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A gestão de resíduos na perspectiva da URBANA

4.3 O ENTENDIMENTO DOS GESTORES SOBRE O MANEJO DOS REEE

4.3.1 A gestão de resíduos na perspectiva da URBANA

Uma das entrevistas ocorreu na sede da URBANA com o representante do setor de gerência técnica de meio ambiente e gestão ambiental14. As perguntas direcionadas ao gestor público da URBANA procuraram saber quais ações são desempenhadas pelo órgão, como elas são planejadas e o entendimento do servidor público a respeito da gestão de REEE, como é possível vislumbrar no fragmento a seguir, quando o entrevistado se refere à logística reversa:

Nesse sistema há uma previsão na política Nacional quanto a isso, entretanto, o município, no caso a URBANA, como órgão público também não deixa de cooperar. Certo? Com a sistemática, dando apoio, fazendo campanhas, na responsabilidade compartilhada e sempre com parceiros ambientais, normalmente, licenciados, que são

14 Preferiu-se não nomear os entrevistados para que eles tivessem sua identidade resguardada, desta

forma, foi feita menção a instituição, da qual participava, ou ao cargo que o entrevistado exercia no período em que se realizou a entrevista.

a EVS e a Natal Reciclagem no município de Natal. Certo, basicamente é isso (Representante da URBANA, 2016).

Segundo dados do gerente de gestão ambiental da URBANA, foram organizadas cinco campanhas de recolhimento de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos até o mês de novembro de 2016. A primeira campanha ocorreu entre 23/12/2014 e 13/03/2015, recolhendo 1.969Kg de equipamentos, em seis postos de recebimento. A segunda foi na semana do meio ambiente, de 08/06/2015 a 12/06/2015, recolhendo 3.690 kg em onze postos de recebimento.

Figura 7 – Encarte de duas campanhas realizadas em Natal/Brasil

Fonte: arquivo pessoal, 2016

A terceira campanha aconteceu no período de 01 a 30 de outubro de 2015, recolhendo 6.030 kg em seis pontos de recebimento. A quarta campanha, em parceria com as empresas EVS Reciclagem e Natal Reciclagem, aconteceu no período de 01 a 10 de junho de 2016 e recebeu 15.396,84 kg de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos. A última campanha realizada no ano de 2016, na Zona Norte da cidade, não teve os dados divulgados até o momento.

Cabe destacar a percepção do gestor público sobre o papel da autarquia responsável pelo serviço de limpeza pública quanto à gestão de REEE, apresentada no seguinte trecho:

Quanto a resíduos, a URBANA faz processo administrativo e fiscalizatório e posteriormente remete-se a SEMURB, quando das sanções através de multas. A URBANA faz o recolhimento dos resíduos e encaminha a BRASECO, com o intuito que o rejeito seja tratado de maneira adequada. Fazem campanhas nas comunidades, palestras na grande Natal e nas prefeituras que são parceiras de forma que seja uma apresentação técnica e de manejo de resíduos (Representante da URBANA, 2016).

No conjunto destas ações, se inserem as parcerias efetivadas entre a URBANA e os estabelecimentos de recebimento de REEE O entrevistado menciona estas empresas privadas do município como ‘parceiras ambientais’:

As duas empresas que nós fazemos campanhas, elas são licenciadas na SEMURB, que é o órgão fiscalizatório, o órgão regulamentador, certo? Entretanto, a URBANA é uma parceira ambiental na campanha dessas empresas que são realizadas por nós. Essas campanhas nós fazemos em sistema periódico, Norte, Sul, Leste e Oeste, tentando pegar as quatro grandes áreas da cidade. Tendo não a cobertura cem por cento, até que nós botamos pontos em todos os locais e desta feita agora na próxima semana vamos fazer uma só na Zona Norte

Divulgar todo o sistema, como também, conscientizar as pessoas do que é correto e como é o sistema de descartar adequadamente, essa é uma finalidade maior, e quanto mais pessoas tiver conhecimento do ciclo e participarem do ciclo de retorno de resíduos, por que são resíduos perigosos que só faz mal principalmente ao solo (Representante da URBANA, 2016)

Conforme o gestor público da URBANA – que fez questão de enfatizar essa informação, antes e durante a entrevista –, a Companhia, assim como o município, realizam as campanhas de recolhimento de resíduos de EEE no intuito de dar visibilidade à Política Nacional de Resíduos Sólidos. Entretanto, foram percebidos indícios de afastamento da responsabilidade compartilhada – por parte da gestão de resíduos do município de Natal – e do papel que este adquiriu devido à PNRS, a partir da exposição do entendimento do entrevistado.

Conforme Brasil (2010a) em seu artigo terceiro, entende-se como reponsabilidade compartilhada:

Conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei (BRASIL, 2010a, inciso XVII).

Questionado quanto aos procedimentos que pudessem ir além das campanhas periódicas, enquanto forma de estruturação e meio facilitador para a logística reversa, o gestor foi enfático em sua resposta:

Não, porque não é obrigação pública. Essa é uma obrigação comercial, enquanto tiver no sistema, estamos avançando no sentido de resolver quem vai concluir todo esse sistema fica complicado (Representante da URBANA, 2016).

Essa conjuntura também é visível em outros municípios do Brasil, como a apresentada por Martilho (2012) – aqui mencionado anteriormente – com o caso da prefeitura de Piracicaba, que não expandia o setor de coleta devido à não obrigatoriedade do município quanto à gestão dos REEE.

