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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO ESPECIALIZAÇÃO EM LEITURA E FORMAÇÃO DO LEITOR

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO

ESPECIALIZAÇÃO EM LEITURA E FORMAÇÃO DO LEITOR

LITERATURA INFANTIL CEARENSE:

CONTOS, ENCANTOS E DESENCANTOS

ELINETE MARIA SEVERIANO FORTALEZA

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LITERATURA INFANTIL CEARENSE:

CONTOS, ENCANTOS E DESENCANTOS

ELINETE MARIA SEVERIANO FORTALEZA

Orientador: Denilson Portácio - Ms

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Esta monografia foi submetida à Coordenação do curso de Especialização em Leitura e Formação do Leitor, ao Centro de Treinamento e Desenvolvimento e a Universidade Federal do Ceará como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Especialista em Leitura e Formação do Leitor outorgado pela Universidade Federal do Ceará e, encontra-se à disposição dos interessados na Biblioteca de Humanidades da referida Universidade.

A transcrição de qualquer trecho desta monografia é permitida, desde que feita em conformidade com as normas de ética científica.

_________________________________

Elinete Maria Severiano Fortaleza

Monografia aprovada em: ____/_____/_____.

Nota: _________________________

_____________________________________

Prof. Mestre Denilson Portácio

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Dedicatória

À família no seio da qual fui gerada, com amor e carinho, em especial à minha mãe, Odete Mesquita, verdadeiro exemplo de dignidade, em cuja mulher me espelhei por quase toda a vida.

À minha filha, Radene, raro ser que embeleza, ilumina e dar sentido a minha existência.

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Agradecimentos

A Deus, por sua constante presença em todos os momentos de minha vida.

Ao Valter Penteado pelo apoio, companheirismo, carinho e atenção.

Aos meus professores, pela dedicação durante toda a realização do Curso e, em especial, a profª. Lídia Eugênia que generosamente me convidou a fazer parte dessa turma.

Ao Professor Denilson Portácio, pela orientação, apoio e também por suas sugestões preciosas na elaboração desde trabalho.

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Ler não para contradizer ou refletir, nem para crer ou tomar como certo, nem pelo discurso ou pelo enredo, mas para pensar e considerar. Alguns livros são só para serem provados, outros para serem engolidos, outros para serem

mastigados e digeridos”

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RESUMO

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1 INTRODUÇÃO

MEMÓRIA, LEITURA E PERCEPÇÃO DE MUNDO ... 9

2 METODOLOGIA

E ASSIM ACONTECEU ... 23

3 TRAJETÓRIA DA LITERATURA

PELAS TRILHAS DA HISTÓRIA LITERÁRIA ... 28

3.1 Primórdios da Literatura Infantil no Brasil

O Desembarque nas terras brasileiras ... 33

4 HISTÓRIA EM QUADRINHOS

A IMAGEM COM HISTÓRIAS E A HISTÓRIA DA IMAGEM ... 38

5 LITERATURA REGIONAL

O QUE É DE DENTRO, O QUE É DE FORA ... 46

6 A LITERATURA INFANTIL NO CEARÁ

E ASSIM ACONTECEU ... 48

7 AUTORES CEARENSES

PROTAGONISTAS DESTA HISTÓRIA ... 54

8 CONCLUSÃO

MORAL DA HISTÓRIA ... 62

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1 INTRODUÇÃO

MEMÓRIA, LEITURA E PERCEPÇÃO DE MUNDO

“... Este ofício me agrada, de marré, marré, marre. Este ofício me agrada, de marrá, deci ...”

Eu sou pobre, pobre – Ciranda

Penso que em toda a minha vida a palavra ilustrou o meu aprender, às vezes com cores pardas, nas quais talvez predominassem o preto e o cinza, e, não raro, as cores vivas e harmônicas se fizeram presentes.

As palavras me foram apresentadas de forma gradativa na fala de minha mãe, no cantar, no acalentar, num alerta, numa bênção, e cada uma vinha somar-se ao meu limitado saber. Com o tempo, passei a decifrar e atribuir significados a frases inteiras e trechos compridos. E as palavras, pronunciadas em seus mais variados tons, clareavam minha leitura de mundo.

Lembro-me perfeitamente das minhas férias, passadas em Canindé, então muito criança, quando as palavras escritas ainda não me tinham sido apresentadas. Íamos para Jacuara, fazenda aos meus olhos enorme, propriedade de meus tios-avôs. Lá, costumávamos passar as férias escolares, eu, meus irmãos e alguns primos. Jacuara, lugar mágico, cheio de mistérios a serem desvendados.

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estabelecer uma ligação racional dos signos por nós já conhecidos com os desenhos ilusórios das nuvens. E, assim, nesse devaneio, passávamos horas a fio embalados pelo canto dos pássaros misturados ao som do vento.

O mundo era um livro sem textos, cheio de imagens e a elas eram atribuídas várias leituras. Eu não era somente uma espectadora, ao contrário, sentia-meelemento integrante daquela história, sem, na verdade, entender seu significado, mas consciente da sua intensidade.

Líamos o mundo num ato solidário, partilhávamos as riquezas do aprendido, do assimilado, e nossas vozes se cruzavam num turbilhão de idéias. Por vezes, ficávamos em êxtase, buscando ler nas entrelinhas a grandiosidade daquela enorme tela pintada por Deus e a nós ofertada. Nesse momento o silêncio pairava sobre nossas cabeças, sem que nada disséssemos, pois nada poderia ser dito, só sentido.

Se arte, nas suas mais variadas expressões, é a forma de retratar uma realidade, eu, pobre mortal, através da leitura que fazia das imagens expostas, percebia o mundo com sua mistura de cores numa gigantesca aquarela. Eu estava diante de uma exposição infinitamente rica.

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Ouvir histórias era um momento onírico, de puro êxtase, recheado de emoções e sentimentos. A história me permitia estabelecer contato com outros mundos, com outros seres, aflorava minha criatividade e imaginação. Despertando em mim o interesse de enveredar por caminhos ainda desconhecidos.

Noutras noites, nos reuníamos no terreiro, à luz do luar, para ouvir causos, recital de cordel ou músicas de viola, na voz dos vizinhos e moradores da Jacuara. Esses momentos me traziam novos entendimentos, alargando um pouco mais minha compreensão de mundo.

As vozes dos adultos me embalavam o sono, conduzindo-me aos sonhos. Depois de adormecida eu era colocada numa rede de cheiro inconfundível, lavada com sabão confeccionado pelas próprias moradoras da fazenda, o que os teóricos chamariam de Memória Olfativa.

Eu gostava das noites quando minha mãe, mulher guerreira, de grande fibra, determinada, forte e sensível, depois de se recompor da árdua rotina de mais um dia de trabalho, armava uma rede perto da porta que dava para o quintal, e para lá corríamos os seis, eu e meus cinco irmãos, buscando um lugar juntinho dela. Ali, ela nos contava histórias de seu dia ou histórias de músicas já conhecidas. Era tanta a riqueza de seu enredo, a suavidade de sua voz, que nos deixavam fascinados. Não sei o que mais me seduzia, se a narrativa com sua voz sonora, que nos encantava contando e cantando, ou se o contato de seu corpo junto ao meu, o pulsar de sua respiração, seus dedos me acariciando, seu cheiro de mãe. Essas leituras chegavam quase sempre a me confundir.

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mistérios contidos nas histórias que me eram presenteadas, quase sempre por empréstimos, através de amigos, ou mesmo locadas nas humildes salas de leituras existentes nas escolas estaduais por onde estudei, dado que em minha casa não havia biblioteca, somente poucos livros dos irmãos mais velhos.

