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A historiografia da Abolição em Pernambuco

No documento Culturas escolares em Recife (1880-1888) (páginas 126-137)

CAPÍTULO 4: A ABOLIÇÃO NOS ANÚNCIOS DOS JORNAIS

4.1. A historiografia da Abolição em Pernambuco

Desde a década de 1850 associações foram formadas em Recife com o objetivo de emancipar escravos como a “Associação de Socorros Mútuos e Lenta Emancipação dos Cativos” criada em 1859 e a “Associação Acadêmica Promotora da Remissão dos Cativos” de 1860. No entanto, foi entre as décadas de 1870 e 1880 que surgiu um número realmente significativo de associações abolicionistas de vários tipos congregando diversos tipos de pessoas. Segundo Coriolano Medeiros

274

, havia dezessete associações abolicionistas em funcionamento na cidade de Recife em 1884:

Apesar do ativismo de seus membros, essas associações em geral não tiveram longa duração, sendo dissolvidas após o domingo, 13 de maio de 1888. No mais a ação desses clubes abolicionistas na capital da província de Pernambuco, como muitos outros aspectos dos acontecimentos da década de 1880, não foi transformado em objeto de estudo dos historiadores nos últimos anos.

274

Gilberto Freyre em 1925 por ocasião do aniversário de 100 anos do Diário de Pernambuco organizou junto a diversos intelectuais “O livro do Nordeste” no qual vários assuntos foram abordados, tais como economia, medicina, música, artesanato e literatura, entre eles esteve o texto “O movimento da Abolição no Nordeste” de Coriolano de Medeiros, na época ele exercia o cargo de diretor interino da Escola de Aprendizes de Artífices da Paraíba, foi responsável pela fundação de revistas e jornais de curta duração na Paraíba. Em 1988 em comemoração ao centenário da Abolição Leonardo Dantas organizou sob o incentivo do CNPq e da FUNDAJ uma coletânea de textos históricos chamada “A Abolição em Pernambuco” entre os textos por ele resgatados estava o de Coriolano de Medeiros. In: MEDEIROS, Coriolano de. O movimento da Abolição no Nordeste. In: SILVA, Leonardo Dantas. A Abolição em Pernambuco. Recife: FUNDAJ, Editora Massangana, 1988. Pp. 38 – 55.

126

Quadro 2: Associações abolicionistas citadas por Coriolano de Medeiros, em

funcionamento em 1884 275.

Associação Mista Redentora dos Cativos Caixa Emancipadora Maranhense Marques

Rodrigues

Caixa Emancipadora Pedro Bandeira Caixa Emancipadora Piauiense

Clube Abolicionista D. José Clube Cupim

Clube Dramático Emancipador Comissão Central Emancipadora do

Município do Recife Emancipadora Acadêmica Emancipadora Cearense Emancipadora Pernambucana Grêmio Emancipador Libertadora Norte-Riograndense Libertadora Paraibana Libertadora Sergipana Sociedade Ave Libertas Sociedade Musical 28 de Setembro Sociedade Pernambucana contra a Servidão

Trupe Dramática Abolicionista

Em 1988, no segundo capítulo do livro “Escravidão e Abolição no Brasil: novas perspectivas”, Ciro Flamarion Cardoso analisou algumas das principais pesquisas publicadas entre 1960 e 1988 a respeito o tema Abolição e nos primeiros parágrafos desse texto, mesmo antes de começar a expor suas análises, afirmou: “É possível enfrentar o exame da abolição brasileira de ângulos muito variados” 276

. No entanto, para o caso de Pernambuco e em especial para o Recife, não contamos com tamanha variedade de ângulos a respeito deste assunto nas últimas décadas.

275

MEDEIROS, Coriolano de. O movimento da Abolição no Nordeste. In: SILVA, Leonardo Dantas. A

Abolição em Pernambuco. Recife: FUNDAJ, Editora Massangana, 1988, Pp. 41-42.

