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A introdução nas universidades públicas brasileiras das políticas de ação afirmativa da espécie cota para o ingresso de afro-brasileiros no ensino superior gerou grande polêmica sobre a igualdade racial no Brasil, após a Constituição de 1988. O movimento negro e o poder público têm debatido sobre como deveriam ser estas ações na educação, na comunicação social, no emprego, nas licitações públicas, muitas vezes sem consenso sobre quais seriam as melhores formas de políticas a serem praticadas. Para entender esse debate, a sociedade e o governo têm de compreender as razões históricas da discriminação racial no Brasil.

O Brasil, os Estados Unidos, a África do Sul são exemplos de sociedades colonizadas multiracialmente, com longa história de discriminação racial direta e indireta, que mantêm altos índices de violência estrutural. Esta discriminação é conhecida, citada e debatida pelos setores oprimidos como maneira legal de excluí-los, quando da luta de libertação e ou quando de movimento por direitos civis.

Conforme foi visto por intermédio de Fanon76, num ambiente de discriminação racial, a comunicação entre os dois grupos de pessoas, os discriminados e os discriminadores, é entremeada pelo racismo. Não estão se enfrentando dois grupos humanos, mas duas espécies diferentes. Conseqüentemente, o relacionamento possível realiza-se exclusivamente por meio das violências física e psicológica.

A Teoria da Assimilação no Brasil é a base da ideologia do embranquecimento da nação e do mito da democracia racial desenvolvida a partir de 1850 e consolidada entre os anos 1920 e 1930. Sempre que questionados sobre o lugar do afro-brasileiro na sociedade e sobre a justiça social inclusiva entre os brasileiros, é comum afirmar-se entre os brasileiros que não há racismo no país e que este é fenômeno externo e que não afeta a predisposição dos brasileiros à miscigenação, bem como a ausência de confronto racial aberto não evidencia a

76 Para saber mais sobre a discriminação e violência contra povos colonizados: Ver Os condenados da Terra de

Frantz Fanon, sobre o colonialismo e o papel da violência contra o colonizado. O autor escreveu Peles Negras e Máscaras Brancas (1952) sobre os efeitos psicológicos da violência estrutural.

Nascido na Martinica, Frantz Fanon formou-se em médico e lutou na Argélia no front da guerra de independência e analisou os efeitos da discriminação e violência da opressão européia sobre os africanos e árabes. Para ele, a desalienação do negro implica uma tomada de consciência das relações sócio-econômicas.

ausência do racismo, atribuindo as desigualdades raciais sofridas pelos afro-brasileiros à questão de classes social e econômica.

Para os opositores das políticas de ação afirmativa77, a igualdade no Brasil deve continuar tendo um viés legalista e cego à realidade histórica, sociológica e antropológica. Sob a ótica liberal, o mercado e as oportunidades estão colocados de forma igualitária para todos e estas políticas viriam a constituir-se em privilégio e em importação alienígena ao direito nacional.

Em duas universidades, a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e agora a Universidade de Brasília (UnB), candidatos a vagas reservadas para negros terão de submeter fotografias para confirmar o seu status racial. O candidato para uma vaga na UnB será fotografado no ato da inscrição e seu pedido será analisado por uma comissão, formada por “membros de movimentos ligados à questão da igualdade racial e especialistas no tema”. Segundo a professora Dione Moura, relatora da Comissão de Implantação do Plano de Metas de Integração Social, Étnica e Racial da UnB, as fotos serão feitas simplesmente para homologar a inscrição: “Sabemos que haverá casos de irmãos em que um terá a inscrição homologada e outro não. A avaliação será feita por fenótipo, cor da pele e características gerais da raça negra, porque esses são os fatores que levam ao preconceito. Como se pode imaginar, essa medida está causando muita angústia entre aqueles que sempre duvidaram da propriedade da introdução de cotas raciais nas universidades brasileiras, e um certo embaraço entre os mais ativos mentores. Dois deles afirmaram recentemente o seu júbilo pela introdução de cotas, mas um distanciamento das fotografias, lembrando que o projeto original da UnB não incluía a fotografia do candidato negro e defendia o direito à auto-atribuição racial, seguindo a Convenção 169 da OIT. Há um sentimento generalizado que a nomeação de comissões para definir a “raça” dos cidadãos é um retrocesso com sinistros odores do apartheid da África do Sul, e dos mecanismos desenvolvidos pelos eugenistas de antanho no Brasil.

