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Ano (1865-1877) Ano de 1874 p 64, APEJE, Recife – PE.

No documento Culturas escolares em Recife (1880-1888) (páginas 41-48)

58

Artigo 59, Seção III, Do ensino e regime das escolas. Regulamento orgânico da administração

do ensino público. In: PERNAMBUCO. Legislação Provincial de. Estante 29; Prateleira 03; Número

41 particulares, os professores costumavam anunciar o início das suas aulas nos primeiros dias do mês de janeiro e celebravam o encerramento das aulas no mês de dezembro.

Tabela 2: Distribuição dos anúncios publicados nas terças feiras ao longo das semanas corridas entre janeiro de 1880 e dezembro de 1888.

Ja Fe Ma Ab Ma Jn Jl Ag Se Ou No De Tot 1880 21 0 2 5 7 3 2 0 4 5 5 8 62 1881 30 16 5 8 14 3 1 4 5 8 4 12 110 1882 42 15 5 10 4 0 1 6 2 0 1 13 99 1883 33 8 5 8 8 6 4 6 5 2 3 7 95 1884 58 13 18 8 5 0 0 1 0 0 2 24 129 1885 30 22 9 4 1 0 3 2 5 2 1 8 87 1886 22 0 5 7 7 1 2 3 0 1 0 10 58 1887 32 4 7 3 0 6 6 1 1 1 1 2 64 1888 42 4 3 8 3 0 0 0 0 0 0 0 60 Tot. 310 82 59 61 49 19 19 23 22 19 17 84 764

Quando, durante a pesquisa, observamos uma diminuição no quantitativo de anúncios nas terças, no período correspondente aos meses de março a novembro, fomos investigar os outros dias da semana com o intuito de perceber se os anúncios estariam sendo publicados com maior frequência em outro dia da semana. Feito isso, percebemos que tal coisa não ocorreu e optamos por continuar transcrevendo os anúncios publicados nas terças-feiras.

Nos meses de fevereiro e agosto de 1880; junho e outubro de 1882; junho, julho, setembro e outubro de 1884; junho de 1885; fevereiro, setembro e novembro de 1886; e junho, julho, setembro, outubro, novembro e dezembro de 1888, não foram encontrados anúncios publicados nas terças-feiras. Portanto, nesses anos, recorremos à investigação dos outros dias da semana e percebemos que nos meses de fevereiro de 1880; junho, julho e setembro de 1884, fevereiro, setembro e novembro de 1886; maio de 1887; junho, julho, agosto, setembro, outubro e dezembro de 1888 não houve anúncios publicados nos outros dias da semana.

42 Salta aos olhos a ausência de anúncios publicados após maio de 1888. Um silêncio cuja motivação nos escapa diante da ausência de pesquisas nas quais os efeitos da Abolição na cidade do Recife tenham sido abordados. No entanto, conforme o disse Wlamyra R. de Albuquerque, o fim da questão servil foi um fato impactante na sociedade imperial, recebido nas províncias do diversas formas, entre as quais estiveram festas, conflitos e perturbação da ordem social vigente. Durante o segundo semestre de 1888, o cenário público tornou-se palco para a “(...) euforia dos libertos, a insatisfação dos fazendeiros, as contendas entre ex-escravos e ex- senhores, as disputas entre liberais e conservadores” 59

.

Na manhã do dia 13 de maio de 1888 a legalidade da ordem social escravista havia encontrado seu ponto final. Uma mudança significativa na ordem social havia ocorrido e o sentimento de que outras mais poderiam estar para acontecer estava no ar. Cientes da complexidade do cenário e dos sujeitos envolvidos, os professores, talvez, tenham preferido nada falar no Diário de Pernambuco.