276 CARDOSO, Ciro Flamarion S.; FRAGOSO, João Luís Ribeiro; CASTRO, Hebe Mattos de &

VAINFAS, Ronaldo. Escravidão e Abolição no Brasil: novas perspectivas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988, pg. 76.

127 Sobre a Abolição e o abolicionismo em Recife, as publicações no momento atual são escassas e até o presente momento nenhuma dissertação 277 ou tese 278 foi produzida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco abordando diretamente este tema. A maior parte das publicações a respeito deste tema faz parte da Série Abolição, produzida e publicada pela Fundação Joaquim Nabuco–, em parceria com o Ministério da Ciência e CNPq/Comissão de Eventos Históricos, em 1988– como forma de comemoração ao centenário da Abolição no Brasil.

A Série Abolição é composta por vinte um volumes 279, entre os quais constam edições fac-similares de livros publicados durante a década de 1880 por alguns militantes abolicionistas, como Joaquim Nabuco, André Rebouças, e Luis Anselmo da Fonseca; coleções e catálogos de jornais que circularam durante a campanha abolicionista; trabalhos sobre a escravidão; dois volumes dedicados a trazer a público os trabalhos apresentados no Primeiro Congresso Afro-Brasileiro, realizado em 1934, em Recife, sob a coordenação de Gilberto Freyre; biografias de personalidades como o estadista João Alfredo e Henrique Dias e; como sugere o título da coleção, alguns volumes sobre a Abolição.

Os livros dedicados a tratar da Abolição são: “Abolição: a Liberdade veio do Norte”, de Fernando da Cruz Gouvêa; “A Abolição em Pernambuco” organizado por Leonardo Dantas Silva; e “Atualidade e Abolição”, organizado por Manuel Correia de Andrade e Eliane Moury Fernandes. Falemos um pouco sobre cada um deles.

277

A Produção Cientifica do Mestrado do Departamento de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco entre os anos de 1977 e 1012 está disponível em: http://www.ppghistoria.ufpe.br/index.php?option=com_content&view=article&id=288&Itemid=233. Ultimo acesso em 01 de Abril de 2012

278

A Produção Cientifica do Doutorado do Departamento de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco entre os anos de 1991 e 2012 está disponível em: http://www.ppghistoria.ufpe.br/index.php?option=com_content&view=article&id=303%3Aproducao- cientifica-doutorado&catid=1&Itemid=233. Ultimo acesso em 01 de Abril de 2012.

279

A lista com os livros contidos nessa série por nós utilizada encontra-se no 21º volume da série, o livro “Atualidade e Abolição”, organizado por Manuel Correia de Andrade e Eliane Moury Fernandes. Seu conteúdo é derivativo do “Ciclo de Conferências, comemorativo do centenário da Abolição da Escravatura Negra”, realizado pela Coordenação-Geral de Estudos da História Brasileira Rodrigo Melo Franco de Andrade (CEHIBRA) da Fundação Joaquim Nabuco, de agosto de 1987 a fevereiro de 1988, este livro foi publicado em 1991, sendo o último volume da série.

128 Em “Abolição: a liberdade veio do Norte” 280

, Fernando da Cruz Gouvêa, através dos jornais publicados em Recife e no Rio de Janeiro, procurou reconstruir os debates referentes ao movimento abolicionista no Conselho de Ministros, no Senado do Império, na Câmara dos Deputados, na imprensa da Corte e da Província, discutindo “o comportamento dos conservadores e liberais, e contradições, consequências da importância dos interesses” 281

em torno da extinção do elemento servil no Império do Brasil.