A Prefeitura Municipal de Piracicaba instalou uma estrutura para compensar as falhas do setor privado e os gastos são absorvidos pelas contas públicas. No entanto, não expande a coleta porque não é obrigação do município. Devido a questões burocráticas envolvendo licitações, essa estrutura de gerenciamento apresenta perspectivas frágeis quanto a sua continuidade (MARTILHO, 2012, p.171).

A análise dessa parte da entrevista possibilita compreender que as campanhas realizadas através de parcerias do órgão com empresas privadas, inserem- se, na verdade, na lógica da atuação mínima e de afastamento das responsabilidades que deveriam ser de fato compartilhadas.

Faz-se necessário destacar que as campanhas não são suficientes para atender a demanda do município, o que é percebido por haver resíduos de EEE

expostos pela cidade e pelo fato de os procedimentos executados não contemplarem a destinação ambientalmente adequada, haja vista que o destino final dos resíduos ainda é o aterro sanitário, como é possível visualizar pela resposta do entrevistado:

Infelizmente ele é misturado, vira rejeito, polui o meio ambiente e fica de forma inadequada colocado nos canteiros, praças e em todos os locais que você imaginar inadequados (Representante da URBANA, 2016).

Em parte, a destinação final que é dada aos resíduos como acima mencionado, deve-se às prerrogativas da cadeia de reciclagem global, que possui padrões para que determinados materiais sejam reinseridos no ciclo. As empresas que são parceiras do órgão municipal não recebem materiais que possam oferecer custos posteriores, e que não estejam no padrão requerido pela indústria recicladora. Nesse sentido, não há, no discurso do entrevistado, a percepção sobre a diminuição da demanda ao aterro sanitário do município, o que de fato as campanhas poderiam significar. Outro fato é que tampouco está presente, na própria ideia das campanhas, a noção de prevenção da geração dos resíduos de EEE.

Perguntou-se ao gestor se era interessante que os acordos setoriais fossem firmados para que a logística reversa se efetivasse. No entanto, a resposta, apesar de positiva, demonstrou que há desconhecimento quanto aos prazos estabelecidos no texto da PNRS para a implementação da logística reversa:

Como eu disse em uma das perguntas anteriores, o acordo setorial enquanto estiver nessa sistemática de quem vai realmente executar, entretanto a Lei é clara, ela já é para ser executada, a Lei foi criada em 2010. Então, de 2010 para cá essa logística já era para ser realizada, entretanto está nesse sistema aí que nós falamos agora (Representante da URBANA, 2016).

Conforme fragmento a seguir, pode-se perceber que os prazos relativos à implementação da logística reversa serão aplicados conforme o cronograma do regulamento, o qual remete aos acordos setoriais:

Art. 56 A logística reversa relativa aos produtos de que tratam os incisos V e VI do caput do art. 33 será implementada progressivamente segundo cronograma estabelecido em regulamento (BRASIL, 2010a, grifo nosso).

Sobre comentários que foram acrescentados pelo gestor, destacaram-se em sua fala as perspectivas para a divulgação da política nacional:

Quanto mais divulgação, quanto mais divulgação do sistema de Política Nacional de Resíduos Sólidos melhor para conscientizar a população e para ter conhecimento realmente, as pessoas, o cidadão de forma geral. Vejo que caberia também uma publicidade maior. E isso aí não acontece nem na esfera estadual, municipal nem muito menos na federal, que a lei maior vem sendo criada pelo sistema federal, né? Apenas o estado e o município têm que acompanhar toda a sistemática dos resíduos dentro das formalidades da lei maior, ok? (Representante da URBANA, 2016).

Quando questionado se a atual divulgação era um entrave, o entrevistado respondeu:

É, mas é uma previsão também legal, nós temos aí o ministério do meio ambiente, quanto mais divulgação melhor. Eles fazem aí a divulgação, eles têm os materiais. Mas eu acho que ainda falta muito o que chegar à população (Representante da URBANA, 2016).

De acordo com o entrevistado, a dificuldade para que a logística reversa de REEE funcione está na falta de atuação da iniciativa privada. Apesar da resposta relacionada, em princípio, com a PNRS, o gestor púbico enfatizou que cenário de resíduos é reflexo da falta de educação, falta de conhecimento e informação sobre a política, e classificou a população como despreparada.

A principal dificuldade é que o ciclo funcione, o ciclo da Política Nacional de Resíduos Sólidos. A logística reversa já prevê que desde sua fabricação o seu retorno para o seu reaproveitamento, entretanto a população é despreparada, a falta de educação deixa além do que a falta de informação, tá certo? Do conhecimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, da lei em si, de todo o ciclo e de todo o registro. Aí, o que que isso reflete no sistema entretanto nós fazemos campanhas no sentido de amenizar e fazendo a nossa responsabilidade pública também (Representante da URBANA, 2016).

Figura 8 – Síntese do entendimento do gestor público sobre gestão de REEE e atuação da URBANA

Fonte: Elaborada pela autora, 2017

Nós fazemos as obrigações de demandas que nós executamos, muitas vezes nós como gestores públicos, nós também executamos até o que não deve, vou dar um exemplo a você, a logística dos pneus. Entretanto, se o município não arrecadar, não botar no galpão, tá certo? vai virar um problema social além do problema de saúde, é uma realização de saúde, você tá entendendo? Então, dessa forma, fica complicado (Representante da URBANA, 2016).

A entrevista acima descrita possibilitou o entendimento sobre como se estruturaram as campanhas, como elas ocorrem e por quais setores a gestão de resíduos do município tem atuado.

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