elementos determinantes na definição dos padrões de comércio e de investimento internacionais. Ao assumir hipóteses de concorrência imperfeita, presença de economias de escala, economias externas, funções de produção dinâmicas e não homogêneas entre setores e países, assim como custos de informação e comércio dinâmico, a teoria do ciclo do produto estabelece uma vinculação teórica entre as novas teorias do comércio internacional de produtos industrializados com a abordagem das CGVs.

Ao focar como linha explicativa que a inovação é o fator determinante para o comércio, pois é responsável pela criação de novos produtos que demandam novos mercados, o que leva os países desenvolvidos, normalmente líderes nesse aspecto, a transferir sua produção para países em desenvolvimento pautando essas decisões nos custos de transporte e trabalho. Assim, a teoria de Vernon apresenta uma explicação para os fatores locacionais que levam as grandes empresas a realizar investimentos diretos ao transferir suas atividades para países em desenvolvimento abordados na teoria das CGVs, assim como uma explicação para como as empresas líderes obtêm posição de poder e de monopólio ao se posicionarem antecipadamente aos concorrentes seja através da inovação, seja através da expansão de mercado por meio da internacionalização.

comércio internacional, atrelando uma relação positiva entre criação de renda e setores que se revelam mais prováveis a inovação e a diferenciação de produtos.

Assim, como nas teorias clássicas e neoclássicas, as teorias neotecnológicas adotam que as diferenças internacionais não implicariam em assimetrias entre as nações, mas em complementaridades que seriam mutuamente vantajosas mesmo para aquelas nações que são afetadas pela concorrência com importados, ou que, inicialmente estejam excluídas de tal comércio. Defende-se nessas teorias que a longo prazo as nações poderiam se especializar em linhas de produção e exportação mais vantajosas que antes. Dessa forma, é possível identificar que, mesmo com limitações, essas teorias conseguem fornecer insights sobre o processo de fragmentação e formação de CGV, nos quais cada país se especializa no estágio que lhe for mais competitivo, por exemplo.

Outros arcabouços como as teorias do crescimento econômico, as de base estruturalista como as da Cepal9 e as evolucionárias representadas pelos modelos neoschumpterianos10 também surgiram ao longo dos anos para explicar as diferenças do comércio internacional entre os países.

9 Os trabalhos da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), tendo como dos principais representantes Raul Prebisch (1901-1986), tem como uma das maiores contribuições:

a) A identificação da existência de deterioração nos termos de troca entre os países centrais e os periféricos, o que tornava evidente que o comércio mundial não estava sendo favorável ao desenvolvimento dos países da periferia da América Latina.

b) Prebisch fez fortes críticas ao modelo clássico e neoclássico, ao afirmar que a divisão internacional do trabalho defendida por estes modelos é desmentida pelos fatos, pois os benefícios do desenvolvimento econômico não chegaram aos países periféricos, ficando limitado apenas aos países centrais e deixando claro o desequilíbrio dos frutos do comércio internacional.

10 Dentre as demais características que definem o programa de pesquisa evolucionário, esses são os principais pressupostos:

a) A consideração de que as teorias devem ser microfundamentadas no sentido de que devem estar baseadas em relatos realistas sobre os agentes.

b) A necessidade de incorporar aspectos específicos da realidade, uma vez que teorias que lidam com abstrações e omissões geram interpretações erradas da realidade.

c) A hipótese de que os agentes possuem racionalidade limitada e, diante disso, interpretam de maneira imperfeita as informações do ambiente.

d) A existência de heterogeneidade entre os agentes, o qual é decorrente desse entendimento imperfeito do ambiente, e que se apresenta como dependente da trajetória.

e) A capacidade dos agentes se adaptarem e descobrirem novas tecnologias e novas organizações e, também, de adotar novos padrões de comportamento, caracterizando um sistema que exibe novidade permanente.

f) As interações coletivas dentro e fora dos mercados operam como mecanismos de seleção.

g) Resultado dessas interações fora do equilíbrio e do aprendizado heterogêneo são fenômenos agregados caracterizados como propriedades emergentes.

h) As instituições e as formas organizacionais também apresentam propriedades emergentes, dado que também expressam um resultado não intencional das interações coletivas fora do equilíbrio e do aprendizado heterogêneo. i) As instituições, regras e formas organizacionais apresentam certas regularidades que diante disso, restringem e dão forma ao processo evolucionário.

As teorias do crescimento11 desenvolveram-se em torno dos modelos macroeconômicos neoclássicos que buscaram endogenizar a tecnologia, focando basicamente em fatores econômicos tradicionais como capital físico e trabalho como fatores explicativos para o processo de crescimento. Contudo, os modelos são comandados por taxas de crescimento demográfico e tecnológico externas ao modelo, a partir do que foi construído inicialmente por Solow (1956), Ramsey (1927), Cass (1965) e Koopmans (1965). Mais tarde, autores como Romer (1986), Lucas (1988), Uzawa (1965) Matsuyama (1991) e Grossman e Helpman (1994) tentaram endogenizar os elementos que foram estabelecidos como exógenos na abordagem neoclássica do crescimento, conformando os modelos do que se denominou de novas teorias de crescimento.

