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2.2. O SEC/PA, a FETRACOM/PA e a articulação sindical.

2.2.2. O desmembramento do SEC/PA e fortalecimento da FETRACOM/PA.

Com a abertura do mercado brasileiro e implementação da política neoliberal capitaneada pelos chefes do governo com enxugamento do Estado, privatização, terceirização, toyotismo e precarização das formas de trabalho evidenciam-se as perdas de direitos trabalhistas. O pluralismo sindical praticado por algumas lideranças cria pólos de poder, a chamada democracia sindical, lógica criticada por outros sindicalistas de vertentes diferentes.

O processo de reestruturação produtiva posto no mundo capitalista, como forma de resguardar o sistema de mais uma de suas crises, surpreende a atuação de sindicalistas, cujas ações anteciparam a fragilidade de categorias criando novas formas de organização, subsidiados no pluralismo sindical. Proposta surgida como tática avançada, mas, que fragiliza a categoria de trabalhadores/as, conforme observa José Reginaldo Inácio104, a seguir:

102 Numa conversa informal, Joel Antônio dos Santos, militante do Partido dos Trabalhadores, um dos apoiadores da chapa 1, expressou que houve um acordo entre representantes da CUT e os da CGT para efetivar a criação de sindicatos por ramos diversificados no setor do comércio no processo de articulação de chapas.

103 Artigo 8º da Constituição da República Federal, Capítulo dos Direitos Sociais.

104 Secretário regional da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria – CNTI; secretário nacional Nova Central Sindical dos Trabalhadores – CNST; autor de “Ética, sindicalismo e poder: os fins justificam os meios” (Crisálida, 2005).

83 A pluralidade advinda como processo que

possibilita a inserção das disputas com premissas separatistas fragiliza o lastro democrático em sua essência. De alguma forma mata corpo e alma do sindicalismo. Retira os pressupostos básicos de sua ação, que é a unidade posta pela solidariedade fundamentada no companheirismo, pedra e base à unicidade. (INACIO, 2007: 266).

O desmembramento do SEC/PA com criação de novos sindicatos105, e, a desvinculação de associados/as para filiação nos novos sindicatos que se associam à FETRACOM, fortalece a entidade geral. A categoria anteriormente agremiada em um único sindicato, SEC/PA, se distribui em várias agremiações por ramos de atividades, o que enfraquece o sindicato que anteriormente liderava a categoria. Implica numa suposta cumplicidade entre a presidente do SEC/PA e o presidente da FETRACOM, qualquer outro/a titular de sindicato não aceitaria semelhante situação sem a defesa da entidade que dirige e objetivamente perde poder. Como o caso não foi investigado, não se trata de uma afirmação.

Se numa primeira investida, o dirigente da Federação não obteve sucesso no sentido de ampliar o repasse da contribuição sindical, posteriormente, através de uma suposta unidade da categoria conseguiu-se que, um número maior de sindicatos se constituísse filiando-se à Federação, aumenta assim as receitas da entidade geral, utilizando-se de uma estratégia de distribuição de micro poderes entre companheiros/as. Sobre a criação de diversas entidades por ramos no setor do comércio e os novos sindicatos, Maria Dionéia afirma que:

(...) foi uma briga política entre a Federação do Comércio e o Sindicato na época do mandato do Júlio. (...) a Federação ajudava porque aumentava a sua base que ficava com mais potencial.

Ao pesquisar as atas de reunião da diretoria, presidida pelo vice-presidente Jurandir Araújo de Albuquerque verifica-se a justificativa pela ausência da presidente Maria Dionéia por motivos de doença, seguindo à pauta do dia. Entre os assuntos constavam os constrangimentos nas disputas envolvendo o SEC/PA e os novos sindicatos. José Francisco, presente na reunião, explica a respeito da base de associados/as em disputa com o Sindicato dos Trabalhadores Lojistas, recém fundado e filiado a FETRACOM/PA. José Francisco

84 expressa que ele não pode intervir e que os sindicatos devem procurar os seus próprios direitos. )O presidente da CGT, Nazareno da Silva, presente na referida reunião, afirma que:

(...) a Federação dos Trabalhadores no Comércio, pode e deve intervir, pois ambos são filiados a mesma e que deve se reunir para tomar uma posição definitiva a respeito desse impasse entre os dois sindicatos (N. da S., 15/03/1996).

Não há registro de posição oficial da FETRACOM ou da CGT, pelo contrário, a Federação aceita a proposta dos novos sindicatos na sua base de filiados. O fato é que, atualmente existem dezenas de sindicatos participantes do Conselho da Federação. Em Belém as seguintes entidades que contemplam diversos ramos compõem a organização dos/as trabalhadores/as no setor comércio106:

 Sindicato dos Empregados do Comércio do Estado do Pará (aglutina cerca de 1.000 empregados/as que trabalham em empresas de prestação de serviços no comércio);

 Sindicato dos Trabalhadores no Comércio Atacadista e Varejista de Gêneros Alimentícios – SINCVAPA (concentra mais de 20.000 trabalhadores/as na prestação de serviços nos supermercados);

 Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Produtos Farmacêuticos (mais de 12.000 trabalhadores/as de drogarias e farmácias);

 Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Louças, Tintas, Ferragens e Materiais de Construção - STMATE (mais de 8.000 associados trabalhadores/as das lojas de materiais de construção de Belém e Ananindeua);

 Sindicato dos Trabalhadores no Comércio Lojista – SINTCLOBE (representa trabalhadores/as em lojas comerciais e das lojas dos shoppings centers Iguatemi e Castanheira, mais de 4.000 membros);

 Sindicato dos Trabalhadores do Comércio em Supermercados de Belém e Ananindeua;

 Sindicato dos Trabalhadores do Comércio de Materiais de Construção de Belém e Ananindeua;

 Sindicato dos Trabalhadores em Distribuidoras de Veículos Automotores do Pará;

85  Sindicato dos Trabalhadores no Comercio de Peças, Pneus e Acessórios de

Veículos Automotores do Pará

 Sindicato dos Empregados em Empresas de Serviço Contábeis do Pará.

Estas entidades foram as primeiras a se reorganizarem em novos sindicatos no setor comércio na década de 1990 e se filiaram à FETRACOM, processo em continuidade no setor do comércio e novos sindicatos estão sendo criados. Patrícia Trópia (2000:77) enfoca a categoria dos comerciários sobre o ângulo do sindicato e informa que inicialmente a representação de categorias similares aos dos empregados no comércio, empregados não manuais, não eram simpáticos as idéias sobre as formas de luta do sindicalismo operário. Aludiam que os outros tinham de compensar, com o uso da força, a ausência de dons e de méritos, e o trabalho simples e degradado que executavam. Na atualidade, esse segmento distingue pela segregação de suas organizações e das formas de luta, um baixo índice de sindicalização e rejeição aos partidos operários, além da opção de recusa da greve como forma de luta, de acordo com a autora citada. Alguns sindicatos do comércio agem como uma espécie de clube recreativo numa prática sindical de viés assistencialista descolado do processo de luta de classes, prática que desvia as lideranças de ações de defesa dos/as trabalhadores/as na luta de classes.

As classes sociais distintas ocupam espaços diferenciados no modo de produção capitalista e, por conseguinte possuem interesses antagônicos que entram em choque. No sindicalismo assistencialista privilegia-se a prática de desenvolver ações voltadas ao financiamento da estrutura sindical na prestação de serviços à categoria, compondo o “sindicalismo de resultados”.