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3. CAPITULO III

3.5 A implantação das Ações afirmativas de 1995 a

Em 1995, durante caminhada a Brasília, o movimento negro reivindicou políticas públicas ao Estado Brasileiro e o reconhecimento público por um agente do Estado o Presidente Fernando Henrique Cardoso (1996 – 2002), de que a escravidão negra no país foi um crime contra a humanidade, o movimento teve como respostas àssuas propostas, as medidas implementadas pelo governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1996 – 2002), para, através da criação de um grupo de trabalho interministerial (GTI-1966), implementar programas de ações afirmativas em diferentes organismos do governo.

Reivindicações como estas na esfera educacional foram mais uma vez requeridas ao Estado brasileiro na primeira metade da década de noventa do século XX, quando foi realizado um dos eventos mais importantes organizados pelas entidades negras brasileiras, a Marcha Zumbi dos Palmares Contra o Racismo, Pela Cidadania e a Vida. Esta marcha foi realizada no dia 20 de novembro de 1995, em Brasília, quando os seus organizadores foram recebidos pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto.

Mais uma vez, as lideranças dos movimentos negros denunciaram a discriminação racial e condenaram o racismo contra os negros no Brasil. Além disso, entregaram ao chefe do Estado brasileiro o Programa de Superação do Racismo e da Desigualdade

Racial, que continha várias propostas anti-racistas.

No que diz respeito à educação podemos citar, entre outras:

• Implementação da Convenção Sobre Eliminação da Discriminação Racial no Ensino;

• Monitoramento dos livros didáticos, manuais escolares e programas educativos controlados pela União;

• Desenvolvimento de programas permanentes de treinamento de professores e educadores que os habilite a tratar adequadamente com a diversidade racial, identificar as práticas discriminatórias presentes na escola e o impacto destas na evasão e repetência das crianças negras (EXECUTIVA 1996).

Alguns pontos desta histórica reivindicação dos movimentos sociais negros foram atendidos pelo governo brasileiro na segunda metade da década de 1990, como, por exemplo, a revisão de livros didáticos ou mesmo a eliminação de vários livros didáticos em que os negros apareciam de forma estereotipada, ou seja, eram representados como subservientes, racialmente inferiores, entre outras características negativas.

Considerando as pressões anti-racistas e legítimas dos movimentos sociais negros, políticos de diversas tendências ideológicas, em vários estados e municípios brasileiros, reconheceram a necessidade de reformular as normas.

Esta marcha foi organizada para reafirmar a resistência dos afro-brasileiros, simbolizada no Guerreiro Zumbi dos Palmares, contra o racismo e as desigualdades raciais. Ela contou com a presença de mais de trinta mil participantes (OLIVEIRA, LIMA e SANTOS, 1998). (Estas propostas estão em EXECUTIVA Nacional da Marcha Zumbi - 1995).

Sobre as políticas solicitadas pelo movimento negro é oportuno conhecer o pensamento do Presidente da República Fernando Henrique Cardoso (1996) sobre o racismo e preconceito no Brasil:

Em função disso, criamos o grupo interministerial, o qual o professor Hélio Santos está encarregado de animar, para dar uma injeção de criatividade nas nossas práticas, até mesmo nas práticas legislativas e nas burocráticas, na maneira peal qual o governo atua nessa matéria, que é difícil de atuar, porque diz respeito a valores muito profundos e a interesses também. E diz respeito a situações que são inaceitáveis, pois a discriminação parece se consolidar como alguma coisa que se repete, que se reproduz. Não, o nosso jeito está errado mesmo, há uma repetição de discriminação e há a inaceitabilidade do preconceito. Isso tem de ser desmascarado, tem de ser, realmente, contra- atacado, não só verbalmente, como também em termos de mecanismos e processos que possam levar a uma transformação, no sentido de uma relação mais democrática, entre raças, entre os grupos sociais e entre as classes (SOUZA, 1996, p. 16).

Mais do que isso, as pressões dos movimentos negros e, conseqüentemente, suas articulações com políticos mais sensíveis à questão racial brasileira, tiveram como resultado a inclusão, por meio de leis, de disciplinas sobre a História dos Negros no Brasil e a História do Continente Africano nos ensinos fundamental e médio das redes estaduais e municipais de ensino.

.Constituição do Estado da Bahia, promulgada em 05 de outubro de 1989: Art. 275. É dever do Estado, preservar e garantir a integridade, a respeitabilidade permanência dos valores da religião afro-brasileira e especialmente:

IV - promover a adequação dos programas de ensino das disciplinas de geografia, história, comunicação e expressão, estudos sociais e educação artística à realidade histórica afro-brasileira, nos estabelecimentos estaduais de 1ª, 2ª e 3ª graus.

Iniciou-se neste período o reconhecimento formal da administração publica de que houve uma violência institucional racial direta e indireta no passado, de que há, no presente, uma desigualdade racial herdada deste período, e para a superação destes fenômenos persistentes, exige-se do Estado, por meio da administração pública, uma atitude ativa e inclusiva como forma de promover o desenvolvimento e combater as desigualdades.

