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Na pesquisa acerca da história dos sindicatos no Brasil, se percebe que o debate relativo a unicidade e pluralidade sindical já está presente há muito tempo, desde antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, então, antes de conceituarmos estes dois institutos é importante uma breve passagem de sua história em nosso país.

Ao longo da história pode-se perceber as diversas modificações nos modelos de representação sindical, em um primeiro momento os trabalhadores defendiam a liberdade e autonomia sindical, mas também defendiam uma unicidade sindical. O ano de 1946 foi marcado pelo combate a pluralidade sindical, pois se entendia que esta era prejudicial a classe trabalhadora, já em 1979 o Congresso Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos através da

aprovação de uma resolução na qual ficou garantida a unicidade sindical, novamente em 1983 um novo sindicato se funda na mesma unicidade sindical. (BEMVENUTI,2020)

José Carlos Arouca (2020), aponta características as quais o sindicato que se formava neste momento da história deveria seguir, assim sendo:

O sindicato deve ser único, livre e forte, democrático e representativo, de resistência, para defender direitos e interesses da classe trabalhadora, trabalhistas, sociais e políticas. Um sindicato único, custeado não pelo Estado, pelos patrões, pelos partidos, pelas igrejas, por organizações de fora, mas pelos trabalhadores de dentro, todos, filiados ou não. Um sindicato comprometido com a construção de uma sociedade justa, solidária e igualitária, tal como foi traçada em nossa Constituição. (AROUCA, 2020)

Desta forma o autor demonstra que o sindicato deve ser único, ou seja, pautado no modelo de unicidade sindical, buscando sempre representar e defender os direitos da sua classe trabalhadora, bem como, defende um sindicato custeado por trabalhadores de dentro, deste modo, aqueles que estão diariamente no ambiente trabalhista, inseridos no local de trabalho, podendo ter uma visão mais avançada para a defesa dos direitos de sua classe.

A convenção 87 da OIT foi aprova em 1948, não sendo ratificada pelo Brasil, porém em 1984 a discussão acerca da autonomia e liberdade sindical prevista pela convenção se fez necessária. Nesta se estabelece que o ordenamento em relação ao sindicalismo seria pautado na liberdade e autonomia previstos na convenção, mas os sindicatos continuariam sob o modelo de unicidade sindical e portando não houve a ratificação da Convenção 87 da OIT.

Como demonstra Flávia Regina Oliveira da Silva (2020), a convenção 87 da OIT adota a teoria da pluralidade sindical, a qual torna possível a existência de mais de um sindicato por território, e assim atingindo uma liberdade sindical plena, como já visto no Brasil não se ratificou este modelo em nosso ordenamento jurídico, ou seja, apenas pode se ter um sindicato por base território, estabelecido pela Constituição Federal de 1988, assim:

A Constituição de 1988 traça uma redemocratização no sistema político brasileiro, porém o seu artigo 8º, mantém a estrutura do sindicalismo único para cada fração territorial e a contribuição compulsória, extinguindo somente o poder de intervenção do Estado contra o sindicalismo. Por isso é acusada de ter implementado a liberdade sindical pela metade, pois manteve o instituto de origem corporativista em seu texto. (SILVA, 2020)

Desta forma a autora demonstra que a Constituição Federal de 1988, manteve a teoria da unicidade sindical para a criação de sindicatos no Brasil, bem como adotou uma liberdade sindical limitada, pois a Constituição passou a prever a livre associação, porém limitada ao seu território.

A unicidade sindical consiste na previsão legal de apenas um sindicato que represente a classe obreira, podendo ser na empresa, profissão ou categoria profissional, se tratando da definição legal do tipo de organização sindical pertencente a uma organização na sociedade, ou seja, veda-se a existência de sindicatos concorrentes, este sistema vigora em nosso país desde o ano de 1930 e permaneceu com a Constituição de 1988. (DELGADO, 2017)

Então, a unicidade sindical é o instituto ou teoria onde se tem a existência de apenas uma entidade profissional ou econômica em uma base territorial representando a sua classe, sendo essa a teoria adotada pelo texto normativo da Constituição Federal de 1988. Ainda, defende-se que o sistema adotado protege contra a pulverização de vários sindicatos em apenas uma base. (BEMVENUTI, 2020)

Para Silva (2020), a teoria da unicidade sindical é uma afronta ao já consagrado universalmente princípio da liberdade sindical, apesar de a Constituição prever a livre associação profissional ou sindical, não permite a livre criação de sindicatos no mesmo território, para o autor o constituinte originário perdeu a oportunidade de adotar a verdadeira liberdade sindical.