Nunca esquecerei o dia em que meus tios me apresentaram o

Zezinho e o Portuga, personagens principais do livro Meu Pé de Laranja-Lima, de José Mauro de Vasconcelos. Na minha primeira grande viagem em busca de um oceano de beleza literária, eu imergia nas páginas daquele livro e emergia em puro êxtase. Nada mais fascinante do que se embalar na beleza daquelas estórias. Eu ficava deslumbrada ao perceber que o homem tinha o poder de tocar outras pessoas, utilizando tão-somente as palavras, expressando suas idéias através da junção de letras. E ainda mais interessante era a forma com que essa escrita nos alcançava, aflorando nossa sensibilidade para as vidas ficcionais.

Recordo que, no ápice da história, era tanto o meu envolvimento com o enredo, que eu chorava copiosamente, deixando as lágrimas rolarem, molhando as páginas avidamente devoradas pelos meus olhos úmidos. Um turbilhão de sentimentos se apossavam de meu pequenino ser... Até que, finalmente, relaxei com o término da trama, sentindo que Zezinho não estava feliz, mas aliviado. Eu, embora um pouco revoltada, - como judiaram com o Zezinho! - estava realizada com minha conquista. Acabara de desbravar uma intensa floresta de idéias a mim presenteada pela linguagem artística da Literatura.

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Conheci a fala de vários outros escritores, dos quais uns me acalmaram, outros me inquietaram bastante. Passei, então, a devorar os pensamentos expressos nas linhas e entrelinhas das obras de outros autores. Conheci José de Alencar, Machado de Assis, Érico Veríssimo e muitos outros. Encantei-me com Iracema, Iaiá Garcia, Clarissa e Éramos Seis, de Maria José Dupré, obras que eram impostas pelos professores, nas diversas séries escolares, para posterior avaliação. Nas horas vagas entretinha-me com as histórias, quase sempre iguais, estampadas nas Sabrinas da vida ou mesmo com as crônicas da Revista Seleções, cujas edições eram-me emprestadas mês a mês por um tio, sob mil recomendações. Com muito cuidado e atenção lia até mesmo os anúncios comerciais, enquanto que algumas crônicas eu copiava em meu caderno de segredos por considerá-las belas e cheias de significados.

E, assim, fui crescendo, embalada por alguns autores e suas histórias, em que a ficção e a realidade se mantêm distantes, mas que, por vezes, se misturam de forma homogênea, chegando a confundir o leitor. Constatei que, em alguns casos, os personagens fictícios representam de forma fidedigna a realidade, uma vez que muitos autores trabalham simbolicamente a realidade, estabelecendo uma forte conexão entre o real e o imaginário. A título de comprovação, vale mencionar O Quinze, obra-prima da nossa ilustre conterrânea, Rachel de Queiroz, livro que apaixonadamente li e que muito me intrigou dado a imensa crueza da vida árida e sofrida do povo nordestino, ali tão bem retratada.

Posso afirmar, então, que muitos autores, de forma surpreendente, retratam em seus textos a realidade da vida, nos permitindo olharmos para nós mesmos e vermos o mundo de novas e variadas maneiras.

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outras realidades. Lembro perfeitamente dos enredos fabulosos existentes nos livros História da riqueza do homem de Leo Huberman (indicação do professor da disciplina de História – Francisco de Assis), Memória do Cárcere de Graciliano Ramos, Feliz ano velho de Marcelo Rubens Paiva e, ainda, A Revolução dos Bichos de George Orwell.

Os livros foram minha alavanca profissional. Bibliotecária, sob o entusiasmo de grandes perspectivas profissionais, fui trabalhar com textos, informações, sons, imagens e crianças, no afã de dar-lhes o máximo dinamismo. Tinha como objetivo a formação de um público leitor. Estimular na criança o gosto pela leitura pautada nas suas múltiplas acepções, de modo a contribuir para a sua formação como cidadão consciente de seus deveres e direitos, me parecia o caminho adequado para alcançar esse objetivo.

Para a consecução desse objetivo, além das atividades diárias, elaborei e desenvolvi uma série de projetos ao longo de 10 anos de minha prática profissional. Esses projetos, levados a efeito na Biblioteca Infantil do Serviço Social do Comércio (SESC), em Fortaleza, e compondo a programação anual da Entidade, contavam com a participação de um grupo de crianças, na faixa etária de 9 a 12 anos, e priorizavam a questão da leitura/literatura, tendo como tônica uma temática preestabelecida. E, centrados nesta temática, efetuei uma série de reflexões a partir da leitura de textos, de imagens, de vida, de filme, enfim, de vários instrumentos, buscando desenvolver a leitura na sua pluralidade, utilizando diferentes suportes, partindo do texto impresso e chegando ao computador.

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saberes, viabilizando a prática do letramento, numa concepção mais abrangente, consciente e consistente.

Nesse contexto passei a comungar com a definição que afirma que “Letramento não é simplesmente um conjunto de habilidades de leitura e escrita, mas muito mais que isso, é o uso dessas habilidades para atender às exigências sociais”. (KIRSCH; JUNGEBLUT, 1990, p.43).

Creio haver cumprido com o objetivo – formar bons leitores críticos, reflexivos e produtores de textos -, tal o volume de trabalhos elaborados pelo público infantil que freqüentava a referida Biblioteca, abordando diferentes gêneros literários, desde a prosa até a literatura de cordel. A exemplo, apresento resultados desses trabalhos realizados.

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Enquanto aluna do Curso de Especialização em Leitura e Formação do Leitor, me vi com a grata e árdua incumbência de desenvolver um trabalho, tendo como tônica a Literatura. E nem poderia ser diferente, até mesmo por força da minha formação acadêmica e experiência profissional.

Literatura de Cordel - 1997 Coletânea ecológica - 1998

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Contudo, não foi fácil. Sempre muito me inquietou o fato de a Literatura não estar inserida de forma clara no rol das linguagens que compõem a LDB, estando somente diluída nas demais disciplinas, numa visão inter ou transdisplinar. Nem mesmo lhe é atribuída uma abordagem mais clara enquanto arte.

Na versão mais recente dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ministério da Educação, PCNs, documentos que orientam o ensino brasileiro, mostrando como devem ser postas em prática suas diretrizes, o capítulo sobre Linguagens, Códigos e suas Tecnologias no Ensino Médio, a Literatura deixa de existir, não apenas como disciplina, mas como campo autônomo do conhecimento, LDB nº 5.692/71.

E o que é Literatura, senão arte, cultura, representação sociopolítica por intermédio da língua, veículo de autoconhecimento e reconhecimento do outro? Em 1971, através da Lei nº 5.692, foi criado um componente curricular de Educação Artística, determinando que fossem abordados os conteúdos de música, dança, teatro e artes visuais em sala de aula.

Em 1996, foi elaborada uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394), estabelecendo, em seu artigo 26, parágrafo 2º, que “o ensino da Arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da Educação Básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. Essa nova lei também deixou de mencionar a Literatura enquanto linguagem artística.

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permite uma leitura precisa da arte, enquanto representação simbólica da prática social de uma comunidade, através de suas variadas expressões. Nesse sentido, podemos afirmar que arte é o grande instrumento vivo de identidade cultural de uma sociedade, e, por assim ser, a Literatura caracteriza-se, na sua estrutura e forma de apresentação, como arte genuína.

Inquieta-me o fato de que, para muitos, principalmente para um grande número de professores, a Literatura só tenha valor utilitário, constituindo-se apenas o elo de comunicação racional, de registro formal e informacional, e, desta maneira, é abordada em sala de aula, tanto no ensino fundamental como no ensino médio, neste com mais rigor, com seus gêneros, sua composição acadêmica, seus períodos e escolas, esquecendo-se de sua expressividade, sua beleza e significação, bem assim a leveza dos sentimentos expostos nas linhas de cada obra.