Para Gomes (2003, p. 20) :

As ações afirmativas têm como objetivo não apenas coibir a discriminação do presente mas, os ‘efeitos persistentes’ (psicológicos, culturais e comportamentais) da discriminação do passado, que tendem perpetuar-se. Esses efeitos revelam na chamada “discriminação estrutural”, espelhada nas abismais desigualdades sociais entre grupos dominantes e grupos marginalizados (GOMES, 2003, p. 20).

As ações afirmativas na educação brasileira53 são inovações jurídicas introduzidas na política, pelo movimento negro e de seus aliados, constituídas nos últimos trinta anos, com as experiências pioneiras da presença de militantes negros nos governos de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, nos conselhos da comunidade negra e assessoria afro- brasileira, e na Fundação Palmares no Ministério da Cultura em 1986.

Em relação às ações afirmativas e as políticas de cotas as principais conseqüências pós-Durban 2001 no Brasil, foi a criação no legislativo e no executivo de atos normativos. (Anexo 9)

No presente momento54, o Direito tem nas ações afirmativas alternativas as políticas sociais universalistas e estas se baseiam em dados científicos da qualidade de vida e do acesso do cidadão aos bens da nação, com prioridades para os ativos que formam a riqueza e o desenvolvimento nacional: a educação, o trabalho, ea renda, disponíveis no IBGE, IPEA, MEC, PNUD. Os termos democracia, igualdade, Estado de Direito podem ser aperfeiçoados para incluir mais pessoas no uso dos direitos e deveres do cidadão. Isto significa que o acesso ao ensino superior, em universidades públicas destinado a afro- descendentes, indígenas, alunos da escola pública é um importante mecanismo de inclusão, e de desenvolvimento econômico e social para opaís.

Deste modo, torna-se importante analisar como está ocorrendo o processo de implementação das ações afirmativas nas Universidades públicas do Brasil, o debate sobre as ações afirmativas, cotas, autonomia universitária, no plano jurídico enseja respostas a partir das experiências das universidades que possuem estas políticas para o ingresso de afro-brasileiros no ensino superior.55

54 Ver em Anexo 16 documento da Marcha Zumbi + 10 reivindicando do governo brasileiro novas políticas

públicas para os afro-brasileiros.

55 Brasília, 30 de outubro de 2005.

CARTA ABERTA ÀS UNIVERSIDADES PÚBLICAS

Motivados pelo sucesso na adoção de Ações Afirmativas por parte da Universidade Federal da Bahia, a ser apresentado na OITIVA do MEC, de 30/09/2005 às 15 horas, em Brasília, queremos parabenizar as demais Instituições de Ensino Superior (IES) - Públicas que já adotaram Ações Afirmativas para pobres, negros e indígenas nas respectivas Instituições.

Preocupa-nos a escancarada omissão da maioria as IES que não adotaram ainda Ações Afirmativas e não organizaram nenhum debate com seus professores, alunos e funcionários sobre o tema!

Estas IES usam erroneamente suas autonomias universitárias para excluir pobres, negros e indígenas. Essa autonomia não deve sobrepor aos princípios fundamentais da Constituição Brasileira, descritos no Artigo 3º:

Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas

de discriminação. (neste item está o grande erro das universidades: tem promovido de maneira preferencial os eurodescendentes)

As IES devem combater todas as desigualdades e utilizar o principio da isonomia que segundo Rui Barbosa consiste em “tratar igual os iguais e desigual os desiguais na medida em que eles se desigualam”.

Possuímos uma relação de nomes de pessoas de alto gabarito disponíveis a irem em qualquer IES ajudar no debate. A Unb, UFPR,UFPA e outras tantas de alto nível, que após estudarem com afinco o tema, concluíram que não fazer nada é comprometedor e prejudica a imagem da Instituição. O ex-Ministro

Neste sentido, a experiência da Universidade de Brasília merece um destaque por ter sido a primeira Universidade federal a implantar uma política de acesso ao ensino superior por meio de ação afirmativa do tipo cotas. O curso de Direito desta Universidade convive com um programa público de ações afirmativas para afro-descendentes. Como o curso de Direito está reagindo à presença nova deste instituto na Unb? E qual será o papel dos professores, da Pós-graduação de Direito para um tema até então desconhecido da sala de aula das faculdades de Direito, e dos conteúdos curriculares do Direito Constitucional?

Enfim, faz-se necessário analisar como ocorreu a decisão de escolher estas políticas de inclusão racial na Universidade, as reações, os beneficiados, o acompanhamento destas ações, e como está sendo o desempenho dos alunos destes programas. Com as informações decorrentes das respostas, e com as demandas ainda em curso neste processo, o Direito nacional poderá ter novos instrumentos de praticar a igualdade constitucional a partir das ações afirmativas.

TARSO GENRO afirmou, em um debate em São Paulo com os movimentos sociais que “é melhor errar com cotas do que sem elas”, jornal folha de São Paulo, 05/06/2005.

Assim, conclamamos todas as IES-Públicas para não esperarem a Lei Federal e nem a Reforma Universitária: adotem já, Ações Afirmativas e ajudem o Brasil a ser mais justo com esses seguimentos dos historicamente excluídos.

Atenciosamente.