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A HISTORIA "CIENTIFICA"

No documento O TEMPO DA HISTÓRIA (páginas 146-163)

Às vésperas dos exames de formatura, alguns moços e moças conversavam na pequena biblioteca reservada aos estudantes de história. Em Grenoble, Clio reunia suas sessões à parte das grandes concentrações de estudantes, longe do Palácio da Universidade, banal e administrativo, nos fundos do bairro pitoresco do Velho Templo. Eu tinha, então, acabado de sair do colégio e entrava na faculdade com o fervor de um neófito. Parecia-me que descobria um mundo apaixonante, em que a abundância das existências passadas me comunicaria um pouco de sua potência dramática. Por isso, eu escutava com atenção as confidencias dos veteranos, já velhos no ofício, e sua desilusão me impressionou muito.

Nessa faculdade de província, o prestígio de Jacques Chevalier levava para a filosofia os auditórios mundanos, e nenhum professor muito brilhante os atraía para a história. Assim, o curso de história reunia um punhado de trabalhadores sérios, que aspiravam à agregação e ao professorado, consagrando-se aos estudos sem esperar lucros; equipe pequena e modesta, um pouco medíocre e sem imaginação. Por isso, sua ingênua decepção teve para mim importância ainda maior.

Eles terminavam a rápida revisão de suas notas e fechavam os manuais onde, pela última vez, tinham refrescado as suas memórias sobrecarregadas. Uma jovem que prestava o exame de agregação arrumava os papéis que tinha emprestado a seus colegas, e a visão daqueles papeizinhos, cobertos de nomes próprios, de datas, cuidadosamente divididos em parágrafos, proporcionou-lhe de repente um tal cansaço, que ela começou a contar o entusiasmo que, no começo, a tinha levado à história. A curiosidade de conhecer os outros, séries contínuas e sucessivas de outras humanidades. Dizia, com toda ingenuidade, que tinha procurado o sabor das diferentes épocas, das vidas e dos costumes, seu conteúdo humano. E, às vésperas do concurso que iria concluir os seus estudos, o que tinha encontrado, o que lhe tinham dado? Uma soma árida de fatos, classificados e explicados com minúcia, lógica e, muitas vezes, inteligência, mas despojados de todo aquele calor que ela esperava. Ela tivera que consagrar os seus dias e as suas vigílias a resumir livros compactos, onde todos os acontecimentos e os personagens de certo período histórico estavam registrados, onde não faltava o nome de uma operação, de um poderoso, de uma instituição política ou social sequer, onde, verdadeiramente, se tinha reunido, sem exceção, tudo o que os documentos conservam ainda dos fatos e ações do passado. E a infeliz tinha que confessar que essa laboriosa compilação havia matado a paixão dos primeiros dias. Haviam-lhe tantas e tantas vezes

repetido que desconfiasse da anedota e do pitoresco dos vulgarizadores para o grande público! Tinha acabado por confundir a curiosidade do homem e a vulgarização bastarda; e a história, a dos exames e dos concursos, começava somente ali, onde acabava o arrepio da imaginação e da surpresa; ela começava com o enfado. O apelo de sua primeira vocação tinha silenciado e ela perseverava em sua técnica rotineira, porque aquele era um ofício como outro qualquer.

Essa confissão desenganada tinha me impressionado, no momento em que eu julgava descobrir na história tantas coisas obscuras e ainda indeterminadas, mas sem dúvida alguma apaixonantes. Não esperava esse testemunho tocante de tédio e de cansaço.

E, no entanto, quantos historiadores, mais ontem do que hoje, poderiam, se ousassem confessar a verdade, entregar-se ao mesmo sentimento de secura e de mediocridade. Para manter a postura, foi-lhes necessário erigir em método, pelo menos implicitamente, a desvitalização da história. Assim se abriu o fosso que separou a história dos profissionais (diremos a história "científica") do público comum, ou mesmo dos outros especialistas das disciplinas humanas, em particular da filosofia. É sobre este hiato que gostaria de refletir aqui, com simplicidade, sem pretensões de história da historiografia ou de metodologia sistemática.