É inconcebível que uma disciplina de suma importância como a Literatura seja mantida aprisionada em um currículo positivista e antiquado,

consistindo em um exercício de memória apoiado sobre a história da literatura. Ensinar e aprender literatura não podem continuar a ser apenas um apanhado

histórico, numa memorização de características rígidas de escolas de produção literária de um passado europeizado e seletivo. Mesmo porque aprender literatura por meio de dados historicizados e quantitativos renega a função primordial da causa literária: desenvolver um olhar perante o mundo, o outro, perante si mesmo, isto é, desenvolver a sensibilidade e a consciência de leitura, formando sujeitos agentes de uma sociedade fundamentada nos princípios da solidariedade e dignidade humanas.

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preciosas. Enriqueceremos a leitura e a análise do texto escrito com elementos não só históricos, mas, principalmente, lingüísticos, ético-estéticos e socioculturais, de questionamento crítico e consciente.

A situação é terrivelmente desesperadora quando se trabalha com crianças. Penso que a falta de diretrizes ou de um currículo somado à falta de formação de professores de artes leva, dentre outros aspectos, à deturpação do ensino da arte, uma vez que a grande maioria das escolas busca, no ensino dessa disciplina, tão-somente a criação de artistas e a oportunidade de criar momentos de puro lazer, esquecendo-se de que ele - o ensino da Arte – é uma disciplina como qualquer outra da área das ciências humanas, guardadas as peculiaridades de cada uma delas, com objetivos e métodos definidos, e que a ênfase no lúdico durante as atividades com crianças não significa recreação, mas adequação à linguagem infantil, numa tentativa de assegurar a comunicação. E é aí onde está o grande “lance” da Literatura como parte importante do ensino da arte.

Tal como o desenhar, o pintar ou o construir, a arte de ler e escrever também constitui um processo complexo em que a criança reúne diversos elementos de sua experiência, para formar um novo e significativo todo, proporcionando, mais do que um quadro ou uma peça material de arte, parte de si própria: como pensa, como sente e como vê, o que o faz através das palavras escritas, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva.

Investigando a fala de diferentes autores e estudiosos, deparei-me com argumentos que me aquietaram e, dentre os quais:

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Busquei, na Literatura Infantil Cearense, o mote para o desenvolvimento desta pesquisa, deparando-me então com outro entrave: se a Literatura é vista como mero elemento funcional e não como linguagem artística, perguntemos então que espaço é dedicado à Literatura Infantil? E onde se localiza esse espaço?

Sabemos que inexiste uma definição precisa que possa exprimir de forma consensual o conceito ideológico de Literatura Infantil, posto que muita polêmica em torno desse assunto ainda é travada e, certamente, por muito tempo perdurará. Atribui-se a essa dificuldade o fato de que a Literatura Infantil envolve uma série de aspectos de diferentes esferas e dimensões, quer seja de caráter individual, quer seja de caráter social.

“Literatura Infantil é, antes de tudo, Literatura; ou melhor, é Arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática; o imaginário e o real; os ideais e sua possível/impossível realização...” (COELHO, 1987, p.24).

Pelo que se pode depreender da citação de Coelho, ao criar, o homem exerce a capacidade de compreender para, em seguida, relacionar, contextualizar, configurar e dar significado àquilo que criou. É justamente nesta busca de ordenação e significados que existe a motivação humana para criar. Ademais, possuindo um potencial criador constituído de sensibilidade, consciência e cultura, este é renovado a cada criação, em vez de esgotar-se. Quanto mais é solicitado, mais esse potencial se amplia.

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“A principal questão relativa à literatura infantil diz respeito ao adjetivo que determina o público a que se destina. A Literatura, enquanto substantivo, não predetermina seu público. Supõe-se que este seja formado por quem quer que esteja interessado. A literatura como adjetivo, ao contrário, pressupõe que sua linguagem, seus temas e pontos de vista objetivam um tipo de destinatário em particular, o que significa que já se sabe, à priori, o que interessa a esse público específico... escrito para a criança e lido pela criança”. (CADERMATORI, 1986, p.8).

Com esta manifestação, a autora pretende mostrar que, na maioria das vezes, quando se debate o assunto – Literatura Infantil – acaba-se discutindo o adjetivo, e não o substantivo, isto é, ficam todos falando em criança, no infantil, e se esquecem de questionar o valor do texto, da Literatura propriamente. Na verdade, como foi afirmado, olha-se apenas para o mercado, as características do público alvo, em última palavra, o futuro consumidor, desprezando-se os aspectos artísticos ou a qualidade estética dos livros. É lícito afirmar que existem vários autores com essa visão, alguns até tendo obtido algum êxito, cuja proposta é tão somente formar meros consumidores em vez de cidadãos conscientes de sua herança cultural. Esquecem fundamentalmente da sua responsabilidade na formação da criança leitora/escritora. É necessário, pois, que se busque a mudança dessa conduta.

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2 METODOLOGIA

E ASSIM ACONTECEU...

“O Morena bonita, como é que cozinha, bota a panela no fogo, vai conversar com a

vizinha...”

Samba Lelê – Ciranda

O trabalho se constituiu, basicamente, de uma pesquisa exploratória numa visão sócio poética. Foram descritos e identificados trabalhos voltados para a Literatura Infantil no Ceará, seus autores, as dificuldades e limitações no campo dessas produções e de sua disseminação, o grau de satisfação desses autores quanto aos seus trabalhos, de forma a conhecer com maior profundidade a ação por eles desenvolvida, com vistas a facilitar o acesso do público-leitor – a criança – a essas produções.

Com o propósito de identificar os mecanismos de produção da Literatura Infantil no Ceará, visitamos a Fundação Demócrito Rocha, por ser uma Instituição que, atualmente, publica maior número de obras produzidas por escritores cearenses.

Sendo a Literatura Infantil Cearense a tônica deste trabalho, focamos nosso interesse nas ações desenvolvidas no campo das Artes e Letras, tendo a oportunidade de entrevistar Socorro Acioli, editora adjunta da referida Instituição, e, ainda, Daniel Diaz, ilustrador responsável por grande parte das Artes gráficas das publicações lançadas no mercado livreiro.

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Seqüenciando o trabalho, foram selecionadas quatro escolas da rede pública e quatro escolas da rede particular de ensino, para uma posterior visita. Nesse ínterim, em conversa informal, procuramos indagar, dos bibliotecários e/ou responsáveis pela biblioteca, acerca das ações realizadas com o intuito de se proceder à divulgação dos textos literários infantis cearenses junto ao alunado. Nessas visitas nos foi possível, ainda, através do manuseio do acervo, detectar a quantidade das produções existentes nessas bibliotecas.

Realizamos, ainda, entrevistas com alguns escritores cearenses que se dedicam à produção literária infantil em Fortaleza, com o objetivo conhecer suas percepções sobre a arte de escrever para crianças. E, em seus depoimentos, tentou-se avaliar em que estado a literatura se encontra na chamada era globalizada, por força da qual a sociedade caminha a duas velocidades: de um lado, crianças conectadas ao dinamismo do computador e, do outro, crianças desnutridas, carentes de pão, diversão e arte.

Nas entrevistas realizadas, procuramos detectar os mecanismos de produção, divulgação e vendagem dos livros publicados, bem assim a sua aceitação pelo público ao que se destinam.

Diferentes indagações foram formuladas aos entrevistados, fluindo naturalmente conforme o desenrolar da entrevista. Aos escritores e ilustradores, sobre o que os levou a direcionar seus trabalhos para o público infantil. O que ou quem os estimulou a escrever. No contexto atual, se é possível um escritor viver de suas produções. Que gênero prefere escrever. Seus prazeres e dificuldades de produzir Literatura no Ceará.

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Buscamos, neste leque de escritores, contemplar desde os que são considerados os precursores do fazer arte literária para nossas crianças, a exemplo do poeta, professor e escritor Horácio Dídimo, aos mais recentes, como Almir Mota, que vive desta e para esta arte: a de povoar o imaginário infantil através da nossa cultura, tão bem expresso nas linhas e entrelinhas de sua obra.

