4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DAS INFORMAÇÕES
4.4 ENVELHECIMENTO
4.4.1 A idade
Alguns dermatologistas consideram que o fato de alguém parecer velho, assim
como parecer belo é consequência de um estado emocional, é um processo que
começa “de dentro para fora” (MARIO). Logo, as pessoas que se sentem velhas,
terão uma aparência mais envelhecida e isso ocorre em qualquer idade.
Culturalmente o entendimento da idade é também uma construção social e um
entendimento de cada um sobre sua identidade (LOGAN, WARD, SPITZE, 1992).
Para alguns entrevistados, cuidar de si próprio é um maneira de não se deixar
envelhecer. O comportamento é quem define os marcadores de tempo (DEBERT,
2004).
“Envelhecimento também começa de dentro para fora. A pessoa que se sente velha, fatalmente vai se portar como mais velha, agir como uma velha, se vestir como uma velha e se cuidar como uma velha. [...] Ela vai fazer tudo como se fosse uma velha. A primeira coisa é ela se achar velha, o envelhecimento é você se achar velha.” (HELENA)
“[...] até essa coisa mesmo da questão da sexualidade, as mulheres tem essa situação. Antigamente a mulher depois dos 40, 50 era avó, acabou. [...] Ninguém olhava para a avó, hoje em dia as avós namoram, estão bonitas, elegantes, se pintam. A mulher saindo de casa, isso mudou muito para a mulher e acabam mudando, ela quer retardar o máximo possível isso e acho que é bem legal isso. Acho que é uma coisa saudável.” (BIANCA)
“Eu acho que primeiro lugar da história tem que se aposentar pegar o pijama e ficar na cadeira de balanço em casa. Vai envelhecer. E vai mais rápido, sem dúvida.” (RAFAEL)
Essas mudanças de comportamento na sociedade contemporânea e o avanço
tecnológico na medicina estética, resultaram em alterações no ciclo e na qualidade
de vida da mulher (EPHRON, N. apud ROSÁRIO E CASOTTI, 2008). Nesse cenário,
os tratamentos estéticos passaram a ser utilizados para que a mulher aparente ter a
idade que sente e não sua idade real. As mulheres não querem que as pessoas
saibam sua real idade. No estudo de Barak et al. (2008), os autores observam que
mesmo em países orientais a idade cognitiva e a desejável são inferiores à idade
cronológica das mulheres.
“Hoje a velhice mudou de faixa etária, você está ficando mais velha com 60, 70 anos, por causa dos recursos todos que se tem e as mulheres não querem envelhecer.” (BIANCA)
“Você não quer chegar aos cinqüenta anos com cara de cinqüenta. Se fosse assim, ninguém recorreria a tratamento estético. O tratamento estético é isso, a pessoa quer tentar retardar um pouco o envelhecimento. Ninguém vai falar, ‘ahh vou ficar em casa esperando o tempo passar sem fazer nada’,
isso não vai acontecer, porque ninguém está preparado psicologicamente pra isso. Você sabe que você vai envelhecer, mas você não quer que sua pele acompanhe a cronologia da idade.” (OLGA)
Na cultura brasileira, o envelhecimento é associado a perda de “um importante
capital, o corpo” (GOLDENBERG, 2007, 2009). Assim, os indivíduos sofrem
conseqüências da sociedade pela perda da aparência jovem. Como Bouzón
comenta “não basta ser bonito e saudável é preciso aparentar ser jovem” (p.234).
Logo, as mulheres cariocas sentem-se psicologicamente afetadas pelo
envelhecimento, e por isso, sentem desvalorizadas perante a percepção de seu
envelhecimento pelo outro, segundo o discurso de alguns entrevistados. Do mesmo
modo, em seu livro Coroas, Goldenberg (2009) comenta que a visão de si mesma
sofreu alteração por causa do comentário de uma dermatologista.
“Eu acho que o envelhecimento é uma coisa que faz parte da vida e todo mundo tem que envelhecer, né?! Só que a marca do envelhecimento, a estética, você vai perdendo a atração física que você pode proporcionar. Isso tanto para os outros como para você mesma. A satisfação de se ver. Eu acho que quando você perde isso, você perde uma coisa importante né?! Você baixa a sua auto-estima, que não é só da sua pessoa, como você é, do indivíduo, mas obviamente com a parte física.” (NADIA)
“você tem uma expectativa de viver mais. E você quer é não parecer mais velha até o final da sua vida isso [...] É até mesmo por que é a atividade laborativa também ela está mais estendida [...] Então ela se mantiver mais bonita mais tempo, ela vai ter um companheiro/companheira por mais tempo com atração por ela e vice-versa por mais tempo e vai se manter no seu trabalho/emprego.” (RAFAEL)
Uma das dermatologistas pesquisada, Ana, relata que a beleza na juventude é um
instrumento de poder de certas mulheres, e por isso, elas têm uma grande
dificuldade em aceitar o envelhecimento, fazendo tudo o que podem para se
manterem jovens. Já as mulheres que trabalham, não sentem tanto a perda da
juventude, pois não se apoiaram na beleza quando mais novas.
