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Depois de analisarmos o tempo que é dado por cada televisão aos candidatos na cobertura das acções de campanha vamos agora ver a hierarquia do espaço da campanha eleitoral na RTP, SIC e TVI. Tal como num alinhamento de um jornal televisivo, a hierarquização das notícias relativas aos seis candidatos é organizada em função da importância de cada um. Como ponto de partida consideramos que as televisões podem avaliar a hierarquização em função de quatro factores: a colocação dos candidatos nas sondagens, a representatividade de cada candidato tendo em conta o partido ou partidos pelos quais são apoiados, a importância da acção de campanha, sujeita a uma avaliação diária, ou, por último, as televisões podem optar por uma hierarquização equitativa entre os candidatos concorrentes às eleições. A ordem de entrada dos candidatos pode dar ao telespectador a noção de quem vai à frente. Neste jogo eleitoral que se desenrola de uma forma decisiva na televisão a hierarquização dos candidatos é por isso fundamental.

Se em relação aos tempos das reportagens emitidas a diferença entre Cavaco Silva, Manuel Alegre e Mário Soares (os três candidatos mais bem colocados nas sondagens e por esta ordem) não era significativa, isso já não se verifica na ordem de entrada da campanha eleitoral nos noticiários da noite. Na RTP, há quase uma bipolarização. Cavaco Silva é o candidato que por mais vezes entra a abrir a campanha eleitoral, em sete dos 13 dias de campanha o candidato apoiado pelo PSD e CDS-PP merece honras de abertura. Mário Soares é neste capítulo remetido para segundo lugar mas em 4 dias da campanha eleitoral abre o bloco no serviço público de televisão. Manuel Alegre, candidato independente, e apesar de surgir em segundo lugar nas sondagens, só por uma vez vê a sua acção de campanha à frente dos outros candidatos no Telejornal. Vale a pena destacar a abertura da campanha eleitoral na RTP, no dia 13 de Janeiro, com a acção de Jerónimo de Sousa. O candidato apoiado pelo PCP conseguiu nesse dia levar 20 mil pessoas aos Pavilhão Atlântico, em Lisboa, no que viria a ser o maior comício da campanha eleitoral de todos os candidatos.

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Cavaco Silva Francisco Louçã Manuel Alegre Jerónimo de Sousa Mário Soares Número de vezes que cada candidato surge em 1º lugar no Telejornal da RTP

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Confrontado com estes dados, Vítor Gonçalves, editor de política da RTP, admite que a definição de quem entra primeiro no bloco da campanha eleitoral nem sempre é fácil mas salienta que havia diferenças entre os candidatos que justificavam uma hierarquia no alinhamento do Telejornal. “Havia dois campeonatos nessa campanha. Havia o campeonato de saber quem chegava em primeiro, segundo e terceiro. Durante toda a campanha essa dúvida manteve-se. Havia a impressão que Cavaco Silva chegava em primeiro, o que chegou a acontecer mas havia dúvidas sobre o segundo, Alegre ou Soares. Era entre esse três candidatos que escolhíamos quem ia abrir o bloco de campanha porque era entre eles que se julgava a eleição. Depois da escolha de qual era os candidato era mais difícil porque não havia nenhuma razão óbvia para escolhermos um ou outro. Tínhamos que analisar caso a caso, verificar se nesse dia houve algum acontecimento que justificasse dar o ponto de partida ao candidato, se a peça do candidato que vinha a seguir era uma reacção ao candidato que estava em primeiro lugar. Essa era uma escolha que era feita casuisticamente, dia a dia, sendo que a escolha que era feita tinha apenas como critério os três candidatos. Normalmente era entre eles, só se houvesse um acontecimento extraordinário. Acho que é um bocadinho irrelevante. O que se procurava e não sei se foi conseguido, procurava-se que houvesse elementos de novidade. Não era uma preocupação muito grande, ligávamos aos

jornalistas e avaliávamos. Não era com a ideia de que havia uma hierarquia.”23 O director de informação da RTP garante que não houve uma preocupação obsessiva em relação à hierarquia no bloco da campanha eleitoral mas admite um ligeiro desequilíbrio nas escolhas da estação.” Era óbvio que a expectativa da candidatura de Cavaco Silva tivesse levado a abrir mais vezes. Terá havido uma ou outra vez que se terá aberto o bloco duas vezes seguidas com Cavaco Silva e depois termos decidido abrir com outra candidatura até em função de onde estavam colocados os directos. Não houve uma rotação, considero aqui algum desequilíbrio mas tínhamos de olhar para a notícia para perceber qual a importância de cada acção. Seria estranho, por exemplo, que no dia do comício de Jerónimo de Sousa em Lisboa ele não estivesse em primeiro lugar no bloco da campanha eleitoral. Mais importante do que os números, tínhamos agora que olhar para cada dia de campanha.”24

Na estação privada SIC, a bipolarização é ainda mais evidente. No Jornal da Noite, Cavaco Silva abre por 10 vezes em 13 dias o espaço da campanha eleitoral. Nos três dias que restam é Mário Soares o candidato que surge à frente na ordem de apresentação. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Garcia Pereira Cavaco Silva Francisco Louçã Manuel Alegre Jerónimo de Sousa Mário Soares Número de vezes que cada candidato surge em 1º lugar no Jornal da Noite da SIC

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- Entrevista a Vítor Gonçalves, em apêndice. 24

Raquel Alexandra, editora de política nacional da SIC, considera normal a opção de Cavaco Silva abrir mais vezes o bloco de campanha do que os outros candidatos. “Há um pressuposto que eu não posso aceitar. Através de uma análise quantitativa chegar a qualquer conclusão. Aquilo que é a história do dia da campanha é obviamente aquilo que abre o bloco da campanha. A apreciação quantitativa não me intimida. Significa que durante a campanha eleitoral foi o candidato Cavaco Silva que marcou a actualidade.”25

A TVI dá também mais honras de abertura a Cavaco Silva mas com uma diferença menor em relação ao candidato apoiado pelo Partido Socialista. O candidato apoiado pelo PSD e CDS/PP é por seis vezes contra cinco de Mário Soares o candidato que surge à frente na apresentação da campanha eleitoral. Tal como na RTP, as acções de campanha de Manuel Alegre e Jerónimo de Sousa estão a abrir o bloco por um dia mas no caso do candidato apoiado pelo PCP não é relativo ao dia do mega comício organizado em Lisboa. 0 1 2 3 4 5 6 Garcia Pereira Cavaco Silva Francisco Louçã Manuel Alegre Jerónimo de Sousa Mário Soares Número de vezes que cada candidato surge em 1º lugar no Jornal Nacional da TVI

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O director de informação da TVI assegura que também nesta questão houve uma tentativa de equilíbrio. “Nós tentamos sempre nas campanhas eleitorais manter um equilíbrio e nunca tivemos nenhuma queixa por parte de nenhuma força política. Nós tentamos ser o mais equilibrado possível em relação ao tempo, directo, posição no

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alinhamento. Há sempre esse cuidado. Podíamos estabelecer uma ordem, que era a do boletim de voto, mas acho que não fazia sentido. Há casos que, se calhar, não fizemos como queríamos. Ás vezes os directos que se seguiam às peças não estavam prontos e isso fazia com que houvesse mudanças no alinhamento. Houve candidatos que por causa disso chegaram a entrar num segundo bloco depois das nove da noite.”26