Enfocamos, ainda, diferentes gêneros literários, desde a poesia, perpassando pela prosa, pelo conto teatralizado, nos mais variados estilos que nossos escritores estão produzindo para o público infantil.

Ademais, entrevistamos ilustradores conterrâneos, a exemplo de Silas Rodrigues, artista plástico que se utiliza da imagem para reforçar a idéia central da produção literária, associando texto e arte plástica.

Outro gênero pesquisado diz respeito aos quadrinhos, por se tratar de um material bastante procurado pelas crianças, em fase de iniciação à leitura, seja por suas cores variadas ou mesmo por seus textos curtos. Para tanto, buscamos localizar, nas bibliotecas visitadas, espaço destinado tanto à guarda quanto às atividades desenvolvidas junto às crianças, no sentido de melhor orientá-las para o uso adequado dos gibis.

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Seqüenciado, a 6ª edição do referido evento, dois anos após, nos favoreceu uma visão mais ampla e amadurecida no tocante a produção editorial, destinada ao público infantil, no Ceará, oportunidade em que atuamos como contadores de histórias.

Como se pode depreender, o trabalho foi constituído de observações, anotações e entrevistas. As entrevistas foram tematizadas, seguindo um roteiro preestabelecido, sem, contudo, se mostrar fechado, sendo conduzidas de forma prazerosa, num verdadeiro e franco diálogo.

Quanto ao espaço geográfico, a pesquisa limitou-se à cidade de Fortaleza, no âmbito das bibliotecas públicas e privadas e das escolas de ensino fundamental e médio já referenciadas, e, ainda, através de entrevistas a profissionais que lidam com a arte de produzir textos para o público infanto-juvenil.

No que concerne ao universo e amostra, utilizamos o método de investigação e levantamento, através de interrogação direta às pessoas, das quais foram solicitadas informações acerca da temática estudada, obtendo-se, em seguida, por análise qualitativa, as conclusões correspondentes aos dados levantados.

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3 TRAJETÓRIA DA LITERATURA

PELAS TRILHAS DA HISTÓRIA LITERÁRIA

“... Como poderei viver, como poderei viver,

sem a tua, sem a tua, sem a tua companhia...”

Peixe vivo – Ciranda

Toda a história do homem sobre a terra constitui permanente esforço de Comunicação. A comunicação é uma necessidade natural no processo evolutivo e remonta os primórdios da história do homem quando, no afã de transmitir ou exprimir suas impressões, o primitivo ser humano rabiscava desenhos numa ação instintiva e mecanicista, buscando, através da linguagem imagística, a compensação de sua incapacidade de comunicação oral.

Em todas as épocas e em todas as culturas, o homem, numa tentativa de se fazer entender, criou símbolos e lhes atribuiu significados, buscando no entendimento destes significados a construção da comunicação.

O esforço dos homens nesse sentido foi de tal forma intenso, que, não satisfeitos de se comunicarem entre si, no presente, entregaram à tradição oral a tarefa de sobreviverem no futuro. Cada monumento da Antigüidade é uma representação desse esforço, concretizando o desejo de eternidade do homem através da comunicação.

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Posteriormente, a pictografia foi substituída pela escrita cuneiforme, inscrições simbólicas, feitas em tabletes de argila, cuja leitura revelou ao mundo a forma de viver dos assírios e babilônios.

Anos depois, ainda utilizando símbolos, surgiu no Egito a escrita hieroglífica, que continuava a ter caráter de funcionalidade, registrando conselhos para a agricultura, a medicina, a educação, o comércio e a religião. Sua decifração abriu ao mundo uma das mais importantes civilizações antigas, fortalecendo a idéia de que a escrita surgiu pela necessidade de se preservar e resguardar sua memória, seus conhecimentos acumulados, suas crenças, mitos, hábitos e valores, através dos tempos.

Os Colossos da Ilha de Páscoa contam alguma coisa de seus primitivos povoadores: a sua ânsia de comunicação com os deuses, semelhante à dos templos da Grécia Antiga. Como podemos ver, a escrita foi sempre uma maneira de representar a memória coletiva, religiosa, científica, política, artística e cultural.

Somente séculos depois, os fenícios criaram alguns signos que deram origem às atuais consoantes. Os gregos, a partir dos fenícios, passaram a usar uma escrita alfabética já com sinais vocálicos, ou seja, com símbolos que representavam as vogais. Com o passar dos tempos, as letras foram sendo aprimoradas, o que deu origem ao alfabeto, conhecido hoje por todo o globo terrestre.

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Com a invenção da escrita desaparece o mundo mítico da pré-história, consolida-se a palavra, fugindo o homem ao jugo da tradição oral para a nova autoridade da letra.

Sabemos que muitos foram os instrumentos utilizados para se deixar registrados os conhecimentos do homem: as cavernas, os templos, os tabletes de argila, pedaços de madeira, o papiro e o pergaminho. Contudo, somente com a invenção do papel e, posteriormente, com o advento da imprensa, no século XVI, foi que o processo escrita/leitura gradativamente se tornou popular, a partir de quando os livros passaram a ser editados em maior número, possibilitando o seu acesso a um significativo contingente de pessoas. Com a invenção da imprensa, a escrita passa a oferecer aos homens o acesso direto a diferentes formas de pensar.

Foram necessários muitos anos para que o livro perdesse seu caráter unicamente prático, o de guardião de informações científicas e humanas, passando a assumir também, o papel de disseminador de sonhos e fantasias.

Mas, durante esse processo histórico, onde se encaixa o conto? Onde se enquadram as histórias lúdicas? Onde se encontra a escrita/leitura, prazer sem obrigatoriedade de aprender e apreender o saber humano?

Talvez no contar e ouvir histórias. O contar histórias deve ter sido a primeira manifestação artística surgida, depois da linguagem articulada, porquanto eram mínimos os recursos utilizados com essa finalidade, onde se destacava o domínio expressivo da oralidade, atrelado à criatividade e à sensibilidade de ver e sentir a vida.

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história narrada, se podia adentrar na memória do mundo, conhecer outras épocas, outros seres, outras formas de se ver e sentir a vida, pois a história narrada tem o poder de suscitar o imaginário, de evocar pensamentos e sentimentos.

Os homens criavam histórias e mitos para justificar determinados fenômenos. As histórias não só distraíam como instruíam, pois as narrativas e os mitos imaginários tinham a função de preservar os valores mais importantes da comunidade e, ainda, de organizar o comportamento desse grupo social, de forma a integrá-lo na comunidade, a partir da percepção dos códigos culturais vigentes. Então, eram personagens e enredos que serviam de ensinamentos. Essas histórias eram contadas em todos os tempos, em todas as sociedades e em todas as línguas.

Os significados simbólicos das histórias estavam, e ainda continuam, ligados aos eternos dilemas que o homem enfrenta ao longo de seu amadurecimento emocional, quando se dá a evolução, a passagem do eu para nós.

“... lidas ou contadas as histórias constituem-se em generoso processo educativo, pois ensinam recreando, dando a criança os estímulos e motivações apropriadas para satisfazer sua tendências, seus interesses, suas necessidades, seus desejos, sua sensibilidade.” (MALAMUT, 1990, p.5).

Conta-se que a Literatura Infantil se originou a partir das narrativas de Calila e Dimna, que surgiram na Índia por volta do século VI a.C., através da tradição persa.

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reorganização do ensino e da fundação do sistema educacional burguês. Segundo essa linha de pensamento, antes disso, não haveria propriamente uma infância no sentido que conhecemos. As crianças vistas como adultos em miniatura, participavam, desde a mais tenra idade, da vida adulta. Não havendo livros, nem histórias dirigidas especificamente a elas, não existiria, portanto, nada que pudesse ser chamado de Literatura Infantil. Por este viés, as origens da Literatura Infantil estariam nos livros publicados a partir dessa época, preparados especialmente para crianças com intuito pedagógico, utilizados como instrumento de apoio ao ensino. Como exemplo, podemos apontar a obra

Orbis Sensualium Pictus (1658), de Comenius, criada com o propósito de ensinar latim através de gravuras, um antepassado, sem dúvida, do nosso livro didático ilustrado para crianças.