Observou-se uma diminuição no número de anúncios publicados nos anos de 1886, 1887 e 1888 em relação aos primeiros anos da década de 1880. Tal diminuição, talvez, tenha se dado devido ao fato de, em novembro de 1886, a Inspetoria de Instrução Pública ter feito publicar um edital através do qual os professores particulares eram convocados a remeter à secretária, ainda naquele mês, através do delegado literário, “uma relação dos alunos que estudavam em suas escolas e colégios e para os quais lecionavam em casas particulares, com declaração da naturalidade, idade, filiação e aproveitamento dele...” 60

. Os professores que não apresentassem tais dados poderiam ser receber uma multa cujo valor poderia ir de 10$ a 50$000 (dez a cinquenta mil reis).

Conforme afirmou Silva 61, desde a primeira metade do século XIX, os professores particulares, em especial os mais modestos, costumavam elaborar estratégias para fugir das tentativas de controle, regulamentação e taxação de suas atividades feitas pelas autoridades governamentais. Não utilizar o Diário de Pernambuco para anunciar suas aulas no mês de novembro do ano de 1886, não

59 ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. O jogo da dissimulação: abolição e cidadania negra no Brasil.

São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p.95.

60

Ensino Particular, EDITAIS, Diário de Pernambuco, Ano 62, n. 263, terça-feira, 16 de Novembro de 1886, p. 3-4, Caixa 155, FUNDAJ, Recife – PE.

61

43 publicar anúncios ou reduzir o número de publicações nos anos subsequentes podem ter sido estratégias utilizadas pelos docentes para escapar de uma possível visita de fiscalização em suas escolas.

Tabela 3: Anúncios em relação aos anos pesquisados62

Anos Nº de Anúncios Anúncios Repetidos Nº de Anunciantes 1880 62 45 18 1881 110 74 24 1882 99 68 34 1883 95 62 20 1884 129 81 40 1885 87 47 35 1886 58 28 29 1887 64 31 26 1888 60 39 18 Total 764 475

Nos anúncios os docentes escreveram, entre outras coisas, os endereços de suas escolas, algumas características dos prédios nos quais essas escolas funcionavam, os graus de instrução potencialmente ensinados nas escolas (primário e secundário), as disciplinas oferecidas, os valores morais orientadores do ensino, métodos de ensino, os objetivos a serem alcançados pelos alunos e etc.

Dessas informações nos detivemos nos endereços, através dos quais mapeamos as escolas localizando-as na geografia da cidade. Detivemos-nos também na análise das descrições dos espaços escolares, dos métodos, através das quais identificamos algumas das características das culturas escolares potencialmente vivenciadas nas escolas do Recife. Por fim, procuramos verificar se as culturas escolares do Recife, nos últimos anos da escravidão se relacionaram, ou não, com os debates acerca da Abolição característicos do período.

Entre os noventa e cinco (95) professores cujos anúncios tivemos acesso, sete (7) fizeram menção ao método de ensino utilizado em suas escolas. O

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44 professor Manoel de Portugal Castro propagador do método João de Deus na província de Pernambuco 63, Prescilla S. Mendes Albuquerque, professora do Colégio pelo Método Castilho na Rua do Imperador 64, o Colégio Americano para Moças 65, o Colégio Americano e o Colégio de Inglês do Instituto Inglês Pernambucano 66, o Curso Minerva 67 e o Colégio Isabel 68, anunciaram o Método Americano como direcionador das atividades em suas escolas. Tais métodos foram sistematizados ao longo do século XIX em cartilhas e manuais, nos quais eram estabelecidos padrões de atuação profissional, normatização racional do trabalho docente, além de cristalizarem em possibilidade de práticas uma série de teorias a respeito de como o conhecimento deve ser ensinado pelo professor para ser corretamente aprendido pelos alunos.

