• Nenhum resultado encontrado

A Histórica Dependência do Estado pela Contribuição Sindical Obrigatória

Ao retomar a história do sindicalismo no Brasil pode-se notar a dependência que o Estado sempre teve na Contribuição Sindical obrigatória, o sistema deste tipo de contribuição possui características do modelo sindical corporativista. Tal modelo surgiu na época do Estado Novo, onde o texto legal previa que que a associação a sindicato era livre, porém, desde regularmente reconhecida pelo Estado, como normatizava o Art 138. Da Carta de 1937:

Art 138- A associação profissional ou sindical é livre. Somente, porém, o sindicato regularmente reconhecido pelo Estado tem o direito de representação legal dos que participarem da categoria de produção para que foi constituído, e de defender-lhes os direitos perante o Estado e as outras associações profissionais, estipular contratos coletivos de trabalho obrigatórios para todos os seus associados, impor- lhes contribuições e exercer em relação a eles funções delegadas de Poder Público.

Portanto, ao que se percebe com o referido artigo da carta magna de 1937 é de que o Estado detinha o controle das entidades sindicais, apesar de permitir a livre associação, apenas permitia que a classe trabalhadora se associa a sindicatos por ele regulamentados e fiscalizados, ou seja, o Estado sempre quis ao longo da história deter o controle sobre os sindicatos.

O sistema sindical corporativista surge no ano de 1939 com o controle do sindicato pelo Estado, com isso também mostra-se as regras de unicidade sindical, a organização por categoria, a contribuição compulsória que permitiu que os sindicatos impôs-se a

contribuição a todos que participassem das categorias ou profissões representadas. (GOMES; SILVA, 2020)

O Estado necessitava de uma forma de controle nas nascentes operárias da indústria, foi então que Getúlio Vargas traz para o Brasil o sindicalismo corporativista, formado em um projeto de um estado “forte, intervencionista e empreendedor”. Então cria-se a Consolidação das Leis do Trabalho de uma forma complexa e com um sistema de associação que depende da burocracia do Estado, bem como a autonomia em relação aos seus integrantes da categoria, tendo por objetivo a transferência dos conflitos entre capital e trabalho para a estrutura do Estado. Ainda institui também a forma de financiamento sindical pelo imposto sindical, contribuição obrigatória visando a dependência da verba pública e do Estado. (MENDES, 2009)

Neste sentido aduz Sergio Amad Costa (2020), que desde 1966 a contribuição sindical vem sendo o mecanismo do sistema corporativista, ou seja, uma forma do Estado deter o controle sobre a classe representante dos profissionais, pelo fato de que esta contribuição é o meio de sustentação financeira deste sistema, como demonstra:

O imposto sindical - desde novembro de 1966 conhecido por contribuição sindical - constitui um dos principais mecanismos de controle do Estado sobre os organismos de representação profissional, na medida em que é ele o meio de sustentação financeira da estrutura de tipo corporativo. Este tributo sindical foi regulamentado em 1940, por intermédio do Decreto-lei nº 2.377, que dispunha sobre o pagamento e a arrecadação das contribuições devidas aos sindicatos pelos integrantes das categorias econômicas ou profissionais representadas pelas referidas entidades. Tal imposto foi disciplinado, desde 1943, na Consolidação das Leis do Trabalho, pelos arts. 578 a 610. Assim estava assegurado ao Estado o direito de controlar esse recurso financeiro, tendo o poder de determinar a forma como deveria ser distribuído entre as organizações sindicais e, também, a maneira, quando e onde teria de ser aplicado. (COSTA, 2020)

Desse modo, se percebe que o Estado sempre dependeu da contribuição sindical obrigatória, pois através dela que lhe deu sempre a sustentação financeira para que pudesse ter os mecanismos de controle dos organismos de representação dos profissionais, bem como detinha o poder de determinar a forma em que seria distribuído entre as entidades sindicais, bem como, de onde deveria ser aplicado. Ao que se percebe é total a dependência do Estado em relação a contribuição sindical, pois a partir do momento em que este não fosse mais o responsável por distribuir este recurso financeiro, ele perde o poder de organização dos organismos representantes da classe profissional.