Controvérsias à parte, é certo que, as narrativas mais antigas giram em torno da realidade vivida naquela época, com a vitória dos fortes sobre os fracos, a luta pelo poder através de quaisquer meios, a astúcia dos bons para escapar à prepotência dos maus, a utilização dos animais para representarem as ações dos homens. Como toda arte, a Literatura expressa a forma de ver e pensar a vida de uma comunidade, retratando seus valores, seu quadro político, social e ideológico.

As histórias contadas pelo povo, ou seja, as lendas e tradições folclóricas, são a principal fonte de inspiração da Literatura Infantil. Estas, com seus personagens fabulosos foram recolhidas, adaptadas e publicadas para o público infantil e infanto-juvenil por grandes autores que, independente de seu desaparecimento, ainda integram a galeria de escritores renomados, como Charles Perrault, William e Jacob Grimm, Fénelon, Hans Andersen Christian e Carlo Collodi. É, sem dúvida alguma, o homem se perpetuando através de sua obra, de sua arte literária.

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São clássicos infantis narrados por grandes mestres literários que, ao longo do tempo, vêm povoando o imaginário das crianças de todo o mundo. Com o tempo, alguns desses enredos se modificaram, se aprimoraram ou ganharam novos elementos. Contudo, jamais deixaram de distrair, encantar e mesmo provocar emoções diferenciadas nas crianças do mundo inteiro.

Registros apontam que os primeiros livros impressos para crianças surgiram por volta do final do Século XV, e, entre eles, destaca-se o Book of Courtesy, do inglês William Caxton, que versa sobre boas maneiras.

Paralelamente a esta publicação, passaram a circular pelas ruas de alguns países pequenos livretos contendo lendas antigas e contos tradicionais populares, os quais eram vendidos por ambulantes e largamente adquiridos pelo público leitor.

3.1 Primórdios da Literatura Infantil no Brasil

O Desembarque Nas Terras Brasileiras

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Somente com a implantação da Imprensa Régia, em 1808, inicia-se a atividade editorial no Brasil, inicia-seguindo-inicia-se, posteriormente, a produção literária destinada ao leitor infantil. A princípio, predominavam as traduções de clássicos estrangeiros e, também, as adaptações de contos portugueses, das quais se pode destacar Gonçalo Fernandes Trancoso, escritor português que reuniu narrativas de origem oriental e relatos da Idade Média. Essas narrativas correram o mundo, sendo hoje conhecidas como Contos de Trancoso.

A primeira reação veio através da literatura escolar, que se caracterizava por ser genuinamente educativa, e da qual podemos citar as obras D. Jaime, de Tomás Ribeiro, e O Tesouro da Leitura, de Abílio César Borges, o famoso barão de Macaúbas.

Carlos Jansen e Figueiredo Pimentel foram os pioneiros que se encarregaram da tradução e adaptação de obras estrangeiras para as crianças brasileiras. Gradativamente, outros autores foram surgindo e lançando livros que retratavam a realidade brasileira, como Júlia Lopes de Almeida, que publicou Contos Infantis, dentre várias outras obras.

Contudo, foi com Monteiro Lobato que a produção editorial infantil tomou grande impulso, passando a ganhar corpo e definição. Seus personagens fantásticos retratavam, de forma surpreendente e verdadeira, a realidade brasileira, tais como o Jeca Tatu, protagonista de seu livro Urupês, produzido para o público adulto, que com muita propriedade falava da miséria e do descaso dos governantes em relação ao homem da roça.

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Amarelo, lugar que tão bem representava o ambiente do interior, cheio de encantamento e eterna diversão, onde o sonho é possível e a realidade, através da fantasia, passa a ser vista sob novos ângulos. . Nesse sentido, Lobato terce um comentário de forma lúdica, mas repleto de significados:

“Surgiu uma literatura sob medida que não se impõe à criança mas deixa-se impor pela criança e desse modo satisfaz de maneira completa às exigências especialíssimas da mentalidade infantil[... porque gostam as crianças de ler meus livros? Talvez pelo fato de serem escritos por elas mesmas através de mim. Como não sabem escrever admito que me pedem que o faça”. (LOBATO, 1962, p.149)

O ápice da produção literária, destinada ao público infantil, ocorreu no Brasil em meados da década de 1970. Registros indicam que nunca se produziu tanto em tão pouco tempo para esse público especial.

Dentre os vários fatores que contribuíram para a proliferação deste gênero literário se destacam a implantação do curso de Literatura na grade curricular das universidades brasileiras e a conscientização por parte dos governantes de que, paralelamente às campanhas de erradicação do analfabetismo, a exemplo do MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização - era imprescindível que se realizasse um trabalho processual e gradativo no sentido de se combater a ignorância de conhecimento mínimo do domínio da leitura e da escrita, que predominava em nossas crianças. Várias campanhas foram veiculadas na mídia e, reforçando a proposta, o INL – Instituto Nacional do Livro, destinou prêmios de incentivo à produção literária, para escritores e ilustradores.

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aos novos e talentosos artistas literários e gráficos. A partir daí, esses profissionais passaram a ser mais respeitados e valorizados no mundo editorial.

A ilustração, particularmente, recebe uma atenção mais técnica, posto que ela, tanto quanto o texto, narra e informa. Por essa razão, tem que ser bela, atraente e comunicativa, considerando-se que o exercício da arte de narrar, através de belas imagens, representa o elo mais sólido e autêntico entre o ilustrador e a criança.

Nesse cenário surgem verdadeiras obras de artistas gráficos, que se utilizam de diferentes meios para enriquecer e fortalecer as idéias escritas pelo autor, a exemplo de Cláudio Martins, Tato, Ricardo Azevedo, Marcelo Xavier, entre tantos outros.

É importante que se registre a existência de livros infantis cujo teor se mostra unicamente pela leitura de imagens e que, por si sós, nos encantam e nos comovem com suas narrativas ilustrativas. Esses livros proporcionam o exercício de nossa capacidade de imaginar e de realizar associações e inferências. A leitura do não-verbal dá-nos a oportunidade de desenvolver atividades orais e escritas a partir do texto não-verbal, reproduzindo-o e recriando-o a partir de outras linguagens. São ilustradores com altíssimo conhecimento gráfico e grande sensibilidade, fazendo com que suas histórias nos toquem profundamente, como a obra História de Amor, de Regina Coelli Rennó, e O último Broto de Rogério Borges.

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As novas tecnologias, por sua vez, trazem recursos que aprimoram e transformam os processos gráficos, tornando os livros verdadeiras obras de arte, pela soma de seus conteúdos, textos e imagens.

Vários são os contos nacionais que, por seu excelente conteúdo, abraçaram outras linguagens artísticas, a exemplo do Menino Maluquinho, de Ziraldo Pinto, sucesso absoluto no cinema, Pluft, o Fantasminha, de Maria Clara Machado, adaptado para o teatro e que foi agraciado com vários prêmios, O Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, hoje apresentado em terceira edição nas telas da televisão brasileira.

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4 HISTÓRIA EM QUADRINHOS

A IMAGEM COM HISTÓRIAS E A HISTÓRIA DA IMAGEM

“... Pai Francisco entrou na roda, tocando seu

violão, bi-rim-bão bão bão, bi-rim bão bão...”

Pai Francisco - Ciranda

Os quadrinhos, largamente difundidos no século XIX, surgiram em 1740, com a criação de imagens piedosas produzidas pelos irmãos Gabriel e Nícollas Pellerim. Em 1846, o professor Rodolf Topffer publica, em Genebra,

Histories en Estamps, representadas por aventuras em quadrinhos. E, daí por diante, esta expressão artística ganhou adeptos no mundo inteiro.

