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Procedimentos de pesquisa, definição do corpus e instrumentos de coleta dos

CAPÍTULO 3 CAMINHO METODOLÓGICO DA PESQUISA

3.1 Procedimentos de pesquisa, definição do corpus e instrumentos de coleta dos

Os próximos tópicos apresentarão as principais ações que orientaram nossa pesquisa. Primeiramente, o processo de pesquisa bibliográfica e documental, que precedeu as demais atividades. Em seguida, a caracterização do campo de estudo e a escolha dos atores participantes. Finalizaremos com a justificativa do questionário como instrumento escolhido para o processo de coleta de dados.

3.1.1 Pesquisa bibliográfica e documental

É importante destacar que a atividade de pesquisa é, em si, um ato contextualizado, situado em um determinado tempo histórico que, de uma forma ou de outra, dialoga com o passado e com o presente. Portanto, qualquer atividade de investigação requer o debate com a literatura específica, com os estudos e as pesquisas que constituem o campo de conhecimento. Em nosso caso, a literatura escolhida tratou principalmente dos conceitos sociológicos que envolvem a categoria juventude. Também focamos o processo de implementação das políticas para jovens em nosso país, principalmente a partir dos anos de 1990.

No que se refere ao ProJovem, levantamos textos oficiais e documentos que nos indicam os rumos propostos pelos formuladores da política, entendendo que o documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento como monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa (LE GOFF, 1994).

Dentre os documentos pesquisados, destacamos no primeiro momento a legislação do Programa. São eles:

- A Medida Provisória nº. 238 de 01 de fevereiro de 2005 (BRASIL, 2005) que cria conjuntamente o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem) e o Conselho Nacional de Juventude (CNJ), com seus respectivos cargos e comissões. Tanto o ProJovem quanto o Conselho estão ligados diretamente à Secretaria Geral da Presidência da República. Esta MP é constituída de 20 artigos, os 8 primeiros estão relacionados aos objetivos, estrutura e funcionamento do ProJovem. Os artigos 9º e 10º tratam especificamente da criação e estruturação do CNJ. O artigo 11º está ligado à criação dos cargos comissionados da Secretaria Geral da República. Do Artigo 12º ao 20º trata de outras questões que não estão relacionados ao Programa;

- A Lei nº 11.129 de 30 de junho de 2005 (BRASIL, 2005) que institui a política de

Juventude do Governo Lula, formada por 21 (vinte e um) artigos, dos quais 11 (onze) estão ligados diretamente às três ações voltadas especificamente para a política de juventude. Os 8 (oito) primeiros artigos apresentam de forma detalhada a estrutura e o funcionamento do ProJovem. O artigo 9º e o 10º tratam das atribuições e do funcionamento do CNJ e o artigo 11º que cria e trata das atribuições da Secretaria Nacional da Juventude (SNA). Os outros artigos versam sobre as questões relacionadas às ações de concessão de programas de bolsas e estágios ligados ao Ministério da Saúde;

- O Parecer da Câmara de Educação Básica do CNE de 02/2005 de 16 de março de 2005 (BRASIL, 2005), que aprova o Programa como Projeto Experimental. Neste mesmo documento constam as Diretrizes e Procedimentos Técnico-Pedagógicos para a Implementação do ProJovem. Tais Diretrizes se constituem por 64 artigos e pelos seguintes títulos: da Instituição, Organização, Comunidade Educacional, Organização do Processo Educacional, Regime Educacional e Disposições Gerais.

- O Decreto nº. 5.557 de 05 de outubro de 2005 (BRASIL, 2005), que regulamenta a Lei nº 11.129, formado por 5 capítulos que tratam das disposições preliminares, da

gestão e da execução, do funcionamento, dos beneficiários, do monitoramento, da avaliação e do controle do Programa, totalizando 37 artigos.

Além dos documentos supracitados, também exploramos os seguintes relatórios oficiais: Relatório de Atividade 2006 do Programa Nacional de Inclusão de Jovens; O Relatório Parcial de Avaliação do ProJovem 2007 e o Relatório Final de Avaliação do ProJovem 2005 a 2008.