(Peter Fry. lógica das cotas raciais, por O Globo, 14/04/2004)

Para os defensores de cotas como espécie de ação afirmativa na educação superior, o sistema republicano, consolidado após a Abolição da Escravatura, aprofundou as desigualdades raciais no Brasil ao adotar uma neutralidade sobre o legado da escravidão afro- brasileira, ao desenvolver e cultuar a ideologia da “democracia racial” e do “homem cordial” nos trópicos em oposição ao racismo direto e legal existente nos Estados Unidos e na África do Sul. A República ocultou, por meio da neutralidade jurídica e da omissão do Estado, a necessidade de incluir na democracia o exercício da cidadania dos libertos no dia 13 de maio de 1888.

O sistema jurídico nacional foi um dos instrumentos pelo qual o Estado brasileiro, no Império e na República, regulamentou o acesso à educação, proibindo este bem para uns e favorecendo o acesso ao conhecimento sem competição e de forma desigual para outros. Conseqüentemente, contribuiu para o surgimento da exclusão do negro das escolas públicas e particulares, sendo estas as raízes históricas dos grandes problemas educacionais do Brasil atual.

As normas jurídicas sobre os afro-brasileiros por meio de leis, de normas, de regulamentos, de resoluções, de condutas e de posturas especificavam os impedimentos, os obstáculos, as vendas, os impostos sobre trabalho e sobre deslocamentos, alienação, alforria, heranças, bens semoventes, comercialização de escravos, exportação, fundo de emancipação, insurreição, lundu, uso das ruas, horários de circulação e tráfico de escravos.

Modernamente, o direito das relações raciais tem sido estimulado pelo movimento negro desde os anos sessenta e na década de noventa ganhou força e mobilidade nacional, atingindo o seu destaque máximo depois da conferência da ONU, em Durban, na África do Sul, em 2001. Daí, a discussão sobre a aplicação de políticas públicas de ação afirmativa do tipo cotas nas universidades ter despertado reflexão sobre o valor do princípio da igualdade, da constitucionalidade das leis, da autonomia universitária, dos privilégios, dos méritos nos meios acadêmicos e jurídicos.

Esse debate sobre as ações afirmativas no direito público brasileiro é resultado de diversos fatores históricos, a exemplo da herança da escravidão dos afro-brasileiros no país durante a colônia78 e o império e a consciência de que, praticando apenas políticas universalistas há 117 anos após a abolição, o afro-brasileiro continua excluído e desigual entre os cidadãos.

Certamente, as universidades públicas federais e estaduais têm sido pressionadas pelo movimento social negro a adotar programas de inclusão dos afro-brasileiros e têm dado

78 08.06.1815 – No Rio de Janeiro, o Príncipe Regente D. João expede duas Cartas de Lei. A primeira,

confirma, aprova e ratifica a convenção entre o Príncipe Regente de Portugal e dos Algarves e o Rei Jorge III, do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, assinada em Viena a 21 de janeiro de 1815, pelos respectivos plenipotenciários, para terminar amigavelmente as questões suscitadas sobre o tráfico de escravos, e de se obter igualmente de Sua Magestade Britânica uma justa indenização das perdas dos súditos portugueses no tráfico de escravos na Àfrica. A segunda, confirma aprova e ratifica o tratado entre o Príncipe Regente de Portugal e dos Algarves e o Rei Jorge III, do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, assinada em Viena a 22 de janeiro de 1815, pelos respectivos plenipotenciários, com o fim de efetuar, de comum acordo com os outros países da Europa, que se prestarem a contribuir para este fim benéfico, a abolição imediata do tráfico de escravos em todos os lugares da Costa da África. Fonte .www.camara.gov.br baixado no dia 15.11.2005

respostas de diferentes formas à introdução da inclusão racial no ambiente acadêmico da graduação e na pós-graduação.

