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Bianca

Bianca tem 51 anos, é casada e graduou-se pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde também cursou residência médica em pediatria, curso de especialização e de mestrado em dermatologia. Trabalha com dermatologia infantil no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira e em consultório em Ipanema.

a. A decisão de trabalhar com dermatologia (cosmiatria) e o público com quem trabalha. A entrevistada fez residência em pediatria, área onde atuou por alguns anos, antes de especializar-se em dermatologia há “mais ou menos 12 anos”. Ela explica que sua formação em dermatologia seguiu uma “linha antiga” em que não havia a preocupação em “cuidar da pele, esteticamente”; ela conta que essa visão começou, lentamente, a mudar nos anos 90. Nessa época, ocorreram os primeiros congressos “onde se falava muito em estética”. Contudo, ela esclarece que, na universidade, a importância que começava a ser dada ao campo não era vista como algo positivo. Ela reflete que há “um lado justo”, pois, primeiro, o médico deve conhecer a pele, fisiologicamente, depois, conhecer as doenças para, então, cuidar da parte estética. Bianca explica que, ao início, a cicatriz deixada pela acne era praticamente a única relação do dermatologista com a estética: “o trabalho que se fazia era com um peeling, e, mesmo assim, fazia-se escondido, porque, se o chefe do serviço soubesse, era a maior confusão”.

A dermatologista relata que, em seu consultório, 60% dos pacientes a procuram por doenças e 40% por estética, talvez por sua formação sólida na universidade. No entanto, a maioria das consultas são por queixas associadas, “o paciente vem com uma doença, mas, no final da consulta, ele pergunta assim: ‘o que posso fazer para melhorar?’, isso, em qualquer faixa etária”. Ela explica que os 40% dos pacientes a procuram por procedimentos estéticos mais pesados, como preenchimento, botox e laser.

Em relação às categorias de pacientes que chegam ao consultório em Ipanema, há aquelas que “são dondocas da classe AAA” e querem fazer todos os tratamentos. No entanto, este grupo não é a maioria, por sua postura mais conservadora; há pessoas mais velhas que teriam indicação de cirurgia plástica, mas, por medo da intervenção, solicitam informações sobre o preenchimento; há alguns artistas “globais” que têm muita preocupação com sua imagem, pois a aparência é uma exigência de seu trabalho e tem impacto direto em sua profissão; e há os adolescentes que vão à consulta ou porque suas mães não se conformam com suas espinhas, ou porque estão desesperados com sua única espinha e querem tratá-la. No primeiro caso, Bianca acha interessante tratar o conflito, satisfazer a mãe e o filho, além de mostrar para a mãe que seu filho deve ter espaço para decidir se cuidar, no momento em que sentir vontade. Ela comenta que o adolescente sempre acha que tem um defeito e que dizem: “a gente não é perfeito mesmo, não tem saída”.

Bianca considera difícil expor sua opinião sobre beleza. Ela afirma que é um conceito estético que envolve questões culturais. Por exemplo, há algumas características da beleza negra que nem todos gostam. Já, na sociedade brasileira, ao contrário de outras partes do mundo, a mulher bela é pouco mais roliça que o padrão magérrimo das modelos, como a Luiza Brunet - mulher que ela acha muito mais interessante do que a Gisele Bündchen.

Além das diferenças culturais, a dermatologista relata que “existem belezas que fazem parte do consciente coletivo, como as mulheres gregas e os olhos azuis” e que, tecnicamente, uma mulher bonita tem estatura alta e distribuição dos traços do rosto. quase perfeita. Todavia, em sua opinião, a beleza não é composta apenas pelo lado estético: “se eu começar a travar um diálogo com uma pessoa que acho linda, talvez a beleza dela se esmoreça se faltar conteúdo na conversa”.

A entrevistada, ainda, declara ser “filha da época da Leila Diniz”, esclarecendo que era uma geração que via a beleza de um modo “completamente diferente”. Ela lembra que as mulheres eram mais “cheinhas” e tinham contornos, sem muito exagero. Ela se considera da “velha guarda” e afirma que assiste pouca televisão, e, talvez por isso, suas principais referências do belo sejam mulheres de antigamente, que “tinham um rosto mais quadrado, diferente”. Ela declara que a beleza de antigamente é mais interessante e acredita que a homogeneidade do que é considerado bonito “é o caos”. Ela cita a Sophia Loren e a Grace Kelly como mulheres “lindas”, e a Angelina Jolie, a Michelle Pfeiffer e a Carla Bruni, as mulheres belas da geração atual

c. Como percebe o comportamento em relação à beleza, na sociedade carioca.

