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A HISTÓRIA EXISTENCIAL

No documento O TEMPO DA HISTÓRIA (páginas 163-174)

Desde o tempo em que a estudante de que falei no capítulo precedente se desolava com a secura de seus professores, a história universitária renovou seus métodos e seus princípios, e o estudante de hoje, se é pouco informado, não se arrisca mais à decepção de seus antecessores: inúmeras perspectivas sedutoras abrem-se à sua curiosidade, no próprio interior da Alma Mater. Tendências já antigas, mas por muito tempo sufocadas, se afirmaram e parece que com o passar das gerações elas se impõem definitivamente. A história dos fatos, objetiva e exaustiva, à maneira positivista, se ainda é mantida e persiste na literatura científica e no manual, mesmo no manual de ensino superior, aparece como uma sobrevivência tenaz, mas condenada. Desde há vinte anos, a história universitária e douta se renova completamente. Os horizontes que ela descobre à curiosidade contemporânea devem dar a essa ciência renovada um lugar no universo intelectual que ela tinha perdido desde os românticos, Renan e Fustel de Coulanges. O positivismo da escola clássica tinha-a posto à parte dos grandes debates de idéias. O marxismo, o historicismo conservador a tinham anexado a filosofias da história, longe demais da preocupação existencial do homem contemporâneo.

Estudiosos notáveis haviam de restituir-lhe sua posição, ou melhor, já que essa posição ela nunca tinha tido realmente, permitir-lhe responder ao interesse apaixonado que hoje o homem tem pelo homem, não pelo homem eterno, mas a certo homem, engajado em sua condição.

Antes de definir o espírito desta nova historiografia, lembremos rapidamente algumas das obras mais relevantes, pelo menos as que fizeram escola. Dois nomes impõem-se imediatamente: Marc Bloch e Lucien Febvre.*

Marc Bloch é certamente um dos maiores historiadores franceses. A guerra — ele foi executado pelos alemães em 1943 — interrompeu sua obra no momento em que sua longa maturação iria permitir-lhe desenvolver intuições cuja ousadia exigia que ele as fundamentasse numa erudição impressionante. Mas, tal como está, a obra de Marc Bloch exerceu sobre os historiadores uma influência determinante. Ele está, com Lucien Febvre, na origem deste renovamento de uma ciência que se decompunha no tédio. É curioso que esses dois mestres da história francesa venham da Universidade de * Este capítulo foi escrito e composto antes da publicação do livro Combates pela história; Lucien reuniu numa

coletânea particularmente sugestiva os artigos de cfíticaonde suas idéias sobre a história sao mais desenvolvidas.

Estrasburgo, onde lecionaram por muito tempo. O contato vivo com o mundo renano, germânico, e também o franco-condado de Lucien Febvre, cheio de influências espanholas, não foi, sem dúvida, estranho à sua concepção de uma história comparada dos modos característicos de civilização.

Na obra de Marc Bloch, importante apesar de sua relativa brevidade, escolherei dois aspectos suscetíveis de chamar a atenção.

Em primeiro lugar, a sua magistral história dos Caracteres originais da história rural na França. Por história rural, M. Bloch não entendia a história das políticas rurais dos governos ou das administrações, mas a das estruturas agrárias, dos modos de manutenção do solo, de sua repartição, de sua exploração. Com efeito, é a história da paisagem construída pela mão dos homens. Assim o título do livro que ela inspirou a G. Roupnel, este outro inovador modesto e apaixonado: História do campo francês. M. Bloch abria à grande história o domínio quase virgem na França (não o era na Inglaterra e nos países escandinavos) das transformações da paisagem rural, no contato mais íntimo do homem e de sua existência de todos os dias. Antes dele, com o velho Babeau, essas pesquisas conservavam sempre um caráter descritivo e anedótico. M. Bloch deu- lhes novamente um sentido para o entendimento da sociedade francesa, quase exclusivamente rural até o século XVII. Seu método permitiu-lhe atingir as estruturas sociais por dentro, para além das descrições pitorescas e agradáveis, mas que não tocavam o essencial: o lugar geométrico do homem e de seu trabalho quotidiano, do camponês e da terra.

