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Eu sou um milagre de Deus

TAXA DE ANALFABETISMO, POPULAÇÃO DE 10 ANOS OU MAIS (1920-1970)

3.7 Mídia Infantil

A mídia infantil da Igreja Internacional da Graça de Deus é representada pela revista “Turminha da Graça”. A versão atual da Turminha da Graça entrou em circulação em setembro de 2005. A revista é publicação mensal e visa a ser um canal direto de evangelização junto ao público infantil. Os personagens da Turminha da Graça são cinco crianças e uma cachorrinha, além da participação do Missionário Soares. Esses personagens, desde 2006, extrapolaram os limites da revista e foram criados bonecos que se apresentam nas igrejas da Graça e igrejas de outras denominações, além de festas e eventos. E em junho de 2008 passou a ser transmitido pela CNT, às 20:00h, um programa diário de auditório, intitulado Casa da Turminha na TV.

Na revista Turminha da Graça, a figura séria e compenetrada do missionário Soares é transformada em algo mais próximo para as crianças. Essa revista veio preencher uma lacuna que existia no ministério de Soares. Aliás, é ele mesmo quem escreve as pequenas histórias, que envolvem esses personagens em situações, que geralmente terminam com um ensinamento sobre a moralidade cristã. Soares escreve as histórias e ainda faz as letras das músicas que embalam as aventuras dessa turminha, cabendo a responsabilidade de musicá-las, ao músico, Carlinhos da Banda GERD.

Soares possui uma visão muito pragmática sobre a infância. Assim como ele converteu-se ainda criança, com seis anos de idade, na cidade de Muniz Freire – ES, ele acredita que as crianças devem desde cedo, buscar a Deus e servi-lo, e ao fazerem isso, elas se tornam instrumentos para atraírem seus pais para a conversão. É o que ele diz numa entrevista.

“A mensagem que deixo para as criancinhas é que elas são especiais para Jesus. Devem prestar atenção à Palavra de Deus e ser boas servas; assim, irão realizar- se em tudo. Façam como eu, busquei ao Senhor ainda criança, e toda minha família aceitou Jesus. Sirva a Cristo. Creia! Seus familiares também servirão a Ele!” (Revista Turminha da Graça, Ano 4, n. 28, p.25)

A revista Turminha da Graça não é uma novidade no cenário de mídia infantil no Brasil. Várias outras denominações usam ou usaram desse expediente para se comunicarem com o público infantil.

A revista infantil de cunho religioso mais famosa no Brasil é a Revista Nosso

Amiguinho, uma publicação da Igreja Adventista do Sétimo Dia. A revista Nosso

Amiguinho conseguiu um espaço muito grande junto à famílias de várias matrizes religiosas, pois, apesar de ser de cunho religioso, essa revista mascarava seus reais interesses pulverizando seus ensinamentos em tons moralizantes, distribuídos sobre o tripé família, pátria e igreja.

“A Revista ‘Nosso Amiguinho’, intitulada ‘A Revista das crianças do Brasil’ .O editorial aponta três temas constantes na publicação: família, pátria e igreja, delimitando o lugar da criança para a manutenção das instituições. Por igreja entenda-se o conceito de igreja universal de fiéis a Jesus Cristo. Não há menção a nenhuma igreja em particular, nem a cultos, pastores ou qualquer referência a práticas evangélicas. Mas o fato de não mencionar uma igreja, mas Igreja, poderia facilitar a aceitação da revista por famílias católicas “desavisadas”, sem prejuízo para suas crenças. (BELLOTTI, 2007, p.99)

Analisando a revista Nosso Amiguinho e a revista Turminha da Graça pode-se perceber algumas semelhanças e correlações entre ambas. Na revista Nosso Amiguinho há o cãozinho Azeitona, na revista Turminha da Graça há a cachorrinha Belinha. Na revista nosso amiguinho há um garoto, muito inteligente, chamado Sabino, que usa óculos e representa o papel de intelectual da turma, na revista Turminha da Graça há também um personagem, o Binho, garoto inteligente, que usa óculos e é o mais sabido da turma. Na revista nosso

amiguinho há um garoto negro chamado Zequinha e na revista Turminha da Graça também há um garoto negro, chamado Cazuza. Essas semelhanças não representam um plágio, mas representam uma fonte de inspiração para Soares, para que ele pudesse ocupar um espaço midiático junto a um público, que até então era um público de difícil acesso para ele. Soares simplesmente apropria-se de um modelo que já funcionou em outras épocas no país, e essa fórmula foi adaptada para que a IIGD atingisse seus objetivos junto ao público infantil.

A revista nosso amiguinho sempre foi considerada um ministério da Igreja Adventista do Sétimo Dia, e, portanto, dependia de assinaturas para sua veiculação.

