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3.1 A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO

3.1.2 A História da Matemática na Formação Docente

Como já se destacou, diversos são os argumentos favoráveis à implementação de abordagens históricas nas aulas de Matemática; contudo para que esse recurso didático exerça tais contribuições, é necessário olhar para a formação do professor de Matemática, no que diz respeito à inserção da História da Matemática. Miguel (2005, p. 139) ressalta que:

Nos últimos anos, tanto em nosso país quanto em outros, muito se tem dito acerca das potencialidades crítica e formativa da participação orgânica da História da Matemática na Educação Matemática Escolar e, como decorrência, também na formação de professores de Matemática.

D’Ambrosio (1996) é um dos pesquisadores que defende a História da Matemática na formação de professores e recomenda: “o bom seria que o professor tivesse uma noção da História da Matemática e pudesse fazer um estudo mais sistemático e por isso recomenda-se aos professores em serviço que procurem essa formação” (D’AMBROSIO,1996, p. 13).

Indo ao encontro dessa ideia, Miguel (2005) assume que os campos emergentes de investigação em História, Filosofia e Sociologia da Matemática poderiam vir participar, de forma crítica e qualificadora, da formação inicial e continuada de professores de Matemática. Isso se deve ao fato de que:

[...] a História e Filosofia da Ciência surge como necessidade formativa do professor, na medida em que pode contribuir para: evitar visões distorcidas sobre o fazer científico; permitir a compreensão mais refinada dos diversos aspectos envolvendo o processo de ensino e de aprendizagem da ciência; proporcionar uma intervenção mais qualificada em sala de aula (MARTINS, 2007, p. 115).

Neste contexto, Araman (2011) ressalta que muitos pesquisadores da área defendem uma formação que proporcione discussões sobre a natureza da Matemática, de conceitos e métodos, enfim, da História da Matemática, o que pode contribuir com abordagens epistemológicas e metodológicas que possibilitem uma compreensão de como se dá o desenvolvimento do conhecimento matemático.

Também é possível inferir que o nível de competência Matemática do professor na sua formação deve permitir a compreensão dos conceitos matemáticos. Para tanto, uma boa compreensão pode ser alcançada por meio dos elementos históricos, a fim de que os professores possam desenvolver um conhecimento efetivo desses conceitos e a forma como eles foram desenvolvidos. Contudo, o conhecimento histórico não é suficiente; os professores devem desenvolver tal perspectiva de conhecimento no sentido da sua correta utilização educacional (MACHADO; MENDES, 2013).

A propósito, os próprios PCN (BRASIL, 1997, p. 30) garantem isso ao mencionar que:

O conhecimento da história dos conceitos matemáticos precisa fazer parte da formação dos professores para que tenham elementos que lhes permitam mostrar aos alunos a Matemática como ciência que não trata de verdades eternas, infalíveis e imutáveis, mas como ciência dinâmica, sempre aberta à incorporação de novos conhecimentos.

Tais entendimentos evidenciam que a História da Matemática tem uma influência decisiva no espírito do professor e na sua atitude em relação à própria Matemática (MACHADO, 2011) visto que, segundo Malet (1983), a atitude que o professor tem frente à matéria que explica é um dos ensinamentos mais importantes que ele pode transmitir aos alunos. Além disso, ele afirma que esses sujeitos teriam motivações para ensinar Matemática e, claro, o seu modo de ensinar pode ser influenciado positivamente por essa nova atitude possibilitada pelo conhecimento da história.

Desta forma, um estudo didático da História da Matemática pode ser um elemento importante da formação do professor. Mediante tais ponderações, considera-se imprescindível que a formação proporcione ao professor condições de compreender as possibilidades de aplicação da História da Matemática em sala de aula, bem como da conscientização de que tais conhecimentos colaboram para uma formação mais consistente frente aos desafios de se ensinar.

Corroborando essas propostas, Batista e Sampaio (2006) defendem que a abordagem histórica se constitui como instrumento fortalecedor da prática docente, contribuindo de diversas formas, dentre elas a promoção de debates acerca dos valores cognitivos da ciência. Tais investigações possibilitam ao professor uma compreensão da atividade científica e de suas implicações sociais e culturais, que

certamente enriquecem a formação destes sujeitos. Assim, pode-se concluir que o estudo do desenvolvimento histórico dos conceitos matemáticos é capaz de corroborar para que os professores tenham condição de promover debates, tornando, assim, suas aulas mais significativas e contextualizadas.

A esse respeito, Araman e Batista (2013) apresentam algumas das possíveis contribuições da História da Matemática para a formação do professor que ensina Matemática:

(1) Compreensão da natureza do conhecimento matemático: A partir dos estudos [...] percebemos que muitos professores não apresentam uma compreensão adequada da sua ciência, no caso, a Matemática. Apresentam a noção de um corpo de conhecimentos pronto, acabado, no qual não há revisões a serem feitas, como também a noção de uma ciência de caráter empírico, em que as interpretações são feitas apoiadas nas observações. Em adição, os professores têm a concepção de que os conteúdos, teorias, leis, entre outros, são descobertos por pessoas geniais, com pouca colaboração entre os pares. Além disso, concebem uma ciência livre de influências sociais, culturais e políticas.

(2) Compreensão dos conteúdos matemáticos: Ao estudar um determinado conceito, a partir de uma abordagem histórica, o professor pode caminhar para uma compreensão de como aquele conceito foi sendo desenvolvido, quais os elementos conceituais necessários para a sua compreensão, quais são os pontos de maior dificuldade, por que eles foram importantes naquela época, por que são importantes hoje, quais eram as necessidades para o desenvolvimento daquele dado conceito, entre outros [...]. Essa compreensão, que vai além daquela recebida durante a sua formação, tem o potencial de promover um entendimento mais amplo e significativo do conteúdo matemático, o que trará benefícios para suas aulas.

(3) Formação metodológica do professor: Ao elaborar uma abordagem histórica para ensinar algum conteúdo matemático, o professor precisa ter cuidados metodológicos, como os de caráter pedagógico, para adequar o material histórico ao estágio de desenvolvimento dos seus alunos, ao tempo disponível para tal, certificar-se de que a proposta colabore efetivamente para a aprendizagem, entre outros [...]. Ao se propor a desenvolver abordagens históricas com seus alunos, o professor utiliza conhecimentos que vão além dos históricos ou dos conceituais relacionados ao conteúdo. Ele utiliza conhecimentos pedagógicos vindos de estudos teóricos, e, também, de sua prática, a fim de tornar factível o uso daquelas informações históricas em sala de aula.

(4) Visão interdisciplinar do professor: A questão da interdisciplinaridade vem sendo muito debatida na comunidade acadêmica, que ressalta a necessidade da superação daquela visão compartimentada das áreas do conhecimento. A história da Matemática já guarda em si esse caráter interdisciplinar. Temos, num eixo, o estudo histórico e suas especificidades; em outro encontramos as questões filosóficas; e ainda temos o eixo relativo ao conhecimento matemático e suas características, que são diferentes de outras ciências. Então, trabalhar com história da Matemática já pressupõe uma postura interdisciplinar (ARAMAN; BATISTA, 2013, p. 4-5).

No entanto, cabe salientar que essa postura, advinda dos conhecimentos acerca da História da Matemática, certamente não resolverá todos os problemas da formação docente e do ensino da Matemática; porém, podem contribuir para o desenvolvimento de uma visão abrangente da evolução do pensamento científico e as suas relações com as diversas áreas do conhecimento (ARAMAN, 2011).

3.1.3 Possibilidades de Abordagens da História da Matemática no Ensino de