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Uma das grandes apostas da SIC foi, desde o início da estação, a informação. “A grande característica da programação da SIC era a forte presença da informação que constituía, em termos de percentagem, o dobro de qualquer outro canal, ou seja, uma inversão da tendência dominante na Europa.” (Traquina, 1997,p.65) O autor justifica a aposta da SIC na informação. “Devido à falta de credibilidade da informação estatizada, acumulada ao longo dos anos sob a hierarquia de governos de diversas cores políticas, a SIC escolheu a informação como um importante campo de batalha.” (1997, p.115) Numa análise a uma semana de programação em1993, Nelson Traquina chegou, aliás, à conclusão que os canais privados davam mais espaço à informação no prime time que a televisão pública, ou seja, 23% na SIC, 14% na TVI e 13% na RTP. A SIC não se limitava a dar mais espaço à informação, fazia também uma informação diferente. Felisbela Lopes (2005) lembra que não foi certamente por acaso que a estação privada inaugurou as suas emissões a 6 de Outubro de 1992 com um noticiário cuja peça de abertura relatava a luta dos estudantes contra as propinas. Esta irreverência da informação da SIC transformou-se numa marca da estação que inaugurou um novo modo de fazer notícias mais perto das pessoas e afrontando o poder. É o caso do programa “Praça Pública”, feito em directo, que se centrava em problemas locais ignorados pelas instituições competentes. Conotada como muito próxima dos interesses governamentais e submetida a uma informação institucional, a RTP tenta seguir o modelo da SIC no que José Rebelo (2005, p. 176) considera “manifestações recíprocas de mimetismo levantando questões como, nomeadamente, a da prestação de serviço público. “As consequências são notórias. Os principais acontecimentos políticos, nacionais e internacionais, foram objecto de uma cobertura televisiva até agora inédita. Sobretudo nos primeiros três meses de competição, disputaram-se tempos de satélite independentemente dos custos. Reportagens, entrevistas e comentários, a um ritmo alucinante, criaram-nos a ideia de que nunca a Madeira e os Açores tinham vivido a febrilidade política que rodeou as últimas eleições regionais; de que nunca a situação militar em Angola constituíra uma tão grande ameaça para o equilíbrio geopolítico na África Austral; de que nunca a América fora atravessada por uma tão grande vontade de mudança como aquela que guiou Bill Clinton ao poder. Desceu-se ao «país real» e a mais pequena aldeia do interior passou a ser informação: para a SIC, bem entendido, e

para a televisão do Estado, anteriormente discreta a este respeito. “ A informação na SIC ajudou a marcar a diferença mas por si só, como lembra Nelson Traquina, não ganhou a guerra de audiências. Depois de ter ocupado um papel de relevo a informação da SIC sofreu uma redução drástica em 1994. Longe da guerra de audiências entre a RTP e a SIC estava a TVI. Felisbela Lopes (2005, p.252) regista que “no campo da informação, a TVI não sobressai no panorama audiovisual português. Convém não esquecer que a política editorial da Quatro se distancia do tom agressivo adoptado pelos restantes canais. Apesar de reconhecer que o «espectáculo das emoções interessa», o director de informação, António Rego, insiste em fazê-lo «com as coisas bonitas que acontecem na vida», encarando o jornalismo da sua estação como o «exercício de convívio com os espectadores».”

Num estudo sobre a ocupação do espaço televisivo entre 1993 e 2003, Felisbela Lopes (2005) concluiu que em 1993 os políticos são os mais presentes nos debates e entrevistas do serviço público. O perfil dos convidados dos programas de informação da SIC não é muito diferente mas subiram ao plateaux figuras menos conhecidas de determinados grupos como, por exemplo, autarcas de média dimensão ou pessoas que exerciam cargos com projecção pública reduzida. Na primeira metade de 1993, os debates da Quatro faziam-se preferencialmente com os políticos e representantes de sindicatos e associações. “ A esfera pública que o debates televisivos semanalmente colocaram em cena em 1993 não coincide com o modelo habermasiano que assenta numa comunicação ilimitada, no debate de assuntos de interesse geral, na não restrição de pessoas e no uso público da razão. Elegendo a política como tema central, os políticos como interlocutores privilegiados e as franjas horárias mais rentáveis do ponto de vista audimétrico, os debates emitidos no horário nobre dos canais generalistas foram um espaço de reprodução de uma certa ideologia dominante e de rentabilização de audiências.” (2005, p.272) Relativamente à cobertura dos assuntos políticos na informação diária, a abertura do mercado televisivo à iniciativa privada introduz também mudanças. Felisbela Lopes (1999) refere num estudo sobre o Telejornal da RTP que os assuntos políticos – diplomacia, estado, partidos – eram os mais reiterados nas aberturas dos noticiários em 1988. Quatro anos depois, em 1992, a política dominava ainda abertura do Telejornal. Já depois de 1992, com a SIC e a TVI a operarem, a política foi ultrapassada pelos acidentes e catástrofes. Nuno Goulart Brandão (2002) concluiu num estudo aos noticiários televisivos em prime-time da RTP, SIC e TVI (entre Setembro de 2000 e Março de 2001) que com a televisão privada, os

assuntos políticos passaram a ser a segunda categoria na abertura dos noticiários da noite na RTP, embora com uma diferença de pouco mais de 1% em relação aos acidentes e catástrofes. Na SIC, a política ocupa o terceiro lugar e na TVI o quarto lugar.

O Telejornal da RTP foi líder de audiências até Maio de 1995. Desde o ano anterior que a SIC vinha captando audiências com a introdução na grelha, logo a seguir ao Jornal da Noite, das novelas brasileiras da Rede Globo mas o noticiário da RTP aguentou a liderança esticando o principal programa de informação diária para reter as audiências. A queda do Telejornal recorda Felisbela Lopes (2005) acontece em Maio de 1995, quando a RTP compra em exclusivo a transmissão do casamento de D. Duarte mas fica obrigada a emitir prolongadas reportagens sobre a Casa Real a seguir ao Telejornal. O noticiário é por essa razão reduzido para 10 minutos e a audiência foge para a SIC. “Estava perdida a liderança das audiências em horário nobre no Canal 1, conseguindo a SIC a proeza de em menos de três anos ter passado a ser a estação mais vista, algo singular na Europa.” (Lopes, 2005, p.276) Entre 1994 e 1995 a TVI continua sem grande visibilidade e estabilidade. Em menos de três anos a Quatro tem três directores de informação e em 1995, quando a SIC assume a liderança do mercado audiovisual português, a TVI regista um share de 14,7%, segundo estudos da Marktest.

De volta à política importa registar a cobertura mediática das eleições legislativas de 1 de Outubro de 1995 porque segundo Felisbela Lopes (2005, p. 281) a componente espectacular da informação televisiva teve uma grande expressividade. “ De diferentes formas, SIC e Canal 1 rivalizaram num trabalho que excedeu os limites do campo jornalístico” A RTP colocou no espaço de emissão da noite eleitoral, lado a lado, informação e entretenimento, com a exibição de sketches humorísticos. A SIC para além de apostar numa nova forma de informação com a introdução de um helicóptero e motas com câmaras móveis para dar imagens da festa em directo, optou por divulgar uma sondagem sobre o vencedor antes da hora permitida por lei que talvez tenha sido decisiva para lhe garantir uma audiência superior à RTP e à TVI.