Outra inovação: os Caracteres originais de Marc Bloch não se limitavam a um pequeno espaço de tempo. Era, porém, uma tradição entre os eruditos especializar-se em determinado período e, quanto mais curto o período, mais considerado era o estudioso. Embora medievalista, M. Bloch não hesitou em prolongar a sua história das estruturas agrárias até o século XIX, sempre com a mesma fartura de erudição. Ele substitui uma especialização horizontal, no tempo, por uma especialização vertical, através do tempo. Este método era perigoso, porque exigia um conhecimento considerável, mas permitiu ressaltar as articulações da evolução, em lugar de mergulhar o assunto na meia-luz de fatos muito próximos, e portanto muito semelhantes. Ele quebrava os quadros de uma especialização que, ao ponto a que era levada, já não permitia apreender as diferenças dos tempos e dos lugares. Ele devia expandir-se largamente, pois se percebeu então que a história das instituições torna-se quase ininteligível quando não abarca um período suficientemente longo para que as variações se tornem sensíveis. E os fenômenos institucionais só são compreensíveis ao não contemporâneo no interior das variações que os distinguem e os particularizam.

Com isso, o estudo do feudalismo foi completamente renovado por Marc Bloch em suas duas notáveis obras sobre a Sociedade feudal. A formação das relações de vassalagem e As classes e o governo dos homens. *

Antes de Marc Bloch, medievalistas ou juristas tinham o hábito de encarar o feudalismo como uma "organização" dada de uma vez por todas, que bastava descrever tal como era na sua maturidade e a seguir explicar por suas origens.

Quando abro o livrinho de J. Calmette sobre a Sociedade feudal, que era a última palavra sobre a questão em 1923, deparo-me com um primeiro capítulo intitulado: "As origens feudais", em que o autor faz uso dos direitos bárbaros para mostrar como o feudo nasceu da combinação de duas instituições anteriores, o benefício e a vassalagem: reconhecemos aí o método clássico da filiação dos fatos. A filiação pode ser objetivamente exata, mas não explica nada das condições que fizeram do feudo algo diferente da vasalagem e do benefício.

Após o capítulo das origens, encontro "A organização feudal", onde é descrito um feudalismo modelo, sem mostrar as diferenças regionais e a diversidade das evoluções.

Marc Bloch retomou o problema de modo diferente de seus predecessores. Sem querer simplificar excessivamente o seu itinerário, podemos definir duas direções principais.

Primeiramente, não há um feudalismo, mas uma mentalidade feudal. Com isso, o estudo das instituições saía do domínio do direito — sem negligenciar, longe disso, os dados do direito — e era levado à história de uma estrutura mental, de um estado dos costumes, de um meio humano. Portanto, Marc Bloch procurou investigar em que medida o homem feudal diferia de seus ancestrais, em lugar de demorar-se perseguindo os prolongamentos do mundo pré-feudal no mundo feudal. Antes dele, explicava-se o feudo pela vassalagem ou pelo benefício. Com ele, opõe-se o senhor feudal ao companheiro e ao beneficiário, baixo-romano ou germânico.

A seguir, segundo ponto de seu método, não há mais um feudalismo, geral para todo o Ocidente, mas vários estados de uma sociedade, bastante próximos para que fossem reunidos sob a etiqueta feudal, bastante distintos para que não sejam confundidos — havendo, aliás, vastas áreas que permaneceram fora dos hábitos ditos feudais. Desde o começo de seu estudo, ele distinguiu com cuidado os tempos e os lugares. Distinguiu e comparou.

Mas se Marc Bloch empenhou-se assim em discernir a diversidade das morfologias feudais — e não-feudais — não foi para obedecer ao tradicional imperativo de exaustividade, para estabelecer um catálogo completo de instituições mais ou menos vizinhas. Pelo contrário, isso era para ele uma maneira de definir e interpretar a essência comum a essas diferentes formas.

