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4 DOIS PLANOS, DOIS TEMPOS, DOIS PROCESSOS

4.2 Balanço da conjuntura política e social

4.2.2 A gestão Roberto Cláudio (2013-2016)

Nas eleições de 2012, Roberto Cláudio (PSB), superou Elmano de Freitas (PT), no segundo turno do pleito municipal. Sua gestão intitulada “Para Renovar Fortaleza”, de caráter técnico, teve como principal objetivo reduzir as desigualdades sociais, construir uma cidade menos “apartada”, voltada para “os mais pobres” (FORTALEZA, 2013; 2014). Para o alcance de tal façanha, o prefeito elegeu três eixos de ação principais: saúde, educação e mobilidade urbana.

A mobilidade urbana de Fortaleza recebeu destaque na gestão, a partir de recursos provenientes do PAC, voltados para as cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, além da atuação municipal, para a obtenção de investimentos e parcerias nacionais e internacionais. Dentre as obras destaca-se: o alargamento de faixas exclusivas de ônibus; a implementação de corredores exclusivos para ônibus do tipo Bus Rapid Transit (BRT); a reforma dos terminais de ônibus; a instalação de ciclo faixas e modais públicos de aluguel de bicicletas; a construção de novos viadutos; a abertura de novas avenidas e pontos de acesso a Arena Castelão. Além

49 Para Hall (1992, p. 59), “os megaeventos apresentam grandiosidade em termos de público, mercado-alvo, nível de envolvimento financeiro do setor público, efeitos políticos, extensão de cobertura televisiva, construção de instalações e impacto sobre o sistema econômico e social da comunidade anfitriã” (apud PAIVA, 2017, p. 28). 50 Ver em CARVALHO, R. V. A.; LOPES; M. S. Duelo entre candidatos poste: a campanha eleitoral pela Prefeitura de Fortaleza em 2012”. Revista de Ciências Sociais, v. 47, n. 2, 2016.

disso, após a implementação de linhas do Metrô de Fortaleza e do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), obras do governo Estadual, foi possível integrá-los com outros modais de transporte, especialmente, ao sistema de transporte intraurbano de Fortaleza.

As obras do VLT correspondem a remodelação de 13 km de linha férrea, sendo 12,5 km da linha em superfície e o restante em elevado, o que causou a remoção e desapropriação de residências em bairros, onde estão localizadas as “Comunidades do Trilho”, a saber: Trilha do Senhor, Aldacir Barbosa, Dom Oscar Romero, São Vicente, Rio Pardo, Jangadeiros, João XXXIII (Pau Pelado), Pio XII, Lagamar, Vila União e Mucuripe. Ocorreram conflitos entre a população menos abastada e os órgãos governamentais, uma vez que no processo de desapropriação não foram respeitados os direitos dos moradores, como, por exemplo, valores indenizatórios e a destinação dada às famílias removidas (GÓIS, 2013).

A nova gestão municipal realizou um processo de reestruturação administrativa e orçamentária – Lei Nº 0137, de 8 de janeiro de 2013 – que teve como um de seus principais pontos a criação de cinco novas secretarias, além da Secretaria Extraordinária da Copa (SECOPAFOR), para subsidiar os megaeventos. Ademais, considerou a dependência de repasses de tributos internacionais, federais e estaduais para o aumento do orçamento público, desta maneira, abrindo espaço para soluções de arrecadação, com destaque para empréstimos a bancos internacionais e Parcerias Públicas Privadas (PPPs).

O primeiro mandato de Roberto Cláudio foi marcado também por duas mudanças importantes provocadas pelo realinhamento das alianças políticas no plano municipal e estadual. Em setembro de 2013, motivado pelas distensões internas ao partido, o grupo político liderado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes optou por deixar o PSB e se filiar ao recém- fundado Partido Republicano da Ordem Social (PROS). O prefeito de Fortaleza seguiu os passos do governador e se filiou ao novo partido.