Portanto, as ações afirmativas na educação brasileira são inovações jurídicas introduzidas na política, por meio do movimento negro e de seus aliados, constituídas nos últimos vinte anos, com as experiências pioneiras da presença de militantes negros nos governos de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, nos Conselhos da comunidade negra e Assessorias afro-brasileiras e, também com a criação da Fundação Palmares, no Ministério da Cultura em 1986.

Em 1995, após a caminhada, em Brasília, do movimento social negro que reivindicou políticas públicas ao Estado Brasileiro, neste momento, houve o reconhecimento público por um chefe de Estado, Presidente Fernando Henrique Cardoso, de que a escravidão negra no país foi um crime contra a humanidade. O movimento teve como resposta às suas propostas as medidas implementadas pelo governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1996 – 2002), tal como a criação de um grupo de trabalho interministerial (GTI-1966), para implementar programas de ações afirmativas em diferentes organismos do governo.

Então, iniciou-se, neste período, o reconhecimento formal da administração pública de que houve violência institucional e racial direta e indireta no passado, e que há, no presente, uma desigualdade racial herdada deste período. As superações destes fenômenos persistentes exigem do Estado e da administração pública uma atitude ativa e inclusiva como forma de promover o desenvolvimento e de combater as desigualdades.

Por exemplo, o professor Ubiratan Castro assim definiu o conceito de políticas de reparação no Brasil a ser implantado pela administração pública:

“O direito à reparação deve ser entendido como um direito coletivo difuso, do qual é portador a cidadania negra brasileira, cujo objeto deve ser a reparação moral dos que já sofreram no passado a escravidão e a discriminação bem como a erradicação dos mecanismos sociais e culturais contemporâneos de reprodução da discriminação, de modo a estabelecer condições iguais de competição entre brasileiros de todas as cores, de todas as origens e de todas as tradições culturais, conforme a letra e o espírito da Constituição Cidadã de 1988”. (CASTRO, 2001, p. 30)

Este conceito de políticas de inclusão para os afro-descendentes vem sendo estimulado na administração federal por setores do movimento negro nacional por intermédio da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial e por meio do debate sobre a escola pública de nível superior e sobre a inclusão dos afro-brasileiros. Os destaques desta nova política, praticada pelo governo do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, são a lei 10.639/2003 sobre a introdução da História da África nos currículos escolares, o Pró-Uni79 e a implantação de políticas de cotas para negros e índios em dezesseis universidades públicas federais e estaduais. Também, fazem parte destas políticas públicas o decreto presidencial, que determinou nacionalmente que o ano de 2005 seria dedicado à promoção da igualdade racial no Brasil, e, em novembro de 2005, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal aprovou, por aclamação, o projeto do Estatuto da Igualdade Racial de autoria do Senador Paulo Paim PT – RS.

Da mesma forma, o que hoje chamamos de políticas de ação afirmativa vem sendo praticado no Brasil desde os tempos da colônia para os brancos e diversos setores econômicos. Pode-se de forma criativa caracterizar as capitanias hereditárias como sistema de preferências para um grupo de homens brancos, portugueses fidalgos no acesso a terra, à justiça e aos direitos da cidadania. No Brasil Império, várias leis deram preferências aos brancos, aos colonos estrangeiros, em detrimento dos africanos para empregos em estação de passagem e em posse de terras na colônia de Santa Catarina e expressamente proibia a matrícula escolar aos africanos e libertos.

Com o propósito de declarar as políticas de cotas na Universidade Federal do Paraná, a ação de inconstitucionalidade, solicitada pelo Procurador Geral da República, Pedro Paulo Reinaldin, de Londrina, contra esta Universidade, contém a lista das descrições dos argumentos jurídicos para considerarem impróprias ao Brasil as políticas de ação afirmativa. Contudo, o presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, Desembargador Federal Vladimir Passos de Freitas80, ao cancelar a liminar, concedida pelo Juiz Mauro,

79 O Presidente Lula afirmou no dia 16 de novembro para a comissão executiva da Marcha Zumbi + 10, que o

programa Universitário Pró –Uni incluiu 37. 000 afro-descendentes nas Universidades do Programa.