Com efeito, todos reconheciam, sem dúvida, a diversidade das instituições e de seus desenvolvimentos. Mas julgava-se que esta diversidade era secundária, que existia um conteúdo comum sob esse polimorfismo, e a história clássica estabelecia como objetivo definir esse conteúdo por eliminação dos detalhes vindos de fora, considerados como adjunções exteriores, arcaísmos ou adulterações por influência estrangeira.

Reduzia-se esta diversidade a um protótipo, mais ou menos deformado aqui e ali, mas que permanecia sendo o essencial.

Marc Bloch não nega a realidade de uma sociedade feudal, mas não a procura numa média das diferenças. Pelo contrário, ele a encontra na comparação das próprias diferenças, sem nunca tentar reduzi-las à ficção de um protótipo comum, para além das diversidades. Se existe uma unidade, ela não se descobre por despojamento, mas no próprio seio da diversidade. Esta unidade aparece como o resultado de uma tensão entre diversidades e percebemo-la como unidade graças à especificidade desse complexo em relação aos outros complexos de diversidades que o precederam ou seguiram, ou coexistem com ele.

A unidade é o que faz com que os outros sejam outros. E esta alteridade não se reduz a uma média comum às subdivisões de um mesmo conjunto. Mais ainda: a consciência concreta desta unidade altera-se à medida que nos afastamos de uma percepção aguda das diferenças irredutíveis a um grau superior de generalidade. Uma estrutura social caracteriza-se pelo que a diversifica no tempo e no espaço.

O trabalho de Lucien Febvre é inseparável do de Marc Bloch. Eles dirigiram juntos os admiráveis Anais de história social que introduziram junto ao mundo científico e parte considerável do grande público cultivado, uma concepção viva e fecunda da história. Ninguém mais do que L. Febvre contribuiu para essa renovação. De seus livros e de seus artigos nos Anais e na Revista de síntese histórica tiraríamos facilmente a matéria de um ensaio alentado sobre o método histórico, assim como as primeiras bases de uma filosofia sobre a história. A este respeito, a sua obra é capital e sua importância deve ser imediatamente sublinhada. Porém, não insistirei sobre este ponto, pois seria um trabalho de antologia e seria preciso alinhavar muitos trechos e citações: essa não é a finalidade deste ensaio. Por outro lado, eu me arriscaria demais à repetição, porque muitas passagens das páginas anteriores foram inspiradas intimamente pelas concepções de L. Febvre.

Como no caso de Marc Bloch, gostaria de apenas evocar alguns aspectos de seu método de historiador e mostrar em que sentido se orienta esta nova escola.

Eu me basearei em duas obras recentes de L. Febvre: O problema da incredulidade no século XVI. A religião de Rabelais;* Acerca do Heptameron. Amor sagrado, amor profano.**

Ambos tratam das estruturas mentais particulares aos homens do século XVI. Mas nenhum ataca o assunto diretamente; a intenção do autor apenas acena nos títulos e subtítulos. Lucien Febvre não se propõe a esgotar o assunto: a sociedade do século XVI, ou um corte na superfície do seu assunto, uma zona dessa sociedade. De fato, ele a atravessa inteira, mas em um ponto escolhido por ele, como se faz uma sondagem. E o *

Paris, Albin Michel, coleção "L'évolution de L'Humanité", 1942.

lugar da sondagem, L. Febvre o escolheu onde sua pesquisa descobriu um fenômeno estranho e enigmático a seus olhos. Ele não narra uma história, mas levanta um problema. Em geral, é acerca de um homem (Rabelais, Bona-ventura, Des Périers, Margarida de Navarra ou de um aspecto dos costumes: os processos por feitiçaria. Ele distingue na gesta do passado o que lhe parece sublinhar uma diferença entre a sensibilidade do homem de outrora e a do homem de hoje. Em que consiste esta diferença? É propor o problema. A que corresponde esta diferença no estado das civilizações comparadas? É propor uma interpretação e aventar uma hipótese. Em que medida esta hipótese, fundada num caso singular, é aplicável ao conjunto da sociedade? E tentar um ensaio de reconstrução histórica, sem desenrolar a história como um filme contínuo de acontecimentos, e sim relacionando-a a um problema inicial, ao espanto entre ontem e hoje que estava na origem da pesquisa e continua a sustentá-la e a orientá-la.

