• Nenhum resultado encontrado

5. A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO

5.7 A importância das dimensões para o alcance do Desenvolvimento

Sachs (2002) recomenda que para o alcance do DS sete dimensões devem ser consideradas: a Social, Cultural, Ecológica, Ambiental, Territorial, Econômica e Política sendo que, esta última ele subdivide em Política Nacional e Internacional.

Como já foi citado anteriormente, foi submetida à avaliação pelos assentados a importância dessas dimensões para ao alcance do DS.

Para isso, foi explicada aos assentados a noção formal de DS definida como: alternativas de desenvolvimento que tenham como objetivo a satisfação das necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades (GUZMÁN, 1998).

A explicação de Sachs (2002) de cada dimensão foi decomposta em afirmações constantes do questionário (ANEXO 3) e foi solicitado aos entrevistados que classificassem o grau de importância de cada afirmação em uma escala de zero (nenhuma importância) a cinco (muita importância) para alcançar o DS.

No anexo 4, são apresentadas as avaliações feitas pelo assentados para cada afirmação. Essas avaliações foram sintetizadas na Tabela 42 calculando-se a média de cada dimensão.

Tabela 42 - Valores atribuídos pelos assentados a cada dimensão do DS.

VALOR MÉDIO ATRIBUÍDO A CADA DIMENSÃO

D.Ecol. D.Soc. D.Cult. D.Amb. D.Terr. D.Econ. D.P.Nac. D.P.Int. PRODUTORES 4,42 4,76 4,31 4,35 4,47 4,63 4,64 4,48

A dimensão social foi a mais valorizada, seguida pelas dimensões da política nacional e econômica. Novamente, mostrando a valorização da dimensão econômica, associada à social.

Na Figura 30, é possível observar o desequilíbrio entre as dimensões causado pela valorização das dimensões social, econômica e de política nacional.

4,00 4,20 4,40 4,60 4,80D.Ecol D.Soc D.Cult D.Amb D.Terr D.Econ D.P.Nac D.P.Int

Avaliação dos produtores

Figura 30 - Apresentação gráfica da avaliação dos assentados da importância de cada dimensão para o alcance do DS.

Esse exercício de avaliação também chamou a atenção para a possibilidade de usar expedientes desse tipo para exercícios de auto-avaliação. Ou seja, estabelecer sistemas para que os próprios assentados avaliem a situação dos seus assentamentosem termos de alcance do DRS.

CONCLUSÕES

Foi demonstrado que as representações sociais orientam e organizam as condutas e as comunicações sociais. Elas interferem em vários processos tais como a difusão e a assimilação dos conhecimentos, o desenvolvimento individual e coletivo, a definição de identidades pessoais e sociais, a expressão dos grupos e as transformações sociais.

O objetivo deste trabalho foi identificar a representação social do DRS e da sustentabilidade construída por assentados de reforma agrária, assim como alguns dos elementos que influenciam ou explicam essa construção e classificar essas representações em função dos critérios ou dimensões da sustentabilidade consideradas.

Para isso cinco questões fundamentais nortearam esta pesquisa:

1. Qual a representação social do DRS e da Sustentabilidade construída por assentados?

2. Quais são as dimensões do Desenvolvimento Sustentável consideradas nas representações do DRS e da Sustentabilidade dos assentados? 3. O que influência e/ou explica a construção dessas representações

sociais?

4. Como a representação social do DRS e da Sustentabilidade construída por assentados pode afetar a participação efetiva desses atores na discussão e operacionalização das políticas públicas?

5. Como os produtores avaliam as dimensões do DS?

Para identificar, descrever e entender essas representações e responder a essas questões fundamentais foi necessário investigar, também, as representações do DR, de Melhoria de Vida e do que os produtores(as) precisam para Melhorar de Vida como também, as características socioeconômicas desses atores sociais.

Foi imprescindível, igualmente, fazer uma revisão teórica das noções de DS, DRS e participação.

O estudo minucioso da Análise de Discurso foi necessário, pois a linguagem faz uma mediação privilegiada na compreensão das representações sociais. Ou seja, para chegar às representações sociais é necessário lançar mão de métodos que permitam analisar os discursos de quem as constroem.

Os dados foram coletados de entrevistas com produtores e produtoras do Município de Unaí, MG. Especificamente, de três assentamentos de Reforma Agrária que participam de um projeto de pesquisa, conhecido como projeto Unaí. Pelas suas características singulares, entre

elas, o estímulo à participação, consideramos necessária uma descrição detalhada desse universo considerado.