80 A UFPR contestou a decisão no TRF, por meio de uma suspensão de execução de liminar, argumentando que

os candidatos que participam das provas ficariam submetidos a uma profunda insegurança jurídica. Outra alegação apresentada foi a de que, como não existe legislação sobre o assunto, a universidade teria agido nos limites de sua autonomia.

justificou o ato sob alegação de motivos públicos para que a Universidade Federal pratique ação afirmativa para afro–brasileiros e para estudantes das escolas públicas, assim, desse modo, sinalizou diversos argumentos e pressupostos favoráveis à ação afirmativa na educação superior para afro–brasileiros e para os pobres.

Neste contexto, o debate continua entre estudantes, professores, proprietários de escolas particulares, cursinhos pré-vestibulares, promotores públicos e juízes de diferentes instâncias, permeado por intensa discussão ideológica sobre: igualdade formal e real, o que é racismo, o que é justiça, e qual a melhor forma de incluir os afro–brasileiros no acesso ao ensino superior público e gratuito.

Em virtude das disputas sobre a aplicabilidade ou não das políticas de ação afirmativa no ensino superior, há o desafio para as faculdades de direito e para o direito nacional pensarem em ampliar a justiça e a igualdade para mais de 80 milhões de afro–brasileiros, e para este desafio ser enfrentado, torna-se necessário a desconstrução do “mito da democracia racial”, no que tem de mais excludente, a negação ao direito à educação pública republicana e ao direito às oportunidades dentro do reconhecimento das suas diferenças e diversidades que constitucionalmente os afro-brasileiros deveriam possuir,

As Universidades estaduais e federais que têm implantado os programas de ação afirmativa no Brasil realizam, sob a ótica da autonomia universitária e com definido plano de inclusão social e racial, calorosos debates em comissões designadas especialmente para tratar das definições destas políticas e da sua aplicação no campo da educação superior. Finalmente,

O presidente do TRF considerou que a instituição, valendo-se da autonomia administrativa estabelecida no artigo 207 da Constituição Federal, "agiu acertadamente ao expedir o edital 01/04-NC, referente ao exame vestibular de seus cursos para 2005".

De acordo com Freitas, a liminar teve como base a ofensa ao princípio da isonomia e o argumento de que a decisão administrativa da UFPR tratava desigualmente negros e brancos.

O argumento do desembargador para suspender a liminar é de que a Constituição "persegue a redução das desigualdades sociais e a igualdade de condições para acesso e permanência na escola".

"Uma das maiores aspirações da sociedade brasileira atualmente é a da igualdade de oportunidade a todos", afirmou ele, que ponderou também não ser tarefa da Justiça definir política de educação superior.

"O ensino público básico é ineficiente e, por isso, os que buscam as universidades públicas e têm sucesso, na maioria dos casos, são egressos de escolas particulares e, conseqüentemente, de classe social mais alta", disse.

LÉO GERCHMANN

após a Conferência da ONU em Durban, em 2001, as Universidades públicas no Brasil estabeleceram programas de inclusão social com recortes baseados nos dados da exclusão racial.

Um fato significativo no mundo jurídico nacional é a permanência da idéia de que a escravidão negra, o tráfico de escravos, o impedimento do acesso pelo Estado à educação, não produziu seqüelas e conseqüências que provocam distinções de oportunidades entre os diferentes tipos de brasileiros. Enquanto isso, em países com enormes diversidades humanas a exemplo de Índia, dos Estados Unidos e da África do Sul, há mais de cinqüenta anos iniciou- se a tomada de decisões político-judiciais para aperfeiçoar o acesso à educação, ao trabalho e aos valores republicanos dos diferentes seguimentos de suas populações, baseadas no Direito Constitucional e na realização efetiva de seus princípios.