Ao contrário de outras publicações seculares, "Nosso Amiguinho" dependia de assinaturas e era considerado um ministério da igreja. Por isso, não exibia anúncios de patrocinadores em suas páginas. No máximo, promovia livros da própria Casa Publicadora Brasileira, e produtos da fábrica Superbom, de propriedade da IASD. Assim, seus editores não se sentiam obrigados a seguir tendências de mercado para tornar a revista vendável, pois não era comercializada em bancas de jornal. Inicialmente circulou bastante entre famílias adventistas, e durante o ano de 1953 trazia lições da Escola Sabatina. (BELLOTTI, 2007, p.p.99-100)

A revista Turminha da Graça também é considerada um ministério da IIGD e

também sobrevive por meio de assinaturas, podendo ser ainda adquirida nos templos das Igrejas da Graça.

Os personagens da Revista Nosso Amiguinho faziam propagandas de produtos da fábrica Superbom, de propriedade da IASD, os personagens da Turminha da Graça fazem propaganda de produtos infantis, como o achocolatado Turminha da Graça, produzido, comercializado e distribuído pela Predilecta Alimentos, uma empresa da cidade de Matão, interior de São Paulo e macarrão instantâneo da Turminha da Graça, fabricado e distribuído pela Faville Indústria e Comércio de

Alimentos, uma empresa com sede em Marechal Cândido Rondon, interior do Paraná.

Segue abaixo, exemplares das propagandas, dos produtos acima mencionados.

Soares parece ter encontrado mais um filão para suas estratégias mercadológicas. Além dos produtos anteriormente mencionados, os personagens da Turminha da Graça estampam camisetas, bonés, chaveiros que são produzidos e distribuídos por empresas ligadas à IIGD. Abaixo seguem algumas estampas de camisetas com os personagens da Turminha da Graça.

Outra semelhança entre as revista pode ser observada com relação ao patriotismo. Em ambas publicações percebe-se uma forte tendência de valorização dos símbolos nacionais, dos heróis nacionais e das datas comemorativas que são importantes para a nação. A primeira imagem é da Revista Nosso Amiguinho, de Setembro de 1994, um texto que estimula o patriotismo nas crianças; a segunda imagem é da revista Turminha da Graça de Setembro de 2006, um texto que mostra a importância histórica do 07 de Setembro. As duas imagens objetivam criar um sentimento patriótico nas crianças. As imagens abaixo ilustram isso:

Outra semelhança entre as duas revistas é a forma como se entende o tempo para as crianças. Nas duas revistas há uma forte tendência ao entretenimento, mas com propósitos bem definidos. A pesquisadora Karina Bellotti já havia detectado isso na revista nosso amiguinho.

“Em ‘Nosso Amiguinho’, havia constante estigma do lazer e das diversões. A revista costumava ter quase um terço de suas 20 páginas dedicadas a passatempos como palavras cruzadas, labirintos, adivinhas, figuras de montar e de colorir, e por vezes alguns experimentos científicos. A diversão em si não era condenada, desde que tivesse um propósito de ocupar a cabeça e as mãos dos leitores com coisas ‘sadias’”. (BELLOTTI, 2007, p.134)

Na revista Turminha da Graça as partes dedicadas ao entretenimento não

chegam a quase um terço como na Revista Nosso Amiguinho. A revista Turminha da Graça possui 82 páginas, sendo que 10 ou 12 páginas são dedicadas ao entretenimento. Além disso, acompanha a revista um CD que narra as histórias contadas na revista e um pôster gigante de um dos personagens.

Para atrair o público infantil, as histórias em quadrinhos são escritas com letra maiúscula do tipo bastão e com desenhos grandes e coloridos, bem divididos nas páginas de tamanho A4.

Os conteúdos dessas histórias são bem divertidos, apresentando sempre uma lição de cunho moral ou que expressa valores e princípios baseados na solidariedade, na justiça e na adequação dos sujeitos à sociedade como bons cidadãos.

Além das histórias em quadrinhos, a revista apresenta textos informativos sobre animais, uma temática de grande interesse para as crianças.

Outra parte da revista explora o universo criativo das crianças, orientando passo a passo como fazer brinquedos com materiais recicláveis.

Existem três momentos que evidenciam que a revista tem um objetivo religioso

crianças, que geralmente contam como foram curadas de doenças graves por Jesus. O segundo momento é o da aventura bíblica que conta com a presença do missionário Soares, onde, entre outras coisas, ele estimula as crianças a irem à Igreja aos domingos. E num terceiro momento, a revista apresenta uma sessão com um cartaz com desenhos grandes e coloridos, sempre com um versículo para ser memorizado pelas crianças, algo muito parecido com a proposta pedagógica da APEC (Aliança Pró Evangelização de Crianças).

Como se pode perceber, as crianças representam um grupo importante nas estratégias midiáticas da Igreja Internacional da Graça de Deus. Elas representam a possibilidade de tornarem-se num futuro próximo, adultos comprometidos com os valores apregoados nessa igreja, além de serem canais para as conversões de seus pais. A mídia infantil da Igreja Internacional da Graça está concentrada na trupe da Turminha da Graça, que além de promover esses princípios considerados religiosos, também promove a venda de outros produtos que estão fora da realidade religiosa. Esse é uma faceta um pouco estranha da visão de mídia infantil do Missionário Soares.

CAPÍTULO 4

4. A IGREJA “INTERNACIONAL” QUE AGRADA O PÚBLICO