Segundo alguns dermatologistas pesquisados, a vaidade é importante para que a
mulher viva melhor, é o incentivo das pessoas para continuar vivendo. Outros
entrevistados relacionam o fato de envelhecer bem, através de tratamentos
estéticos, à uma sensação de prazer.
“A vaidade é uma coisa que te mantém vivo. Eu tenho essa opinião. Então vejo velhinhas...aquelas velhinhas mais bonitinhas... que chegam no consultório [...] Pessoas mais vaidosas gostam mais da vida. Querem se parecer melhor para o mundo. [...] Quer que essas pessoas vivam mais e adoeçam menos. Tenho essa...é uma interpretação do valor da minha profissão...” (RAFAEL)
“eu sou completamente clara em relação a achar que todo mundo pode envelhecer bem, que você pode usar da tecnologia, de tudo que a medicina e a tecnologia te oferece hoje em dia para ficar melhor. [...] Representa o aumento da auto-estima, a satisfação pessoal, prazer em ser quem ela é. Prazer em estar com outras pessoas e demonstrar quem ela é, não ter vergonha de ser como ela é, não ter vergonha de envelhecer, prazer mesmo.” (NADIA)
Quando perguntados sobre o que pensam das mulheres que se encontram na faixa
dos 30 anos e das mulheres na faixa dos 50 anos, os entrevistados trazem
informações organizadas a partir de sua experiência:
Quadro 6 – Caminhos dos tratamentos anti-idade
Mulher de 30 anos
Queixas Possíveis Tratamentos Características do comportamento O corpo começa a
modificar;
Rugas leves: sulco nasogeniano, linhas de expressão; Manchas na pele: pelo sol (cultura carioca) ou por causa de hormônios; Falta de viço na pele;
Cabelo não está bonito e está caindo. Tratamentos relacionados à prevenção: profilaxia do processo de envelhecimento; Botox: Não há um
consenso sobre sua indicação. Alguns entrevistados consideram que é a melhor idade para iniciar esse tratamento, outros pensam ser muito cedo;
Cremes anti-idade, incluindo o filtro solar.
Deseja parar no tempo; Quer adiar o envelhecimento;
Os sinais de envelhecimento não são tão evidentes; É bem resolvida, independente, esclarecida e bem sucedida profissionalmente;
Quer tempo para cuidar de si mesma, equilibrando a vida profissional e pessoal;
Preocupa-se com a alimentação e com a saúde; Sofre forte influencia da sociedade: mídia e amigas; É bem informada e consciente das novidades; Para alguns entrevistados ela é tranquila, outros a consideram exagerada e ansiosa;
Quer estar linda sem ter trabalho ou gastar dinheiro; Não está disposta a cuidar das manchas, adora sol.
Mulher de 50 anos
Queixas Possíveis Tratamentos Características do comportamento Alterações hormonais causadas pela menopausa; Rugas acentuadas: na fronte, nos olhos, entre sobrancelhas e no sulco nasogeniano; Flacidez acentuada: “bigode chinês” e “bolsas de buldogue”; Os cremes, isoladamente, não solucionam os problemas; Preenchimento; Lifting; Cirurgia;
Peeling com ácido ou
de cristal;
Botox.
Deseja voltar no tempo e buscar o que já perdeu; Incomoda-se com o descompasso entre a cabeça e o corpo: a cabeça continua jovem, enquanto o corpo envelhece;
Quer melhorar a aparência e se sentir mais jovem; Gostaria de ter tido informações sobre saúde e envelhecimento quando tinha 30 anos;
É bem resolvida profissionalmente e em sua vida afetiva familiar;
Aceita melhor o envelhecimento;
Envelhecimento das mãos; Cabelos brancos; Manchas: pele alterada pelo sol; Não consegue emagrecer.
Alguns entrevistados pensam que as questões dessa mulher são visíveis e têm fundamento; outros notam que é uma mulher complicada, com queixas e demandas mais exacerbadas;
Pode haver uma preocupação maior com as manchas por causa do câncer de pele.