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“... Pai Francisco entrou na roda, tocando seu violão, bi-rim-bão bão bão, bi-rim bão bão...”

Pai Francisco - Ciranda

Os quadrinhos, largamente difundidos no século XIX, surgiram em 1740, com a criação de imagens piedosas produzidas pelos irmãos Gabriel e Nícollas Pellerim. Em 1846, o professor Rodolf Topffer publica, em Genebra,

Histories en Estamps, representadas por aventuras em quadrinhos. E, daí por

diante, esta expressão artística ganhou adeptos no mundo inteiro.

Contudo, foi com os jornais que as histórias em quadrinhos receberam grande impulso, através da acirrada concorrência pelo mercado de leitores de dois destacados jornais americanos, o New York World, de Joseph Pulitzer, e o New York Journal, de William Randolph Heart. Através de suplementos coloridos, encartados nas edições dominicais, aqueles jornais competiam exaustivamente pelo aumento da tiragem e circulação. Faziam parte dessas competições alguns desenhos cômicos em que aparecia um personagem heróico que veio a ser conhecido como The Yellow Kid – O Menino Amarelo, arquétipo aventureiro e humorístico de uma criança norte- americana, vivenciando o cotidiano da vida familiar. Seu criador, o cartunista Richard F. Outcault, foi o primeiro artista a introduzir o diálogo junto aos personagens dentro dos balões. Até então, os textos apareciam em legendas, no rodapé da revista.

Produto da proliferação do jornalismo de massa, iniciado no ápice da Revolução Industrial, as aventuras narradas em quadrinhos absorvem milhares de pessoas no mundo inteiro.

Essa expressão artística constitui uma espécie de confluência das técnicas de cinema, fotografia e literatura, compreendidas como símbolos culturais populares, mas que possuem, antes de tudo, uma linguagem própria, interessante e de fácil assimilação, geralmente apresentando muita ação, embora suficientemente breves para prender a atenção e não saturar o leitor. Genericamente, são classificadas em épica, policial, barroca, política e doméstica.

As histórias em quadrinhos constituem um processo de comunicação que utiliza dois códigos de signos gráficos: a imagem, que é obtida pelo desenho, e a linguagem escrita, ambas se complementando de forma a fazerem parte do sintagma narrativo.

A imagem tem a função figurativa de representar analogicamente uma realidade, de forma a construir mensagens simbólicas, utilizando-se, para isso, dos ícones, que têm a função primeira de imitar e servem para representar e reproduzir o real, a sua forma física, tendo relação direta com o objeto.

O signo lingüístico é o elemento essencial da comunicação, tendo nas histórias em quadrinhos a função de conduzir a narrativa, e apresenta-se em forma de legenda e/ou de balão. A legenda é um elemento externo à ação, é o discurso impassível do narrador.

Outra simbologia bastante utilizada se reporta aos sinais gráficos, que têm a função principal de tornar visíveis os ruídos, procurando imitar o som natural da coisa significada, os quais, de forma harmoniosa, se integram à imagem.

O advento de novas tecnologias contribuiu consideravelmente para o aprimoramento das histórias em quadrinhos, facilitando e enriquecendo a sua produção gráfica, barateando o seu custo, levando-as a um consumo

democrático por parte de um público com gosto mais apurado e de faixa etária variável, em especial a criança, tratando-se de uma leitura lúdica e prazerosa, elementos bastante atrativos no processo de iniciação da leitura.

No Brasil, Chiquinho e Jagunça foram os primeiros personagens de uma revista em quadrinhos intitulada Tico-Tico, lançada em 1905, sendo informativa e lúdica, era também lúcida na informação, recreativa no modo como educava, com jogos de armar, adivinhações, teatrinho de sombras, cartas enigmáticas. Escritores como Olavo Bilac, Oswaldo Orion, Murjlo Araújo, Catulo da Paixão Cearense, Josué Montello, escreveram para o Tico-Tico, desvendando às crianças todo um mundo fascinante que é o da Literatura.

No período Vargas, o jornal Gazeta lançou a Gazeta Infantil ou

Gazetinha, como era popularmente conhecida. Posteriormente, surgiu a revista Gibi, denominação que até hoje é sinônimo de revista em quadrinhos. Várias

outras foram surgindo, buscando alcançar e, sobretudo, agradar o gosto apurado das crianças, a exemplo de O Gury e Comics Books.

Outra revista de bastante sucesso trazia como personagem principal o Jerônimo, O herói do sertão, paladino da justiça e andarilho dos sertões brasileiros, ele estava sempre à disposição, onde quer que o bem precisasse triunfar. Tendo ao lado o inseparável ajudante Moleque Saci, foi um herói de quadrinhos que surgiu em 1957 e fez a alegria dos fãs durante 62 edições mensais e cinco almanaques especiais, escritos por Moysés Weltman, desenhados por Edmundo Rodrigues e publicados pela RGE.

Surge no cenário das histórias em quadrinhos Ziraldo Alves Pinto, com seu personagem Pererê, que se mostra revolucionário por abordar temas como reforma agrária e ecologia. Ziraldo nos contempla, ainda, com outros heróis genuinamente brasileiros, como The Supermãe e o Menino Maluquinho.

O humorista cearense Renato Aragão, em 1980, também se lança no mundo editorial, publicando sua primeira edição em quadrinhos junto com Dedé, Mussum e Zacarias, que mostrava as aventuras dos quatro Trapalhões. Em 2003, produz a revista A Trupe do Didi, que é composta por diversos personagens que são vistos nas revistas voltadas para o público infantil, Aventuras do Didizinho,

Revista do Didi, Revistinha de Pintar.