A história mostra-se então como a resposta a uma surpresa, e o historiador é, em primeiro lugar, aquele que é capaz de se espantar, que toma consciência das anomalias tais como as percebe na sucessão dos fenômenos.

Esta atitude diante da história implica uma relação entre o historiador e o passado, e uma concepção da evolução muito diferente dos princípios reconhecidos na escola clássica.*

Foi Rabelais o precursor dos libertinos e dos espíritos fortes, como afirmaram os historiadores? Mas, mais do que isso, podia ele ser indiferente a toda crença no universo mental e social de base religiosa em que estava imerso? Assim, o caso de Rabelais deixa de ser uma curiosidade de história literária para se tornar um problema crucial, e da solução que dermos a ele depende toda uma concepção do homem na história. Ou Rabelais podia ser um ateu, mais ou menos confesso, e a história aparece como um lento amadurecimento onde os novos dados saem insensivelmente dos dados anteriores; ou então, Rabelais, no mundo do século XVI não podia deixar de compartilhar os sentimentos de seu tempo e aderia a ele, um tempo que não se assemelhava a nenhum outro tempo. Neste caso, a história não é mais uma evolução em que os elementos de variabilidade são dificilmente perceptíveis de um momento a outro, mas torna-se a passagem um tanto brusca de uma civilização a outra, de uma totalidade a outra.

Não se trata de fazer com que Lucien Febvre diga o que nem escreveu nem pensou, de solicitá-lo no sentido de uma descontinuidade inerente à história. A história é bem contínua em sua duração mensurável. Mas o método problemático de L. Febvre leva-o a conceber a história como uma sucessão de estruturas totais e fechadas, irredutíveis umas às outras. Não explicamos uma pela outra, apelando para a degradação de uma e de outra. Existem entre duas civilizações sucessivas oposições essenciais. Da primeira para a segunda, passou-se algo que não está na primeira, algo como uma * Ela implica, evidentemente, a convicção de que a história não existe como uma realidade a ser reconstituída

pelo historiador: é, pelo contrário, o historiador quem lhe dá existência. Remetemos, a este respeito, a Raymond Aron: Introduction à Ia philosophie.

mutação em biologia. A metodologia de L. Febvre, portanto, orienta, ainda que ele não tenha, que eu saiba, se explicado sobre este ponto de maneira explícita, para uma sociologia afastada do vago transformismo subjacente aos historiadores dos séculos XIX e XX. Uma sociedade aparece-lhe como uma estrutura completa e homogênea, que expulsa os elementos estranhos ou os reduz ao silêncio. E, se ela se degrada, não se reconstitui imperceptivelmente sob formas derivadas, mas se defende e, mesmo aniquilada, ela persiste ern sobreviver a si mesma com tenacidade, não na sociedade que tomou o seu lugar, mas à margem: é o que chamamos de arcaísmo.

Só que estas estruturas descontínuas — numa duração materialmente contínua — não podem ser apreendidas em estado isolado. No interior de uma época limitada, onde se instalavam escrupulosamente os antigos especialistas, todos os fenômenos se assemelham, confundidos na mesma meia-luz descobrida. É privilégio do homem vivo apreender sem dificuldades a particularidade do mundo que o cerca. Mas o historiador não é um homem do passado. A sua imaginação não lhe traz de volta a vida e o recurso à anedota pitoresca e sugestiva não compensa o afastamento. O historiador não pode apreender diretamente a singularidade do passado, como o contemporâneo percebe sem mediação a cor própria ao seu tempo.

