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CAPÍTULO III – DESAFIOS PARA A INSERÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL

1. MOBILIDADE NOS ESPAÇOS OCUPACIONAIS: OS CANCELAMENTOS

2.2 A importância da capacitação continuada e a migração

“acredito que o fato de não ter feito especialização ou pós-graduação me enfraqueceu profissionalmente.”

A discussão da capacitação continuada transmuta-se na década de 1990, no Brasil, vinculada ao conceito de empregabilidade compreendida como um conjunto de atitudes e habilidades individuais que possibilitam ao trabalhador “tornar-se empregável”. O desemprego justificar-se-ia pela não capacidade desse trabalhador em se adequar aos novos padrões nos processos de trabalho. O que está implícito nesse discurso é a responsabilização do trabalhador pela não inserção no mercado de trabalho.

Em muitos discursos, o aprimoramento e a busca de novos conhecimentos caminham nessa direção, com a qual não concordamos, por acreditar que mediatiza as relações de trabalho em uma visão meramente mercantilista, além da responsabilização individual do trabalhador ficar descontextualizada de outras mediações necessárias nas relações capital-trabalho.

É importante enfatizar que consideramos fundamental a capacitação continuada que qualifica o trabalho profissional, porém é importante a clareza do uso de conceitos tão importantes que são transmutados de acordo com interesses contraditórios presentes na esfera do trabalho.

No conjunto de respostas dos assistentes sociais, a capacitação continuada é reconhecida como importante e inerente aos processos facilitadores para o ingresso no mercado de trabalho. O depoimento inicial deste item reflete o reconhecimento de fragilidades na inserção ao mercado pela não continuidade dos estudos, afirmativa presente em outros depoimentos.

“me sinto até em desvantagem por não conseguir realizar um curso de especialização. E as chances de se ingressar ao mercado de trabalho são cada vez mais difíceis sem cursos de especialização.”

“a realidade nos coloca da importância de se continuar o estudo pois só a Graduação não é suficiente para se estar bem preparado para o mercado de trabalho. É preciso se especializar e estar atualizada, capacitada sempre.”

O compromisso com essa atualização e capacitação permanente é fundamental na afirmação de um perfil profissional propositivo, com algumas características importantes, como:

culto e atento às possibilidades descortinadas pelo mundo contemporâneo, capaz de formular, avaliar e recriar propostas ao nível das políticas sociais e da organização das forças da sociedade civil. Um profissional informado, crítico e propositivo que aposte no protagonismo dos sujeitos sociais. (IAMAMOTO, 1999:144)

Esse perfil é solicitado a todos os assistentes sociais, independentemente da vinculação ao mercado de trabalho. Aos que já estão inseridos no mercado, o investimento na formação continuada é fundamental no sentido da construção e efetivação de suas propostas de trabalho. Quanto àqueles que ainda não se encontram inseridos, possibilita ampliar as condições de inserção na medida em que se tornam mais preparados para processos seletivos, concursos ou mesmo outras

áreas de intervenção, no caso dos mestrados e doutorados que abrem o campo para a docência em Serviço Social.

Apesar do reconhecimento da importância da capacitação permanente , este processo é dificultado pela vulnerabilidade advinda da não inserção no mercado de trabalho, com dificuldades econômicas que, muitas vezes, inviabilizam essa intencionalidade.

“o problema é que tudo está envolvido em custos. Às vezes, não damos conta de arcar, diferentemente de alguns colegas que se acomodaram.” “não tenho condições financeiras para fazer cursos de especialização. O valor da bolsa que pagam para os cursos de aperfeiçoamento é baixo para minhas despesas.”

“desde então percebi que necessitava de mais cursos, relacionados a área para ter suporte de competitividade, porém nesses anos não foi possível pelos empregos que consegui (monitora de pré-escola, atendente em clínica médica, de academia de ginástica, lavanderia, faxineira e babá). Não tinha como me manter e ainda realizar cursos, ganhava até dois salários mínimos. O que consegui foi realizar cursos de atendimento ao público reconhecido pelo SEBRAE e computação.”

“participei de palestras, workshops, seminários e encontros não só na minha área como em áreas afins e muitas vezes tive custos que às vezes eram difíceis de arcar justamente por não estar trabalhando.”

“a minha esperança é ter recursos financeiros para fazer o meu “Mestrado” para assim retornar a área atuando na área de ensino.”

Mesmo em condições adversas, como as relatadas, as dificuldades de inserção no mercado de trabalho profissional incitam parcela dos profissionais a buscar maior capacitação. Em relação à realização de outros cursos de nível superior (Gráfico 17), 33,5% dos assistentes sociais que responderam ao questionário informaram ter feito outros cursos tanto na área de Serviço Social como em outras que acreditam ter maior capacidade empregatícia e remuneração.

Gráfico 17 – Realização de outro curso de nível superior

117

1

59

Não Não Respondeu Sim

Entre os que informaram ter freqüentado outro curso de nível superior (Gráfico 18), predomina com 30,5%, a diversidade de áreas: Ciências Sociais, Administração de Empresas, Psicologia, Enfermagem, Arquitetura e Urbanismo, seguidos de cursos para especialização na área (18,7%) e realização da pós-graduação (18,7%), que tanto pode ser na área de Serviço Social como em outras, tais como na de Recursos Humanos, como enfatiza uma assistente social:

“estou terminando o curso de Pós-graduação em outra área, pois pretendo tentar oportunidades na área de Recursos Humanos.”

A migração para outras áreas também pode ser percebida para áreas como a Pedagogia e Direito, o que faz com que, posteriormente, o assistente social efetue o cancelamento e busque oportunidades de inserção no mercado de trabalho naquela área.

Gráfico 18 – Realização de outros cursos de nível superior/áreas 7 9 3 11 11 18

Direito Pedagogia Administração RH Especialização Pos-Graduação Outros

A atuação em outras áreas, ainda que de maneira temporária, também é um dos motivos pelos quais os assistentes sociais recorrem ao recurso do cancelamento e mesmo não atuando nas funções privativas do assistente social, as preocupações e compromisso com a profissão estão presentes, como podemos perceber no depoimento de uma das assistentes sociais que se encontra na função de conselheira tutelar em um município do Estado de São Paulo:

“faz apenas sete meses que sou Conselheira pois era suplente e como este cargo é temporário e as novas eleições já estão previstas aqui na cidade de (xxxx) vou tentar minha recondução por mais três anos, caso seja reconduzida, vou retornar minha inscrição para poder pegar estagiárias e contribuir para a formação de novas assistentes sociais.”

3. O CARÁTER CONTRADITÓRIO DO TRABALHO VOLUNTÁRIO: SOLUÇÃO