Ao conceber que os países se especializam dadas vantagens pré-concebidas pela abundância dos fatores e pela demanda externa, de forma que, estes utilizem de forma mais intensa e eficiente suas dotações de fatores e tecnologia em um panorama de livre mercado e abertura comercial que gera benefícios no longo prazo, as teorias do crescimento econômico, por exemplo, não contemplam que sejam formuladas e praticadas políticas comerciais por um Estado atuante que melhorem a inserção desses países, principalmente os “atrasados” e assim, os termos de troca. Negligenciando, dessa forma, o fato de que historicamente as vantagens comparativas e as forças produtivas das nações surgem a partir da relação entre Estado e setor privado através de políticas públicas.

Portanto, a abordagem das novas teorias do crescimento é insuficiente para explicar como o processo de fragmentação operou ou como países em desenvolvimento conseguem sua inserção nas CGVs dada a promulgação de políticas comerciais engendradas pelo Estado que objetivam a eliminação de barreiras ao comércio e a concretização de acordos de comércio, que facilitam a inserção desses países na produção em cadeias. O que fragiliza e limita a aplicação da abordagem na análise das CGVs.

11 Ao entender a tecnologia como um bem que não está livremente disponível, essas teorias justificam as diferentes taxas de crescimento de renda per capita entre países em virtude da possibilidade de que estes tenham diferentes tecnologias de produção. Para tanto, essas abordagens abusam de construções excessivamente estáticas e não incorporam de forma realista o dinamismo da produção, dos investimentos e da acumulação de capital. Não reconhecendo, portanto, que o comércio internacional é marcado por assimetrias que se estendem além da mera desigualdade de renda per capita, engendrando desigualdades de forças que tornam o comércio internacional uma espécie de jogo onde os ganhos não são para todos, coexistem ganhadores e perdedores.

Outras abordagens com enfoque mais industrializante se destacam nos estudos sobre comércio internacional como a defendida por Kaldor12 que serve de base para a abordagem cepalina estruturalista que também foi influenciada por List13e abordagens com enfoque mais inovativo como as defendidas pelos neo-schumpterianos que embasados na teoria schumpeteriana14 defendem a inovação tecnológica como fonte de vantagens no comércio exterior.

A abordagem cepalina fornece avanços significativos no que se refere às análises sobre os resultados decorrentes do comércio internacional entre diferentes nações, quando pressupostos neoclássicos são quebrados, ao mesmo tempo, aponta para possibilidades de rompimento com as deficiências estruturais dos periféricos através de políticas industriais e de inserção internacional. Do mesmo modo que, fornece as bases para estudos sobre a conformação das CGVs que objetivem analisar suas controversas. Contudo, a análise cepalina não seria adequada no que se refere ao receituário pró-industrialização, haja vista que na abordagem de muitos autores das CGVs, políticas industrializantes devem ser desencorajadas em detrimento de políticas comerciais pró-integração.

Já as análises dos autores neoschumpterianos assemelham-se as políticas tecnológicas imprescindíveis ao processo de upgrading realizado pelas firmas na abordagem das CGVs cujo objetivo gira em torno de ganhos em competitividade. Assim como para os neoschumpterianos, na abordagem das CGVs a capacidade das empresas de produzir inovação vai determinar o seu posicionamento dentro da cadeia, assim como os seus ganhos. Ou seja, a capacidade de inovar determina quais são as empresas mais rentáveis que vão ocupar a posição de liderança e transferir seus processos a outras empresas e quais ocuparão a posição de lideradas as quais

12Em seu modelo, Kaldor (1966) buscou demonstrar empiricamente que o setor industrial é o setor mais dinâmico das economias capitalistas, uma vez que o aumento da produção desse setor eleva a produção dos demais setores não-industriais e, assim, economias mais industrializadas seriam as economias mais desenvolvidas, denotando uma relação positiva entre as taxas de crescimento da indústria e do produto nacional, conhecida como a primeira lei de Kaldor. Essa intuição forneceu as bases para o delineamento do pensamento cepalinos e das políticas industrializantes receitadas com o objetivo de promover o desenvolvimento dos países periféricos.

13List (1841[1986]) é considerado um dos principais influenciadores da teoria da dependência cepalina, assim como da corrente neoschumpeteriana, visto que muitas das principais críticas a teoria clássica do comércio internacional e as ideias apresentadas pelos autores estruturalistas como protecionismo, importância do mercado interno, deterioração dos termos de intercâmbio e a necessidade de industrialização para o desenvolvimento de uma nação, desenvolvimento das forças produtivas e inovação, assemelham-se às ideias enunciadas pelo autor um século antes.

