• Nenhum resultado encontrado

1.3. Panorama do setor produtivo, a nova elite e suas representações de classe.

1.3.2. Os/as empregados/as no comércio de Belém e sua organização.

No início da Primeira República não existia ainda no Brasil entidade da classe dos/as comerciários/as, muito menos dos comerciantes, embora houvesse a existência das atividades comerciárias nas grandes capitais, principalmente nas cidades localizadas à beira de portos

57 onde predominavam atividades de exportação de matérias primas e conseqüente concentração de uma classe de comerciantes dando surgimento à burguesia comercial. As classes de comerciantes proprietários das lojas e mercadorias, assim como os comerciários para prestação de serviços no balcão desses empreendimentos ou em trabalhos de rua para esses proprietários das lojas surgem para atender uma necessidade do desenvolvimento social, e como o foco desta pesquisa é a participação feminina na direção sindical do organismo da classe trabalhadora, a esta camada social se atenta.

Registros, após a libertação dos escravos/as enfocam que, mulheres ex-escravas ficam no caminho que leva às portas da igreja, com tabuleiros de licores, doces e cigarros que vendem aos que estão do lado de fora (SALLES, 2005: 209), comercializavam nas ruas da cidade em busca do próprio sustento. Provavelmente, as primeiras trabalhadoras a prestarem serviços no comércio da cidade.

Os problemas enfrentados pela classe trabalhadora no final do século XIX desde péssimas condições de trabalho, salários rebaixados e deterioração das condições de moradia abrangem todos os/as trabalhadores/as, inclusive os empregados e as empregadas do comércio da cidade de Belém que também se movimentam. A organização da categoria dos comerciários e comerciárias passou por um longo processo da criação da agremiação até a atualidade. Procedimento que se inicia nos fins do século XIX prolongando-se até 1926. A primeira organização da categoria que se tem notícia no país é a Sociedade Beneficente dos Caixeiros61 fundada em 1858, na então capital federal - Rio de Janeiro.

Esta entidade servirá de exemplo para organizar uma das entidades dos/as empregados/as no comércio do Pará, conforme declarações do próprio presidente da Associação dos Empregados no Comércio do Pará62, senhor Cândido Pita Pereira, em relatório de prestação de contas um ano após a fundação da entidade paraense. Este declara a intenção de igualar a citada instituição à Sociedade dos Caixeiros do Rio de Janeiro63.

A entidade paraense referida acima foi criada numa assembléia cuja ata assinada por 250 pessoas, em 27 de março de 1898, realizada na Praça Comercial de Belém64. O relatório cita que existia no Pará mais de 8.000 caixeiros na Praça de Belém. O presidente destaca que podemos formar uma sociedade tão poderosa que estabelece sua prepotência e possa dar

61 Cf. MARTINHO, Lenira Menezes e GORENSTEIN, Riva. “Negociantes e Caixeiros na Sociedade da Independência”. Biblioteca Carioca. Rio de Janeiro, 1993. Os caixeiros seriam uma espécie de gerentes dos negócios se ocupava desde atender no balcão, vender na rua, fazer compras e vender em grosso, fazer a escrituração mercantil até vigiar os escravos ocupados nos serviços da loja – no século XIX era uma profissão exercida exclusivamente pelo sexo masculino.

62“O Empregado do Comércio”, Ano I, nº. 1, Belém, 15 de agosto de 1899 – pesquisado na Biblioteca do CENTUR. 63 Citado Relatório informa que a entidade do Rio de Janeiro, naquela ocasião, contava com 12.000 associados.

58 golpe de morte nos usos e abusos do inveterado carrancismo do seu comércio 65. Relatório publicado em “O Empregado do Comércio”, cujo subtítulo deste é o ideário iluminista da Revolução Francesa, “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” muito difundido à época entre aqueles/as que almejassem mudanças sociais.

Todavia, cronologicamente, a primeira entidade de classe dos comerciários encontrada em registros, a Liga Protetora dos Empregados do Comercio data de 189066, com a finalidade de proteger a classe auxiliar do comércio. Embora esse periódico anunciasse a publicação dos Estatutos desta, o mesmo não foi encontrado nos exemplares pesquisados.

Quanto ao Estatuto da Associação dos Empregados no Comércio do Pará veiculado em “O Empregado no Comércio” 67, define a finalidade de promover e auxiliar o desenvolvimento moral e intelectual dos seus associados, difundindo o ensino de conhecimentos úteis em matéria comercial, instituindo além de uma biblioteca, escolas, preleções e conferências. Evidencia a missão educadora e formadora de caráter, além da promoção do saber aos comerciários. O Capítulo VII, “Da Instrução” trata do conteúdo dos cursos, funcionamento da Biblioteca, das preleções, conferências e demais eventos que julga necessários para o incentivo à cultura, a instrução e a qualificação da categoria.

