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CAPÍTULO 2 POLÍTICA PÚBLICA PARA A JUVENTUDE

2.4 A Gênese da Política Pública para a Juventude no Governo Lula

Ao falar da política pública para juventude no governo Lula se faz necessário resgatar várias ações por parte de diversos segmentos da sociedade compromissados com as questões da juventude que antecederam o lançamento da mesma. Desta forma, o ano de 2004 se apresenta como um marco inicial para o fortalecimento da política pública para juventude. Segundo Novaes (2007, p. 12), neste ano houve “uma forte convergência de iniciativas, pesquisas e mobilizações que, partindo da sociedade civil, encontrou no governo federal o ambiente favorável à articulação e formalização de uma política pública voltada para os jovens”.

A partir de então o governo federal vai se armar de diversas ações de atendimento ao problema da juventude brasileira. Tais ações vão se diferenciar do governo anterior especialmente porque o governo Lula se propôs a construir uma Política Nacional para Juventude.

Para tanto, uma importante providência foi reunir as diversas contribuições para compor um banco de informações que foi utilizado posteriormente pelo Grupo de Trabalho Interministerial de Juventude (GTI), que objetivou elaborar propostas para uma política nacional para a juventude (BRASIL, 2007).

Este Grupo foi constituído por representantes de 19 ministérios e mais secretarias e órgãos técnicos especializados sendo coordenado pela Secretaria- Geral da Presidência da República, resultando desse trabalho a construção de um diagnóstico sobre os jovens brasileiros, apresentando como uma das preocupações a construção de ações com maior integração e complementaridade entre os programas voltados para a juventude. Desta forma, o GTI a partir dos dados existentes elaborou propostas para uma Política Nacional de Juventude26.

Formularuma Política Nacional de Juventude é um fato inédito e relevante na condução das ações voltadas para a juventude no nosso país, pois se evidencia uma vontade política de articular diversas ações para o atendimento a esse grupo

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Segundo informativo da Secretaria Geral da República, a implantação dessa política é fruto da reivindicação de vários movimentos juvenis, de organizações da sociedade civil e de iniciativas do Poder Legislativo e do Governo Federal. Consultar: <www.presidencia.gov.br/estrutura_ presidencia/sec_geral/>

específico. Ao se usar o termo “Política Nacional”, o impacto discursivo leva ao entendimento de uma estratégia que além da implantação de um rol de ações isoladas remete também à assunção por parte do governo de uma ação articulada. A própria configuração do GTI remete a esse entendimento, ou seja, há, pelo menos no discurso governamental, a intenção de atuar a partir de ações integradas.

Sendo assim, as políticas públicas para a juventude se consolidam como um novo elemento voltado para os jovens a partir de fevereiro de 2005, na gestão do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, desenhando uma Política Nacional de Juventude, sendo instituída inicialmente por força de Medida Provisória nº 238 de 01 de fevereiro de 2005, passando posteriormente à Lei nº 11.129 de 30 de junho de 2005. Nesse mesmo ato foram criados o Conselho Nacional da Juventude, a Secretaria Nacional de Juventude e o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem27, sendo a Lei nº 11.129 de 30 de junho de 2005, regulamentada pelo Decreto nº 5.557 de 05 de outubro de 2005. No que se refere ao Conselho Nacional de Juventude, destacamos dos documentos que o mesmo

tem a participação do governo, especialmente das áreas que desenvolvem ações voltadas para a população jovem, de organizações e personalidades identificadas com a juventude e com políticas públicas voltadas para a população jovem. É composto de 60 membros, sendo 40 da sociedade civil e 20 do governo federal. Foi implantado em agosto de 2005, em solenidade realizada no Palácio do Planalto. O Conselho tem como finalidade formular e propor diretrizes da ação governamental voltada à promoção de políticas públicas para a juventude e fomentar estudos e pesquisas sobre a realidade socioeconômica juvenil (BRASIL, 2005).