14Delineada por Schumpeter (1964 [1997]) a abordagem schumpeteriana centrou-se em um modelo de industrialização no qual o progresso técnico se configura como o elemento causador da dinâmica de desenvolvimento no sistema capitalista. Ainda que a abordagem Schumpeteriana se configure como uma teoria do desenvolvimento e não como uma teoria do comércio internacional, os fundamentos dessa abordagem, principalmente o papel desempenhado pela inovação e pela “destruição criadora” engendrada pelas firmas e pelo empresário inovador, são resgatados pela abordagem evolucionária dos modelos neoschumpeterianos.

assumirão tarefas menos intensivas em tecnologia e assim, obterão menos valor na realização de suas atividades.

Outro ponto fundamental de consonância entre a teoria da inovação neoschumpeteriana e a abordagem das CGVs refere-se ao fato de ambas conceberem o estabelecimento das redes de inovação como uma estratégia a competitividade. Assim como os neoschumpeterianos, a abordagem ortodoxa das CGVs assume que as cadeias, via cooperação, constituem-se como redes de inovação ao permitir que empresas e/ou países acessem tecnologias sem necessariamente promover uma política de industrialização. Contudo, autores de base mais heterodoxa que discutem CGVs não são críticos de políticas industriais e defendem o uso dessas políticas como forma de inserção e upgrading dentro das cadeias globais de produção e comercialização.

Por fim, uma teoria bastante conhecida sobre comércio internacional é a teoria de Porter (1990), sobre vantagem competitiva baseada em um conceito que transcende a concepção da vantagem comparativa, ao buscar compreender quais são os atributos nacionais que promovem a vantagem competitiva em determinadas indústrias e os encadeamentos tanto para as empresas quanto para os governos. Nesse entendimento, a competição é algo construído e não herdado e a riqueza das nações é governada pela produtividade.

Ainda que não contemple completamente os desdobramentos necessários para análise da conformação da produção e comercialização através das CGVs, a teoria de Porter sobre competitividade faz-se necessária ao entendimento e discussão desta temática que será apresentada nas próximas seções da presente tese. A teoria de Porter é embrionária para a construção do que veio a se denominar de Cadeias Globais de Valor, ao estabelecer o entendimento de como ocorre a geração de valor ao longo da cadeia produtiva através do desmembramento entre atividades primárias e de suporte que se relacionam através de elos. Outro fator relevante da teoria a aplicação das CGVs, refere-se ao enfoque na governança como forma de obter lucratividade, já que o autor elucida que o gerenciamento das cadeias pode levar as empresas a angariar maiores lucros.

Porter (1990) estabelece ainda diversas hipóteses analíticas como a cooperação entre empresas, a questão da governança, do ambiente econômico e do papel do estado como base da competitividade entre empresas, que claramente fazem parte da dinâmica de funcionamento das CGVs, conforme será apresentado nas próximas seções da presente tese. Assim, a teoria de Porter (1990) auxilia a análise das CGVs ao focar como a competitividade dentro das cadeias pode ser construída, destacando, principalmente, como o ambiente econômico, as instituições

e o estado através das políticas públicas são de suma relevância para a construção dessa vantagem, assim como para analisar como operam as CGVs. Diversos pressupostos que as teorias anteriores não levaram em consideração.

Sumariamente, o que se pode entender é que ainda que se apresentem frágeis e com aplicabilidade limitada em um mundo complexo e globalizado, as teorias apresentadas se configuram como o ponto de partida para o debate acadêmico e para o desenvolvimento da teoria do comércio internacional, tornando irrefutável a sua relevância para o entendimento de como se conforma o comércio dentro da lógica das Cadeias Globais de Valor (CGVs).

Não obstante, também faz-se necessário reconhecer que grande parte das contribuições teóricas sejam elas ortodoxas ou não, foram construídas em um contexto anterior a afloração das novas configurações de comércio internacional delineadas pelo aprofundamento do processo de fragmentação da produção e internacionalização das dimensões produtiva e financeira dentro de cadeias globais de valor, cujo ápice sucedeu-se no final de década de 1990. O que tornou a competição internacional mais acirrada devido ao elevado grau de integração espaço-temporal das economias, alterando assim, a geoestratégia dos espaços econômicos.

Dessa forma, dados os novos contextos históricos e econômicos, as teorias até aqui apresentadas demonstraram-se insuficientes, mas não descartáveis, para explicar as mudanças ocorridas no comércio internacional decorrentes, sobretudo, da crescente especialização e da multiplicidade e complexidade das cadeias produtivas globais que requerem escalas de provimentos de produtos e insumos cada vez maiores e complexas. Isso ocasionou uma grande lacuna teórica de análise do desenvolvimento econômico dadas as novas formas de fluxos de comércio