Bianca acredita que a mídia desempenhe um papel fundamental na percepção de beleza da população. Ela comenta que as manequins têm um tipo de “beleza gay”, “são todas esquálidas”, assim como “os estilistas” que ditam a moda das passarelas: “não têm bunda, não têm quadril, não têm coxa”. Desse modo, algumas mulheres tentam seguir esse padrão e “ficam enlouquecidas porque têm cintura demais, porque têm quadril demais”. A dermatologista também comenta que as propagandas que aparecem nos meios de comunicação são mais um fator que contribui para o aumento da demanda pelos tratamentos estéticos. Ela lembra adolescentes que vão a seu consultório para manter pele bonita, “tudo bem, odiar espinha e cravo, mas a demanda de cremes hidratantes é uma coisa da mídia”. Ela relata o caso de uma paciente que foi à consulta com sua filha de 11 anos; nessa família, a pressão para cuidar da pele vinha da criança, enquanto a mãe dizia que “não ia abandonar o sol”, quando deveria ser o contrário. Bianca comenta que, em geral, o nível de cuidado das mulheres consigo mesmas tem relação com sua fase de vida. Ela afirma que, nessa sociedade, o dia-a-dia é muito corrido e não há tempo para se cuidar. No entanto, quando os filhos “vão embora” essa mulher muda seu referencial e, só assim, consegue voltar seu olhar para si. Desse modo, ela fica contente quando os outros notam essa mudança e alguém comenta como está mais jovial; a paciente conta para a entrevistada que "todo mundo está reparando" e ela fica muito feliz por isso.

A dermatologista afirma que as maiores reclamações, em seu consultório, estão relacionadas a celulite, a estria e ao envelhecimento facial. Segundo Bianca, as mulheres não querem ter celulite, ela conta que acha “divertido” elas se queixarem disso, mas não fazerem nenhum exercício físico para mudar a situação, “o que é uma contradição”. Ela acredita que todas procuram por “um milagre”, “uma vida fácil”, o que ela considera uma característica da natureza humana. Já o envelhecimento facial é percebido por ela quando suas pacientes se incomodam com o “sulco nasogeniano”, próximo ao nariz, com o “bigode chinês”, próximo à boca e com a glabela, entre as sobrancelhas. No entanto, a entrevistada esclarece que as rugas mais acentuadas são queixas de pessoas com 60 anos, “algo que incomoda muito”.

Bianca explica outro fato recorrente do processo de envelhecimento: o desaparecimento labial. Logo, muitas pacientes querem fazer o preenchimento para resgatar sua boca, pois existe uma “expectativa de transformação”. Do mesmo modo, um ídolo serve como inspiração para mudanças no corpo. Assim, a entrevistada relata a história de uma mulher que foi ao consultório de um cirurgião plástico e, apesar de essa paciente ter gostado do resultado da cirurgia, ela fez o seguinte comentário: "poxa, mas não fiquei parecida com a Vera Fisher". Por isso, ela afirma que cuidar da saúde mental é essencial, “senão ficam aquelas almas vazias em busca da felicidade através de uma beleza que não chega nunca.”

A dermatologista acredita que o avanço das pesquisas e das tecnologias que possibilitam o rejuvenescimento somado à dificuldade em aceitar o envelhecimento faz com que as pessoas “paguem qualquer preço pelos tratamentos estéticos”. Logo, ela reflete sobre a diferença entre o que significa gastar dinheiro com medicamentos e consultas médicas por problemas de saúde e o que significa despender valores financeiros por questões estéticas. “Ninguém quer gastar dinheiro com o que é perda: ficar doente já é ruim e ainda precisa perder dinheiro, precisa pagar um médico para ficar bom. Já, para ficar bonito, para viajar e ter prazer vale tudo. Assim, as pessoas são capazes de passar muitos apertos para comprar uma bolsa que desejam, fazer uma viagem, fazer um procedimento ou uma plástica”. Além disso, ela afirma que certas crenças oriundas de um histórico social contribuem para que, no inconsciente coletivo, os indivíduos não concordem com a prática da cobrança financeira por cuidados com a saúde: “tem toda a coisa da religiosidade”.

d. A relação entre médico e paciente.