Para Amauri Mascaro Nascimento (1997), a unicidade sindical possui algumas objeções, como a restrição da livre associação ao sindicado de seus interessados, ou seja, aqueles pertencentes ao grupo não tem outra opção a não ser o sindicato de sua categoria, bem como a representação desses fica canalizada apenas para uma única organização, fazendo como que aqueles que estão em desacordo com as diretrizes tomadas pela diretoria, não tenham outra opção a não ser acatar nas eleições pela renovação desta.

Importante tratar da Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho, a qual não foi ratificada pelo Brasil, pelo fato que entra em conflito com o princípio da unicidade sindical previsto em nosso ordenamento jurídico, demonstra-se desta maneira que tal convenção encontra-se baseada no princípio da liberdade sindical e por sua vez presa por um pluralismo jurídico, ou seja, esta possibilita que empregados e empregadores criem mais de uma organização sindical na mesma base territorial. (SILVA, 2020)

Assim a pluralidade sindical segue diretrizes contrárias a unicidade, possibilitando a existência de mais de um sindicato representativo do mesmo grupo em uma mesma base territorial, ou seja, com este instituto possui-se a faculdade de criar ou não simultaneamente mais de um sindicato de trabalhadores ou de empresários no mesmo território. (BRITO FILHO, 2018)

Desta maneira, a pluralidade sindical é o princípio em que se funda a possibilidade de criação em uma mesma base territorial de mais de uma entidade sindical a qual representa

pessoas e atividade que possuem interesses em comum. O sistema sindical da Espanha, Itália e França seguem este modelo, o que não ocorre no caso do nosso país. (NASCIMENTO, 2009)

Defensores da pluralidade sindical salientam que apesar de esta não ser a mais desejável pelos Estados, é a que traz uma maior realidade social, caminhando junto com a liberdade sindical absoluta, sendo que está levaria a uma unidade sindical a qual se estabelece pela ótica da união dos entes sindicais, para que juntos representem os interesses dos trabalhadores. (PAMPLONA FILHO, 2020)

Contrários a pluralidade sindical defendem que este instituto geraria uma verdadeira confusão social, trazendo prejuízo aos trabalhadores pelo fato de que está se dividiria em diversos entes sindicais, podendo ser opostas em seus pontos de vista, defendem a criação de um sindicato por profissão, presando pela liberdade de associação. (BRITO FILHO, 2018)

Uma das maiores críticas a este instituto é a divisão de interesses coletivos, pois em determinadas situações se faz necessário a atuação comum, podendo-se gerar conflitos, como se demonstra:

A crítica maior a pluralidade sindical é a divisão do interesse coletivo com a existência de mais de um sindicato na mesma base territorial para a representação do grupo, adelgaçando-se o poder de reivindicação. Surge também uma dificuldade técnica por ocasião das reivindicações gerais do grupo, e que exigem atuação comum: a determinação do sindicato mais representativo e que negociará em nome de todo o grupo, Problemas consistentes na seletividade dos critérios para a escolha podem provocar cisões no grupo em detrimento dos interesses comuns. (NASCIMENTO, 1997, p. 752)

À vista disso o autor mostra que ao adotar-se o instituto da pluralidade sindical há a possibilidade de determinados problemas, entre eles o conflito entre grupos ao reivindicarem direitos, devendo se ter um sindicato representativo de todos os grupos, para que este negocie e represente os interesses em comum nas reivindicações da classe trabalhadora.

A convenção 87 da OIT trouxe a seu texto a liberdade sindical e a proteção ao direito dos sindicatos, prevendo que os empregados e empregadores terão direito, sem que precisem de autorização prévia para constituir e filiar-se a organização sindical de sua escolha, como dispõem:

Art. 2 — Os trabalhadores e os empregadores, sem distinção de qualquer espécie, terão direito de constituir, sem autorização prévia, organizações de sua escolha, bem como o direito de se filiar a essas organizações, sob a única condição de se conformar com os estatutos das mesmas.

Art. 3 — 1. As organizações de trabalhadores e de empregadores terão o direito de elaborar seus estatutos e regulamentos administrativos, de eleger livremente seus representantes, de organizar a gestão e a atividade dos mesmos e de formular seu programa de ação.

Desta forma, se percebe com estes dois artigos que a OIT consagrou a liberdade sindical, que possui intrínseca ligação com o pluralismo sindical e deste modo se vê que ela assegura este instituto com a convenção 87, com melhores condições de trabalho e principalmente a liberdade plena dos trabalhadores.

Portanto ao que se percebe não há como afirmar qual o modelo ideal a ser adotado por um ordenamento jurídico, pois ambas possuem suas desvantagens, sendo a unicidade sindical uma limitadora da liberdade plena ao não permitir a existência de mais de um sindicato na mesma base territorial e a pluralidade sindical apesar de trazer a liberdade sindical absoluta, ela acaba por gerar um conflito social entre sindicatos da mesma classe trabalhadora, cabendo a estas estabelecer uma unidade sindical.

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