4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DAS INFORMAÇÕES
4.6 O NÃO CONSUMO DE PRODUTOS ANTI-IDADE
Os dermatologistas pesquisados parecem concordar que são poucas pacientes
adeptas do “envelhecimento natural” (NADIA). Contudo, eles fazem diferentes
observações quanto à motivação pela qual algumas mulheres escolhem não utilizar
produtos anti-idade:
O primeiro aspecto considerado é a maior aceitação da aparência envelhecida
quando a idade da mulher já é avançada. Alguns médicos da pesquisa parecem
perceber que suas pacientes que escolhem não utilizar produtos antienvelhecimento
são mulheres “de 70 anos para cima” (ISIS), que têm uma boa aceitação da vida que
tiveram.
“homem mais velho, mulher com setenta anos aí já não liga muito para essa parte de estética não. [...] Eu acho que é bem resolvida. [...] Depois que passa dos sessenta eu acho que a pessoa já aceitou assim. Eu acho que é muito por aceitação.” (OLGA)
Outro aspecto refere-se à crença de que não se deve intervir no envelhecimento do
corpo, pois as rugas fazem parte da história pessoal. Essas pacientes concordam
com Wolf (1992) ao considerar uma violência contra a mulher a tentativa de “apagar”
as rugas do rosto. Além disso, os entrevistados consideram que essas mulheres
felizes com sua autoimagem e que pertencem à uma geração que considera que
“tomar remédio é agressão” (BIANCA). Eles, ainda, observam que a felicidade das
pacientes e a sensação de bem-estar são conceitos que se misturam.
“As vezes o que eu estou vendo não está incomodando o paciente. Existe o que eu falei que o paciente vem com uma queixa de unha e para ele o rosto dele está bonito. [...] Eu nem proponho tratamento porque, as vezes, você até ofende a pessoa. Às vezes, a pessoa está se sentindo linda com o rosto, mas na verdade não está.” (Olga)
“São perfil completamente... envelhecimento natural, que nada você faça para intervir a forma como o seu corpo deve envelhecer. [...] dizem que fazem isso por uma opção e querem que as rugas marcam alguma coisa que elas passaram e tal, elas tem toda uma filosofia do envelhecimento natural.” (Nadia)
“Então a pessoa que... não se importa com a mancha, está bem com isso mesmo. Vou dar um exemplo: outro dia... eu vi Evandro Mesquita, é um cara que é feliz com a vida dele, que é todo largadão. É surfista, continua surfando. Está feliz da vida.” (Rafael)
O medo que algumas pacientes têm em se submeter a procedimentos muito
agressivos é outra motivação presente nos relatos, porém utilizam os cremes que é
um tratamento menos invasivo, parece fazer parte do que consideram um
“envelhecimento natural” (CLARKE, GRIFFIN, 2007). Do mesmo modo, na pesquisa
de Rosário (2006), as mulheres entrevistadas também parecem ter uma aversão ao
risco de alterar a aparência ou de ter sua saúde afetada ao tingir os cabelos.
Alguns entrevistados notam que as mulheres que não têm interesse em utilizar
produtos anti-idade trabalharam a vida inteira, mantendo-se ocupadas, por isso não
teriam tempo para se preocupar com a aparência. Contudo, essa afirmação é
contraditória com ao de que as mulheres bonitas e jovens tendem a ser mais bem
sucedidas (DION, BERSCHEID e WALSTER, 1972).
“São mulheres que trabalharam a vida inteira, sempre se ocuparam e tem outras cosias para fazer do que ficar passando creme. [...] Tem umas que não tem paciência ou: ‘não me passa essa coisa de passar um de manhã, um de tarde e um de noite. Me dá só um produto. Melhor um sabonete’.” (CARLA)
Já Elaine e Gabriela lembram que as mulheres que não consomem produtos de
beleza não têm cuidado com sua aparência, nem vaidade (ROSÁRIO e CASOTTI,
2008). Elas atribuem esse comportamento à preguiça.
“É descuidada com tudo, ela não está penteada, não tem nada no rosto, nem uma maquiagem, tem unha mal feita no sentido de que... não é que ela foi a manicure, ser uma pessoa bem cuidada não é uma questão de dinheiro, é uma questão de detalhes. A unha dela pode estar cheia de cutícula ou quebrada ou roída, mas basta você cortar e lixar, é uma coisa barata. Pentear o cabelo é uma coisa barata. Escovar o dente é uma coisa barata. [...] Por exemplo, três dedos de raiz branca... pelo amor de Deus, ninguém merece isso!” (ELAINE)
Bianca ainda reflete que o não consumo dos produtos anti-idade pode ser uma
reação contra os custos dos tratamentos, ou pode ser que as mulheres esperam o
milagre de manter a pele jovem sem precisar cuidar-se.
Também parece ser um pensamento comum entre os dermatologistas que pacientes
com doenças mais graves preferem, primeiro, solucionar a questão da saúde e
posteriormente pensar na estética. Mario relata que mesmo sem mencionar algo
relacionado à estética, as pacientes falam espontaneamente que irão “deixar para
depois o creme”:
“Agora eu vou ser muito sincero eu não sei se não optam ou se eu não coloco dessa forma. Então é a abordagem do paciente com a sua abordagem. Já aconteceu de eu falar para o paciente deixar a parte estética mais para frente, vamos ver primeiro essa parte da doença e tal.”
Novamente o olhar do outro é importante quando o assunto é estética (MITTAL,
2006). Alguns dermatologistas pesquisados notam que certas pacientes passam a
aceitar o tratamento estético quando “alguma amiga elogia” e percebe a melhora na
aparência. Talvez os entrevistados comentem esse comportamento por não
aceitarem que possam existir pessoas que, realmente, prefiram não tentar se
enquadrar em algum padrão de beleza.
“Geralmente, aos pouquinhos, aí tem alguma melhora, quando alguma amiga elogia, aí que ela se empolgam mais ainda. Geralmente a paciente gosta, acaba tendo o retorno. Eu acho que quando o outro percebe é muito importante, eu acho que é bem legal, ela se sente bem segura.” (JOANA)
“Não, tem pessoas que não tem realmente paciência para isso, é o jeito, todas as pessoas acabam se disciplinando a usar e acabam ficando mais satisfeitas” (KÁTIA)