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O ENGAJAMENTO DO HOMEM MODERNO NA HISTORIA

No documento O TEMPO DA HISTÓRIA (páginas 48-62)

Hoje em dia podemos afirmar que não há uma vida privada distinta de uma vida pública, um moral privado indiferente aos casos de consciência da moral pública. Em toda a Europa, inclusive a União Soviética, devemos contar por dezenas de milhões o número de displaced persons que foram arrancadas de seu habitat tradicional, deportadas para os campos de trabalho, reclusão e extermínio. Displaced persons: é um nome novo de nosso jargão internacional. DP's, como dizem os anglo-saxões; dezenas de milhões: uma população comparável à da França. Deve-se refletir, entre os que ficaram, sobre as incidências deste desenraizamento de dezenas de milhares de homens, entre aqueles perto dos quais foram colocados. Desde 1940, a era triunfal iniciada por volta de 1850, com as estradas de ferro, está fechada, a única época da história em que os homens esqueceram o temor da fome. A miséria voltou sob outras formas que não a dos tempos das revoltas da fome, sob uma forma tão mais aguda e mais penosa quanto acompanhada dô uma técnica e de uma nostalgia.

Enfim, e sobretudo, a politização da vida privada foi definitivamente consumada, e este é um fato capital.

Durante muito tempo, a vida privada tinha sido mantida ao abrigo das pressões do coletivo. Não na Antigüidade toda: nas altas épocas arcaicas, os historiadores entrevêem uma estrutura por classes de idade, de sexo, que relega a família ao segundo plano. Mas a partir do tempo em que a família se tornou a célula elementar e essencial, a vida privada constituiu-se à margem da história. Daí em diante a grande massa permaneceu estranha aos mitos coletivos: uns, os mais numerosos, porque eram iletrados, sem maturidade política, como quase todo o mundo operário antes da constituição de um sindicalismo organizado no fim do século XIX; outros, porque tinham uma história particular que os protegia: a de sua família, de seu grupo de relações, de sua classe. Um empregado de banco podia viver sem preocupações políticas agudas, sem participar da vida pública senão num acesso de patriotismo quando de uma ameaça de guerra, ou no sacrifício militar, em caso de guerra. Mas todos sabem agora, por experiência, que nos exércitos, nem a submissão à disciplina, mesmo dura, nem o combate, mesmo heróico, acarretam necessariamente o engajamento total das consciências e dos corações: o soldado é muito menos apaixonado que o militante!

Bem que houve durante o século XIX convulsões anunciadoras: o caso Dreyfus, que fez penetrar a especificação política no interior das famílias. Quero dizer que onde as pessoas se definiam por seu temperamento, suas afeições, seus hábitos de sensibilidade, passaram a se caracterizar antes pela adesão a certa política. "Dreyfusistas" e "antidreyfusistas". Mais perto de nós, nas famílias como a minha, a Action francaise e o Sillon. Mas esta politização dos costumes privados era ainda rnuito superficial e limitada, limitada a meios bastante restritos.

Depois de 1940, todos tiveram que escolher; todos, sem exceção; escolher ou fingir escolher, o que é o mesmo para quem quer caracterizar os costumes. Era preciso ser a favor do marechal ou a favor de De Gaulle, a favor ou contra a colaboração, a favor dos maquis ou de Giraud, a favor de Londres ou de Vichy ou de Argel. Chegou mesmo o momento em que, mais forte ainda do que a pressão contagiosa das opiniões, o constrangimento físico veio impor a escolha de um partido. Diante da conscrição do trabalho, era preciso ou partir para a Alemanha, ou tornar-se maquis, ou se dissimular num emprego privilegiado, atitudes que subentendiam mais ou menos três tendências políticas.

Depois da libertação, é preciso contar por centenas de milhares as inculpações, as denúncias, as execuções. Tais cifras implicam uma quantidade de paixão política totalmente nova na história: nossa grande Revolução parece pequena diante de um movimento tão denso de interesses e de paixões. Ninguém está indiferente, até à prisão ou à execução, inclusive.