Segundo Cruz Gouvêa, a Abolição teria representado naquele momento um problema “cruciante” para os estadistas do Império, tanto para os conservadores quanto para os liberais, pois colocava em questão o direito a propriedade, assegurado pela própria Constituição. Mas, uma vez realizada tornou-se “a maior reforma social levada a cabo no Brasil”; reforma esta iniciada no Norte do Império, devido à ação de personagens como Joaquim Nabuco e José Mariano. Por isso, no dizer de José do Patrocínio, publicado no jornal “Cidade do Rio” “a liberdade, afinal viria do Norte” 282

.

Sobre a ação dos escravos, Cruz Gouvêa assinalou que a libertação ocorreu sem a ocorrência uma “insurreição cabal” dessas massas, embora as fugas de escravos nas regiões cafeeiras tenham, em sua interpretação, aconselhado aos políticos e aos proprietários a conveniência de se trocar o braço escravo pelo livre. Em “Abolição: a Liberdade veio do Norte”, a liberdade dos escravos emergiu como uma concessão da elite senhorial, uma perspectiva a muito superada pelas pesquisas realizadas nos últimos vinte quatro anos.

Na abertura do I Seminário de Pós-Graduandos em História do Processo de Abolição e Pós-Abolição no Brasil, realizado em 2011, pelo Programa de Pós- Graduação em História da Universidade Federal Fluminense, Eduardo Silva ponderou da seguinte forma a sua visão a respeito do processo de Abolição no Brasil:

“A abolição da escravatura não podia mais ser vista (ou combatida) apenas como uma concessão da classe dominante

280 GOUVÊA, Fernando da Cruz. Abolição: A Liberdade veio do Norte. Recife: FUNDAJ –Editora

Massangana, 1988.

281

Idem, p. 13.

282

129 senhorial. Pelo contrário: as pesquisas revelavam, entre outras coisas, uma fortíssima e decisiva participação popular na conquista da liberdade. A explicação antiga, o paradigma senhorial da Abolição, simplesmente caducou.” 283.

Quanto ao “A Abolição em Pernambuco” 284

, organizado pelo jornalista e escritor Leonardo Dantas Silva, não se trata de uma pesquisa e, sim, de uma coletânea de ensaios publicados por diversos autores, em diversos meios diferentes, entre fins do século XIX e início do século XX, a respeito da Abolição junto ao “Catálogo da exposição realizada no Teatro Santa Isabel entre 13 e 31 de maio de 1938”, em comemoração ao cinquentenário da Abolição.

A coletânea de ensaios elaborada por Leonardo Dantas resgata desde a fala de Pereira da Costa, “A Ideia Abolicionista”– pronunciada no Teatro de Variedades de Novo Hamburgo, em agosto de 1887 e publicada no Jornal a Província em outubro do mesmo ano e posteriormente na Revista do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano em 1891–, passando pelo artigo publicado por Joaquim Maria Carneiro Vilela publicado em 13 de Maio de 1905, no Jornal Pequeno– relembrando as ações realizadas pelo Clube Cupim em Recife durante a década de 1880– até o ensaio de Coriolano de Medeiros “O movimento da Abolição no Nordeste”, publicado no “Livro do Nordeste” 285 organizado por Gilberto Freyre

em 1925.

Somado ao “Catálogo da exposição realizada no Teatro Santa Isabel em comemoração ao Cinquentenário da Abolição”, o livro se destaca por seu caráter documental, guardando diferentes discursos a respeito dos acontecimentos e sujeitos envolvidos nos debates e ações que levaram ao fim da escravidão no Brasil.

Por fim, consta na série o livro “Atualidade e Abolição” 286

, no qual foram reunidos os trabalhos apresentados no “Ciclo de Conferências Comemorativas ao Centenário da Abolição da Escravidão Negra”, realizado pela Fundação Joaquim

283

SILVA, Eduardo. Domingo, dia 13: o undergroud abolicionista de ponta e a conquista da liberdade. In: ABREU, Martha & PEREIRA, Matheus Serva (orgs.). Caminhos da Liberdade: histórias da abolição e do pós-abolição no Brasil. – Niterói: PPG História – UFF, 2011, p. 30 - 31.