O Estado tinha como objetivo transformar as entidades sindicais em uma instituição do poder público e que estas respondessem diretamente a ele, bem como, que sua existência dependeria de reconhecimento perante o governo e ao Ministério do Trabalho, pois buscavam

acabar com os movimentos sociais, em principal o sindicalistas, na busca por explorar a mão de obra e acumular capital. (BESSA ; WAKABAYASHI, 2020)

O corporativismo foi implantado no Brasil com objetivo de tirar a espontaneidade dos sindicatos, pois o Estado queria para si a regulamentação destas entidades, com o intuito de conter a luta das classes trabalhadoras, ou seja queriam afastar as diretorias, proibir as greve e o locaute entre outras coisas. (NASCIMENTO, 2009)

Getúlio Vargas neste período tornou a estrutura sindical como parte do Estado, pois o movimento dos trabalhadores que se organizavam em sindicatos, começava a crescer e a mobilizar mais trabalhadores, bem como, tinham grande força política, então, Vargas viu nesta conciliação uma oportunidade de controlar a classe operária. (JOBIM; KAUFMANN, 2020)

Se faz necessário destacar que o poder público é responsável por destinar para onde vai a arrecadação com a contribuição sindical, deste modo, grande parte desta é destinada a atividades assistenciais, tendo o sindicato caráter assistencialista, como mostra:

Outro aspecto que merece destaque é o fato de que é o poder público que determina onde deve ser aplicada a arrecadação financeira do sindicato. Assim, grande parte destes recursos destina-se, por força de lei, a atividades assistenciais, atribuindo um caráter preponderantemente assistencialista ao sindicato. A prestação de assistência médica, dentária, jurídica, manutenção de creches, assistência à maternidade, entre outras atividades, que, a nosso ver, são funções do Estado, passam comodamente para o âmbito do sindicato, como dever do organismo de representação profissional. Vale lembrar, também, que para o trabalhador beneficiar-se dos serviços assistenciais dos sindicatos, tem de sindicalizar-se, pagando à entidade mensalidades adicionais. Por conseguinte, somente os associados dos sindicatos tiveram proveito desses serviços assistenciais. Desta forma, todos contribuem para os sindicatos, porém só os filiados têm o direito de usufruir do resultado dessas contribuições. (COSTA, 2020)

Desta forma pode-se notar que sendo o poder público aquele que destina para onde será direcionado a arrecadação da contribuição sindical, sendo que a maioria é para fins assistenciais de assistência médica, dentária, jurídica, manutenção de creches, a maternidade, entre outras e tudo por força de lei. Todas essas questões que deveriam ser responsabilidade do Estado diretamente, acabam sendo custeadas em parte pelo sindicato e assim que surge a premissa de dependência do Estado pela contribuição sindical obrigatória.

Perdura até os dias atuais o sistema sindicalista onde os sindicatos são um aparelhamento do Estado, e constata-se que com o passar do tempo o Estado ficou cada vez mais dependente deste modelo de sindicalista, pois a unicidade sindical faz com que não tenha competitividade o que poderia auxiliar na melhor atuação dos entes sindicais e agora com a

facultatividade da contribuição sindical, o Estado e os Sindicatos estão perdendo sua sustentação. (MIZAEL, 2020)

Ao que se passa com o decorrer do tempo é de que os sindicatos não contestam mais a existência do Estado e este aceita o sindicato como ente institucionalizado no âmbito do sistema político-jurídico, ou seja, o Estado reconhece os entes sindicais como sendo um órgão máximo responsável pela representatividade da coletividade. (RODRIGUES, 1980)

O Estado não tendo êxito em não reconhecer os sindicatos, bem como, não funcionando a sua tentativa de controle sobre estas entidades, acabou por aceitar as associações de trabalhadores e após algum tempo as tornou um direito, através de leis ordinárias e constitucionais, ou seja, a partir de determinado momento o Estado se absteve de influir nas relações coletivas de trabalho. (BRITO FILHO, 2018)

No que tange a contribuição sindical no brasil à de se falar dos conhecidos “sindicatos de fachada”, que sempre gerou muitos problemas ao movimento sindical em nosso país, pois os deixa enfraquecido principalmente no âmbito da representatividade perante a classe trabalhadora, o combate para que se ponha fim a estes sindicatos vem de muito tempo e ainda continua. (JOBIM; KAUFMANN, 2020)

Os sindicatos de fachada existem há muito tempo, estas organizações surgem com o intuito de desviar o recurso do imposto sindical pago pelos trabalhadores, porém, nunca chegam a representar sua categoria, ou seja, nunca chegam a participar de convenções coletivas ou realizar outro tipo de assistência. (CAMPOS; FERNANDES, 2020)

Com isso, ao que tudo indica com o fim da contribuição sindical obrigatória estas organizações perderam sua força, pois não terão nenhuma fonte de receita para se manter, já que não possuem a contribuição associativa na qual poderiam se assegurar, sendo assim, estes sindicatos irão desaparecer.

Documentos relacionados