No Brasil, este processo de reparação, de compensação e de preferência estatal existe para promoção do desenvolvimento social e econômico e foi desenvolvido para mulheres, estudantes, idosos, regiões subdesenvolvidas, proprietários agrários, setor petroquímico, setor da aviação nacional, setor de exportação e devedores do fisco. Exemplo desta preferência estatal é a atual lei de anistia relativa aos crimes do último regime militar de 1964 a 1983, a qual integra ao direito pátrio a política de reparação e de compensação por danos causados pelo Estado a uma pessoa, ou a um grupo de pessoas pela ação ou omissão no trato dos direitos humanos e civis daqueles que o Estado deveria proteger:

“Senhores juízes, as Constituições sempre versaram, com maior ou menor largueza, sobre o lema da isonomia. Na Carta de 1824, apenas se remetia o legislador ordinário à eqüidade. Na época, convivíamos com a escravatura, e o escravo não era sequer considerado gente”. (Ministro do Supremo Tribunal Federal - Marco Aurélio de Melllo – STF-2001).

Apesar de o Estado brasileiro ter reconhecido, em 1995, que a escravidão negra no Brasil foi um crime contra a humanidade e a despeito do país ter assinado convenções e tratados internacionais que descrevem este crime como imprescritível, a nação faz vistas cegas no plano jurídico às desigualdades de acesso à educação superior e utiliza dos mesmos sofismas teóricos da época da abolição para generalizar um suposto medo de conflito racial e implantar as políticas públicas, com base em dados de origem racial dos brasileiros, o que é

contraditório ao pretenso caráter humanístico, muitas vezes atribuído ao direito nacional em oposição a Common Law e aos sistemas jurídicos descendentes do Direito Inglês. 81

Em suma, a sociedade brasileira e o governo federal têm consciência dos danos que o racismo tem causado aos afro-descendentes e, por isso, as políticas de ação afirmativa para estes são questão de justiça, de reconciliação nacional, de encontro do povo com a nação, são, assim, a passagem segura para o Estado de Direito. Por certo, o combate à violência estrutural decorrente deste sistema discriminatório racialmente praticado no País pode vir a ser enfrentado pelo Direito dentro dos princípios constitucionais em vigor. Pode-se, enfim, acrescentar estruturas de inclusão social por um ativo papel do Estado no acesso à educação superior.

Discutir e apresentar soluções inovadoras no campo do Direito Constitucional brasileiro têm sido desafios para os operadores do direito, para a pesquisa jurídica e para as universidades nacionais, convidadas a fazer parte de uma discussão sobre a educação e a democracia no País, e chamadas a descobrir cientificamente soluções e respostas para uma educação plural e multicultural. Então, o acesso ao ensino superior dos afro-brasileiros por meio de diferentes formas de políticas de ação afirmativa poderá desenvolver o Brasil incluindo segmentos diversos da população na produção de conhecimentos e saberes diversificados.

O Brasil é um país em desenvolvimento e tem a maior desigualdade social no mundo e possui uma dívida histórica de cinco séculos para com os afro-descendentes, por manter 45 % dos brasileiros, oitenta milhões de pessoas (IBGE-2002) em condições de cidadãos de segunda categoria através da falta de uma educação pública inclusiva. Além disso, o debate sobre as políticas públicas de ação afirmativa como reparação a este dano por meio da inclusão social diversificada poderá constituir-se em remédio jurídico eficaz contra o racismo institucional e a violência estrutural que impedem a igualdade jurídica e sobrevivem na sociedade nacional. No entanto, as políticas de ação afirmativa no ensino superior caracterizam-se mais que política de igualdade formal e material, e, sim, de promoção da justiça para todos.

81 O sistema Common Law é o sistema jurídico da Inglaterra e decorrente do sistema jurídico inglês, sendo

O Estado Brasileiro interditou os direitos fundamentais dos afro-brasileiros, impediu o acesso aos bens da nação, explorou o trabalho e o lucro do escravismo, tornando este lucro o capital do Brasil industrial e moderno. Os danos resultantes destas ações permanecem atualmente e podem ser medidos pelos indicadores de desigualdades oficiais.

O acesso dos negros à universidade pública gratuita e de qualidade é questão de justiça