A dissidência política no PSB ocorreu, pois Eduardo Campos (PSB), até então presidente nacional do partido buscava apoio à disputa presidencial, em desalinho com o grupo da família Ferreira Gomes que pretendia continuar apoiando a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), à época. Em âmbito estadual, ocorreu o rompimento do MDB com o PROS, pois o então Senador Eunício Oliveira se candidatou ao governo do estado sem o apoio dos Ferreira Gomes, que preferiram apoiar o candidato petista, Camilo Santana (PT). Na prática, isso significou a saída de membros do MDB do governo municipal liderados pelo vice-prefeito à época, Gaudêncio Lucena (MDB).

No final de 2015, Roberto Cláudio, mais uma vez, acompanhou o grupo político dos Ferreira Gomes e se filiou ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), contabilizando sua

passagem pelo terceiro partido desde que assumiu a prefeitura (PSB de 2013 a 2014; PROS de 2014 a 2015; PDT de 2015 em diante). Ressalta-se, no entanto, que diferentemente do que aconteceu em 2014, essa mudança não acarretou alterações na composição do governo, logo, o quadro de secretários permaneceu igual desde a saída do MDB, em 2014.

De modo geral, o primeiro mandato do Roberto Cláudio procurou construir um ponto comum entre as duas visões ou modelos administrativos de seus antecessores, entretanto não foi possível graças proximidade com o setor social hegemônico capitalista que elitizou o governo municipal e deu-lhe um caráter mais técnico, por vezes autoritário. A marca administrativa da gestão é reconhecida por grandes obras de mobilidade e infraestrutura, como já citado, em detrimento das conquistas e políticas socias da gestão anterior.

A participação popular, em âmbito nacional, vinha fragilizada desde o enfraquecimento do MCidades e demais instâncias correlatas. Neste contexto. as novas forças sócio-políticas e a ampla base aliada enxergaram a participação da sociedade nos negócios públicos de forma diferenciada da gestão petista. A partir disso, os espaços e mecanismos institucionais participativos da cidade foram reconfigurados, surgindo assim: a Coordenadoria de Participação Popular – que posteriormente se torna Coordenadoria Especial da Participação Social (CEPs) –, o Plano Plurianual Digital, o Conselho e o Ciclo do Planejamento Participativo.

Na primeira gestão ocorreram mudanças contextuais relevantes em âmbito nacional e local que expressaram diferenças na relação da população nas lutas acerca da questão urbana, além de modificarem as relações da sociedade civil e da prefeitura municipal. Entre eles, destacam-se acontecimentos que tiveram abrangência nacional, como as obras urbanas pré-Copa do Mundo e as manifestações de junho de 2013. Localmente, salienta-se as mudanças urbanas ligadas ao aumento da sensação de violência, além de episódios de desgaste entre o novo prefeito e parcelas da sociedade civil organizada, a saber: a resposta dada para as manifestações de junho e ao movimento “Ocupe o Cocó”51, por exemplo, ambos ocorridos em 2013, no primeiro ano da gestão.

Roberto Cláudio encerrou a primeira gestão, em 2016, com 34% de aprovação, sendo reeleito para o segundo mandato até final de 2020. No cenário nacional, o destaque dado a atuação da Polícia Federal, a partir da Operação Lava Jato, que com esforço midiático prendeu políticos e aliados do alto escalão do governo federal, aprofundou-se o

51 Movimento de resistência popular que buscou democratizar a discussão da política de mobilidade municipal e de preservação ambiental, frete ao projeto que visava a construção de um conjunto de viadutos no cruzamento de duas importantes avenidas da cidade. O nome “Ocupe o Cocó” teve inspiração em outros movimentos como o “Occupy Wall Street”, em Nova Iorque, e o “Ocupe Estelita” em Recife (BRASIL e CAVALCANTI, 2015).

distanciamento entre a sociedade civil e o governo. O país adentrou numa grave crise institucional, econômica e governamental, que contribuiu para o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT).