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2.1. Entre as teorias e as características do trabalho no setor do comércio.

2.1.2. A importância do comércio e a rotina no “salão das lojas”.

Na atualidade, empregados e empregadas do comércio são distribuídos em grupos de dezenas ou centenas de pessoas e prestam serviços no “salão das lojas” em exposição e venda de mercadorias. Estas pessoas desenvolvem também, outras funções, como serviços em depósitos, balconistas, caixas ou empacotadores/as, e em trabalhos de rua na entrega de mercadorias, em procedimentos administrativos do interesse dos proprietários das lojas, como cobrança de dívidas pendentes e/ou outros mandados.

Vivenciam situações que não depende de suas vontades, após terem aceitado o emprego. As circunstâncias se apresentam de acordo com a preferência do proprietário diante do montante do próprio capital e a opção do ramo que este preferiu comercializar ao empregar seus próprios MP. A circulação das mercadorias ocorre através do dispêndio da FT dos/as comerciários/as na prestação do serviço de venda destas, nas seguintes situações:

 O / a trabalhador / a oferece a FT e exercendo função de vendedor / a e outras sob o controle do dono da loja ou de outro/a trabalhador/a chefe de departamento;

 O / a dono / a do estabelecimento adquire a mercadoria por preço que ele / a controla, assim como as despesas que abrangem desde o local do estabelecimento , sua manutenção, inclusive, o pagamento da remuneração dos / as trabalhadores / as;

 O / a dono / a da loja estabelece o preço da mercadoria para a venda;

 A mercadoria, sendo propriedade do empregador / a, nenhuma decisão pertencente ao / a vendedor / a – independe o tanto de mercadoria vendida por dia, o valor de um dia de trabalho pago ao / a empregado / a;

 O / a trabalhador / a exerce atividades de vendedor / a, balconista e outras, distribuídos / as de acordo com as características de cada negócio;

76  O / a empregado / a é alienado / a do processo de venda, recebe a remuneração

acordada no ato da admissão em troca do trabalho realizado.

A rotatividade do emprego no comércio é uma realidade de desemprego própria do sistema capitalista, com uma agravante no setor devido a períodos em que o incentivo para o consumo é elevado com aparente queda subsequente. Trata-se, particularmente, de datas comemorativas. Concentram-se em alguns meses, a exemplo: maio, “Dia das Mães”, agosto, “Dia dos Pais”, outubro, “Dia das Crianças”, e festas de fins de ano, entre outras. Nessas ocasiões a procura de bens e produtos aumenta e os donos de lojas empregam um excedente de pessoas para o trabalho, que após esses períodos são dispensadas. Ocorre de algumas continuarem no emprego, no entanto a tendência é o aumento do desemprego.

É comum o comentário de que muitas vezes as pessoas entram para o comércio não como uma profissão, mas como um emprego passageiro (TROPIA, 2000: 98), no entanto, permanecem anos, pois nem sempre avistam outra saída. Há pessoas que começam a trabalhar no comércio ainda na juventude e permanecem até se aposentarem à mercê da instabilidade da economia e uma parte significativa desta população torna-se um ser passivo, dócil, frágil organizativamente, não participa das mobilizações sindicais e sociais alheios às manifestações políticas em geral (Idem, ibidem).

As condições de trabalho incorrem em riscos à saúde, às vezes provocando inquietação, freqüente tensão em contato direto com o público e com o patrão mantendo uma aparente relação pessoal. O ambiente de trabalho em locais pouco arejados e à ausência de ventilação nos estabelecimentos da área comercial da cidade provoca uma baixa qualidade do ar. O funcionamento das atividades no comércio acarreta extensa carga horária, pois os estabelecimentos comerciais abrem suas portas às 8h00 da manhã, os/as empregados/as devem chegar mais cedo para preparar a loja, arrumar as prateleiras e vitrines, as novidades de lançamento, então começa a rotina à espera dos clientes. Esses e essas cumprem esta rotina de segunda-feira a sábado, (há situações que também aos domingos) permanecendo em pé por horas prolongadas. São atividades que exigem capacidade física, persistência e tolerância para cativar a freguesia, pois tem ciência de que a garantia do seu salário está vinculada à movimentação das vendas, sem transparecer insatisfações do trabalho e das agruras da vida.

Medeiros (1986) em pesquisa realizada no comércio de Belém detecta que as mulheres estão concentradas no setor de vendas, no “salão da loja”. Anota que as mulheres trabalhadoras no comércio explicam o trabalho fora do lar como meio de libertação, de ruptura com o confinamento doméstico (MEDEIROS, 1986: 251).