Levando em conta a lição de Vera Teresa Valdemarin 69, compreendemos as cartilhas como instrumentos privilegiados para execução das práticas propostas pelos métodos de ensino e, por isso, foram incluídas no nosso conjunto documental, para discutirmos os métodos de ensino possivelmente utilizados nas escolas particulares anunciadas no Diário de Pernambuco. São elas a “Cartilha Maternal ou Arte da Leitura” 70– na qual o bacharel, poeta e político João de Deus sistematizou seu método de ensino–; a cartilha “Método Castilho para o ensino rápido e aprazível

63

Ao Público, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 90, terça-feira, 20 de Abril de 1880, p. 2, Caixa 128, FUNDAJ, Recife - PE.

64

Método Castilho, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 19, terça-feira, 25 de Janeiro de 1881, p. 2, Caixa/Rolo 131, FUNDAJ, Recife – PE.

65

Publicações a Pedido, Colégio Americano, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 9, 13 de janeiro de 1880, p. 3, Caixa/Rolo 127, FUNDAJ, Recife – PE.

66 Colégio Americano, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 68, n. 136, sexta-feira, 16

de junho de 1882, p. 4, Caixa/Rolo 136, FUNDAJ, Recife – PE; Colégio Inglês, Publicações a Pedido,

Diário de Pernambuco, Ano 57, n. 179, terça-feira, 9 de Agosto de 1881, p.3, Rolo 133, FUNDAJ,

Recife – PE.

67

Curso Minerva, Internato e Externato, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 60, n. 300, terça-feira, 30 de dezembro de 1884, p. 4, Caixa/Rolo 146, FUNDAJ, Recife – PE.

68 Colégio Isabel, Publicações a Pedido, Diário de Pernambuco, Ano 56, n. 280, Sábado, 04 de

dezembro de 1880, p. 3, Caixa/Rolo 130, FUNDAJ, Recife – PE.

69

VALDEMARIN, Vera Teresa. Interfaces de pesquisa sobre manuais didáticos. In: BENCOSTTA, Marcus Levy (org.). Culturas escolares, saberes e práticas educativas: itinerários históricos. São Paulo: Cortez, 2007, p. 308.

70

DEUS, João de. Cartilha maternal ou arte de leitura por João de Deus: publicada pelo seu amigo Candido A. de Madureira, Abbade d'Arcozello. 2ª ed. correta e aumentada. Lisboa: Imp. Nacional, 1878. Disponível em: http://purl.pt/145. Último acesso: 30 de Agosto de 2012.

45 do ler impresso, manuscrito e numeração e do escrever” 71– na qual o método Castilho está sistematizado, desde 1850, pelo também poeta e bacharel, Antonio Feliciano de Castilho–; e a cartilha “Primeiras Lições de Coisas: manual de Ensino Elementar” 72, de N. A. Calkins, traduzida por Rui Barbosa, em 1884.

Tanto a “Cartilha Maternal”, quanto a cartilha “Método Castilho” encontram-se disponíveis na coleção digitalizada do site da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP)

73. Já a cartilha “Primeiras Lições das coisas”, de N. A. Calkins, foi acessada no site

da Fundação Casa Rui Barbosa 74, no qual se encontra a coleção completa das obras do jurista, político e jornalista Rui Barbosa, disponíveis para acesso.

O ensino dos conteúdos fundamentais da escola primária, assim como a forma mais eficiente deles serem ensinados ocupou, durante o século XIX, um lugar central na mente de educadores na Europa, no norte da América e também do Brasil. Houve grande preocupação em encontrar métodos adequados para a sistematização do ensino e o aprendizado da leitura, da escrita, do cálculo e outros conteúdos. Alguns desses métodos foram compilados em cartilhas, manuais nos quais professores, proeminentes ou não, sintetizavam um conjunto de regras a serem memorizadas e utilizadas diariamente pelos professores em suas rotinas pedagógicas.

As cartilhas estabeleciam em seu texto padrões para a atuação docente. Através delas os autores procuravam transformar princípios teóricos a respeito do conhecimento em princípios práticos, possíveis de serem utilizados nas salas de aula. Nelas, teorias eram transformadas em prescrições de práticas destinadas aos professores, como um potencial guia das atividades a serem realizadas no dia-a-dia.