No estudo destes documentos, procuramos compreender a concepção de juventude presente no discurso oficial, o referencial normativo da política de juventude, a estrutura do programa, os resultados parciais e finais que foram expostos nos relatórios acima citados. Ressalta-se que os resultados de nossas análises foram diluídos ao longo do estudo, especialmente nos capítulos dois, quatro, cinco e seis. Portanto, elementos de caracterização do programa (baseado na legislação estudada) e os dados obtidos dos relatórios do ProJovem não estão concentrados em apenas um capítulo, mas permeiam as argumentações centrais que procuramos desenvolver ao longo desta tese.

3.1.2 Delimitação do campo da pesquisa

O nosso segundo passo metodológico foi definir o campo empírico da pesquisa. Como já anunciamos, dada a relevância que o ProJovem teve como política pública no Brasil, escolhemos a cidade do Recife como campo de pesquisa. Tal escolha repousou nos seguintes critérios: o município apresentava uma sintonia com as políticas públicas para a juventude apresentadas pelo governo federal (vale destacar que as duas esferas de governo estavam sob a gestão do Partido dos Trabalhadores); Recife adotou o ProJovem desde seu início, sendo, inclusive, uma das cidades-piloto do Programa.

Localizada no Nordeste do Brasil, Recife é uma cidade litorânea com uma área de 217,949 km2. A cidade faz fronteiras com 5 (cinco) municípios da região metropolitana: Jaboatão dos Guararapes, São Lourenço de Mata, Camaragibe, Paulista e Olinda. O município é a capital do Estado de Pernambuco com uma população estimada no ano de 2010 de 1.537.704 pessoas.

Em relação à organização político-administrativa, Recife, a partir de uma coligação de diversos partidos políticos, tem à frente de sua administração nos últimos 12 anos (de 2001 a 2012) o Partido dos trabalhadores (PT). Durante dois

mandatos consecutivos de 2001 a 2008 ficou à frente da prefeitura o Prefeito João Paulo, e de 2009 a 2012 vem tendo como gestor o Prefeito João da Costa.

O município do Recife foi um dos primeiros39 a aderir ao Programa Nacional de Inclusão dos Jovens, inicialmente em 2005, quando participou da implantação inicial do projeto piloto. Posteriormente expandiu sua participação nos anos de 2006 e 2007. Em 2005 e 2006 foram 29.785 inscritos no ProJovem (BRASIL, 2007). Desse universo realizaram matrículas 10.412 alunos. Ainda em relação ao número de alunos matriculados no ProJovem Original, de acordo com o relatório Final do programa (BRASIL, 2010), o município do Recife matriculou durante todo o ProJovem Original 17.953 alunos.

3.1.3 Atores da pesquisa

Uma terceira delimitação consistiu na escolha dos atores envolvidos em nossa pesquisa. Vale ressaltar que nossas preocupações se voltaram para a escuta dos participantes que vivenciaram a política em ação. Com base nesse critério, definimos dois sujeitos centrais: professores e alunos. Ressaltamos que no quarto capítulo desta tese faremos uma caracterização dos jovens participantes, baseados nas questões socioeconômicas dos mesmos. Os professores participantes do estudo são da área de matemática, ciências sociais, ciências da natureza, língua portuguesa, língua inglesa, isto porque essas áreas fazem parte do currículo do ensino fundamental. Além disso, responderam aos questionários os professores de qualificação profissional e ação comunitária40. A caracterização geral dos docentes será apresentada no quinto capítulo.

3.1.4 Instrumentos de coleta de dados: o questionário

Utilizamos para a coleta dos dados primários 560 questionários confeccionados e estruturados pelo Conselho Técnico do Sistema de Monitoramento e Avaliação do Programa. Os questionários fizeram parte do Survey II, realizados de

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Participaram também do Projeto Piloto para a implantação do ProJovem os municípios de Salvador, Fortaleza e Porto Velho.

