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A IDEOLOGIA DA SEGURANÇA NACIONAL E A GLOBALIZAÇÃO

No documento ALEXANDRE SAMARONE SILVA DE SOUZA (páginas 34-37)

CAPITULO I 1 ORIGENS DA NOVA ORDEM PENAL MUNDIAL

1.2. A IDEOLOGIA DA SEGURANÇA NACIONAL E A GLOBALIZAÇÃO

Neste tópico procuramos encontrar as origens, os possíveis vínculos, relações ou mesmo

comprometimento entre a doutrina da Segurança Nacional e as políticas públicas de segurança atuais, cuja expressão são os programas de “Tolerância Zero” e suas origens históricas.

A Segurança Nacional poderia ser entendida como um conjunto de medidas de segurança destinadas a impor o respeito a uma ordem social justa. Se estas medidas estiverem sobre o

controle de um poder independente, capaz de julgar as violações das leis e medidas que possam assegurar o bem comum, estaremos diante de um sistema judiciário, que é necessário em

35 qualquer sociedade. Não está se referindo aqui a esta dimensão da vida e segurança da sociedade, mas da formação de uma política de segurança nacional cujos inimigos não são mais as “forças

comunistas alienígenas”, apesar da manutenção de valores ideologizados como Ordem Social, Paz Social, Paz da Família Nacional, dentre outros, mas da estigmatização de amplas camadas pobres da sociedade. Os miseráveis são, hoje, considerados os inimigos a serem combatidos pelas

forças produzidas no âmbito do sistema social, os reflexos dessas políticas públicas sociais, que são mais políticas de contenção dos miseráveis, via encarceramento nas prisões, pode ser comprovado pelo nível sócio-econômico e educacional dos presos do Brasil e de outros sistemas penais do mundo.

Depois da Segunda Guerra Mundial, o mundo foi dividido em dois grandes mega-blocos que tinham por fundamentos ideológicos uma visão diferente em termos de político-econômicos e modo de produção e distribuição das riquezas: o capitalismo, representado pela maior potência

política e militar do ocidente, os Estado Unidos da América, e o socialismo, liderado, no mundo oriental, pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Esses dois países criaram uma vasta influência geopolítica em torno de si após a Segunda Guerra Mundial e lutavam para conquistar hegemonia política, econômica, militar e cultural sobre os outros países e que ficou

conhecida como Guerra Fria e durou de 1945 a 1989.

Entre os parâmetros principais da ideologia da Guerra Fria estava o combate ao comunismo. Esse modelo político-econômico adotado pelos países socialistas se opunha, diametralmente, à lógica de liberdade de mercado do mundo capitalista. Por esse motivo, entre

outros, a ideologia capitalista pregava o combate ao comunismo, satanizando os defensores e ideólogos desse regime. Ficou notória a criação de organizações, entidades, grupos para-estatais e institucionais que perseguiram os simpatizantes e defensores dos ideais do comunismo. O reflexo

36 dessa pregação anticomunista se fazia nas escolas, empresas, órgãos públicos, instituições militares, igrejas, dentre outros, e foi irradiada para outros países como ideologia e pregava a

salvação dos valores nacionais, cristãos e da propriedade privada contra a expansão do comunismo pelo mundo. Tanto a Europa como países da América Latina sofreram, direta e indiretamente, intervenções dos EUA, seja por meio de operações militares ou de projetos,

programas e financiamentos, para lutar internamente contra partidos, associações, sindicatos e intelectuais que fossem considerados de inspiração comunista.

No Brasil, a expressão do anticomunismo internacional deu-se de várias maneiras. A criação da Lei de Segurança Nacional (LSN), em 1964, a partir do golpe militar, é apenas e,

talvez, a mais visível manifestação da Doutrina ou Ideologia da Segurança Nacional. Acreditamos que a LSN é a origem ideológica das atuais políticas públicas de segurança que se internacionalizaram a partir dos Estados Unidos da América. Nas suas origens havia objetivos

específicos como neutralizar e combater o comunismo por meio da pregação da ameaça aos valores da civilização ocidental; para isso, vários países criaram suas próprias formas de repressão ao inimigo externo. A Lei de Segurança Nacional, exacerbando essas ameaças, passa a ver e interpretar toda a realidade social e os fenômenos sociais e a agir na perspectiva da proteção

aos valores sociais, já distorcidos, da própria exacerbação ideológica.

Como toda ideologia, também a Ideologia da Segurança Nacional tende a absolutizar-se como única interpretação, como visão objetiva, suficiente e adequada à realidade. Por ser ideologia é parcial, mas apresenta-se como interpretação coerente, completa e objetiva de toda a

realidade e dos fenômenos sociais. A ideologia é um fenômeno que mostra e revela certos aspectos da realidade e esconde outros. Fantasia e distorce os próprios aspectos da realidade que manifesta. A paz social, o amor à Pátria, a segurança da família, dentre outros, se tornam valores

37 ideologizados de tal forma que escondem a realidade de injustiças estratificadas, de desordem real do sistema econômico e de eliminação real da liberdade. Esta interpretação da realidade

(Segurança Nacional) tem profundas relações com os interesses de determinados grupos sociais e visa a ordenação e orientação da prática social e à colocação de todos os mecanismos da sociedade a serviço e em função dos interesses desses mesmos grupos.

Ao ser sancionada a Lei de Segurança Nacional, a ideologia da segurança nacional se consolida não somente na dimensão institucional, haja vista que ela se disseminou em outros setores da sociedade como educação, igrejas, famílias, iniciativa privada, corporações publicas e instituições militares. No entanto, é difícil, avaliar os efeitos da LSN nesses setores, mas ela terá

grande impacto sobre o Sistema de Segurança Nacional,

A ideologia da segurança nacional conseguiu impor-se em numerosas sociedades civis latino-americanas por força do poder, não apenas o poder das armas, mas o poder de controle sobre o MCS, o poder político e econômico, não só de grupos interessados internos, mas também por força, apoio e estímulo externo de forças e grupos aos quais interessava esse tipo de “Ordem Nacional, Segurança Nacional, Paz da Família Brasileira” (CASTEJON e DICK, 1984, p. 162).

Numa cultura social limitada a padrões morais, a intolerância é um aspecto a mais a

contribuir para tornar inimigo o diferente. Nesse caso, todos aqueles que são tomados como ameaça aos valores morais devem ser eliminados ou terem suas forças de reação cerceada. Nos anos da ditadura militar e mesmo posteriormente, continuou-se a discriminar os movimentos

sociais e os setores que lutavam ao lado dos segmentos sociais menos favorecidos.

No documento ALEXANDRE SAMARONE SILVA DE SOUZA (páginas 34-37)