A noção, outrora desconhecida, de uma continuidade dos tempos aparece no século XVIII. A organização das sociedades torna-se um tema de reflexão, quer as sociedades sejam antigas ou modernas, a Roma de Montesquieu ou a Polônia de Rousseau.

Não se deixa de cultivar as literaturas antigas, conserva-se a religião tradicional dos heróis de Tito Lívio ou de Plutarco, mas não mais no espírito do século precedente. A Antigüidade cessa de ser isolada no tempo. Pelo contrário, relacionam-se as repúblicas antigas às instituições modernas. Passa-se de umas às outras. A Antigüidade não deixa de ser um conservatório de modelos e de exemplos morais e cívicos. Mas as sociedades modernas visam a colher ali princípios de ação política; elas mobilizam a Antigüidade a seu serviço. Um dos mestres do liceu Louis-le-Grand, o padre Porée, crê-se obrigado a pôr de sobreaviso seus alunos contra as perigosas adaptações do passado ao presente: "Evitai, crianças, invejar o destino dos republicanos, quer antigos, quer modernos." Risco que não existia algumas décadas antes, possuindo, então, o passado greco-romano um valor de formação, mas sem estar ligado ao presente. No fim do século XVIII, a juventude, empanturrada de história romana, ajudava a construir na América uma sociedade sob o modelo da cidade antiga.

O conhecimento da Antigüidade não podia mais ser separado da formação do presente. O passado e o presente não eram mais tão indiferentes um ao outro. Assim, o culto, mais vigoroso do que nunca, da Antigüidade era acompanhado da consciência de um movimento contínuo do homem. Essa continuidade logo apareceu na literatura histórica. Entre 1776 e 1788, um autor inglês, Edward Gibbon, escreveu uma volumosa História do declínio e da queda do império romano, que cobria o fim dos tempos antigos

e toda a Idade Média até a tomada de Constantinopla em 1453. Esta obra, que teve grande sucesso e inúmeras reedições em várias línguas, teria sido impensável um século antes. Daí em diante, a Antigüidade já não estaria enclausurada no mundo fechado de uma época de ouro. Ela se estendia para além de seu termo tradicional, e a história mobilizava tempos que, anteriormente, dormiam numa espécie de limbo.

Os antigos juntaram-se aos modernos em torno da noção de progresso, tal como aparece em Voltaire no Ensaio sobre os costumes e o espírito das nações. O sentido da continuidade surgiu sob a forma infantil e tenaz do progresso. Condorcet logo escreveria o Esboço de um quadro histórico dos progressos do espírito humano. Compreendemos melhor as origens da noção de progresso quando reconhecemos nelas uma consciência histórica ainda parcial.

Daí em diante, nenhuma época nem lugar pareceram indignos do conhecimento histórico, nem a Idade Média franca ao abade Dubos, nem a expansão transoceânica européia a Raynal, nem o reinado de Luís XIV e Voltaire. E, ao lado destes grande nomes, quantas obras menores e obscuras enchiam as prateleiras das "livrarias", nas velhas moradas provinciais: histórias regionais, histórias nacionais, histórias religiosas — uma enorme bibliografia.

Uma literatura histórica nasceu, com seu público, ao mesmo tempo que uma consciência nova do contínuo na evolução das sociedades. Porém, de nosso ponto de vista, falta a essa história um atributo essencial: o sentido da diferença dos tempos. O hiato entre a Antigüidade e o resto da duração foi preenchido. Apesar de tudo,, subsiste ainda uma noção de protótipo humano, inspirada pelo idealismo tenaz dos heróis gregos e romanos. Em 1864, na introdução de A cidade antiga, Fustel de Coulanges sublinhava quanto, ainda em sua época, é difícil para o historiador livrar-se do preconceito tradicional que emprestava aos povos antigos os hábitos mentais das sociedades modernas. O sentido do contínuo era acompanhado de uma crença na semelhança dos tempos: "Nosso sistema de educação, que nos faz viver desde a infância em meio a gregos e romanos, habitua-nos a compará-los sem cessar a nós, a julgar a sua história de acordo com a nossa, e a explicar as nossas revoluções pelas suas. O que mantivemos deles e o que nos legaram faz-nos crer que eles se nos assemelhavam; temos alguma dificuldade de considerá-los povos estrangeiros; quase sempre, somos nós que nos vemos neles."