284 SILVA Leonardo Dantas (org.). A abolição em Pernambuco. Recife: FUNDAJ - Ed. Massangana,

1988.

285

Gilberto Freyre em 1925 por ocasião do aniversário de 100 anos do Diário de Pernambuco organizou junto a diversos intelectuais “O livro do Nordeste” no qual vários assuntos foram abordados, tais como economia, medicina, música, artesanato e literatura.

286

ANDRADE, Manuel Correia de & FERNANDES, Eliane Moury. Atualidade e Abolição. Recife: FUNDAJ – Massangana, 1991.

130 Nabuco entre agosto de 1987 e fevereiro de 1988, somados às conferências apresentadas por historiadores durante o “Seminário Atualidade e Abolição”, organizado pela professora Eliana Gonçalves Moury, em 1988.

Entre os temas abordados no livro, além da Abolição, encontramos questões ligadas à escravidão e ao racismo, a miscigenação e discriminação racial características do período pós-abolição 287. Como explicou Manuel Correia de Andrade na introdução do livro, o seminário foi organizado com a intenção não apenas de discutir a Abolição, mas a atualidade de sua discussão em face as dificuldades e discriminações sofridas por homens e mulheres negros e negras no Brasil desde os dias de colônia até a atualidade.

Entre as palestras e conferências registradas destacamos a do prof. Marc Jay Hoffnagel, “O partido Liberal em Pernambuco e a questão Abolicionista, 1880-1888”

288

, no qual defende a tese de que, ao longo de todo o período estudado, o Partido Liberal, apesar da existência de alguns liberais anti-escravistas, como Joaquim Nabuco e José Mariano, se opôs a qualquer mudança no status quo escravista, embora não tenha exposto publicamente esta postura de forma clara e ostensiva 289.

Para ponderar a respeito da atuação do Partido Liberal ao longo do fortalecimento e radicalização da campanha abolicionista, faz-se necessário, nos alerta Hoffnagel, levar em conta algumas dificuldades internas enfrentadas por aquele partido. No limiar da década de 1880, o Partido Liberal de Pernambuco vinha se recuperando de uma disputa interna por empregos e favores oriundos do poder central, forte o suficiente para provocar mortes, causar uma cisão dentro do partido e minar sua força política dentro da província.

Somando a crise interna do partido com a crise econômica vivenciada na província, conseguir favores do poder central tornava-se cada vez mais importante para os liberais levando-os a assumir uma postura política de prudência e cautela, procurando evitar ações capazes de provocar divisões no partido. Hoffnagel afirmou

287

Idem, p. 7 -9.

288 HOFFNAGEL, Marc Jay. O partido Liberal de Pernambuco e a questão da abolicionista, 1880-

1888. In: ANDRADE, Manuel Correia de & FERNANDES, Eliane Moury. Atualidade & Abolição. Recife: Massangana – FUNDAJ, 1992, pp. 139 – 152.

289

131 ter sido essa política conciliatória a responsável pela impressão de que o partido liberal era indiferente à manutenção do sistema escravista 290.

No entanto, mesmo com o declínio da população escrava no Norte do Império do Brasil os proprietários pernambucanos, segundo o autor, não ficaram indiferentes ou favoráveis às medidas tomadas no sentido de extinguir a escravidão. O declínio da população escrava não foi uniforme em todas as propriedades da província e, mesmo no final da década de 1880, alguns senhores reclamavam nos jornais a respeito das atividades abolicionistas.