No interior de uma família, não se trata mais apenas de relações privadas; a política introduziu aí seus conflitos. Pode-se conseguir ultrapassá-los, mas é preciso esforçar-se para tanto, e não há mais o liberalismo bastante indiferente de antes, onde, no fundo, a política tinha pouca importância porque não comprometia tudo.*

De fato, não se trata mais de política no sentido clássico da palavra, mas de uma monstruosa invasão do homem pela história.

Assistimos ao desenvolvimento deste fenômeno na França destes últimos anos. Mas há países em que este movimento de politização dos costumes tinha assumido amplitude e tensão muito maiores.

Num excelente livrinho publicado recentemente nos Estados Unidos, Pearl Buck faz falar uma alemã refugiada em Nova York, que ela entrevista corretamente. A família von Pustau viveu até 1914 numa mistura de animosidade familiar e de unidade moral, isto é, os caracteres, os temperamentos se defrontavam sem que as diferenças das tradições políticas interviessem. O liberalismo originário de 48 do pai, o conservadorismo "vitoriano" da mãe coexistiam bem ou mal. Mas após a derrota, a inflação, toda a família explode em função das oposições políticas novas. Os pais, apesar de suas antigas divergências, ligam-se ao nazismo, uma filha, a narradora, casa-se com um teórico socialista. Outra simpatiza com o conservadorismo feudal dos junkers. E este *

Em muitas famílias do século XIX os homens eram anticlericais, republicanos, ou mesmo socialistas, e as mulheres permaneciam católicas praticantes e até monarquistas.

engajamento político assume o primeiro lugar nas preocupações cotidianas da vida; torna impossível a vida comum, exaspera os ressentimentos onde, valha o que valha, a antiga unidade tinha sido preservada, apesar das incompatibilidades de temperamento.

Hoje se é fascista ou socialista ou democrata-cristão como se é loiro ou moreno, gordo ou magro, calmo ou violento, alegre ou triste. O caráter político entrou em nossa estrutura.

Na França, por volta de 1914 e no período entreguerras, os primeiros apelos da história tinham suscitado, como dissemos no capítulo precedente, um gênero literário, o historicismo conservador. Hoje, a invasão definitiva da história provocou a promoção de um novo gênero: o testemunho. É preciso que nos detenhamos aí por um momento; pois este aparecimento do testemunho é o indício de nosso engajamento na história.

Que entendemos, mais precisamente, por "testemunho"? Procedamos por eliminação.

Os testemunhos não são memórias. Podemos dizer que as memórias são os testemunhos de tempos sem relação direta ou imperiosa da pessoa privada com a história.

As memórias são um gênero que sentimos bem que está fora de moda, velhote. Um jovem escritor, ao ler a um mais velho algumas páginas onde entravam intenções de autobiografia, ouviu dizer: "Você é muito jovem para escrever suas memórias." Hoje, apenas os homens de Estado escrevem suas memórias, ou os velhos comediantes. Caillaux, Poincaré, Paléologue, homens de outro século. Ao contrário. Paul Reynaud hesita em intitular Memórias a obra que assim teria intitulado há vinte anos.

Antigamente, já havia as memórias dos homens de Estado, apologia pro domo, diante do que então se chamava "o julgamento da história". Mas quantas pessoas que manejavam um pouco a pluma começavam em seus dias de velhice a escrever suas memórias, quer para sua posteridade, quer para o público!

Ainda hoje, os editores especializados neste gênero de publicações vêem ser-lhes propostos manuscritos cuidadosamente caligrafados à moda antiga: memórias que se transmitiram de geração em geração às vezes desde um século e meio e cuja publicação os herdeiros tentam de uma só vez.

Em alguns casos, estas memórias concernem a história particular de uma família; foram escritas para a instrução das jovens gerações.