Segundo Bianca, os dermatologistas devem estar atentos ao que está “circulando” no mercado, pois “podem sair coisas mirabolantes dali”. Ela escuta, frequentemente, as mulheres falarem que leram matérias sobre tratamentos estéticos em revistas de salão de beleza, com na “Boa Forma e na Corpo & Saúde”. Algumas dessas pacientes apresentam um problema que a dermatologista percebe que está aumentando na sociedade, que é a busca por uma aparência que não existe. Ela acredita que, “no fundo”, seja uma questão psiquiátrica de deformidade do seu self e preocupa-se, pois ela acredita que os dermatologistas não estão preparados para cuidar desse tipo de paciente. Ela relata que, além dessa falta de educação médica, há a questão do ganho financeiro com os tratamentos

estéticos e da ética profissional, envolvidas no assunto. Ela, ainda, esclarece que essa questão é tema cada vez mais recorrente nos congressos de dermatologia.

A dermatologista afirma que sua postura em relação à essa paciente “doente” é conversar com ela, esclarecendo que há um problema psiquiátrico envolvido. Ela conta que o médico deve tomar cuidado para não entrar “nessa maluquice” e, para isso, ela aborda quais são as expectativas do tratamento, mostrando a realidade e as dificuldades da solução. Durante a consulta, ela também questiona quais outras questões (psicológicas) que levaram o paciente àquele tratamento, “senão ele vai ficar frustrado com o resultado”. Ainda assim, ela afirma que alguns pacientes acabam procurando outro profissional para fazer o que desejam: “Têm alguns que atingem o meu limite e eu não atinjo o limite deles, então irão procurar outro médico”. Bianca comenta que não se frustra com essa atitude, ela considera que isso faça parte da relação médico-paciente.

A entrevistada atribui à sua idade e à sua experiência a tranquilidade para lidar com suas pacientes, inclusive com aquelas que retornam ao seu consultório para “consertar” algum procedimento que ela havia se recusado a fazer, por não concordar que o resultado ficaria satisfatório. Todavia, ela acha que essa paciente não deve reclamar do médico que realizou o procedimento, pois “buscou um profissional que concordou com seu ponto de vista” e o tratamento não atendeu as expectativas esperadas. Bianca também comenta a dificuldade em conseguir que seus pacientes mais novos “deixem de ir à praia ao meio-dia e usem o filtro solar adequadamente, para prevenir o envelhecimento”.

e. O processo de envelhecimento.

Bianca entende que o ser humano tem dificuldade em lidar com limites e a idade é um “limite implacável”. Assim, ela afirma que envelhecer é algo muito dolorido, principalmente em uma sociedade que cultua a juventude. Segundo ela, isso acaba gerando uma competitividade entre as mulheres mais velhas e mais novas.

A dermatologista reflete que o fato da mulher “sair de casa” fez com que ela quisesse retardar seu envelhecimento e uma conseqüência foi a “mudança da faixa etária da velhice”. Ela reconhece uma modificação de comportamento no modo de vestir-se das mulheres de meia-idade, por exemplo. No entanto, ela considera que identificar qual idade representa a meia-idade é algo complexo. Para ela, seria após os 50 anos, mas pela exigência social, algumas mulheres acham que estão na meia-idade com 40 anos. A entrevistada atribui isso ao descompasso entre a mente, que ainda está muito ativa, e o corpo, que já apresenta, por exemplo, dor ciática, tendinite e dificuldade em realizar certos movimentos. Ela, ainda, explica que, antigamente, a mulher de 40, 50 anos era avó e, mesmo que ela tivesse sexualidade ativa, isso não era reconhecido. Já, na sociedade contemporânea, as mulheres dessa idade são bonitas, namoram, passeiam e também podem ser avós.

