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A COLÔNIA PENAL “HELENO FRAGOSO”.

No documento ALEXANDRE SAMARONE SILVA DE SOUZA (páginas 164-167)

Programas de Ressocialização SUSIPE/ convênios

8.5. A COLÔNIA PENAL “HELENO FRAGOSO”.

A Colônia Agrícola Penal “Heleno Fragoso”, instituição prisional pertencente ao Sistema

Penitenciário Paraense, funciona com base no regime semi-aberto. Foi fundada em 1979 por iniciativa de dois funcionários da Superintendência do Sistema Penal e inaugurada em 1986. Para lá são transferidos os internos do regime fechado que cumpriram mais de 1/6 da sentença e estejam com bom comportamento. Distante de Belém 68 km, está localizada na Vila de

Americano que pertence ao município de Santa Izabel do Pará, estando sua área dentro do complexo prisional de Americano nos arredores do Centro de Recuperação de Americano I e II, do presídio de segurança máxima PEM III e do Centro de Recuperação Especial “Coronel

Neves” e do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico. A colônia conta com 262 internos numa extensão de 500 hectares onde os mesmos desenvolvem projetos de criação de caprinos,

165 bubalinos, aves, produção de tijolos para construção, laticínios, suínos e diversos tipos de hortas. Por estarem no regime aberto e semi-aberto os internos labutam durante o dia entre 07:00 e

17:00h e são recolhidos a partir das 18:00h.

Na Colônia Penal, as saídas previstas na Lei de Execuções Penais (dia dos Pais, Mães, Círio, Natal e Final), mais o aniversário, licença concedida desde que o interno tenha cumprido

1/6 da pena e tenha 30 dias de trabalho nos projetos da colônia são avaliadas em conjunto entre a direção da casa penal e a Vara de Execução Penal. A expectativa dos internos em face dessas liberações anuais é sempre precedida de muita tensão. São nesses períodos de pré-licença, normalmente mais de seis dias, em que na conduta dos internos são avaliadas as faltas, erros,

desrespeito, indisciplina, desavenças e outros tipos de transgressões.

A liberação dos internos para gozar as saídas previstas na Lei de Execução Penal depende de critérios como produtividade e comportamento. A produtividade diz respeito ao desempenho

pessoal do interno no projeto e no trabalho a que o mesmo esteja vinculado dentro da Colônia. Ressalte-se que a decisão de pertencer ao projeto não depende da decisão do interno, mas de uma junta que avalia as suas habilidades e aptidão intelectual para o serviço. A situação jurídica de um interno, como tutelado do sistema penal e alguém sentenciado pela justiça, exigem algumas

objeções ao critério de produtividade aplicado na Colônia Penal.

Na prática, o interno é observado pelos instrutores e coordenadores do projeto durante a carga horária diária, de segunda a sexta feira, divididos entre os 10 projetos da Colônia. A fiscalização do trabalho é constante e obedece a uma cadeia hierarquizada de comando e funções,

de forma que todos vigiam a todos durante todo o dia, tendo o comportamento do interno seu principal foco. O foco na produtividade, em alguns momentos, parece uma falsa desculpa para vigiar o comportamento dos internos.

166 Os parâmetros para mensurar tal produtividade são confusos, até porque o trabalho penal não visa lucro, não tem intenção deliberada de responder à concorrência do mercado ou a uma

situação de sobrevivência comercial como as instituições privadas entre si. Sendo uma instituição pública do sistema penal, a colônia é mantida com os recursos do Estado, por isso, não lhe cabe gerar receitas para se auto-gerir. O trabalho penal não compete e não tem concorrência ou mesmo

inimigos econômicos. As mercadorias produzidas possuem baixo valor agregado e são compradas ou distribuídas entre os órgãos públicos. Os projetos de trabalho existentes na Colônia Penal não são viáveis do ponto de vista econômico, numa lógica de mercado. Esse trabalho não gera excedente em capital suficiente para ser reaplicado nos fatores de produção da colônia.

Então, por que exigir produtividade do interno? O trabalho penal não dá retorno financeiro e a divisão do “lucro” gerado pelo trabalho entre os participantes do projeto carece de sentido. Foucault (1979) explica que o trabalho penal tem uma função econômica vazia, não tem porque

gerar lucro, seu objetivo é implantar um código moral que controle a vida do interno para o trabalho, a poupança e a disciplina.

A colônia penal, local do regime semi-aberto, é o penúltimo passo para a liberdade dos internos. Eles ainda podem ser mandados para os albergues onde um outro tipo de

acompanhamento é dispensado aos mesmos. Na colônia penal todos os internos já entram sentenciados, não há presos provisórios, situação que facilita o trabalho da casa penal. Segundo o vice-diretor, Sr.Miranda, já houve momentos de superlotação com a capacidade excedida em 300 internos, mas como o fluxo (entrada e saída) é intenso, essa oscilação permite um controle mais

estrito, o que também favorece a não formação de lideranças ou grupos de reivindicação e organização de fugas em massa. Estando localizada em pleno centro do complexo penitenciário

167 de Americano, a colônia fica numa posição privilegiada de vigilância, está no centro do complexo de prisões de regime fechado.

O vice-diretor da Colônia informou que a evasão é constante. A vigilância é precária na colônia porque o número de agentes penitenciários, em trabalho de regime de plantão de 24 horas a cada dois dias, é insuficiente para uma vigilância mais ostensiva. Na média tem-se fuga de dois

a três internos por mês. A política de punição do regime semi-aberto, com base o que diz a Lei de Execução Penal é que a fuga será punida com a regressão do interno para o regime fechado, perda de benefício e o aumento da pena em ¼ do total. Mesmo na administração da Colônia em que os internos não são contabilizados e até mesmo aqueles que saem com beneficio das licenças

podem ser dados como evadidos, seja por qualquer erro de controle ou mesmo por má fé da administração. Até 2006, o controle de liberação para o gozo das licenças na Colônia Penal era feito manualmente, sem recursos específicos da informática para esse fim e, além disso, a falta de

pessoas capacitadas para essa tarefa.

Os prontuários dos internos contendo seus documentos, fichas de registro, anotações da vida pregressa e pareceres dos técnicos e profissionais do sistema penal ficam arquivadas em pastas, guardadas em arquivos antigos. No caso das liberações da licença para o dia dos pais em

agosto de 2006, eram analisados caso a caso, repassados as informações sobre o comportamento do interno desde sua ultima liberação. Nesse caso a informatização do sistema poderia facilitar e tornar mais impessoal as decisões sobre pareceres do comportamento dos internos e também mais céleres. Os internos reclamam, permanentemente, de perseguição e rixa pessoal dos técnicos

contra sua pessoa. Uma questão que não parece ter solução a curto ou médio prazo.

8.6. PENAS E MEDIDAS ALTERNATIVAS DO SISTEMA PENITENCIÁRIO DO

No documento ALEXANDRE SAMARONE SILVA DE SOUZA (páginas 164-167)