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3. OS DEBATES NOS JORNAIS DO RIO GRANDE DO SUL NO CONTEXTO DA

3.1 A IMPRENSA PARTIDÁRIA COMO MEIO DE COOPTAÇÃO POLÍTICA

Os jornais se constituem como uma excelente fonte para o trabalho do historiador que, acima de tudo, deve buscar compreender essa fonte para melhor interpretá-la. Assim, muitas pesquisas utilizam-nos como fonte primordial na busca do resgate histórico. Todavia, o emprego de jornais para pesquisa e análise histórica requer alguns métodos específicos em sua elaboração:

Não se procura a verdade dos fatos, mas tão somente interpretar, para, a partir de uma interpretação – onde não se nega a subjetividade de quem a realiza – tentar registrar um instante, no caso do jornalismo, ou recuperar o instante, no caso do historiador (BARBOSA, 1998, p. 87).

Além de se considerar a subjetividade do historiador ao se analisar os fatos impressos nos jornais, salienta-se, também, que:

Ao selecionar o texto jornalístico como sua fonte de pesquisa, o historiador deve levar em conta que sua fonte não é um documento “puro e cristalino” que contenha todas as verdades. É importante dialogar com essas fontes, fazer entrecruzamentos com outras informações e, às vezes, buscar as razões do seu silêncio ou de sua omissão. Acima de tudo, o historiador procura manter o seu olhar crítico, pois considera que a objetividade da notícia de um texto jornalístico é “vista como uma falácia, até para o mais ingênuo dos profissionais”. No momento em que seleciona, hierarquiza e prioriza esta ou aquela informação – a partir de critérios subjetivos –, “o que o jornalismo está fazendo é uma seletiva reconstrução do passado”. Então, o historiador, consciente da forma de concepção do texto jornalístico, pretende manter um constante diálogo com sua fonte para poder melhor compreender o passado que quer reconstruir. (OLIVEIRA, 2011, p. 126-127).

Considera-se o papel do jornal no período retratado nessa dissertação (1882 a 1892), como um aporte da luta pelo poder45, através de aspectos simbólicos engendrados, tanto pelos liberais/federalistas – principalmente a partir do jornal A Reforma – quanto pelos republicanos (com destaque para o jornal A Federação), na busca de justificar suas reivindicações e alcançar uma abrangência maior perante a sociedade. O jornalismo expresso era, essencialmente, de teor partidário e opinativo,

45 Sobre o estudo da influência partidária nos jornais no Rio Grande do Sul, sugere-se a leitura de:

- RÜDIGER, 1993.

não apresentando muito espaço para questões informativas. Através de ásperos editoriais, buscava-se a cooptar adeptos partidários. Conforme Francisco Rüdiger, “o fortalecimento da vida partidária permitiu aos políticos transformar o jornalismo numa militância objetiva, que se tornava meio de formação doutrinária da opinião pública” (RÜDIGER, 2003, p. 36).

Ainda, segundo retratam Antônio Holfeldt e Fábio Rausch (2006), apesar do apelo político-partidário, os diversos jornais existentes no Rio Grande do Sul46 acabavam por um processo de cooptação de leitores; ou, no caso da imprensa partidária, conforme já se referiu a Bourdieu (1998), há busca por novos clientes:

O que se observa, portanto, é um deslocamento de acentuação, do emissor - um determinado tipógrafo resolve editar um jornal; ou um determinado partido político - para o receptor: mesmo os jornais partidários devem atender a determinadas demandas de seu público, além de divulgarem seus princípios ideológicos. Os jornais vinculados às novas comunidades étnicas - alemães e italianos, principalmente - e aqueles dirigidos ao leitor mais segmentado, seja o intelectual ou a jovem senhora de família, além dos jornais operários, nada mais fazem que enfatizar essa nova perspectiva. É

para e com o receptor que os novos editores e proprietários de publicações

se dirigem e se preocupam. (HOHLFELDT e RAUSCH, 2006, p. 05).

Desse modo, os liberais/federalistas procuravam marcar sua posição no novo momento político. Afirmavam sua singularidade apresentando-se como a força política mais significativa do estado. Tal discurso apelava para o passado político recente, a partir do qual o Partido Liberal era preponderante para a tradição no Rio Grande do Sul (COSTA, 2006).

Com o advento da República, as críticas à forma de governo passaram a ser feitas pelos liberais. A principal crítica realizada pelos antecessores do poder no Rio Grande do Sul estava na incapacidade de o regime republicano administrar de forma coesa o estado, não apresentando estabilidade política. Muitos queriam o poder, e esta disputa causava a fragilidade política para o estado, pois o mesmo não conseguia estabelecer alguém no comando de forma real, oportunizando dissidências e fragilização no poder.

Por sua vez, os republicanos apresentavam seus opositores como um grande perigo à República, restauradores, defensores da monarquia, inimigos do progresso.

46 Existia uma diversidade de jornais no interior, Hohlfeldt e Rausch (2004, p. 7) destacam que mais de

60 municípios do Rio Grande do Sul, a partir de 1850, já possuíam jornais. Isso representava, praticamente, um veículo de comunicação por município no Rio Grande do Sul no século XIX. Mas, de um modo geral, eles seguiam a tendência político-partidária dos influentes jornais de nível estadual.

Para os republicanos, então minoria, a imprensa serviu como a possibilidade de aumentar simpatizantes às causas republicanas. Seu caráter ofensivo ao Império, justificando o atraso existente no Brasil e no Rio Grande do Sul, devido à ultrapassada forma de governo monárquica, teve uma boa aceitação, principalmente nas localidades que estavam passando pelo processo de urbanização. Os liberais defenderam o império até a sua desagregação (1889).

Salienta-se que o fato de destacar o confronto de editorias de jornais tem o objetivo de ratificar que esse constante combate dos editoriais buscava à obtenção, à constituição de uma imagem que angariasse membros, simpatizantes ao partido. O que remete à lembrança de Bourdieu (1998), quando o autor descreve o ato político como um jogo em que os políticos buscam agradar aos “consumidores”, para que os mesmos lhe dessem sustentação no poder.

A imprensa foi utilizada neste período como forma de ideologização da sociedade sul-rio-grandense47, com o intuito de estabelecer uma nova ordem social. Isso ocorreu, em especial, com o advento da República, quando os políticos ligados ao PRR liderados por Júlio de Castilhos, promoveram uma busca pela inversão da ordem do poder no estado.

3.2 OS ACIRRADOS DEBATES NO CONTEXTO DA ELABORAÇÃO DA