Depois das convulsões da revolução e do império, o século XIX marcou a etapa definitiva do nascimento da consciência histórica moderna. Se, no século XVIII, tínhamos reencontrado o sentido do contínuo, o século XIX descobriu as diferenças da cor humana através dos tempos. É um aspecto conhecido demais para que seja útil insistir: a revelação da Idade Média estranha e pitoresca, desde os Relatos dos tempos merovíngios de Augustin Thierry, até os Cruzados entrando em Constantinopla de Delacroix e a Lenda dos séculos de Victor Hugo. Por que, aliás, a Idade Média, muito freqüentemente uma Idade Média de fantasia, senão porque se pressentia nela uma

época inteiramente singular, onde os costumes não se assemelhavam nem aos dos heróis de Plutarco, nem aos das gerações, ainda próximas, do Antigo Regime?

O historiador romântico, Augustin Thierry ou Michelet, propunha-se a evocar o passado, fazê-lo reviver com todos os seus aspectos pitorescos e saborosos, com a sua cor própria. No relato autêntico dos acontecimentos passados, os historiadores procuravam o mesmo desenraizamento que poetas e romancistas pediam à ficção, e à ficção histórica. Ora, essa preocupação de desenraizamento, que dali em diante orientava o historiador para o quadro vivo, era justamente um sentido rudimentar da diferença dos tempos. Rudimentar, porque se satisfazia com uma evocação simplesmente pitoresca e permanecia na superfície das coisas: era mais o gosto das curiosidades do que o das variações em profundidade da estrutura mental ou social. Porém, esse espanto diante do passado permanecia sendo uma importante aquisição da história. Descobria-se com entusiasmo o que era outro. É por isso que, apesar de suas lacunas e de seus erros, Michelet conserva ainda hoje (e hoje mais do que ontem) um interesse apaixonante. Ele era sensível demais às singularidades da história para não ter apreendido, por intuição, os contrastes, as diferenças que o historiador contemporâneo reencontra com uma base científica mais segura, mas sem contradizer quanto ao fundo as intuições divinatórias, embora incertas, do romântico genial.

Faltava, porém, aos autores dessa primeira metade do século XIX um método crítico para estabelecer uma documentação segura. Escreviam rápido demais, um pouco como romancistas que eram. Por isso, exceto algumas intuições de visionário de Michelet, süa obra permanece hoje letra morta.

Para alcançar uma concepção mais válida da história, definida agora como curiosidade intelectual, era preciso o método, o método científico, como se dirá na segunda metade do século.

A erudição já era conhecida antes da época romântica. Mas os eruditos do Antigo Regime, sobretudo do século XVII, conservavam as maneiras de colecionadores de antigüidades e de raridades. Foi sobretudo no início do século XIX que a compilação crítica dos textos e documentos se desenvolveu paralelamente à história viva. Citemos, a título de indicação, as grandes coleções de documentos, como os Monumenta Germaniae Histórica (1826), os Documentos relativos à história da França, de Guizot (1835). Os progressos da erudição permitiram aos historiadores levar adiante as suas pesquisas com mais precisão, e numerosos trabalhos dos anos 1940 e 50 ainda conservam o seu valor; eles estiveram na origem da obra magistral de Fustel de Coulanges.*

Muitas vezes se observaram as causas desse florescimento de eruditos. As perturbações da revolução e do império, fazendo tabula rasa do passado, tinham interrompido o curso regular da história. Daí por diante, houve um antes e um depois. Antes de 1789, as revoluções não tinham nunca sido concebidas como uma parada para *

Sobre este período, da primeira metade do século XIX, náo há nada a acrescentar ao estudo que Camille Jullian publicou à guisa de prefácio à sua Anthohgie des historíens francais du XIXº siècle.