Embora as prescrições contidas nas cartilhas não sejam sinônimas de práticas vividas nas salas de aula– porque, mesmo os professores que anunciaram

71

CASTILHO, António Feliciano de. Método Castilho para o ensino rápido e aprazível do ler

impresso, manuscrito, e numeração e do escrever. 2ª ed. inteiramente refundida, aumentada, e

ornada de um grande numero de vinhetas. Lisboa: Impr. Nacional, 1853. Disponível em: http://purl.pt/185. Último Acesso 30 de Agosto de 2012.

72

CALKINS, N. A. Primeiras lições de coisas: manual de ensino elementar para uso dos paes e professores. Tradução de Rui Barbosa. Obras Completas, v. XIII, tomo I, Rio de Janeiro, 1950.

Disponível em:

http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=ObrasCompletasRuiBarbosa&pesq=Licao%20d as%20Coisas. Ultimo acesso em: 30 de Agosto de 2012.

73

http://purl.pt/index/geral/PT/index.html

74

46 utilizar seus métodos, poderiam ou não utilizar as prescrições nelas contidas– os modelos de docência, conteúdos, formas de fazer nelas contidos prestam colaboração significativa para a investigação das culturas escolares vivenciadas naquele momento.

Aos anúncios e cartilhas, potencialmente utilizadas nas salas de aula da cidade do Recife, somamos as informações sobre a “Instrução Pública” contidas nos Relatórios dos Presidentes da Província Pernambuco, produzidos entre 1880 e 1880, disponíveis no site da Universidade de Chicago 75; a Lei nº 1124 através da qual foi autorizado “(...) o presidente da província a expedir os regulamentos necessários para a reorganização do ensino primário e secundário” 76

; a Lei nº 1143 de 1877, na qual estão as “Resoluções a respeito da reorganização da instrução pública” 77

, o Regimento Geral das Escolas Públicas de Pernambuco 78 que vigorou entre 1885 e 1887 e o Regulamento da Instrução Pública de Pernambuco de 1888

79

, consultados no Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano.

Além da legislação específica, consultamos os dados sobre os colégios particulares do Recife, contidos nos Almanaques “Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província da Pernambuco”, dos anos de 1881 a 1885, disponíveis na Biblioteca do Arquivo Público Jordão Emerenciano 80 e alguns editoriais e artigos publicados no Diário de Pernambuco em outras seções, além das “Publicações a Pedido”, sobre a instrução pública ou métodos de ensino.

75

Provincial Presidential Reports (1830-1930): Pernambuco. Disponível em: http://www.crl.edu/brazil/provincial/pernambuco. Ultimo Acesso: 01 de janeiro de 2013.

76

Lei n. 1124, PERNAMBUCO. Legislação Provincial de. Estante 29. Prateleira 02. Número 29. Ano (1865-1877). Ano de 1873. Pp. 68-75, FUNDAJ, Recife – PE.

77

Lei n. 1143, Resoluções a respeito da reorganização da instrução pública. PERNAMBUCO. Legislação Provincial de. Estante 29. Prateleira 02. Número 29. Ano (1865-1877). Ano de 1874. Pp. 59-66, APEJE, Recife – PE.

78

Regimento Geral das Escolas Públicas de Pernambuco. In: PERNAMBUCO. Legislação Provincial de. Estante 29. Prateleira 03. Número 54. Ano (1885/1887). Ano de 1886, pp. 13-97.

79

Regulamento Orgânico da Administração do Ensino Público. In: PERNAMBUCO, Legislação Provincial de. Estante 29, ano de 1887. APEJE, Recife – PE.

80

ALMANACK Administrativo, Mercantil, Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco para o anno de 1881. Recife, Tipographia Mercantil, 1881-1885, APEJE, Biblioteca, Recife – PE.

47

No documento Culturas escolares em Recife (1880-1888) (páginas 41-48)