Em sua escala de “quedas”, Bianca declara que a mulher dos 20 para os 30 anos “tem uma quedinha”, dos 30 para os 40 anos a queda “é maior”, dos 40 para os 50 é um “negócio arrasador” e

“gera muita crise”, “com 60 anos, você tem que se acomodar, mas isso não quer dizer que você não vá ficar bonita”. Já, a maioria dos homens estão bem com 40 anos e, se, “antigamente, o cara tinha uma amante, agora ele sai de casa ou nem se casa”. Ela relata que essa diferença mexe muito com a mulher.

f. Mulher de 30, mulher de 50: como são suas pacientes em cada estágio da vida.

Mulher de 30 anos: A entrevistada relata que o discurso dessas pacientes é: "cheguei aos 30 e

preciso começar a me cuidar". Ela se lembra que muitas mulheres perguntam o que deveriam fazer em relação ao cabelo, aos lábios. Segundo a dermatologista, aos 30 anos já aparece alguma “ruguinha no sulco nasogeniano” e o corpo começa a modificar. Ela também menciona que, dependendo da constituição física da mulher, já há queixa em relação aos lábios. Ela esclarece que, com essa idade, algumas mulheres querem aplicar o botox para congelar totalmente a testa ou para mexê-la discretamente, para prevenir algumas rugas, “assim, esse sulco vai se formar muito lentamente”. Ela se lembra que, quando tinha “30 e poucos anos”, reparou na primeira “preguinha do pescoço”, entrou em desespero e sua minha mãe lhe disse: "minha filha, não tem saída".

Mulher de 50 anos: Ela relata que essas pacientes reclamam das rugas da fronte, dos olhos, entre as

sobrancelhas e do sulco nasogeniano. Ela afirma que as mulheres se queixam que suas rugas estão mais proeminentes. A entrevistada conta que, nessa idade, as rugas e a flacidez se acentuam, fazendo o “bigode chinês” e “as bolsas de buldogue” que começam aos 40 anos, muito suavemente. Ela declara que o sol ajuda a aumentar a flacidez da pele - “ele quebra as fibras elásticas” – e, em uma cidade como o Rio de Janeiro, as mulheres são muito afetadas por seu efeito.

g. Os cremes anti-idade: o que pensa sobre sua funcionalidade.

A entrevistada afirma que o rosto responde muito bem às tecnologias anti-idade, mas o corpo não, logo é necessário malhar e se alimentar bem para ter algum resultado. Ela assume que, com alguns cremes anti-idade é possível melhorar a textura da pele, clarear e tornar a pele menos irregular. Segundo ela, uma pessoa que usa ácido retinóico e se protege do sol ficará com a pele bonita e com o viço, mesmo envelhecendo. Ela afirma que esse ácido é a substância consagrada como “o grande creme anti-idade”. “A vitamina C também ajuda” e, recentemente, apareceu o ácido hialurônico. Contudo, é necessário mais tempo para confirmar a eficácia desse último. Ela diz que não pode opinar sobre outras substâncias e afirma que, com tanta novidade no mercado, tem dificuldade em “dar conta de tanto detalhe, de tanta molécula”. Ela também comenta que muitas pesquisas sobre novas substâncias não são representativas.

h. Industrializado x Manipulado

Bianca considera que há pouca concorrência na indústria de cremes prontos, já que quase todas as marcas pertencem a L´Oréal. Por isso, ela acredita que, quando um creme novo é lançado, muitas vezes, a fórmula muda pouco e como é composto por “350 mil itens” é complexo analisar e difícil

conhecer todas as moléculas do cosmético. Já os produtos manipulados, ela gosta de utilizá-los quando quer uma fórmula mais restrita, com substâncias mais antigas e conhecidas.

A dermatologista comenta que os alemães pesquisam muito e trabalham com coisas muito “esquisitas”. Ela sempre recebe informações da indústria de cosméticos desse país. Ela gosta muito da marca Eucerin, pois apresenta estudos científicos. Ela pensa que é importante o médico buscar embasamento em pesquisas e cobrar isso da indústria: “Já que eu tenho que prescrever um creme que tem um custo muito alto, eu quero uma resposta boa dos produtos”. A entrevistada também prescreve alguns produtos da marca La Roche-Posay e da Vichy.

i. As Marcas: o que pensa das marcas apresentadas – Avon (Renew), Vichy, La Roche-Posay, Natura (Chronos) e Lancôme e Innèov

La Roche-Posay: Bianca acha que o produto desta marca contribue para melhorar a pele, mas não se

trata do ácido retinóico.

