• Nenhum resultado encontrado

Analisado o espaço que cada televisão concede no noticiário da noite à campanha eleitoral importa perceber a importância que é dada ao tema na hierarquia do alinhamento. No jornal televisivo as notícias são apresentadas por ordem de importância. “ A hierarquização das informações no TJ obedece às regras gerais na matéria, assim como a uma série de convenções próprias do media: reagrupar as notícias em categorias muitas vezes ligadas ao lugar (nacional, internacional), situar as notícias desportivas ou “engraçadas” no fim do jornal, etc.” (Jespers, 1998, p. 176)

Do primeiro ao último dia de campanha eleitoral as três televisões portuguesas emitiram diariamente notícias relativas ao assunto mas a hora de entrada da campanha no alinhamento variou. Em comum, RTP, SIC e TVI abriram os noticiários da noite com as acções dos candidatos apenas no primeiro dia oficial de campanha eleitoral. Este

foi, aliás, o único dia em que a RTP e a SIC deram honras de abertura ao tema. A TVI fez da campanha eleitoral abertura por três vezes no Jornal Nacional.

Verificamos aliás que a TVI é a estação que dá mais importância à campanha eleitoral na hierarquia do seu jornal televisivo. A entrada do tema é mais homogénea na TVI do que nas restantes televisões e o assunto nunca vai para o ar depois das 20h20. Mário Moura garante que “…a campanha eleitoral, ao contrário do que as pessoas pensam, tem audiência.” Este interesse pelas eleições presidenciais justificou, no entender do director de informação da TVI, a hora a que o assunto foi alinhado ao longo da campanha. “ As pessoas querem saber quais são as propostas dos políticos e o que eles fizeram nesse dia. De uma forma geral nós entendemos puxar a campanha para a primeira parte do jornal porque a campanha tem audiência e entrava sempre antes do intervalo. Muitas vezes abrimos o jornal com a campanha. Nós sentimos que o telespectador queria saber o que se passava. A política é interessante e as pessoas querem saber. A «politiquice» é que as pessoas não querem. E eu acho que não é só nesta campanha.”9

Na RTP, a campanha eleitoral foi também sempre incluída nos primeiros 30 minutos do Telejornal. Vítor Gonçalves defende que a competição noticiosa no período em causa não era tão extraordinária que pudesse relegar o assunto para segundo plano. “Era um assunto de topo, muito interessante para as pessoas que a acompanhavam”. O editor de política admite que a análise das audiências no que respeita às notícias da campanha era uma curiosidade mas não uma preocupação. “Isso não fez com que se desse mais ou menos tempo mas havia uma grande curiosidade em saber se as pessoas estavam interessadas naquele tópico de informação e na verdade estavam.”10 Também o director de informação da RTP regista um interesse acrescido na audiência no período da campanha eleitoral para as eleições presidenciais. Luís Marinho defende que o serviço público de televisão está atento às audiências mas acrescenta que a informação na estação não funciona em função delas. “Quando estamos a organizar um Telejornal não estamos preocupados se a notícia é melhor para abrir porque vai dar mais audiência. Todos sabemos que isso se faz. Entendemos que essa não é a lógica de funcionamento no serviço público de televisão.” Luís Marinho salienta que as audiências servem para se ter uma ideia de como as pessoas reagem às notícias e à campanha eleitoral, em concreto, reagiram bem.”…a campanha foi muito vista nas três televisões, os debates

9

- Entrevista a Mário Moura, em apêndice. 10

foram muito vistos, as entrevistas foram também muito vistas e os telejornais cresceram nessa altura. Há alturas em que as pessoas se viram para a política e uma campanha como esta, com candidatos muito populares, as pessoas estavam muito interessadas. As presidenciais davam uma esperança nova. A campanha até se tivesse mais tempo era vista.”11

Na SIC, há grandes variações na hora de entrada da campanha eleitoral. A SIC chega a colocar as acções dos candidatos depois do intervalo. Durante os 13 dias de campanha o tema foi por 7 vezes remetido para depois das 20h30. A editora de política da estação não entende o facto como uma intenção de desvalorizar o assunto no Jornal da Noite. “Quando a campanha começa é normal que abra o jornal, depois em função da actualidade, esse bloco pode «passear» ao longo do alinhamento. Isso não implica que exista uma desvalorização da campanha porque muitas vezes a segunda parte do jornal é a parte mais vista e que tem mais audiência. Algumas vezes também era porque tínhamos as entrevistas e queríamos que todas as entrevistas se realizassem mais perto das nove da noite. Não me parece que isso tenha um significado especial.”12 O director adjunto da SIC lembra que muitas vezes a hora da entrada da campanha no alinhamento, decidida pela coordenação do jornal, era uma questão de estratégia. “ Os telejornais não têm mais audiência no início do que no fim. Muitas vezes guardamos grandes assuntos para o final do jornal promovendo-os. Há mais 30% de espectadores entre as 20h00 e as 21h00 que vão entrando. Não é uma questão de importância. Há estratégias de alinhamento…por exemplo, evitar noticiarmos todos o mesmo assunto à mesma hora. É perfeitamente normal e aceitável e são decisões dos coordenadores. Acho que é melhor abrir com outros assuntos porque entretanto a RTP e a TVI já deram a campanha para não darmos todos à mesma hora. Não passa por uma estratégia de desvalorização, passa por uma estratégia de optimização de audiência e de não estarmos a dar todos a mesma coisa ao mesmo tempo. Não é uma menorização. Menorização seria dar cinco minutos em vez de vinte. Há outro argumento, é que nem sempre as reportagens estão prontas à mesma hora e muitas vezes para o bloco estar pronto, espera-se pelas reportagens que faltam e guarda-se o assunto para mais à frente.”13

11

- Entrevista a Luís Marinho, em apêndice. 12

- Entrevista a Raquel Alexandra, em apêndice. 13

Entrada da campanha nos alinhamentos dos noticiários da RTP, SIC e TVI

19:26 19:40 19:55 20:09 20:24 20:38 20:52 21:07 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 RTP - Telejornal SIC - Jornal da Noite TVI - Jornal Nacional

Ilustração 5

A hierarquia da campanha eleitoral no alinhamento está obviamente dependente das restantes notícias do dia e do interesse que as acções de campanha foram gerando ao longo dos treze dias em estudo. Concluímos que a TVI foi a estação de televisão que mais valorizou a campanha eleitoral no seu alinhamento, seguida de perto pela RTP. Na SIC, o tema foi hierarquizado de forma bastante heterogénea chegando a ser notícia de abertura, no dia 8 de Janeiro, ou quase tema de fecho, no dia 17 de Janeiro. De resto uma análise diária, com excepção do dia de arranque da campanha eleitoral, permite-nos concluir que os critérios dos responsáveis pelas três estações na hierarquização do tema nos jornais televisivos pouco têm em comum.