Contudo, foi com os jornais que as histórias em quadrinhos receberam grande impulso, através da acirrada concorrência pelo mercado de leitores de dois destacados jornais americanos, o New York World, de Joseph Pulitzer, e o New York Journal, de William Randolph Heart. Através de suplementos coloridos, encartados nas edições dominicais, aqueles jornais competiam exaustivamente pelo aumento da tiragem e circulação. Faziam parte dessas competições alguns desenhos cômicos em que aparecia um personagem heróico que veio a ser conhecido como The Yellow Kid – O Menino Amarelo, arquétipo aventureiro e humorístico de uma criança norte-americana, vivenciando o cotidiano da vida familiar. Seu criador, o cartunista Richard F. Outcault, foi o primeiro artista a introduzir o diálogo junto aos personagens dentro dos balões. Até então, os textos apareciam em legendas, no rodapé da revista.

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Essa expressão artística constitui uma espécie de confluência das técnicas de cinema, fotografia e literatura, compreendidas como símbolos culturais populares, mas que possuem, antes de tudo, uma linguagem própria, interessante e de fácil assimilação, geralmente apresentando muita ação, embora suficientemente breves para prender a atenção e não saturar o leitor. Genericamente, são classificadas em épica, policial, barroca, política e doméstica.

As histórias em quadrinhos constituem um processo de comunicação que utiliza dois códigos de signos gráficos: a imagem, que é obtida pelo desenho, e a linguagem escrita, ambas se complementando de forma a fazerem parte do sintagma narrativo.

A imagem tem a função figurativa de representar analogicamente uma realidade, de forma a construir mensagens simbólicas, utilizando-se, para isso, dos ícones, que têm a função primeira de imitar e servem para representar e reproduzir o real, a sua forma física, tendo relação direta com o objeto.

O signo lingüístico é o elemento essencial da comunicação, tendo nas histórias em quadrinhos a função de conduzir a narrativa, e apresenta-se em forma de legenda e/ou de balão. A legenda é um elemento externo à ação, é o discurso impassível do narrador.

Outra simbologia bastante utilizada se reporta aos sinais gráficos, que têm a função principal de tornar visíveis os ruídos, procurando imitar o som natural da coisa significada, os quais, de forma harmoniosa, se integram à imagem.

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democrático por parte de um público com gosto mais apurado e de faixa etária variável, em especial a criança, tratando-se de uma leitura lúdica e prazerosa, elementos bastante atrativos no processo de iniciação da leitura.

No Brasil, Chiquinho e Jagunça foram os primeiros personagens de uma revista em quadrinhos intitulada Tico-Tico, lançada em 1905, sendo informativa e lúdica, era também lúcida na informação, recreativa no modo como educava, com jogos de armar, adivinhações, teatrinho de sombras, cartas enigmáticas. Escritores como Olavo Bilac, Oswaldo Orion, Murjlo Araújo, Catulo da Paixão Cearense, Josué Montello, escreveram para o Tico-Tico,

desvendando às crianças todo um mundo fascinante que é o da Literatura.

No período Vargas, o jornal Gazeta lançou a Gazeta Infantil ou

Gazetinha, como era popularmente conhecida. Posteriormente, surgiu a revista

Gibi, denominação que até hoje é sinônimo de revista em quadrinhos. Várias outras foram surgindo, buscando alcançar e, sobretudo, agradar o gosto apurado das crianças, a exemplo de O Gury e Comics Books.

Outra revista de bastante sucesso trazia como personagem principal o Jerônimo, O herói do sertão, paladino da justiça e andarilho dos sertões brasileiros, ele estava sempre à disposição, onde quer que o bem precisasse triunfar. Tendo ao lado o inseparável ajudante Moleque Saci, foi um herói de quadrinhos que surgiu em 1957 e fez a alegria dos fãs durante 62 edições mensais e cinco almanaques especiais, escritos por Moysés Weltman, desenhados por Edmundo Rodrigues e publicados pela RGE.

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O humorista cearense Renato Aragão, em 1980, também se lança no mundo editorial, publicando sua primeira edição em quadrinhos junto com Dedé, Mussum e Zacarias, que mostrava as aventuras dos quatro Trapalhões. Em 2003, produz a revista A Trupe do Didi, que é composta por diversos personagens que são vistos nas revistas voltadas para o público infantil, Aventuras do Didizinho, Revista do Didi, Revistinha de Pintar.

Maurício de Souza desponta para consolidar os quadrinhos como diversão, cultura e arte, cujos personagens por ele criados mantêm estreita intimidade com as crianças, a exemplo da Mônica, do Cascão, do Cebolinha e de vários outros.

Acompanhando essa onda, os personagens de Lobato ganham espaço nas histórias em quadrinhos.È lançada no mercado em 1997, o Sítio do Picapau Amarelo. As histórias absorviam o mesmo clima da TV, seguindo a linha de temas folclóricos e regionais, mas sem deixar de entrar em assuntos mais normais, como a clássica aventura em que Tia Nastácia é convocada para a Seleção Brasileira - rumo à Copa de 1978 -, a fim de preparar quitutes para os jogadores. Isso aconteceu na edição nº 13. A revista durou até o começo dos anos 80.

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È inegável que nos dias de hoje, as histórias em quadrinhos conquistaram seu espaço e o gosto do público em geral. Em nosso cotidiano, jornais, revistas, televisão, livros se incubem de possibilitar o contato com os quadrinhos.

Não devemos esquecer de mencionar a artista plástica paulista Eva Furnari e seus inúmeros livros que trazem em seu bojo a Bruxinha como personagem principal. São histórias contadas através de tiras, sem texto, que nos fazem rir, nos emocionam e, algumas vezes, nos conduzem a reflexões. Mistério, ação, surpresa, humor são ingredientes essenciais estampados nos quadrinhos dessa brilhante escritora.

No Ceará, nome como o de Mino (Hermínio Macedo Castelo Branco) consagra-se por tornar popular o Capitão Rapadura, que teve sua aparição em 1973, referenciando-se às situações sociais e políticas, ora vividas pela sociedade cearense. É ainda da autoria de Mino o Almanaque Mino, produção carregada de criatividade e humor com ricas ilustrações. Artista que reúne diversas facetas, Mino é escritor, ilustrador e editor, tendo-se consagrado nacionalmente quando, em parceria com Ziraldo Pinto, lançou o livro O Pequeno planeta perdido.

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Exemplo digno de registro é o do Senhor Silvio Roberto Neves Amarante, colecionador de gibis desde os oito anos de idade, que fez do seu

hobby sua atividade profissional e da qual é hoje uma referência cearense e

A Universidade Federal do Ceará, através do Curso de Comunicação Social, mantém a Oficina de Quadrinhos sob a coordenação do Professor Geraldo Jesuíno. São publicações de

profissionais que estão se

preparando para o concorrido mercado dos quadrinhos. Dentre as publicações está Pium, histórias criativas, cheias de ação e emoção.

Ainda, sob a coordenação do professor Geraldo Jenuíno, foi lançado, em 1996, Iracema em quadrinhos, romance de José de Alencar, quadrinizado por Paulo Henrique Gifoni. Teve o propósito de resgatar e divulgar

uma das mais valiosas e

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nacional. É ele um dos maiores colecionadores de quadrinhos do Brasil, mantendo permanente contato com outros colecionadores famosos.

É de sua propriedade a Empresa Casa da Leitura, fundada em 1993, localizada na avenida Pontes Vieira, nº 1843, cujo nome de fantasia é Casa da Revista & Cia. Mantém um considerável acervo de revistas à disposição do público leitor, nacionais e internacionais, além de outros produtos voltados à leitura em geral.

