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A IGREJA “INTERNACIONAL” QUE AGRADA O PÚBLICO “NACIONAL”

Eu sou um milagre de Deus

TAXA DE ANALFABETISMO, POPULAÇÃO DE 10 ANOS OU MAIS (1920-1970)

4. A IGREJA “INTERNACIONAL” QUE AGRADA O PÚBLICO “NACIONAL”

Nesse capítulo quarto, a preocupação recaiu sobre a influência que a Igreja

Internacional da Graça de Deus exerce em relação a outros grupos religiosos,

principalmente, grupos do protestantismo histórico, mais especificamente sobre os presbiterianos. A escolha dos presbiterianos é justificada porque, ao exercer minhas atividades pastorais junto aos presbiterianos, pude verificar que os mesmos tinham um grande apreço pelo Missionário RR Soares, e acompanhavam suas programações midiáticas. Essa foi a fagulha inicial que determinou o projeto de pesquisa que desembocou nessa tese.

Vale ressaltar que não é intenção desse trabalho fazer qualquer ilação sobre o conjunto geral de presbiterianos, mas sim trabalhar com uma parte específica de presbiterianos que foram analisados nesta pesquisa. A pesquisa somente nos autoriza a dizer que os presbiterianos analisados agem dessa ou daquela forma em relação às mídias da Igreja do missionário RR Soares. Esta pesquisa não possui nenhum rigor estatístico, cabendo-lhe tão somente apontar através de uma amostragem algumas marcas deixadas pela força midiática da Igreja Internacional

da Graça de Deus sobre um grupo específico de presbiterianos. A pesquisa de

campo foi feita com 40 presbiterianos, das cidades de Campinas, Itapira e Rio Claro; cidades do interior de São Paulo, todos familiarizados, em maior ou menor proporção com as mídias da Igreja Internacional da Graça de Deus. Esta pesquisa foi feita pessoalmente e constava de 16 questões, sendo algumas abertas e outras fechadas. Nossa hipótese, antes de iniciarmos a pesquisa era de que existia uma

excelente recepção por parte dos grupos do protestantismo histórico em relação ao discurso efetuado pelo Missionário RR Soares, por meio de suas mídias. Nos parecia, num primeiro momento não haver por parte desse grupo a ser pesquisado, um entendimento muito claro sobre os pressupostos que embasam o discurso de Soares. Os protestantes históricos analisados aqui – os presbiterianos – geralmente não conseguiam, na nossa percepção, captar os postulados da teologia da prosperidade e da confissão positiva na prédica de Soares.

Neste capítulo quarto, serão trabalhados três tópicos, sendo que o primeiro deles é intitulado: A recepção da mensagem por parte dos presbiterianos. Pretendemos avaliar, através da pesquisa de campo, como os membros das igrejas analisadas recebem a mensagem proclamada pela IIGD, por meio de seu líder maior, o Missionário Soares. Pretendemos avaliar se incongruências doutrinárias entre o protestantismo histórico e o neopentecostalismo estão tão perceptíveis aos “clientes” semanais de Soares. Além disso, pretendemos avaliar por meio da pesquisa, que tipo de envolvimento, esses membros têm com a IIGD. Seriam eles somente telespectadores, ouvintes de rádio ou patrocinadores do programa Show da Fé? Além disso, seriam eles consumidores dos produtos disponibilizados pela Igreja Internacional da Graça de Deus? Eles adquirem produtos infantis e CDs de música dos cantores patrocinados pela IIGD? Essas e outras perguntas fizeram parte do questionário que foi utilizado na pesquisa de campo.

No tópico segundo, a ênfase foi no resultado que o discurso midiático da IIGD tem produzido entre os presbiterianos pesquisados e foi intitulado: Edificação,

Dupla Pertença e Transpentecostalismo.