No que se refere à admissão e tipos de sócios, o documento define os graus de associados em sócios beneméritos, honorários, remidos, efetivos e fundadores, aqueles que participaram da Assembléia de fundação. O registro deixa evidente o perfil masculino dos associados, ao definir quem será admitido na qualidade dos sócios: Todas as pessoas do sexo masculino (aqui sublinhado pela autora), de qualquer nacionalidade que se empregam no comércio poderão ser admitidos, devendo seguir os seguintes requisitos:

(...) gozarem de boa reputação, ser maior de 12 anos, e quando menores apresentar autorização de seus Paes ou curadores. Na proposta de admissão deve declarar o nome, a nacionalidade e a casa em que é empregado o proposto. (Estatuto da Associação dos Empregados no Comércio do Pará – “O Empregado do Comércio”, Ano I, nº. 1, Belém, 15 de agosto de 1899).

Embora haja ausência de informações sobre a relação destas entidades fundadas no século XIX com o atual sindicato, destacam-se no Relatório citado, informações sobre a

65 Idem 62.

66 “A Voz do Caixeiro”, Ano I, nº. 1, Belém, 9 de fevereiro de 1890 – Biblioteca do CENTUR. 67 Idem nota 62.

59 organização da categoria, e a situação dos associados, sendo: os 28 sócios fundadores, 152 efetivos, 04 honorários e 04 beneméritos68 a título de notícia, interessando as informações da entidade atual, cuja existência data do século XX.

De fato, surge então a terceira organização sindical dos comerciários em 30 de outubro de 1.926 (BARROS, 2006: 37) existente na atualidade. Inicialmente denominada União Beneficente dos Auxiliares do Comércio do Pará, conforme o Estatuto do Sindicato dos Empregados no Comércio do Estado do Pará69, registrado em 1960 com a denominação de Sindicato dos Empregados no Comércio do Estado do Pará – SEC/PA.

Uma das manifestações da categoria nas primeiras décadas, embora não cite a presença do Sindicato, quando da chegada do Governador Interventor do Pará Major Joaquim de Magalhães Cardoso Barata em novembro de 1930, cujas primeiras medidas tomadas deixam os comerciantes descontentes (COIMBRA 1981).

Na ocasião, dois proprietários de lojas anunciam que para o devido cumprimento das exigências do Governo as duas firmas iriam proceder ao corte de 25% dos salários dos empregados comerciários. Ao receberam esta informação, os trabalhadores organizaram-se em passeata pela cidade portando cartazes e se dirigiram à sede do jornal “Folha do Norte”, assim como seguiram em frente até a residência do Governador que se localizava na Praça Barão do Rio Branco. Em cada uma destas paradas realizaram manifestações onde discursaram os líderes comerciários Eduardo Seabra, Carlos Rabelo e Mario Platilha demandando ao chefe de governo que interferisse na questão. Continua Creso Coimbra que no mesmo dia, os comerciários foram informados de que a idéia das duas firmas tinha sido abandonada, creditando esse feito ao Governador Magalhães Barata (COIMBRA, 1981: 286). Assim, entre os diversos sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras no Pará, o SEC/PA tem sua existência registrada em 30 de outubro de 1.926 (BARROS, 2006: 37) com absoluta ausência do elemento feminino. As mulheres paraenses trabalhadoras das categorias em geral e em especial dos comerciários onde se encontravam?

68 O relatório cita a realização da Assembléia de aniversário da entidade, realizada em 27 de julho de 1899, quando aprovado o título de sócio benemérito ao senhor Dr. Justo Chermont, então Governador do Estado; ao senhor Antonio Lemos, o Intendente Municipal de Belém; ao Coronel Sotero de Menezes, Comandante das Forças Estaduais; e ao senhor José Marques Braga, Senador da República. Esse registro evidencia as relações que a classe trabalhadora espera manter com a elite governamental, pois se trata de uma deferência a concessão desses títulos honoríficos da categoria.

69 Cf. BARROS, 2007: 57. Registra-se que o Estatuto da entidade fornecido pelo sindicalista e ex-diretor do SEC/PA Francisco Ribeiro do Nascimento, reformulado em 1960 encabeça: “Estatuto dos Empregados no Comércio do Estado do Pará – Ex União Beneficente dos Auxiliares do Comércio do Pará – Órgão de representação legal da categoria profissional dos empregados no comércio do Estado do Pará – Defensor dos interesses da Classe, fundado em 30 de outubro de 1926. Reconhecido de utilidade pública por Decreto Estadual nº. 521 de 29 de outubro de 1931”.

60