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INFORMATIZAÇÃO DA GESTAO PRISIONAL

No documento ALEXANDRE SAMARONE SILVA DE SOUZA (páginas 152-155)

CAPÍTULO VIII 8 ORGANIZAÇÃO INTERNA

8.1. INFORMATIZAÇÃO DA GESTAO PRISIONAL

A introdução da informática nos serviços administrativos das casas penais nos anos 90 se tornou um dos principais instrumentos da gestão da população carcerária no Estado do Pará. Hoje quase todo o sistema de informações das prisões opera registrando e trocando informações por

meio de computadores. Pode-se pensar num processo de modernização influenciado pela reforma do aparelho burocrático do Estado brasileiro nos anos 90 e a adoção do gerencialismo de resultados baseado na informação objetiva em tempo real. Porém, engana-se que a informática

153 tenha representado uma revisão dos conteúdos dos procedimentos administrativos ou a humanização no tratamento dos internos. Apesar da idéia de transparência que a informática,

principalmente com a estatística, traz, a burocracia prisional conserva, fortemente, o sigilo e o segredo de certos procedimentos dentro da prisão, muitos para ocultar abusos e desmandos ilegais contra os internos.

È uma situação que mostra que a transparência dos procedimentos burocráticos em todo o sistema de justiça penal é relativa, ou seja, os princípios do segredo e do sigilo predominam sobre os outros e também servem para encobrir as deficiências mesmo com a introdução da tecnologia do maior controle do poder público crescente na administração pública. A ocorrência de

distúrbios no cotidiano e de uma série de abusos e práticas ilegais (perda de documentos, processos, prontuários dos presos, retirada dos benefícios ocasionais como saídas que a Lei de Execução Penal permite), que se repetem diariamente dentro dos presídios não é registrada nas

estatísticas porque não há interesse na divulgação desses fatos.

A celeridade processual é uma das principais exigências dos internos do sistema penal principalmente para a maioria dos presos que estão recolhidos às casas penais sem julgamento, os chamados provisórios. Saber como anda o seu processo é fundamental para um interno poder

exigir sua progressão de regime penal, receber os benefícios da Lei de Execução Penal e conquistar a liberdade de forma gradual.

A informatização dos serviços jurídicos no sistema penal foi um passo decisivo para que a gestão tivesse um controle mais efetivo sobre a vida de cada interno e isso, então, representava

maior celeridade nos procedimentos administrativos, logo, no andamento dos processos dos internos. Atualmente, quase todas as maiores casas penais da Região Metropolitana de Belém tem serviço de informática especializado em administração penitenciária. Essa modernização talvez

154 decorra do aumento vertiginoso da população carcerária motivado, entre outros fatores, pelo aumento da criminalidade no Estado. A superlotação das casas penais inquieta não só

politicamente as autoridades públicas, mas também onera o sistema como um todo, então, se tornarem necessários, novas ferramentas de gestão dessa complicada instituição que priva a liberdade dos indivíduos.

A interiorização do sistema penal pode ser compreendida como outro mecanismo estratégico de dispersar o perigo da concentração de conglomerados penitenciários em um único lugar; para isso, a introdução das redes de informatização de procedimentos e decisões foi importante porque permite maior poder decisório e de comunicação articulada com os outros

órgãos de segurança pública. O uso da tecnologia também chegou ao sistema prisional trazendo a crença na transparência e de maior controle da gestão prisional, porém, é necessário destacar que a chegada da tecnologia se deve mais à expansão das casas penais pelo interior do Estado e a

informatização dos serviços públicos.

A informatização do sistema penitenciário vem tornando a burocracia prisional mais transparente, já que boa parte da documentação e dos procedimentos é registrada em um sistema controlado a partir de uma cadeia hierárquica. Cada vez mais os gestores que, guiados pela

doutrina do gerencialismo, implantam uma gestão administrativa cuja origem ideológica faz parte de um processo muito mais amplo: a redução do aparelho burocrático dos Estados Nacionais em prol da ascensão da economia de mercado. Essa lógica faz parte do ideário liberal que irradiou pelo mundo e tomou conta no final dos anos 70 e 80 quando a crise financeira mundial encontrou

no Estado o seu principal vilão. Mas para quem a informatização do sistema penal é útil, para os presidiários ou para essa classe que tem poder político e econômico para implementar um reforma de Estado como a que vem ocorrendo no Brasil ?

155 Com receio da explosão mundial da miséria e da ameaça de que essa população viesse a se constituir na maior ameaça ao sistema de produção mundial as classes dominantes se

apropriaram da burocracia pública através da onda de reforma do Estado. A reforma e ampliação dos sistemas penais com novas políticas de segurança e regimes prisionais cada vez mais rígidos (veja-se o programa “Tolerância Zero” e o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) já em uso no

Brasil a partir de 2003), a lei de crimes hediondos e a pratica do isolamento celular através dos novos modelos arquiteturais de prisões, assim como o problema da segurança pública se tornaram essenciais nos planos de governo.

Com a chegada de inovações tecnológicas para a área penal, as classes mais beneficiadas

da sociedade, justamente as que se sentiam ameaçadas com a explosão da violência, readaptam a prisão como instituição de contenção em massa da miséria social, que é de onde se recruta os criminosos, e, sobretudo, com essa tecnologia, podem ter na prisão um instrumento de controle e

de repressão mais eficaz. Trata-se de um processo histórico que engloba a apropriação das instituições sociais e políticas por uma classe econômica que tem nos miseráveis potenciais inimigos porque são considerados como a origem da violência e da criminalidade que ameaça a reprodução do sistema econômico que sustenta a sociedade capitalista, logo, a reforma do

aparelho prisional, tornando-o moderno, ágil, eficaz e severo é uma forma de neutralização da miséria. (WACQUANT,1999).

No documento ALEXANDRE SAMARONE SILVA DE SOUZA (páginas 152-155)