Houve uma preocupação com respeito à assimilação doutrinária desses presbiterianos. No início da pesquisa, nossa suspeita era de que estaria ocorrendo uma dupla pertença, ou seja, muitos membros de igrejas históricas continuavam membros de suas igrejas, mas estavam sendo influenciados pelo modelo da Igreja Internacional da Graça de Deus. Estes membros viveriam uma dupla pertença, pois apesar de não abandonarem suas igrejas históricas nos finais de semana, durante a semana estavam sendo alimentados doutrinariamente e espiritualmente

por Soares. Esses membros de dupla pertença nutririam uma grande simpatia pelo discurso e pela prática doutrinária da IIGD e isso se devia à liderança carismática de Soares, pois apesar dele ser um representante do dito neopentecostalismo, sua base inicial foi o protestantismo histórico. Outra questão importante que foi percebida quando a pesquisa já estava concluída foi o fato de que, o modelo tipológico mais usado no campo de investigações religiosas sobre o pentecostalismo no Brasil, o modelo baseado em ondas, que inclusive foi usado, no decurso do trabalho, não conseguia hodiernamente captar a religiosidade brasileira, porque a mesma estava totalmente entrecruzada, mesclada, aproximando grupos que anteriormente estavam distantes, e isso se deve em grande parte ao papel que a mídia religiosa tem exercido dentro do campo religioso nacional. A mídia tem o papel de aproximar, de diminuir as diferenças doutrinárias pelo menos, valendo-se para tal de uma programação espetacularizada, que serve para criar uma identidade evangélica nacional, sendo que tal situação é muito favorável aos grupos midiáticos estabelecidos, que imprimiram os seus modelos e têm público consumidor para os seus produtos advindos das mais variadas matizes religiosas, contudo, quando os grupos religiosos históricos “baixam a guarda” para pertencerem ao grupo evangélico nacional criado pelas mídias religiosas, esses grupos têm sido afetados em suas próprias identidades.

E no terceiro tópico, do capítulo quarto, intitulado: Estaria acontecendo uma

“Internacionalização” do campo religioso nacional? pretendemos discutir se está

ocorrendo uma “internacionalização” do campo religioso no Brasil. Assim como, há alguns anos foi dito que ocorria naquele momento uma certa “iurdinização” do campo religioso no Brasil, desejávamos saber até que ponto a Igreja Internacional da Graça de Deus tem servido como espelho para outras igrejas, ou seja, como modelo de organização e empreendedorismo nas atividades de cunho religioso, principalmente no campo midiático.

4.1 A recepção da mensagem por parte dos presbiterianos.

A primeira questão que nos interessou foi saber se as pessoas entrevistadas

do meio presbiteriano tinham acesso às mídias da Igreja Internacional da Graça

de Deus por meio do programa Show da Fé, o programa televisivo que tornou

Soares uma “celebridade”, no meio religioso, e como suspeitávamos, todos os entrevistados tinham tido contato com as mídias da Igreja da Graça por meio desse programa. Quisemos saber, então, com que regularidade, os entrevistados assistiam ao programa em questão. As respostas ao questionamento apontam que 40% dos entrevistados assistem pelo menos 01 vez por semana, ao programa, 40% assistem pelo menos 02 vezes por semana e 20% assistem 03 vezes ou mais por semana.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 % 1 vez por semana 2 vezes por semana 3 vezes ou mais por

Como se pode perceber, o programa Show da Fé conseguiu tornar-se um

programa conceituado no meio presbiteriano analisado e possui, portanto, um público fiel, que se digna a ligar o aparelho de televisão em horário nobre e assistir a um programa de cunho religioso abandonando velhos hábitos, como, por exemplo, o hábito de assistir às novelas nesse horário.

O programa Show da Fé passou a ser um território virtual de destaque para os presbiterianos, onde as possibilidades de consumo da fé são entregues em domicílio.

E vale ressaltar que houve uma mudança de hábito mesmo, pois as pessoas entrevistadas assistem ao programa Show da Fé em TV aberta porque muitos deles nunca tiveram acesso à programação da RIT. Quando questionados se assistiam às programações da RIT, somente 17,5% dizem ter assistido a alguma programação nessa emissora. Confirmando o que dizíamos sobre o fato de Soares ser eminentemente um homem de televisão, o público que assiste a ele na TV não se interessa em acompanhá-lo no Rádio porque somente 7,5% dos entrevistados dizem ter ouvido alguma pregação por esse meio, não havendo nenhum referência ao acompanhamento assíduo e regular da Nossa Rádio. Outro dado importante é que mantendo o hábito de serem reconhecidamente leitores de textos escritos, 50% dos presbiterianos já tiveram acesso ao Jornal

0 20 40 60 80 100 Sim % Não % Assistem à RIT

Ouvem a Nossa Rádio Leram jornais ou revistas da IIGD