A originalidade do passado só se mostra ao historiador por referência a um termo de comparação que seja ingenuamente conhecido por ele, isto é, o seu presente, a única duração que ele pode perceber sem esforço de consciência ou de objetivação. Assim, L. Febvre é levado a reconstituir o meio próprio ao século XVI, partindo das diferenças que opõem sua sensibilidade à nossa. É o assunto de seu livro sobre Margarida de Navarra. Seria hoje admissível que uma mulher sincera e estimada, sujeita às regras sociais de seu tempo e de sua classe, escrevesse ao mesmo tempo e sem se arrepender, o Heptameron e o Espelho da alma pecadora? Poderíamos conceber que, atualmente, sem remorsos ou hipocrisias, um homem, um rei, fizesse incógnito suas orações ao sair do leito de sua amante? O próprio Montaigne começou a achar a patranha um pouco demais. Margarida de Navarra não seria possível hoje, nem mesmo cinqüenta anos após sua morte, se quisermos ir aos poucos. Por quê? Porque, comenta L. Febvre, existia então uma relação da moral com a religião diferente da nossa, uma moral e uma religião de cores diferentes das nossas. Isto pode ser contestado: não importa. Apenas o encaminhamento do historiador nos interessa aqui. Ele estabelece de início algumas diferenças; depois, com essas diferenças, reconstitui uma estrutura que, logo, não é mais construída de negações, mas se mostra como uma totalidade original. No limite, o historiador percebe seu passado com uma consciência bem próxima da do contemporâneo deste passado.

Ora, se ele alcançou essa superação de si mesmo e de seus preconceitos de homem de seu tempo, não foi afastando-se do seu tempo, esquecendo-o ou recalcando- o. Pelo contrário, foi referindo-se em primeiro lugar ao seu presente. Conseqüentemente, parece difícil apreender a natureza própria do passado, se mutilamos em nós mesmos o sentido de nosso tempo. O historiador não pode mais ser o homem de gabinete, o cientista da caricatura, entrincheirado atrás de seus fichários e de

seus livros, isolado dos ruídos vindos de fora. Este matou as suas faculdades de surpreender-se e já não é sensível aos contrastes da história. Que conheça os arquivos e as bibliotecas, muito bem: isso é, obviamente, necessário. Mas não é suficiente. Ainda lhe é preciso apreender a vida de sua época para, então, remontar às diferenças que lhe abrem o caminho de um mundo inacessível.

O rejuvenescimento da história contemporânea não se limitou ao estilo de Marc Bloch e de Lucien Febvre. Na realidade, ele se manifesta nos mais variados meios.

A história antiga não foi poupada. As descobertas mais sugestivas não se devem apenas ao aperfeiçoamento do instrumental arqueológico ou filológico, mas ao emprego deste instrumental segundo os métodos comparativos no tempo e no espaço. A história da Antigüidade não se limita mais à cronologia ou à geografia clássicas. Ela confina com a pré-história e se estende até a índia ou a Asia Central: a história grega foi, assim, renovada, graças a um método de comparação, tanto quanto às descobertas de documentos. Os historiadores dedicam-se aos assuntos em que a comparação é possível. Assim, eles se afastam dos períodos clássicos, isolados em sua unidade, aliás contestável, pela antiga historiografia, e preferem as áreas e os tempos em que várias civilizações se deparam e se recobrem: mundo helenístico, iraniano, levantino, trocas do Oriente e do Ocidente ao longo das rotas da seda, das trilhas de caravanas.

A história moderna e sobretudo a contemporânea permaneceram mais refratárias ao renovamento dos métodos e princípios. Primeiramente, porque os fatos políticos conservaram a sua importância predominante. Nossos contemporâneos sentem menos a necessidade de explicitar através da história a consciência de seu tempo: esta lhes é dada ingenuamente. E preciso, enfim, reconhecer que a massa da documentação exigiu uma especialização, não mais apenas no tempo, mas nos materiais da história: ao lado dos historiadores da história política, há os historiadores da história econômica, como se houvesse uma política e uma economia à parte, e não uma totalidade humana, ao mesmo tempo política, econômica, moral, religiosa, impossível de dissociar. Assim, as

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