No mais das vezes, estas memórias delineiam os aspectos da vida política, tais como o memorialista o viu tenha ele participado como testemunha ou como ator: guerras, revoluções, vida dos grandes, da corte, etc. São, na realidade, relatos de viagem ao país dos príncipes, dos homens de Estado, nas regiões de vida pública.

Assim, as memórias são observações diretas, sobre a vida privada ou sobre a vida pública, mas nunca sobre a relação entre a vida privada e a vida pública. O homem de

antigamente, digamos, mais precisamente, o homem do antigo regime ou do século XIX, tinha uma vida pública e uma vida privada independentes. O homem de hoje, não.

O testemunho tampouco é a narrativa de um espectador ou o relato de um ator: uma narração que se propõe ser exata, completa e objetiva. Todo documento contemporâneo do acontecimento não é um testemunho.

Uma narração pode ser exata, precisa e até pitoresca; não presta testemunho se não se apresenta como o caso exemplar até em sua extrema particularidade de uma maneira de ser num momento da história, e num momento somente.

Igualmente, a reportagem clássica e a "viagem" tradicional não constituem testemunhos. Este não é uma evocação pitoresca, por prazer, como é a pretensão das reportagens bem-sucedidas. A antiga fórmula da "viagem" fazia com que seu autor passeasse ao redor dos costumes estranhos e das paisagens exóticas. O autor procurava ao mesmo tempo desenraizar o leitor e instruí-lo. Isso parecia poesia e etnologia. Mas a "viagem" deixava de lado o que julgamos essencial: a inserção na grande história — na nossa — não de coletividades exóticas, mas de nossa existência na sua particularidade, que é preciso nomear e desenvolver como um romance. A "viagem" comunica friamente observações concretas. O testemunho contenta-se em mostrar as particularidades de uma existência menos observada de fora do que vivida por simpatia.

Talvez, com essa exegese negativa, já se tenha adivinhado o que entendemos precisamente por testemunho. Forneçamos, agora, alguns exemplos.

Em francês, temos muito poucos deles. Talvez Os desterrados de Barres esteja entre os ancestrais do gênero. Há em nosso gênio ,uma tradição de universalismo clássico e de preciosismo literário (no sentido de uma literatura de salão, para pessoas de sociedade ou ociosas, afastadas das lutas cansativas da história) que leva à interioridade, que afasta do mundo complicado das ilações humanas em direção ao mundo interior, A princesa de Clèves ou O grande Meaulnes. O leitor burguês da cidade durante muito tempo se obstinou em pedir à literatura algo de diferente de uma tomada de consciência da condição humana na história.*

Não vejo nas produções que acompanharam nossas crises e nossas guerras, até 1939, uma obra comparável aos Condenados de Ernst von Salomon. Este livro magistral, cuja influência foi grande sobre a geração que tinha entre vinte e cinco e trinta e cinco anos em 1940, parece-me o exemplo típico do testemunho, o primeiro pela data, porque ligado ao surgimento do nazismo, e o nazismo foi, com o comunismo, a primeira manifestação retumbante dessa politização do homem que caracteriza nossa época. Conhece-se o tema dos Condenados: é a história dos jovens alemães que, preparados para o combate, foram desarmados cedo demais pela derrota de 1918, levaram consigo sua nostalgia e seu desespero para os comandos contra os sovietes no exterior, os * Na verdade, este traço de nossa história é uma das características do classicismo e, apesar da importância,

hoje ressaltada, dos períodos abstratos, realistas, barrocos e românticos, é difícil não reconhecer aí uma de nossas constantes francesas.

comunistas no interior e, finalmente, para a revolta, a brutalidade e a morte: o assassínio de Rathenau. É o testemunho trágico de um pré-fascista: não uma exposição de motivos, nem uma justificação; não uma explicação analítica de uma atividade política ou social. Não: eis quem sou e como vivo. Meu ser e minha vida trazem minha justificação, porque sou e vivo nesta história que é meu drama, onde amo, sofro, mato e morro.