Se em momentos chaves, como as discussões emancipacionistas de 1884, os líderes liberais pernambucanos não apresentaram uma oposição clara ao abolicionismo, isso não ocorreu porque eram ‘menos apegados’ ao sistema escravista, e sim, por falta de condições políticas de lutar abertamente contra os interesses do governo central. Em nome do poder político, garantidor de empregos, comissões, promoções e nomeações do poder central, os liberais, em determinados momentos, fizeram determinadas concessões ao abolicionismo, sem, contudo, deixar de defender a manutenção da mão de obra escrava em outros momentos. Para Hoffnagel, a ambiguidade contida na forma como o Partido Liberal de Pernambuco dialogou, ao longo da década de 1880, com as questões referentes à extinção do elemento servil no Império do Brasil, não representavam um abolicionismo precoce, e sim, um distanciamento entre os interesses econômicos do Império e a classe política 291.

Além de Hoffnagel, Antônio Torres Montenegro foi autor do livro “Abolição” 292

, integrante da Série Princípios da Editora Ática, publicado em 1988. Nele, Montenegro descreveu o Abolicionismo como um movimento social construído e desenvolvido pelas camadas médias da população urbana, em constante conflito com a classe dominante e o governo imperial. Para ele os integrantes do movimento abolicionista eram empregados do comércio, funcionários públicos, advogados, médicos, juízes e militares envolvidos em um movimento cuja intenção ia além da libertação dos escravos, tendo por ambição possibilitar além da liberdade, a oportunidade de instrução pública para os libertos e uma reforma eleitoral capaz de

290

Ibidem, p. 143

291 Ibidem, p. 149. 292

132 ampliar a participação política da população. Mesmo com a oposição constante da classe senhorial organizada nos clubes da lavoura, comércio ou/e indústria, para Montenegro o abolicionismo representou uma experiência política nova para a sociedade, através das camadas médias, partindo dos centros urbanos para as lavouras, articulando-se em nível nacional, utilizando a imprensa como meio de divulgação de ideias e promotora de mobilização popular Esse movimento teria “pego de surpresa” os grandes proprietários escravistas e a classe política 293

.

Ainda segundo Montenegro, a classe senhorial se opôs durante todo o tempo e a Abolição se deu devido a pressão da opinião pública mobilizada, responsável por obrigar o governo imperial a avançar ao seu encontro, anulando as pressões da maioria conservadora para quem o trabalho escravo deveria ser abolido através da Lei do Ventre Livre aprovada em 1871 294, caracterizando o Abolicionismo como um movimento construído exclusivamente pelas camadas médias da população e constantemente criticado pelos grandes proprietários de terras durante toda a década de 1880.

Fora do âmbito dos trabalhos escritos por historiadores, encontramos a coletânea de artigos, organizada pelas professoras Luzilá Gongalves, Ivia Alves, Nancy Rita Fontes, Luciana Salgues, Iris Vasconcelo & Silvana Vieira de Souza, “Suaves Amazonas: mulheres e abolição da escravatura no Nordeste” 295

. Nesta coletânea as autoras falam sobre a produção literária de um conjunto de mulheres engajadas nas lutas abolicionistas em várias províncias do território hoje conhecido como Nordeste. O foco dos trabalhos apresentados nesse livro se encontra nos textos produzidos e feitos publicar nos jornais em circulação nas províncias abordadas por mulheres.

No artigo dedicado a trajetória de autoras da então província de Pernambuco, Luzilá Gonçalves Ferreira analisou poesias e textos em prosa publicados por mulheres nos jornais da capital, dando destaque a atuação das mulheres responsáveis por fundar, em 1884, a “Sociedade Abolicionista Ave Libertas”. Esta foi uma das muitas associações abolicionistas formadas por pessoas interessadas em

293

Ibidem, p. 45

294 Ibidem, p. 60 295

FERREIRA, Luzilá Gonçalves; ALVES, Iva; FONTES, Nancy Rita... et. Al. Suaves Amazonas: mulheres e abolição da escravatura no Nordeste. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 1999.

