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1.4. As trabalhadoras, os desafios e avanços na participação política feminina.

1.4.1. Movimento de mulheres e movimento sindical: práticas que se encontram.

A presença das mulheres no mercado de trabalho no Brasil é uma realidade, apresenta desde o século passado, crescimento ascendente. Se na década de 1940 as mulheres representavam 15% da População Economicamente Ativa (PEA) em comparação aos homens, a partir da década de 1970 há um crescimento considerável dessa presença no mercado de trabalho brasileiro, constatando em 1970 20,8%, seguindo a uma linha ascendente no Século XX75. Contudo, a despeito da presença desse gênero nesses espaços de trabalho, a imprensa operária descrevia-as “frágil costureira”, vítimas das perseguições dos patrões, exploradas e submissas, problematizando-se negativamente (...) quando algumas mulheres de vanguarda pretendiam romper a imagem tradicional da mulher do lar (SOUSA LOBO, 1991: 269).

Importantes disposições influenciaram nas mudanças do comportamento social das mulheres, a exemplo da atitude da advogada Romy Medeiros da Fonseca que em 1949 cria um Conselho Nacional de Mulheres para lutar, no âmbito institucional e nacional, pelos direitos das mulheres. A ação da advogada permeou toda a década de 1950 para, na década seguinte, surgir o Estatuto da Mulher Casada76, eliminando, entre outros avanços, a obrigatoriedade do consentimento do marido para que a mulher exercesse uma profissão.

Leila Barsterd, citada por Céli Regina Jardim Pinto (2003), comenta que as cláusulas do Estatuto da Mulher Casada amenizaram as discriminações, visto que no Código Civil de 191677, exclusivamente o marido era o chefe do casal, o referido Estatuto apresenta inovações. Apesar de o homem ainda permanecer na chefia da família, houve mudanças ao referir da questão de outra forma:

O marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da mulher no interesse comum do casal e dos filhos. (PINTO, 2003: 47).

75 A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNDA aponta que a participação das mulheres na economia do país passou de 43,4% em 2004, para 43,7% em 2005.

76 Lei Nº. 4.12l/62.

65 No âmbito das relações de trabalho, a demanda por uma legislação especial de caráter protetivo ao trabalho da mulher78 que proibisse o trabalho noturno, indicasse condições mais favoráveis à gravidez e introduzisse o princípio do salário igual para trabalho igual foi aprovado no país em 1932. Matéria que fazia parte dos debates internacionais, aprovada no Conselho Feminino da Organização Internacional do Trabalho realizado em 1919, o qual contou com a presença das brasileiras: Bertha Lutz e Olga de Paiva Meira (CNDM, 1986).

A Era Vargas se inscreve o direito do voto às mulheres, uma luta desenvolvida desde a Primeira República, incluída no Código Eleitoral de 1932, ratificado na Constituição de 1934, estabelecia o dever de votar, apenas às mulheres que exercessem função pública remunerada. Trata-se do direito seletivo do voto feminino, universalizado somente em 197179. Um ano após, às vésperas da Constituinte80 o governo brasileiro cria condições para permitir a presença de representações classistas na referida assembléia, citado por José Calixto Ramos:

(...) quarenta representantes de associações profissionais, tocando vinte aos empregados e vinte aos empregadores, nestes incluídos três por parte das profissões liberais e, naqueles, dois por parte dos funcionários públicos (...) com os mesmos direitos e regalias que competirem aos demais de seus membros (RAMOS, 2007: 231).

Participaram duas mulheres: a deputada federal Carlota Pereira de Queiroz, eleita pelo estado do São Paulo e a deputada classista Almerinda Gama entre os parlamentares do sexo masculino81. Surge pela primeira vez na Constituição de 1934 o princípio da igualdade entre sexos, a proibição de horas extras, regulação do trabalho noturno, a diferença salarial por motivo de sexo e proibição nas atividades insalubres para as mulheres. Faz referências sobre a assistência médica à gestante, o descanso antes e após o parto através da Previdência Social. Justifica razões humanitárias, mas se destinava a proteger o lugar da mulher no lar, exprimindo razões econômicas. O Direito do Trabalho “protetivo” ao proibir horas extras ou trabalho noturno para mulheres indica a posição diferenciada das mulheres na sociedade.

Após a II Guerra Mundial há um incremento de mulheres no mercado de trabalho, devido ao alto custo de bens combinado com as péssimas condições de vida que levam as mulheres de classes sociais e ideologias diferentes a participarem de manifestações de rua,

78 Decreto Nº 21.417/32.

79 Maiores informações sobre esse tema cf. ALVARES, 2002: 5; e ALVARES, 2004.

80 Decreto Nº 22.653/33, aprovado em abril de 1933 resultando das eleições para a composição da casa parlamentar 214 deputados federais somados aos 40 deputados entre a patronal e os trabalhadores um total de 254 parlamentares constituintes. 81 Sobre a organização dos sindicalistas paraenses para participarem como deputados classistas cf. Álvares, 1990.