A Secretaria Nacional de Juventude, integrante da estrutura da Secretaria Geral da Presidência da República, além do papel de integrar programas e ações do governo federal, serve de referência para a população jovem no Governo Federal, como ocorre em vários estados e municípios do Brasil. Além disso, é responsável por iniciativas do governo relacionadas à população jovem, levando em conta as características, as especificidades e a diversidade da juventude.

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O ProJovem foi implantado inicialmente em todas as capitais e no Distrito Federal, e posteriormente foi implantado nas cidades que têm mais de 200 mil habitantes. Durante sua implantação o programa atendeu a moças e rapazes com 18 a 24 anos de idade que terminaram a quarta série, mas não concluíram o Ensino Fundamental e que não tinham emprego com carteira profissional assinada. O Programa na sua versão original tinha a duração de um ano. Apresentava enquanto finalidade proporcionar aos jovens a conclusão do ensino fundamental, o aprendizado de uma profissão e o desenvolvimento de ações comunitárias. Cada participante recebeu uma ajuda de custo mensal de R$ 100,00 reais.

Segundo o relatório de atividades do ProJovem 2006, as ações do governo federal em implantar simultaneamente o Programa, a Secretaria e o Conselho, representaram um novo patamar de política pública que apresenta como principal objetivo “criar as condições necessárias ao rompimento do ciclo de reprodução das desigualdades e restaurar na sociedade especialmente em seu segmento juvenil, a esperança em relação ao futuro do País” (BRASIL, 2007, p. 15). Apesar de percebermos que a iniciativa surge como um paradigma diferenciado em relação ao que já se tinha no tocante à política pública para juventude até aquele momento, essa afirmação passa a ser no mínimo ousada e audaciosa, pois acreditamos ser necessário mais do que essas ações focalizadas para que o ciclo de reprodução das desigualdades relacionadas ao segmento juvenil viesse realmente a ser interrompido. Nesse sentido, concordamos com Frigotto (2004, p. 208), ao afirmar que

Sem atacar as mudanças estruturais resta a adoção de políticas focalizadas de inserção social atacando-se pelos efeitos (Castell, 1997). Tais medidas, contraditoriamente, são emergencialmente necessárias, mas insuficientes. O risco é reeditar um traço de nossa cultura política, o de transformar a exceção em regra e numa permanente descontinuidade.

Como se vê, os jovens aparecem nos documentos como ‘esperança de futuro do País’, o que nos leva a relacionar essa concepção social de juventude àquela que ressalta o período produtivo em que os jovens devem contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do País.

Dentre as ações articuladas dessa Política Nacional, nos interessa particularmente analisar o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem). De início, pode-se dizer que esse Programa se propõe a congregar elementos para reduzir a exclusão social e contribuir com o futuro do país, já que o mesmo visa colocar o jovem de volta na escola e promover sua inserção qualificada no mundo do trabalho, conforme veremos mais adiante.

Novaes (2007) destaca a importância desse Programa para a política de juventude, pois foi a primeira ação da Secretaria Nacional de Juventude.

Era urgente devolver a milhares de jovens em todo o país a oportunidade de retomar o seu itinerário formativo, de prosseguir nos estudos, desenvolver aptidões e exercer a cidadania. Essa

intervenção precisava ser rápida, ter um formato atraente para os jovens, e ser eficaz como concretização de um processo educativo comprometido com a transformação social (p. 11).

Novaes apresenta o Programa como uma grande medida relacionada aos jovens que foram historicamente excluídos da sociedade, pois representa

uma política pública nascida do compromisso de proporcionar conhecimentos, ampliar as oportunidades e promover a inclusão social de milhares de jovens, especialmente dos que têm de 18 a 24 anos de idade, que foram excluídos da escola e residem nas capitais e suas áreas metropolitanas (NOVAES, 2007, p. 11).

Para a autora, o Programa tem ampla abrangência e seus benefícios atingem diversos aspectos, isso graças ao seu modelo inovador e audacioso.