133 arrecadar fundos para compra de alforrias através de atividades como organização de festas, quermesses, passeatas, concertos e peças teatrais, com o diferencial de ser a única formada exclusivamente por senhoras em funcionamento na capital pernambucana 296. Segundo o “Catálogo da exposição realizada no teatro Santa Izabel”, entre 13 e 31 de maio de 1938, em comemoração ao cinquentenário da abolição em Pernambuco, sessenta e seis (66) senhoras fizeram parte dessa sociedade como sociais efetivas 297.

Os trabalhos mais recentes a abordar como as ideias abolicionistas se espalharam na cidade do Recife foram o trabalho apresentado por Celso Castilho– professor de História na Vanderbilt University, cuja pesquisa acessamos através de um ensaio publicado no XXVI Simpósio da ANPUH, em 2011– e um artigo publicado no livro “História da Escravidão em Pernambuco”, de Flávio Cabral e Robson Costa, em 2012.

No ensaio apresentado na ANPUH em 2011, “O 25 de março e a radicalização dos embates abolicionistas no Recife” 298

, Celso Castilho abordou dois eventos importantes ocorridos na cidade do Recife em 1884 e responsáveis, em sua interpretação, por polarizar as opiniões antiescravistas na capital da província de Pernambuco, a saber: as comemorações referentes a abolição da escravidão no Ceará em 25 de Março e a convocação do Congresso de produtores de cana-de- açúcar em julho, responsáveis por aguçar e mobilizar diversas opiniões.

Castilho defendeu a data da abolição no Ceará como um divisor de águas na ação dos grupos abolicionistas em Recife, responsável por gerar uma onda de festejos e manifestações de todos os tipos, dos jornais locais, como o Diário de Pernambuco 299, nos quais foram publicados diversos textos saudando a província do Ceará, criticando a escravidão ou enaltecendo a liberdade até as manifestações

296 FERREIRA, Luzilá Gonçalves. A luta das mulheres pernambucanas. In: FERREIRA, Luzilá

Gonçalves; ALVES, Iva; FONTES, Nancy Rita et. al. Suaves Amazonas: mulheres e abolição da escravatura no Nordeste. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 1999, Pp. 41 – 110.

297“Cinquentenário da Abolição em Pernambuco. Catálogo de exposição realizada no Teatro de Santa

Isabel de 13 a 31 de maio de 1838”. In: SILVA, Leonardo Dantas (org.). A Abolição em Per-

nambuco. Recife: Massangana, 1988, p. 69-70.

298 CASTILHO, Celso. O ’25 de março’ e a radicalização dos embates abolicionistas no Recife. Anais do XXVI Simpósio de História – ANPUH, São Paulo, julho 2011.

299

Literatura, Diário de Pernambuco, Ano 60, n.71, quarta-feira, 25 de março de 1884, p. 8, Rolo/Caixa143, FUNDAJ, Recife – PE.

134 públicas das pessoas que invadiram as ruas dos bairros centrais do Recife, reuniram-se no Campo das Princesas e fizeram recitais no Teatro Santa Isabel.

O cronista e historiador do século XIX, Pereira da Costa, no livro entitulado “Pernambuco ao Ceará”, registrou uma descrição “das festas celebradas em Pernambuco por ocasião da redenção da província do Ceará”, a pedido da Comissão Central Emancipadora do Recife. A essa descrição ele somou vários textos publicados nos jornais da cidade e fez surgir o livro “Pernambuco ao Ceará: o dia 25 de março de 1884” 300

. Esse livro foi o documento através do qual Celso Castilho analisou as nuances dessa data, classificada como o maior evento abolicionista do começo da década de 1880 no Recife, apenas superado pela festa ocorrida por ocasião do dia “13 de Maio de 1888”.

Segundo Castilho, como reação aos acontecimentos de 25 de março e suas ramificações os produtores de cana passaram a tomar atitudes para adiar o máximo possível a abolição. Uma dessas atitudes foi a organização e realização do Congresso Agrícola em julho de 1884. Nesse encontro os proprietários discutiram

No documento Culturas escolares em Recife (1880-1888) (páginas 126-137)