66 como o movimento contra a carestia. Movimento de repercussão nacional, tendo à frente a Federação de Mulheres do Brasil, reivindicava ação política do estado brasileiro para responder às necessidades da população. Entre suas atividades, realiza a passeata denominada “Panela Vazia” ocorrida no ano de 1953, debates e outras manifestações (PINTO, 2003: 44).

Embora a política brasileira sofresse ainda conseqüências do golpe militar, avaliam-se as influencias no Brasil quando da instituição do Ano Internacional da Mulher, aprovado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, na III Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada no México. Nessa ocasião definiu-se a Década da Mulher (1975-1985), período da promoção de eventos no país com repercussão nos estados da federação.

Joana Maria Pedro (2006) considera a criação do Centro da Mulher Brasileira (CMB), um evento muito significativo, tanto pela divulgação sobre os direitos das mulheres e a formação da consciência destas, como pela importância da luta política. Atividade realizada sob o patrocínio do Centro de Informação da ONU, ocorrido na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no Rio de Janeiro, comentada pela a autora:

(...) apenas repercutiu o que estava acontecendo desde os anos 60 e, principalmente, no início dos anos 70, em vários países da Europa e nos Estados Unidos, onde as manifestações feministas enchiam as ruas das cidades reivindicando direitos (PEDRO, 2006: 251).

Outros movimentos realizaram Seminários, Encontros e Congresso de mulheres trabalhadoras nas principais capitais, entretanto, merece destaque a criação de um novo espaço de divulgação sobre a situação das mulheres brasileiras, o qual contribuiu para as mudanças de rumos políticos do país, e conquista da democracia política acelerando o fim do regime militar, tendo seu momento alto entre 1977 e 1978. Trata-se do:

Movimento Feminino pela Anistia (abril de 1975) fundado por Terezinha Zerbini, esposa de um general que sofrera repressão com o golpe militar de 1964 (...), reunia familiares de pessoas que haviam sido exiladas, presas ou estavam desaparecidas (PINTO, 2003: 63).

Destaca-se também o “Movimento de Mulheres pelas Diretas Já” pela capacidade de as mulheres incorporarem as questões específicas de gênero às lutas gerais do povo brasileiro, fortalecendo o movimento social e a reconstrução da democracia no país. Movimento que

67 unificou as oposições em torno de bandeiras pela democracia, estado de direito e defesa das liberdades, demandas populares expressas nos inícios da década de 1980.

No processo de redemocratização e com o crescimento da participação popular, em especial dos movimentos de mulheres, que ocupam espaços no cenário nacional estimulados pela Década da Mulher ocorre a criação de órgãos institucionais sobre a questão da mulher, de caráter nacional com repercussão nos estados e municípios. O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, criado em 1985, empenha-se nas rupturas às discriminações contra as mulheres no Estado Brasileiro. Ainda nessa quadra o debate sobre a Constituinte, com a inclusão de questões relativas à situação feminina levou a aprovação de um capítulo específico82 na atual Constituição Cidadã, demonstrando avanços do ponto de vista do reconhecimento da presença das mulheres na vida social do país.

As entidades gerais de trabalhadores recém criadas, influenciadas pela atuação das mulheres no movimento geral da sociedade, e em especial as mulheres procuravam se colocar no meio sindical objetivamente, havendo incentivo para a participação das trabalhadoras nesses espaços de decisão. Trata-se da criação da Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras nas centrais gerais, de departamentos da mulher nos partidos políticos, dando dimensão a questão desse gênero como sujeito político na esfera pública. A conjugação destes movimentos contribuiu na elevação da consciência coletiva para uma maior participação das mulheres nos processos sociais e coletivos. Também à criação de conselhos específicos para a política da mulher, comissões e departamentos em entidades apontam para o emergente movimento de participação sócio-política das mulheres, assim como o preenchimento de espaços ainda vazios dessa participação.

Questões nacionais consideradas importantes ao analisar a atuação sindicalista local, visto que, a cidade de Belém não circunstancia numa ilha, numa redoma imune as mudanças sociais. As pessoas que almejam transformação social buscam o exercício da política, mais tempo, menos tempo incidem na prática social repercutindo em mudanças e avanços sociais.

É um avanço significativo o surgimento da primeira mulher na direção do Sindicato dos Empregados do Comércio - PA, em 1954, considerando todos os entraves objetivos que influenciavam a vida dessas trabalhadoras. Apesar dos hiatos na ausência do elemento feminino nesse espaço é possível identificá-las na década de 1970 até 1980 embora em minoria, e alcança a década de l990 com uma mulher a ocupar o cargo máximo de presidente do SEC/PA, ampliando essa presença nos mandatos que se seguiram.

68 CAMILLE CLAUDEL*

O homem escravo multiplicou suas forças, teve necessidade de recorrer às tuas para quebrar suas correntes. Livre, tornou-se injusto para com sua companheira. Ó mulheres! Mulheres, quando deixareis de ser cega? (Olympe de Gouges: 2006:252).

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