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4. A ANÁLISE DO DISCURSO

4.3 A Lingüística pragmática ou pragmática

Para Marquillas (2005) baseado nos estudos de Levinson define a Pragmática como um componente da teoria geral da gramática que faz fronteira com a Semântica, a Sociolinguística e a Psicolinguística, reclamando para seu terreno próprio a investigação lingüística que se refere obrigatoriamente ao contexto, termo que engloba as identidades dos participantes, os parâmetros espaciais e temporais dos eventos de fala, as crenças, conhecimentos e intenções dos participantes nesses eventos e muito mais.

A questão-chave é que a Pragmática se opõe tanto às implicações da teoria lingüística simples, de significante e significado, como também à teoria da comunicação, oferecendo um ponto de vista radicalmente distinto de ambos. Ela está estritamente interessada nos princípios que regulam o uso da linguagem e, em particular, naquelas condições que fazem do uso do enunciado concreto uma ação de comunicação (OLIVEIRA, 2002; CAMPOS, 2004; SILVA, 2006; GODOI; RIBEIRO, 2007).

A Pragmática afirma que quando algo é dito, há sempre um sentido que vai mais além do significado que acompanha as palavras. É dessa forma que é possível interpretar as ações da fala tanto em termos intencionais como não intencionais (OLIVEIRA, 2002; CAMPOS, 2004; IÑIGUEZ, 2004).

Portanto, o que define a Pragmática é a linguagem em uso, em oposição as outras maneiras de entender a linguagem. Não é possível se comunicar sem dispor de uma ancoragem lingüística nesses contextos físicos, relacionais e sociais e essa operação lingüística tem de ser decodificada, porque, se não se produz essa decodificação, a compreensão é impossível (MARCONDES, 2000; IÑIGUEZ, 2004).

Alguns autores se referem a duas questões cruciais na Pragmática que são: a díxis e as implicaturas (MARTINS, 2000; IÑIGUEZ, 2004; LAVARDA; BIDARRA, 2007).

O termo “díxis”, usualmente usado na forma “dêixis”, refere-se àqueles elementos da estrutura gramatical que relacionam a linguagem com o contexto. Eles codificam as relações da linguagem e o contexto da enunciação, cumprindo diversas funções tais como assinalar ou indicar lugares e/ou coisas, pessoas, momentos, etc. Por isso são classificados em três tipos (MARTINS, 2000; IÑIGUEZ, 2004; LAVARDA; BIDARRA, 2007):

a) Pessoal, quando se referem a pessoas e indicam o papel que cada participante desempenha na interação (falante/ouvinte). Por exemplo, “eu”, “nós”, “eles”, como também vocativos como “tio/tia” ou “macho”;

b) De lugar, quando se referem a lugares para localizar pessoas ou objetos referidos na conversação, por exemplo, “ponha-o aqui”, onde o “aqui” é um díctico de lugar;

c) De tempo, quando se referem aos vários momentos daquilo que se está narrando, tomando como ponto de referência o momento em que se dá a conversação. No exemplo, “nos vemos mais tarde” a expressão adverbial “mais tarde” opera como díctico temporal.

Esses são os dícticos mais comumente descritos. No entanto, Levinson acrescentou outras duas categorias (LEVINSON, 1983 apud IÑIGUEZ, 2004):

a) A díxis do discurso que refere-se à realização de referências a outras partes do discurso, anteriores ou posteriores, nas que se formula o enunciado. Por exemplo, a expressão “como vimos no capítulo 1”, fazendo referência a uma parte do texto situada temporal e espacialmente antes daquilo que se está lendo, como também expressões como “definitivamente”, “portanto”, “no entanto”; b) A díxis social que se refere à codificação das distinções sociais dos papéis dos

participantes na conversação, quando indicam relação social entre os participantes. São exemplos as fórmulas de tratamento “tu”, “você”, “o senhor/a senhora”, pois indicam a posição dos falantes, a relação entre eles ou ambas. Também, os vocativos “meu bem”, “querido/a” são exemplos.

Grice argumenta que o falante se faz entender tanto pelo que explicitamente diz como pelo que não é lingüisticamente expresso. O que está explícito está relacionado ao sentido convencional das palavras usadas, mas grande parte do significado geral da enunciação vai além do que é explicitado; é expresso por meio de implicaturas (GRICE, 1975 apud FONTANA, 2004).

Uma implicatura é uma inferência que os participantes em uma situação de comunicação fazem a partir de um enunciado ou de um conjunto de enunciados (MARTINS, 2002; FONTANA, 2004; IÑIGUEZ, 2004; CAMPOS, 2007). Para sua compreensão é necessária uma distinção entre o que se diz e o que se comunica:

 O que se diz depende das palavras que são enunciadas.

 O que se comunica é toda a informação transmitida pelo enunciado. Essa informação não é explícita, não se extrai o significado das palavras; ao contrário,

ela é implícita e é elaborada dentro da moldura das normas da conversação e do contexto de interação.

Há uma distinção entre implicaturas convencionais e implicaturas não convencionais. As primeiras podem depender do significado convencional das palavras, o que não ocorre nas segundas, as quais dependem das regras contextuais (MARTINS, 2002; FONTANA, 2004; IÑIGUEZ, 2004; CAMPOS, 2007).

O contexto privilegiado das implicaturas é o “Princípio da Cooperação” definido por Grice, que é caracterizado pela consideração de que conversar exige um desejo de colaborar com outra pessoa ou outras pessoas e necessita objetivos compartilhados (MARTINS, 2002; FONTANA, 2004; IÑIGUEZ, 2004; CAMPOS, 2007).

O princípio de cooperação tem várias máximas que são:

1) Máxima de quantidade: que faz referência à quantidade de informação que se fornece em uma conversa e se relaciona com o equilíbrio harmônico dessa quantidade no sentido de que, na cooperação, contribui-se com maior ou menor quota de informação.

2) Máxima de qualidade: refere-se à verdade da contribuição informativa e a credibilidade ou a confiabilidade que as contribuições sejam capazes de despertar e manter.

3) Máxima de relação (relevância): consiste em dar contribuições pertinentes e diretas que sejam principalmente sobre o tema central da questão e não sobre seus aspectos superficiais.

4) Máxima de modo: diferente das anteriores, sua importância reside não no conteúdo, mas na maneira como o conteúdo é expresso. Relaciona-se fundamentalmente com a exposição clara e ordenada, concisa e precisa.

Finalmente, é necessário ressaltar que, para que um ouvinte possa inferir que está diante de uma implicatura conversacional, deverá basear-se nos seguintes dados (IÑIGUEZ, 2004a):

1) O significado convencional das palavras ditas, bem como a identidade das referências implicadas.

2) O princípio de cooperação e suas máximas.

3) O contexto lingüístico ou extralingüístico no qual as palavras foram ditas. 4) Outras informações sólidas.

5) O fato, ou suposto fato, de que os interlocutores conhecem ou presumem que conhecem cada um dos detalhes relatados nos parágrafos precedentes e que esses estão ao seu alcance.