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Os professores de qualificação profissional e de ação comunitária constituem especificidade desse Programa.

abril a maio de 2008 e aplicados a alunos regulares41 e professores, conforme detalharemos adiante.

A relevância de utilização do questionário se dá em função do seu papel de descrever as características de indivíduos ou grupos e medir variáveis de determinados grupos sociais (RICHARDSON, 1999). Outros autores que atribuem objetivos para o questionário são Worthen, Sanders e Fitzpatrick (2004). Para eles, esse instrumento contribui para “avaliar atitudes, opiniões, comportamentos, particularidades da vida (renda, tamanho da família, condições de moradia etc.) ou outras questões” (p. 484). Ainda segundo os autores, em relação às perguntas presentes nos questionários, elas podem ser

perguntas abertas com as quais se trabalha a análise de conteúdo; de perguntas abertas que contemplem respostas breve e objetivas (como o número de filhos, por exemplo); de questões de múltiplas escolha; de questões com respostas adjetivadas (como classificação de tópicos usando-se excelentes, muito bom, regular, ruim, muito ruim); de questões com respostas adverbiais (sempre, frequentemente nunca etc.); e de questões que usam a escala Likert, que vai ser discutida mais à frente nesta mesma seção (WORTHEN; SANDERS; FITZPATRICK, 2004, p. 484).

Os questionários utilizados foram constituídos por perguntas fechadas e abertas. O questionário destinado aos alunos regulares foi composto por perguntas fechadas; já os questionários aplicados aos professores foram constituídos por perguntas fechadas e abertas. Segundo Richardson (1999), no que se refere aos questionários com perguntas fechadas e abertas,

As perguntas fechadas, destinadas a obter informação sociodemográfica do entrevistado (sexo, escolaridade, idade etc.) e respostas de identificação de opiniões (sim – não, conheço – não conheço etc.), e as perguntas abertas, destinadas a aprofundar as opiniões do entrevistador (p. 192).

Outro aspecto a ser observado no uso dos questionários, enfatizado por Worthen, Sanders e Fitzpatrick (2004, p. 485), é o cuidado na criação dos tópicos e/ou perguntas. Para os autores, “ao selecionar um tipo de tópico, considere que muitas variáveis podem ser aferidas com vários formatos diferentes desses tópicos”.

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Denominamos alunos regulares aqueles que estavam, no momento da pesquisa, participando efetivamente como alunos do Programa.

Dessa forma, as perguntas presentes nos questionários levam em consideração as observações dos autores.

[...] Talvez a maneira mais adequada de julgar atitudes sejam os tópicos da escala de Likert. Eles consistem em frases que refletem uma atitude sobre o tema de interesse. As respostas são dadas por um continuum de “concordo inteirametne- discordo inteiramente”. Talvez a melhor forma de julgar comportamentos seja com tópicos de múltipa escolhas (selecione um comportamento) ou adverbiais (definir a freqüência dos comportamentos), ao passo que o melhor modo de julgar opiniões talvez seja o uso de tópicos adjetivados (para que se tenha idéia do grau em que a pessoa é favorável a certa opinião) ou de tópicos de múltipla escolha (para detectar a preferência por opções). A melhor forma de julgar as informações relativas às condições de vida talvez seja com tópicos de múltiplas escolhas (apresentação de amplitudes numéricas, alternativas ou respostas sim-não) ou tópicos em que não há uma resposta certa, mas breve (ibidem, p. 485).

Assim, o questionário considerou diferentes variáveis que serviram para a realização do mapeamento das informações básicas para a realização dessa pesquisa, conforme pode ser constatado nos modelos de questionários utilizados que se encontram em anexo.

Cabe esclarecer que no período em que foi realizada a aplicação do Survey II, fazíamos parte da pesquisa Avaliação Processual do Programa Nacional de Inclusão de Jovens - ProJovem42, que favoreceu o contato com os instrumentos acima citados e nos levou a optar por utilizá-los na presente tese. Isso porque, em uma observação preliminar, percebemos a riqueza dos dados coletados e a possibilidade da análise do Programa em nível local, sem perder de vista sua origem como uma política nacional.