O ProJovem não diz respeito apenas aos seus beneficiários imediatos, mas é parte constitutiva da disputa por um novo paradigma de educação integral. Por seu caráter pedagógico inovador, pelo compromisso com o resgate social, pelo modelo de gestão compartilhada, desafia os jovens, os educadores, os gestores do Programa e das políticas públicas de juventude, em todos os níveis, em todos os lugares (NOVAES, 2007, p. 13).

Vale ainda destacar que o Programa foi proposto em caráter emergencial para atender aos jovens que necessitam chegar ao nível médio e também em caráter experimental28, por ter como base novos paradigmas e por propor um currículo integrado que articula três grandes áreas, formação geral, qualificação profissional e ação comunitária. Apresenta como finalidade ofertar a formação integral dos jovens, a partir da associação entre a elevação da escolaridade, a qualificação profissional, o desenvolvimento das ações comunitárias e a re-inserção e manutenção do jovem na escola (BRASIL, 2007).

Ainda segundo o mesmo relatório, os jovens que participam do ProJovem apresentam traços comuns que foram levados em consideração para a implementação do programa. São jovens:

Que moram nas periferias das grandes cidades; Excluídos da escola e do trabalho; Marcados por processos de discriminação étnica e racial, de gênero, geracional e de religião, entre outros; Que

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O Artigo 81 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação n. 9394/96 estabelece que é permitida a organização de cursos ou instituições de ensino experimentais, desde que obedecidas as disposições desta Lei (BRASIL, 1996).

vivenciam experiências geracional inédita que os conecta a processos globais de comunicação e, ao mesmo tempo, a complexas realidades locais de exclusão; Que apresentam especificidades quanto a linguagens, motivações, valores, comportamentos, modos de vida e, ainda, em relação ao trabalho, escola, saúde, religião, violência, questões sexuais etc; E que revelam trajetórias pessoais bastante diferenciadas entre si, marcadas pelos ditames da sociedade de consumo, por experiências de risco e por situações de violência, mas também por novas formas de engajamento social geradora de autovalorização e construtoras de identidades coletivas (BRASIL, 2007, p. 25).

Os traços comuns apresentados acima pela autora definem o perfil dos jovens participantes do programa, ratificam o que está posto nas Diretrizes e Procedimentos Técnico-Pedagógicos para a Implementação do ProJovem, publicadas no Diário Oficial da União do dia 16 de agosto de 200529, confirmado no Artigo 8º. Isso define alguns elementos que compõem o referencial normativo da política, pois como vimos anteriormente em Sposito e Carrano (2003, p. 08), “[...] a idéia de que qualquer ação destinada aos jovens exprime parte das representações normativas correntes sobre a idade e os atores jovens que uma determinada sociedade constrói; ou seja, as práticas exprimem uma imagem do ciclo de vida e seus sujeitos”, ou seja, a política pública para a juventude no governo Lula especificamente foi voltada para jovens pobres e miseráveis, que não terminaram a educação básica, não estão inseridos no mercado formal de trabalho, sendo desprovidos de capital econômico e cultural, fazem parte do grande grupo de excluídos socialmente e que habitam as grandes periferias das cidades brasileiras, classificados como um grupo de risco e vulnerabilidade social.

Desta forma, resgatamos o debate apresentado anteriormente por Novaes (2009), que toma como referência os direitos e as redes de proteção social em vigor para classificar as políticas públicas para juventude. Inferimos assim que a política pública para a juventude materializada no ProJovem se trata de uma política exclusiva, por estar voltada especificamente para uma faixa etária definida, que no caso da política pública para os jovens brasileiros entre 15 a 24 anos, “via de regra, constituem-se em programas e ações emergenciais para jovens excluídos ou em situações de exclusão desfavorável” (NOVAES, 2009, p. 20).

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Diretrizes e Procedimentos Técnico-Pedagógicos para a Implementação do ProJovem se constituem em um dos documentos que regulamentam a implementação desse programa, conforme detalharemos mais adiante (BRASIL, 2005).

Identificadas as primeiras ações relacionadas à política pública para juventude e explicitadas de forma mais geral as ideias sobre o ProJovem, analisaremos a seguir esse Programa de forma mais sistematizada.