uma nova partida, mas antes como um retorno a um estado melhor e mais antigo. O próprio das revoluções dos séculos XVIII e XIX é que elas se propõem a dar um término ao passado e retomar o presente a partir do zero. A própria Igreja romana não escapou ao contágio quando a concordata de 1802 depôs todos os bispos da França para reconstituir sobre novas bases o pessoal e a geografia eclesiásticos. Surgia, então, muito sensível na opinião pública, a idéia de uma era nova, inteiramente separada do passado, ainda que próxima. E desde então, essa idéia, superpondo-se à velha noção de progresso do século XVIII, encontrou-se na origem de quase todos os movimentos de opinião.

Assim, o historiador foi atraído sobretudo pelo exame das novidades, muitas vezes se esquecendo da tenaz inércia do passado. A partir do momento em que surgia em algum lugar um fenômeno novo, logo se estendia para toda a sociedade e as resistências que encontrava eram desprezadas como sobrevivências destinadas a um fim próximo. Formou-se, assim, a noção de uma evolução irresistível.

Mas, antes que se tivesse anulado a solução de continuidade entre o passado e o presente, que reapareceu periodicamente depois de 1789, os arquivos, mesmo os mais antigos, eram ainda considerados como arquivos de Estado, indispensáveis à prática administrativa, e confidenciais.

Após a revolução e o império, no início da nova época, os regimes, estabelecidos sobre bases constitucionais estranhas aos documentos dos velhos fundos, se desinteressaram pelos arquivos como instrumentos administrativos. Como escreveu L. Halphen em sua Introdução à história, "um amontoado de pergaminhos e de papéis, cuidadosamente guardados até então, quer como fundamentos jurídicos de direitos ou de pretensões já caducos, quer como necessários ao funcionamento de instituições que acabam de ser varridas pela tormenta, encontra-se em estado de haver per dido, de um dia para o outro, todo interesse, salvo para os curior sos de coisas mortas." E estes

"curiosos de coisas mortas" não se reduziam a alguns colecionadores, à maneira dos humanistas do Renascimento. Seu número tinha se ampliado ao mesmo tempo que crescia o interesse pelo passado pitoresco e vivo.

Tudo se passa, portanto, como se as sociedades ocidentais tivessem por muito tempo vivido sem experimentar o sentimento da duração, porque suas instituições políticas tinham evoluído lentamente, sem interrupção brutal. Só a Antigüidade greco- romana tinha por muito tempo se mostrado como exterior à sua história. E no século XVIII, se se esforçaram bastante para reduzir seu isolamento, foi para agrupar todos os tempos conjuntamente, estendendo às épocas modernas o ideal humanista da Antigüidade.

Após as conturbações da revolução e do império, ao contrário, a história se desvelou bruscamente e apareceu como uma realidade particular, distinta do presente vivido, distinta também de uma cronologia estéril. Nós compreendemos bem esse sentimento, nós que experimentamos algo de análogo logo após as grandes feridas de 1940-1945.

Essa sensibilidade à diferença dos tempos, se tivesse sido alimentada pela erudição, poderia dar numa história autêntica. Isso esteve a ponto de acontecer. Na encruzilhada da erudição e de uma história que não é mais a história romântica — já não estamos na época de Michelet, mas um pouco antes da de Taine e do positivismo —, que, porém, é a sua herdeira, encontra-se Renan, o príncipe da história francesa; apesar de sua data e dos progressos da documentação, sua obra permanece ainda válida e sugestiva.