Avon (Renew): Ela não conhece seus estudos científicos, logo, não prescreve os produtos desta

marca. Todavia, quando uma paciente lhe diz que adora algum de seus cosméticos, ela não se opõe ao uso, pois não faz mal.

Dermage: A entrevistada afirma que gosta dos produtos desta marca. Ela conta que a fórmula é mais

restrita, então, é mais fácil de analisar.

Innéov: Ela acha o produto desta marca muito interessante, mas precisa de mais tempo no mercado.

Ela declara que já leu sobre os estudos, mas não sabe “até que ponto funciona, até que ponto é uma substância que está sendo ingerida e até que ponto pode ocorrer uma reação”.

Vichy: Ela afirma que são cosmecêuticos, “pode ter palmitato de retinol ou vitamina C”. Natura (Chronos): Sua opinião sobre a Natura e a Avon são a mesma.

Lancôme: A dermatologista lembra como ficou feliz quando a revista Veja fez uma reportagem sobre

os cosmecêuticos, afirmando que nenhum deles têm a dose necessária para provocar uma mudança. Ela considera todos umectantes, mas acha que a Lancôme é quase como a Avon.

j. O não consumo de produtos anti-idade.

A dermatologista conta que há mulheres que acham os procedimentos anti-idade muito agressivos e preferem continuar com as rugas mais acentuadas. Ela afirma que não costuma perguntar diretamente sobre um problema de pele que está visível, prefere uma abordagem mais sutil, questionando se ainda há outra queixa: “Se o paciente fala: ‘não, só queria resolver isso’, para mim acabou a consulta”.

Bianca comenta que as mulheres que preferem não utilizar nada são pessoas que trabalham bastante, são da geração "podes crer" e acham que tudo é agressão, “tomar remédio é agressão”. Ela reflete se isso pode ser uma defesa pelos custos dos tratamentos ou a crença que irá ocorrer um milagre e a paciente ficará com a pele jovem sem precisar se cuidar.

Lucia

Lucia tem 52 anos, graduou-se em medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1981. Fez pós-graduação, mestrado e doutorado em dermatologia pela UFRJ e trabalha na área desde sua formação. A entrevista foi realizada no Hospital Universitário

a. A decisão de trabalhar com dermatologia (cosmiatria) e o público com quem trabalha. Lucia conta que é uma dermatologista referenciada em dermatologia clínica, doenças. No entanto, ela argumenta que faz parte do trabalho do dermatologista tratar, tanto, de problemas clínicos quanto estéticos, “não existe você não fazer alguma coisa de estética quando você está no mercado de trabalho”.

No consultório de Lucia, muitos pacientes a procuram por questões estéticas, a maioria, mas a dermatologista diz que “aos 30 anos de profissão reservo-me o direito de selecionar o que eu não quero fazer em estética”. Por isso, apesar do número elevado de pacientes que buscam estética, trabalha mais com pacientes clínicos: “eu faço efetivamente talvez 70% de dermatologia clínica e 30% de dermatologia estética”. A entrevistada explica que não gosta de trabalhar com “a parte supérflua” da estética. Ela se interessa pela estética que envolve o envelhecimento, a possibilidade de “melhorar a qualidade de vida” do paciente, mas “não aquela busca alucinada pelos anos de vida perdida, a pessoa tem 60 anos e quer aparentar 20”.

Como ela trabalha tanto em uma instituição pública quanto em consultório particular, percebe uma nítida diferença entre seus pacientes. No serviço público, o poder aquisitivo das pessoas é bem menor e não há muita demanda “de estética por estética”. Já, no consultório particular, recebe muitas pessoas “alucinadas”, em busca da beleza.

b. Conceito de beleza: como define a beleza e descreve uma mulher bonita.

Lucia considera que a beleza é um movimento “que vem de dentro” e acredita que o bem-estar e a harmonia são fundamentais em sua definição. A dermatologista afirma que, “mesmo com rugas” e “com cabelo branco”, é possível “ter a beleza”. Então, pondera que a “combinação das coisas” é o importante, o que não significa “tudo estar lisinho, esticadinho”.

A entrevistada utiliza o termo harmonia para descrever uma mulher bonita. Ela explica que a boca deve harmonizar com os olhos, com o nariz e com o cabelo. Segundo Lucia, “o conjunto deve

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