77 As mulheres que trabalham no serviço do comércio, a exemplo do que ocorria no advento do capitalismo no velho mundo, consideradas trabalhadoras de segunda categoria, num escalão inferior em relação aos homens trabalhadores. Acumulam tarefas do lar com as atividades profissionais e recebem uma remuneração inferior à do homem, na concepção de que o trabalho realizado pela mulher é um “complemento”. O homem, considerado o provedor da família, e a mulher como se numa atividade acessória no processo de trabalho.

Alguns/as comerciários/as pertencentes ao quadro do Sindicato dos Empregados do Comércio do Pará – SEC/PA avaliam a situação vivenciada nas lojas, como a ex-diretora do Sindicato, Ilda Lima Meiguins. Ilda revela que o horário de saída diária do trabalho depende do movimento do dia no comércio e da finalização das tarefas que devem ser concluídas após encerrar as portas da loja no final do expediente, com exigências especificadas para cada função. Complementa ainda que: (...) o horário de saída do trabalho, nem sempre coincide com o horário de cerrar as portas do estabelecimento.

As mercadorias no “salão da loja” e a burocracia no escritório ocupam largo tempo no trabalho e na vida dos / as comerciárias, o trabalho se estende no final do expediente: “nesses casos, não se computam horas extras, embora não se tenha hora para encerrar o expediente”. A questão da jornada de trabalho tem sido um dos transtornos que há tempos persegue a categoria de comerciários. O trabalho exige dedicação quase que exclusiva, não permite às pessoas que almejam uma folga para obter um grau escolar e concluir os estudos, não sobra tempo suficiente para se instruir e oportunizar outras escolhas profissionais. Não se exige nível de ensino superior para se tornarem profissionais do comércio, à disposição nas lojas para atender ao público que se desloca à procura de algum produto à venda. Ou então esses trabalhadores se enredam nas atividades que o setor dispõe, conforme já referido.

A rotina no “salão das lojas” sempre foi uma estafante e prolongada jornada de trabalho, além de outros problemas enfrentados por trabalhadores/as, em especial as mulheres, a exemplo do que ocorre no horário das refeições. Sobre isso, as versões dão conta que uma grande maioria delas se alimenta na própria loja, trazem diàriamente a comida preparada de casa. Entretanto, as condições desse ato diário não são nada saudáveis. As lojas normalmente não dispõem de refeitórios ou local apropriado em condições de oferecer o mínimo de conforto, com exceção da Y. Yamada e, recentemente, os shoppings Center que têm uma Praça de Alimentação para uso público, mas estes desfrutam da citada Praça.

Os/as comerciários/as se sujeitam a condições dessa natureza porque avaliam ser muito dispendioso “comer na rua”, ponderam sobre o custo financeiro, e completam, “comer

78 sempre no mesmo local enjoa da comida e nem sempre é sadio cada hora comer em um lugar”. Reclamam da abundância de gorduras e fortes temperos usados nos restaurantes. O fato, é que isso pode provocar problemas estomacais danificando a própria saúde.

O salário tem sido a mais importante demanda no processo da luta sindical dos comerciários/as entre as diversas reivindicações. Este é estabelecido, na Convenção Coletiva para toda a “praça”, sendo esse um momento de certa mobilização da categoria. Nas rodadas de negociação sentam à mesa os representantes patronais de um lado, e os dos/as trabalhadores/as representados pelos dirigentes do Sindicato da categoria, de outro lado.

Os problemas dos/as trabalhadores/as se agravaram com o processo de reestruturação produtiva, quando das mudanças no processo de trabalho com precarização do trabalho, conseqüências da crise do capitalismo ocorrida na década de 1990, seguida de ameaças de desemprego e terceirização dos serviços.

Há também de se considerar a importância do comércio em Belém, e em particular para a oferta de postos de trabalho para o gênero feminino. Para se ter idéia, no ano de 2001, este foi um dos setores com maior absorção de mão de obra feminina se comparado aos demais setores no Pará. Se no setor de serviços ocorreram 11.948 admissões, o comércio não ficou longe com 11.244 admissões de mulheres, seguido pelo setor industrial com 5.320 e a construção civil com 1.13289. Dados apresentados pelo DIEESE Regional Pará em Belém, em 26 e 27 de junho de 2008, na 4ª Plenária Estadual de Mulheres Trabalhadoras Cutistas do Estado do Pará, dão conta que, na Região Norte as atividades do comércio absorviam, até o ano de 2006, o percentual de 15,5% do total de mulheres ocupadas em toda a região (DIEESE – Regional Pará, 2008).