Se os Condenados foi traduzido do alemão, a influência que este livro exerceu prova a sedução dessa consciência pessoal da história sobre as jovens gerações francesas. Uma forte tradição as mantinha para trás, justamente a do historicismo conservador. Nos meios da Action francaise de estrita ortodoxia, desconfiava-se dos Condenados; achava-se, a justo título, que eles cheiravam a fascismo.*

Este freio funcionou até mesmo para os que acreditavam escapar dele. O diário muito comovente que R. Brasillach redigiu em sua prisão, antes de um julgamento cujo veredicto já conhecia, não dá o tom de um testemunho diante da história, É O drama de uma

juventude terna e nostálgica, não é o testemunho de um fascista francês. Ainda é uma confissão, um diário íntimo.

Pelo contrário, com a obra recente de David Rousset, O universo concentracionário e Os dias de nossa morte, nos encontramos diante do mais autêntico testemunho. (Observemos que, com poucas exceções, a testemunha do mundo moderno é, se não um revoltado, pelo menos um herói sem passado, separado das antigas tradições de cultura e de sensibilidade do Ocidente cristão. Esta ruptura não acontece sem deixar como que um depósito de inquietação e de amargura. O homem que ainda vive no interior de sua história particular, mesmo quando é sensível às pulsações da grande história, experimenta um sentimento de segurança e de paz; ele pode ser vencido: ele não tem inquietação e nenhuma angústia o força a gritar seu testemunho como um apelo.)

A obra de David Rousset não é nem uma reportagem, nem uma descrição objetiva dos campos de concentração, apesar de sua honestidade. Alguns poderão dizer que a pintura é incompleta e, em particular, que a vida religiosa, sob forma de inquietação ou de sacrifício, está ausente.

Mas, justamente, é seu caráter parcial e lacunar que confere a esta obra seu tom de testemunho: não descrevo como observador, mesmo do interior, o que vi ou tudo o que vi; o que importa é como minha vida neste universo testemunha em seu cotidiano mais ordinário uma participação numa maneira de ser na história. E esta maneira de ser determina uma sensibilidade e um moral esquematizados até a caricatura, mas válidos entretanto para um mundo concentracionário. Pois o universo concentracionário não é, no fundo, senão uma prefiguração apocalíptica do universo de amanhã e a obrigação de viver, nos próprios limites da vida, revela-me meu destino de homem na história de hoje. As próprias ausências, em particular a indiferença completa diante das preocupações * Podemos perguntar-nos por que o fascismo não se desenvolveu mais na França dos anos 1930. Foi

justamente porque nos círculos nacionalistas onde já germinava, ele encontrou a resistência da Action française, que o sufocou no ovo.

religiosas e das experiências de fundo religioso, que não podiam deixar de existir, são significativas desse endurecimento da consciência perante a revelação de um mundo novo. Todo o antigo moral, mais ou menos herdado do cristianismo, fundado sobre uma noção de salvação pessoal e de comunhão mística, desaparece diante de uma lógica interna que politiza integralmente a sensibilidade e os costumes. Para viver e fazer viver esse mundo, é necessário anular as antigas reações pessoais de piedade e de ternura.

O médico, no Revier, não salva um tuberculoso; ele garante a sobrevivência de um camarada — não um amigo, mas um camarada de seu partido ou de sua nação — porque este camarada é útil à existência de seu partido ou de sua nação, sem o que ele mesmo, o médico, desapareceria diante dos outros partidos, das outras nações ou dos alemães "Verdes" e SS.

Dá-se bem conta da reprovação que em outros tempos tais proposições teriam suscitado? Não se poderia nem mesmo escrevê-las.

Aliás, este novo moral não deixou de despertar polêmicas. Antigos detentos protestaram e acusaram: é que, no fundo, eles não pertenciam ao universo concentracionário; eles o sofriam como prisioneiros e não como aqueles velhos detentos alemães que nele tinham instalado suas vidas a ponto de sentir certo incômodo perante a idéia do retorno ao mundo dos homens livres. David Rousset testemunha por esses homens, os únicos concentracionários autênticos, e é curioso que os morais nascidos neste vaso fechado não choquem mais inteiramente a opinião dos homens livres.