Segundo informações obtidas junto ao senhor Edglê, gerente e funcionário daquela empresa desde sua fundação, a Casa da Revista vende quase todos os tipos de revistas publicadas no Ceará e no Brasil, além de algumas internacionais, destacando que as nacionais atualmente registram maior volume de vendas, em virtude das constantes elevações do dólar, que encarecem substancialmente o preço das revistas internacionais.

Mesmo assim, ainda segundo depoimento por ele prestado, as revistas de quadrinhos Mangai, editadas no Japão e traduzidas para o português, registram grande vendagem, não apenas junto ao público infanto-juvenil, como aos adultos das mais variadas idades.

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A Casa da Revista mantém um seleto grupo de fies freqüentadores e consumidores, registrando um volume de vendas razoável, se comparado às bancas de revistas nos mais diversos recantos de Fortaleza.

Capitão Rapadura, personagem nordestino que se apega aos valores regionais. Muitas vezes, em seus textos são lembrados célebres personagens como Antônio Conselheiro, Padre Cícero, Zumbi e vários outros.

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5 LITERATURA REGIONAL

O QUE É DE DENTRO, O QUE É DE FORA

“... Escravos de Jó, jogavamcaxangá, tira, bota deixa o Zé Pereira ficar, guerreiros com

guerreiros fazem zigue zigue zá...”

Escravo de Jô – Ciranda

Definir o conceito de regionalismo na Literatura remete-nos a uma ampla temática oriunda de meados do século XX, quando do surgimento do pré-modernismo autores regionalistas, a exemplo de Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Graça Aranha, Rachel de Queiroz, entre vários outros, focalizavam, diluídas em suas obras de ficção, questões de maior relevância para o ser humano.

A Literatura regional reflete as tendências e mudanças que ocorrem nos centros disseminadores de cultura do país. O modernismo repercutiu em todos os estados brasileiros, despertando nos escritores o desejo de buscar novos caminhos, de realizar uma literatura que expressasse a realidade, o ser humano e seu existir-no-mundo, esse processo implicou em romper com o academismo.

Esse gênero literário pressupõe uma abordagem da realidade vivida pelo homem em meio às suas paisagens, linguagens, valores culturais e condições sócio-econômicas, ou seja, um registro literário das raízes históricas, usos, costumes de um povo. É inegável a valiosa contribuição do regionalismo ao desenvolvimento e aprimoramento para a literatura, uma vez que grandes autores marcaram com suas obras fases importantes da nossa história literária.

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literatura viaja mundo a fora, alçando vôos mais distantes, veremos que as culturas de diferentes paises estão sendo socializadas, numa ação globalizada.

A problemática de cultura regionalista da sociedade contemporânea faz instalar uma nova cultura globalizada, intermediada por diferentes meios de comunicação, publicações literárias e científicas, televisiva, Internet e mesmo o trânsito constante de pessoas, dentre outros fatores que, de certo modo, valorizam e disseminam, no mesmo movimento do tempo/espaço, as culturas locais e as diferenças culturais, provocando assim, uma mudança de paradigma na produção e na divulgação do conhecimento.

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6 A LITERATURA INFANTIL NO CEARÁ

E ASSIM ACONTECEU...

“... Oh! Dona Maria, oh! Mariazinha, entra

nesta roda ou ficará sozinha!...”

Fui ao Tororó – Ciranda

A história da Literatura Infantil no Ceará data de um tempo não muito distante, sendo razoável afirmar que ela está, ainda, na fase do engatinhar, ou seja, dando os passos iniciais para se firmar no seleto cenário nacional.

Segundo depoimento Geraldo Jesuíno, professor do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará, artista gráfico, escritor e diretor da Imprensa Universitária da mesma Instituição, por volta de trinta anos algumas publicações foram lançadas em nossa Capital, o que representou um verdadeiro caráter desafiador e solitário.

Tratava-se de escritores que, apaixonados pela Literatura Infantil, obstinadamente lançavam suas obras no mercado, as quais eram vendidas de forma acanhada a amigos e distribuídas nas poucas livrarias locais. Esses escritores detinham excelente poder aquisitivo e, por isso, tinham condições de produzir, editar e lançar suas publicações sem maiores preocupações com tiragem, vendagem, lucro, etc. Como exemplo, podemos citar a obra O Menino e o Arco Íris, de Artur Eduardo Benevides, com data de copiragem de 1975 (exemplar que tenho em mãos). Referida obra contempla textos poéticos, trazendo em seu bojo raras ilustrações a bico de pena.

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Baila-Balão, com poesias curtas e ilustrações a bico de pena, em todas as páginas.

Nesse período inexistia uma política de amparo à editoria local, que assegurasse ao escritor o mínimo de incentivo para publicação de sua produção literária.

Contudo, fora do Estado, mais uma vez brilhava a estrela da nossa ilustre e saudosa conterrânea Rachel de Queiroz, que, em 1969, lançava sua primeira obra infantil, intitulada O Menino Mágico, impressa por uma editora do sul do País, e que veio a ganhar o prêmio Jabuti de Literatura Infantil, patrocinado pela Câmara Brasileira do Livro. Depois, outras produções de sua autoria, igualmente destinada ao público infantil, foram lançadas no mercado: Andyra (1992), Cafute & Pena de Prata (1996), Xerimbabo (2002) e Memórias de menina (2003). É oportuno registrar, neste trabalho, o extraordinário talento literário dessa mulher de fibra, fala e sentimento nordestinos, de cujos valores não abria mão e os proclamava onde estivesse, reconhecidos em todo o mundo, e que se faz respeitar através de seus textos literários.

Em 1981, a Literatura Infantil Cearense ganha grande impulso com a consolidação do Projeto A Biblioteca da Vida Rural Brasileira, uma parceria da Universidade Federal do Ceará com o Ministério da Educação e Cultura. Programa de leitura pioneiro no Nordeste, consistia em produzir e publicar obras de caráter regional, contemplando várias coleções: Trancoso, Cordel, Teatro e Escola, cujo objetivo era levar leitura e informação às comunidades periféricas rurais.

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O professor Geraldo Jesuíno afirma que “neste Projeto não apenas as crianças tiveram acesso a um trabalho pedagógico de alta qualidade, desenvolvido tanto para as da cidade quanto para as do Interior, como permitiu, também, que as equipes formadas por professores, ilustradores e escritores se deslocassem para conhecer a realidade da vida rural. Para tanto, fizeram pesquisas, conversaram com as crianças das localidades visitadas, enfim conheceram a real cultura desse povo específico, recolhendo seu vocabulário, entendendo seu imaginário, seu meio, sua cultura, angariando subsídios para melhor retratar a realidade daquele povo, através de textos literários”.

O que se pode observar nos títulos publicados por esse Projeto é um apurado senso profissional, posto que, antecedendo à produção do texto, era realizada uma pesquisa criteriosa e valiosa, com o propósito de recolher dados para melhor retratar simbolicamente, através de personagens ficcionais, a realidade vivida por aquele povo em especial... Era a Literatura Infantil servindo de instrumento essencial de prazer, informação e formação.

Através do Projeto Biblioteca da Vida Rural, novos autores foram revelados, com destaque para os escritores Vanderlou, Maria Elias Soares, Marita Balsells e vários outros.

Ainda de acordo com o depoimento do professor Geraldo Jesuíno, “muitas oportunidades foram oferecidas através deste Projeto, não só em nível de escritores, como também de ilustradores, equipe editorial e fotomecânica, enfim para um grupo valioso de novos talentos envolvidos com a produção editorial”.

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considerável prejuízo para a sociedade, principalmente para os fiéis leitores que já haviam sido beneficiados com as suas produções.

Outra ação que veio contribuir substancialmente para a produção da Literatura Infantil no Ceará foi a implementação da cadeira de Literatura Infantil, na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Ceará, em 1987. O professor Horácio Dídimo, licenciado em Letras e bacharel em Direito, mestre em Literatura Brasileira e doutor em Literatura Comparada, foi o empreendedor desta inovação e, ainda, o primeiro e, por muito tempo, o único professor dessa disciplina.