A representação social do DRS obtida de palavras ou vocábulos evocados pelos assentados pode ser sintetizada da seguinte forma: produzir mais ou melhorar a produção para sustentar a família e sobreviver, trabalhando no lote.

Analisando os sentidos expressos nessa representação, pode ser caracterizada a partir de seu núcleo central, produzir no lote, entretanto, com uma influência muito forte dos elementos periféricos sustentar-se do lote e não ter de trabalhar fora, não vender mão-de-obra.

O que é muito lógico, pois o tempo gasto pelos assentados para buscar seu sustento fora do lote, com a venda de mão-de-obra, concorre com o tempo necessário para executar o trabalho dentro do lote.

Isso demonstrou, ainda, a insatisfação dos produtores(as) com a dependência do trabalho fora como estratégia de complementação de renda, bem como, insatisfação deles com seus níveis de renda; dependência essa, inclusive, de políticas públicas em que há transferência de renda como bolsa-escola e benefícios (aposentadorias).

A produção do lote é vista como uma forma de melhorar esses níveis de renda e buscar autonomia, principalmente, no que se refere à venda de mão-de-obra.

A ancoragem da representação social do DRS se dá nas seguintes características dos indivíduos: são homens ou mulheres com idade acima de 30 anos; com escolaridade entre a 4ª e a 8ª série do Ensino Fundamental, porém, que abandonaram os estudos num período entre 21 e 30 anos; com renda familiar abaixo de R$ 600,00 por mês composta basicamente de duas fontes, o lote e uma renda externa.

No estudo da representação social do DRS mostrou-se, igualmente, que ela é o resultado da transformação da representação social do DR, definida como melhorar a produção, incorporando nela a representação da sustentabilidade, produzir melhor. De acordo com a Teoria do Núcleo Central, caracteriza-se como uma transformação progressiva.

Todas as representações sociais não só do DS, DRS, Sustentabilidade, Melhoria de Vida, como também do que os produtores(as) precisam para Melhorar de Vida, apareceram relacionadas à necessidade de melhorar a produção do lote como estratégia para poder viver ou sobreviver dele, sem ter de vender mão-de-obra.

Para os assentados, melhorar de vida é representado, principalmente, pelas palavras “ter”, “renda, dinheiro e recurso”, “saúde, tratamento e consulta”, “emprego, trabalho e trabalhar” e “educação, conhecimento, curso e estudar”.

Tendo como núcleo central o sentido “melhorar a educação, capacitação, acompanhar a tecnologia” e como elementos periféricos “mais renda, poder comprar”, “melhorar a saúde”, “produzir mais”, “melhorar a alimentação” e “melhorar o transporte”.

Alcançada por meio de “financiamento, investimento e infra-estrutura de produção”, “melhorar a produtividade e produção”, “melhorar o atendimento Público em Saúde”, “melhorar a comercialização dos produtos”, “transporte para a comunidade” e “apoio em informação e assistência técnica”, pois foram os sentidos compartilhados na representação do que é necessário para melhorar de vida.

Igualmente, pelas palavras “financiamento, verba, capital e dinheiro”, “produtividade e produção”, “vacas (comprar)”, “investir (lavoura e pastagens)” e “muita coisa, tanta coisa”.

Isso revela duas situações:

1. Desagrado em relação às políticas públicas de Educação, Saúde e Transporte já que, de acordo com esses produtores, para melhorar esses aspectos, precisam ter renda, poder pagar. Ou seja, acessarem a meios privados; e,

2. Também, relacionada com a primeira, um peso muito grande nessas representações das noções de desenvolvimento rural vinculado ao desenvolvimento econômico, típicas do discurso de modernidade, difundida pela Revolução Verde.

O que não é de surpreender, pois foram anos e anos de difusão desse modelo tanto nas políticas públicas de crédito, de assistência técnica e de pesquisa agropecuária, especificamente.

Em outras palavras, a representação social do DRS construída pelos assentados é alicerçada na melhoria da produção, com uso de tecnologias, conhecimentos, crédito, insumos e máquinas como forma de geração de renda para sustentar a família com melhores níveis de vida, podendo acessar principalmente, meios privados de Educação, Saúde e Transporte.

Considerando a noção mais aceita de DS como a forma ou esquemas de desenvolvimento que tenham como objetivo a satisfação das necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades, parece exagerado afirmar que haja uma diferença significativa entre essa noção do DS e a representação dos produtores. O que não se observa, pelo menos claramente na representação do DRS dos assentados é uma preocupação com as gerações futuras e, nela, a forma de alcançar a satisfação das necessidades é especificada pela produção no lote, sem ter de trabalhar fora, vender mão-de-obra.