Dezenas, centenas, milhares de homens, portanto, construíram, no coração do Ocidente, uma sociologia específica. Postos à margem dos outros seres vivos, os detentos recomeçaram a história partindo do nada.

Ora, nas condições contingentes dos campos, o concentracionário teve que abandonar como um enfeite inútil os antigos hábitos das consciências particulares e dos morais privados: teve que historizar integralmente sua condição.

Com isto, o universo concentracionário é um reino de utopia, mas efetivamente vivido e dado como uma imagem da história.

E David Rousset é testemunha do heroísmo autêntico mas sem fidalguia e sem honra destes construtores de universo, imagens do herói moderno, devotado à história.

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Inicialmente, pense-se no número de homens que, no planeta, falam ou lêem o inglês; além dos povos anglo-saxões, que contam mais de duzentos milhões de indivíduos, todo o Extremo Oriente. Ao escolher o inglês, um autor garante para si o maior público in the world.

Mas é também a língua dos países de refúgio. Durante o século XIX, os exilados e as vítimas das mudanças de regime refugiavam-se em Paris. Atualmente, a corrente mais densa dos exilados ultrapassa Paris para atingir o Novo Mundo. Os testemunhos mais

importantes sobre os movimentos europeus foram publicados em edições americanas, muitas vezes em tiragens muito grandes. O público americano, portanto, interessa-se particularmente por este gênero de literatura, e esse é um sinal muito importante de sua abertura para a história. O americano descobre o mundo por sua vez e, em sua ingenuidade, vai direto ao que há de mais autêntico; menos ao grande estudo exaustivo, geopolítico, do que ao testemunho vivido.

Gostaria de passar em revista alguns destes testemunhos. Para nossos propósitos, pouco importa se alguns destes textos — americanos — revelam a inquietante colaboração do autor... e de um jornalista. De fato, o jornalista apenas acentuou com seus artifícios o caráter que quero analisar.

O livro de Kravtchenko, Escolhi a liberdade, foi traduzido em francês; é típico do gênero. Kravtchenko narra sua vida desde a primeira infância, junto a seu pai, um operário revolucionário, ou a seu avô, um suboficial reformado, temente a Deuse ao czar, até sua saída da Rússia como alto funcionário soviético, membro de uma missão de compra nos termos de comodato e sua fuga por hotéis americanos onde o perseguia um agente da NKVD. Como me tornei comunista, membro do Partido, técnico e alto funcionário do regime, como me desliguei até a ruptura profunda, embora secreta. Minha própria vida, até nos pormenores dos hábitos mais íntimos, testemunha sobre o tom da existência na Rússia soviética, incidências cotidianas da vida privada e da vida pública.

Como observamos há pouco, a respeito do livro de Pearl Buck e de Ernst von Pustau, na Rússia, assim como na Alemanha fascista, não há mais distinção entre a vida privada e a vida pública. A politização da vida privada é integral. E esta é uma condição muito boa para o valor e a autenticidade do testemunho: minha vida cotidiana, minhas amizades e meus ressentimentos depõem sobre certo tipo de relação entre o homem e sua cidade. Eu poderia, à maneira dos historiadores clássicos, descrever o funcionamento das instituições de minha cidade. Mas teria a impressão de descrever algo de diferente desses personagens concretos, dessas aventuras concretas que determinaram minha vocação, meus amigos, minhas amantes, meu destino. Ao contrário, direi a vocês apenas esses personagens, essas aventuras relacionadas à minha experiência pessoal; não para instruí-los à maneira de um manual, mas para pô-los diante da realidade existencial, a fim de fazer passar em vocês esta corrente de vida que me levou e que ainda me leva, a fim de comunicar-lhes o meu destino, porque o meu destino não é o de qualquer um, sozinho em sua privacidade. Ele não pode lhes ser indiferente. Meu destino é uma certa maneira de agir na história, que pode e deve ser a

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