A Universidade Federal do Ceará foi uma das primeiras, no ranking

nacional, a incluir, no seu currículo de graduação, a disciplina. Através deste estímulo, novos talentos foram gradativamente lançados no mercado, como afirma o professor Horácio Dídimo: “Eu mesmo fui incentivado a produzir textos infantis a partir da existência desta cadeira”. E citou, como exemplo, seus livros

A Cara dos Algarismos e o Mestre Jabuti.

O mestre Horácio Dídimo opta em sua obra, na maioria das vezes, por um gênero poético, textos breves, de profundo conhecimento e sensibilidade apurada, recheados de otimismo e esperança, desembocando numa efervescente religiosidade, como ele mesmo declara: “Passei a ver a palavra poética, a palavra literária como reflexo de Deus, da palavra divina. Vejo até um sentido trinitário na própria palavra, porque ela é formada de silêncio, de som e de sentido. E eu vi, nisso aqui, uma imagem trinitária do silêncio criador do Pai, da palavra redentora do Filho e do sentido santificador do Espírito Santo”.

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Instituída em 11 de abril de 1985, pela Empresa Jornalística O Povo, a Fundação Demócrito Rocha é uma Entidade privada, sem fins lucrativos que atua em diferentes segmentos da sociedade, como na Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, nas Artes e Letras, na Comunicação Social e, ainda, na Saúde e no Desenvolvimento Regional, buscando em suas ações canalizar, estimular e difundir a criatividade, o saber e o fazer do nosso povo.

A Fundação Demócrito Rocha detém, atualmente, um grande poderio no que se refere a publicações destinadas ao publico infantil em nosso Estado. Com efeito, desde 1989 vem desenvolvendo um projeto editorial de qualidade, que busca, entre outras ações, estimular a produção literária local, e, através desta produção, preservar as mais variadas manifestações culturais de nosso povo.

Do depoimento colhido junto a Socorro Acioli, editora adjunta da Fundação Demócrito Rocha, graduada em Comunicação Social, mestre em Literatura Infantil e ainda escritora, podemos afirmar que essa Entidade vem se consolidando rapidamente no mercado editorial, cearense e brasileiro, com livros que abrangem diversas áreas do conhecimento. A Literatura Infantil, por sua vez, vem ganhando espaço no universo literário, não só em nível regional, bem assim em nível nacional. Reforçando, afirma a depoente que: “uma média de doze a treze títulos infantis foram lançados em 2002, e que essa média vem crescendo ano após ano, e sua divulgação está ganhando espaço nacional, chegando algumas obras a serem elogiadas nos jornais Folha de São Paulo e O Estadão”.

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Rocha, situada na Avenida Aguanambi, 282, em sua loja virtual WWW.fdr.com.br.

Um fato que vem confirmar a proliferação da Literatura Infantil em nosso Estado se reporta ao lançamento de vários títulos, promovido pela Fundação Demócrito Rocha, em parceria com a Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, na 6ª edição da Bienal Internacional do Livro. Essas obras foram escritas e ilustradas por artistas conterrâneos e editadas pela própria Fundação, ficando expostas em vários “stands” durante todo o período de realização do evento.

O lançamento dos livros contou com boa participação do público infantil, registrando-se que as crianças, logo após a solenidade, adquiram os livros e solicitaram autógrafos dos respectivos autores. Estavam presentes ao ato os escritores Fabiano dos Santos, Daniel Adjafre, Kelson Bravos, João dos Santos, Guaraciara de Barros Leal, Cira Montezuma, Fábio Beneduce, Horácio Dídimo, Almir Mota e muitos outros.

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7 AUTORES CEARENSES

PROTAGONISTAS DESTA HISTÓRIA

“... Se esta rua, esta rua fosse minha, eu

mandava, eu mandava ladrinlhar, com

pedrinhas, com pedrinhas de brilhante...” Nesta rua - Ciranda

Aqui estão catalogados artistas que hoje compõem a galeria de escritores e ilustradores que deram importantes contribuição para o fazer arte literária voltada para as nossas crianças. Muitos outros, certamente, virão somar suas idéias às da obra já existentes, ampliando e consolidando a história da Literatura Infantil no Estado do Ceará.

Martins d’Alvarez – Escritor

Poeta cearense, viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Escreveu alguns livros de poemas e ficção, com destaque para a obra intitulada No mundo da lua, coletânea de poesias destinada ao público infantil.

Rachel de Queiroz – Escritora

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Elvira Drummond Escritora

Graduada em Música com pós-graduação em Literatura. Quando criança, tocava piano e ouvia histórias antes de dormir, aconchegada ao colo do pai. Talvez por tudo isso, se tornou professora de piano e de Literatura Infantil. Dentre os livros que publicou destaca-se A Lenda Carimbamba.

Almir Mota – Escritor

Seu gosto pela leitura começou cedo nas rodas de histórias, quando sua avó Canela, narrava romances da Literatura de Cordel. Do ouvir para o ler foi um pulo, e de tanto ler passou a escrever. Publicou O Cavalinho amarelo, O Mistério da galinha choca, Cocó o rio amigo, Brincando com as estrelas, O Jumento e a banda, O Bode Ioiô, Os Caretas, entre outros.

Guaraciara Barros Leal Escritora

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Helena Lutéscia – Escritora

Professora de Toxicologia da UFC. Fez Mestrado e Doutorado em Farmacologia. Segundo ela, foi introduzida no mundo do imaginário por Lais, sua mãe preta que lhe contava histórias de príncipes, dragões e almas de outro mundo. Escreveu os livros infantis: As Aventuras do caracol Paulo, Cecéu o embaixador, O Sinal do pássaro e Do Começo ao fim.

Horácio Dídimo Escritor

Professor do Departamento de Licenciatura da UFC. Graduado em Direito e Letras, Mestre em Licenciatura e Doutor em Literatura Comparada. Escreveu várias obras no campo da poesia, ensaio e Literatura Infantil, entre as quais destacam-se: Tijolo de barro, A Nave de Prata, Historinhas do mestre Jabuti, A Escola dos bichos, O Passarinho carrancudo, As Reinações do rei eFesta no mercadinho.

Luiza de Teodoro – Escritora

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Mino (Hermínio Macêdo Castelo Branco) – Escritor

Graduado em Direito e Jornalismo pela UFC. Trabalha como colaborador no Jornal Diário do Nordeste. Também é pintor, quadrinista e ilustrador. Publicou alguns livros infanto-juvenis: O Menino iluminado, A Lição das cores e A Luz de cada um. Entre seus quadrinhos destacamos:

Almanaque Mino, O Capitão Rapadura e Rivista.

Raissa Emir Escritora

É estudiosa e escritora da Literatura Infantil. Por tocar, gosta sempre de trabalhar, em suas produções literárias, a Literatura em parceria com a música. Reúne em sua obra a cultura do povo, como as cantigas de roda e o acalanto. Lançou o livro Vamos todos cirandar.

Fabiano dos Santos – Escritor

Quando criança brincava muito no quintal, na rua, no mato. Gostava de ouvir e contar histórias e isso vem de sua avó, que muito lhe contou histórias de diferentes gêneros. Publicou vários livros infantis:

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Socorro Acioli Escritora

Sempre conviveu com pessoas que gostavam de ler. Publicou seu primeiro livro O Pipoqueiro João, aos oito anos de idade. Graduada em Jornalista com Mestrado em Literatura, atualmente ocupa o cargo de Editora Adjunta da Fundação Demócrito Rocha. Publicou os livros Infantis: É para ler e para comer e Bia que tanto lia.

Daniel Adjafre Escritor

Escreve histórias para adultos e crianças. Para aprender a contar histórias bem contadas, fez curso de dramaturgia em Fortaleza. Seu livro infantil de maior destaque intitula-se As Garrafinhas de areia colorida.

Ângela Escudeiro Escritora

Referências

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