Cem vezes se evocaram os escrúpulos de Fustel e seu respeito ao texto, que se opunham às demasiadamente rápidas "ressurreições" da história romântica. Muito justo — embora se tenha extrapolado com demasiada facilidade e ressaltado apenas o que é honestidade e seriedade, no sentido de uma metodologia dita científica: antes, a história literária; depois, a história científica. Mas não se insistiu o suficiente sobre um aspecto pelo menos igualmente importante da obra de Fustel: o seu sentido da particularidade histórica. Na Introdução à Cidade antiga, onde já nos detivemos longamente, Fustel rompe com as tradições clássicas que davam aos antigos a fisionomia de um protótipo humano válido para todos os tempos e lugares: "Empenhar-nos-emos, diz ele, em mostrar as diferenças radicais e essenciais que distinguem para sempre os povos antigos das sociedades modernas." Não se poderia formular com mais clareza e precisão o objetivo essencial da história, seu objetivo primeiro, pêlo menos, sua maneira de se afirmar, distinguindo-se das outras reflexões sobre o homem: a busca das diferenças dos tempos.

Fustel tinha o escrúpulo do texto; foi seguido neste ponto, o que foi bom. Mas se reencontramos ainda o seu sentido histórico em Camille Jullian, seu espírito foi menos assimilado do que o seu método. O crítico e o glosador foram ouvidos; o historiador, pelo contrário, não teve continuador. As promessas de sua obra foram mal cumpridas por seus sucessores. Entramos, após ele, num período ingrato da historiografia, que agora precisamos caracterizar em suas linhas principais.

A segunda metade do século XIX e os primeiros anos do século XX só conheceram dois gêneros de história: a história acadêmica e a história universitária. Mais tarde, conheceremos um terceiro gênero, a vulgarização histórica, de que já falamos num capítulo precedente e é, em geral, posterior à guerra de 1914.

A história universitária e a história acadêmica, mais ainda do que por seus métodos, definem-se por seus públicos.

A história acadêmica, que vai do duque de Broglie a Hanotaux e Madelin, era lida pela burguesia culta e séria: magistrados, homens da lei, pessoas que viviam de rendas... homens de grande ociosidade, quando a estabilidade da moeda e a segurança das colocações permitiam que vivessem de seus rendimentos. As bibliotecas particulares dessa época permitem ver as preocupações intelectuais dessa classe: poucos romances, afora Balzac, e nem sempre. Os últimos românticos e os realistas pouco agradavam a esse público de gostos severos. Ocorria-lhes, porém, gostar do picante, mas julgavam decente cultivá-lo em Horácio e nos latinos, que liam ainda no original. Todavia, nas

estantes de nossos avós, o melhor lugar era reservado à história': Barante, Guizot, Broglie, Ségur, Tocqueville, Haussonville, depois Sorel, La Gorce, Hanotaux. Basta consultar os velhos catálogos da Plon ou da Calmann-Lévy para dar-se conta, pelos nomes dos autores e assuntos tratados, de uma maneira de escrever a história que conduzia à Academia. Ainda hoje, ela sobrevive na obra de Madelin, no Richelieu de Hanotaux edo duque de La Force.

Essa vasta literatura não é de se desprezar. Foi escrita sem intenção de vulgarizar, após um estudo consciencioso, muitas vezes erudito, dos documentos, evitando que a erudição transparecesse, pois se estava entre gente da sociedade. Daí uma postura séria e distinta, sem pedantismo, com a medida justa do que era necessário de referências, e até um pouco menos, mas sem nenhuma afetação de facilidade, sem concessões ao pitoresco e a trama romanesca. Sentimos que estamos na época dos doutrinários ou dos notáveis.

Propunha-se essa literatura histórica essencialmente a narrar e explicar a evolução política dos governos e dos estudos, as revoluções, as mudanças de regime, as agitações e as crises das assembléias e dos ministérios, as diplomacias e as guerras: uma história política, de política nacional e internacional. Em geral, era uma história de tese — e foi nesse sentido que o historicismo conservador de após 1914 se ligou a ela. Ela visava a dar, como a de A. Sorel, uma interpretação que explicaria com um rigor suficiente o vaivém turbulento dos fenômenos. Não repugnava a esses autores a idéia de um determinismo histórico, mas era um determinismo conservador, que ignorava as pressões profundas da massa popular, e regulava a causalidade política dos governos e das nações. Não se tratava de uma história "reacionária", orientada para a reabilitação do antigo regime, como será o caso com a Action française. Mas era uma história

No documento O TEMPO DA HISTÓRIA (páginas 146-163)