Maurício de Souza desponta para consolidar os quadrinhos como diversão, cultura e arte, cujos personagens por ele criados mantêm estreita intimidade com as crianças, a exemplo da Mônica, do Cascão, do Cebolinha e de vários outros.

Acompanhando essa onda, os personagens de Lobato ganham espaço nas histórias em quadrinhos.È lançada no mercado em 1997, o Sítio do

Picapau Amarelo. As histórias absorviam o mesmo clima da TV, seguindo a

linha de temas folclóricos e regionais, mas sem deixar de entrar em assuntos mais normais, como a clássica aventura em que Tia Nastácia é convocada para a Seleção Brasileira - rumo à Copa de 1978 -, a fim de preparar quitutes para os jogadores. Isso aconteceu na edição nº 13. A revista durou até o começo dos anos 80.

A Trupe do Didi e Pintando com o Didizinho, foram as produções

iniciais de uma série. As histórias são sempre bem-humoradas e, em geral, Didi é o herói que sempre se dá bem no final, depois de algumas trapalhadas. Aliás, essa sempre foi a fórmula de Didi e dos Trapalhões, quer seja no cinema, na TV ou nos quadrinhos.

È inegável que nos dias de hoje, as histórias em quadrinhos conquistaram seu espaço e o gosto do público em geral. Em nosso cotidiano, jornais, revistas, televisão, livros se incubem de possibilitar o contato com os quadrinhos.

Não devemos esquecer de mencionar a artista plástica paulista Eva Furnari e seus inúmeros livros que trazem em seu bojo a Bruxinha como personagem principal. São histórias contadas através de tiras, sem texto, que nos fazem rir, nos emocionam e, algumas vezes, nos conduzem a reflexões. Mistério, ação, surpresa, humor são ingredientes essenciais estampados nos quadrinhos dessa brilhante escritora.

No Ceará, nome como o de Mino (Hermínio Macedo Castelo Branco) consagra-se por tornar popular o Capitão Rapadura, que teve sua aparição em 1973, referenciando-se às situações sociais e políticas, ora vividas pela sociedade cearense. É ainda da autoria de Mino o Almanaque Mino, produção carregada de criatividade e humor com ricas ilustrações. Artista que reúne diversas facetas, Mino é escritor, ilustrador e editor, tendo-se consagrado nacionalmente quando, em parceria com Ziraldo Pinto, lançou o livro O

Pequeno planeta perdido.

É oportuno apontar, também, o nome de Daniel Brandão, excepcional artista que colaborou com a proliferação das histórias em quadrinhos, em Fortaleza, sendo agraciado com diversos prêmios em diferentes categorias. Atualmente, ministra cursos para crianças e adultos, em seu Estúdio Daniel Brandão Quadrinhos e Artes Gráficas.

Exemplo digno de registro é o do Senhor Silvio Roberto Neves Amarante, colecionador de gibis desde os oito anos de idade, que fez do seu

hobby sua atividade profissional e da qual é hoje uma referência cearense e

A Universidade Federal do Ceará, através do Curso de Comunicação Social, mantém a Oficina de Quadrinhos sob a coordenação do Professor Geraldo Jesuíno. São publicações de profissionais que estão se preparando para o concorrido mercado dos quadrinhos. Dentre as publicações está Pium, histórias criativas, cheias de ação e emoção.

Ainda, sob a coordenação do professor Geraldo Jenuíno, foi lançado, em 1996, Iracema em quadrinhos, romance de José de Alencar, quadrinizado por Paulo Henrique Gifoni. Teve o propósito de resgatar e divulgar uma das mais valiosas e importantes lendas regionais. Um projeto do Ministério da Cultura e do IPHAM.

nacional. É ele um dos maiores colecionadores de quadrinhos do Brasil, mantendo permanente contato com outros colecionadores famosos.

É de sua propriedade a Empresa Casa da Leitura, fundada em 1993, localizada na avenida Pontes Vieira, nº 1843, cujo nome de fantasia é Casa da Revista & Cia. Mantém um considerável acervo de revistas à disposição do público leitor, nacionais e internacionais, além de outros produtos voltados à leitura em geral.

Segundo informações obtidas junto ao senhor Edglê, gerente e funcionário daquela empresa desde sua fundação, a Casa da Revista vende quase todos os tipos de revistas publicadas no Ceará e no Brasil, além de algumas internacionais, destacando que as nacionais atualmente registram maior volume de vendas, em virtude das constantes elevações do dólar, que encarecem substancialmente o preço das revistas internacionais.

Mesmo assim, ainda segundo depoimento por ele prestado, as revistas de quadrinhos Mangai, editadas no Japão e traduzidas para o português, registram grande vendagem, não apenas junto ao público infanto- juvenil, como aos adultos das mais variadas idades.

Inquirido acerca da procura e vendagem de revistas de histórias em quadrinhos produzidas por escritores cearenses, o mesmo informou que as produzidas por Mino, com destaque para Rivista e Capitão Rapadura, são as mais procuradas, até mesmo pelo preço dos seus exemplares, bastante convidativo.

A Casa da Revista mantém um seleto grupo de fies freqüentadores e consumidores, registrando um volume de vendas razoável, se comparado às bancas de revistas nos mais diversos recantos de Fortaleza.

Capitão Rapadura, personagem nordestino que se apega aos valores regionais. Muitas vezes, em seus textos são lembrados célebres personagens como Antônio Conselheiro, Padre Cícero, Zumbi e vários outros.

Fábula política e social, digna de ser lida por todos nós, eleitores, candidatos, enfim, cidadãos.

5 LITERATURA REGIONAL

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